Capítulo 28 - Tulipas, Rosas e Girassóis
Lucas ainda fica alguns segundos encarando a televisão tentando recarregar o seriado.
— É, a gente terminou — sussurra ao ganhar coragem e olha Marcela. — Foi antes da sua crise e depois da briga no banheiro. Eu terminei.
Marcela disfarça a surpresa, mas é péssima nesse jogo.
— Mas você ainda tá apaixonado por ela — fala, Lucas engole em seco. — O que ela fez?
— Não adianta nada eu tá apaixonado por ela.
Marcela consegue notar a tristeza na voz dele mesmo que Lucas tente disfarçá-la e isso transforma seu coração em algo minúsculo e apertado.
— O que ela fez?
Lucas caminha até a amiga quando a internet dá sinais de vida. Escorre-se para debaixo das cobertas e apoia a cabeça nas pernas cruzadas de Marcela, que coloca suas mãos nos ombros dele.
— Por que não quer me falar? — Marcela é quem pergunta e Lucas continua calado. Ela solta o ar preso. — Hum?
— É chato — Ele olha para cima e ergue as sobrancelhas. — Eu gosto de resolver problemas, mas com Daiana é diferente. Ela não tem concerto.
— Já pensou se ela não precisa ser concertada — infere Marcela, Lucas ri e ela também. — Nem eu acredito que vou defender a Daiana..., mas odeio ser injusta.
— Você precisa escolher um lado — diz ele e se senta, encara a confusa. — É contra ou a favor da Daiana?
Lucas está fazendo uma careta ultra confusa para Marcela. As sobrancelhas estão duras e tensionadas e a boca aberta demais. Ela ri e balança a cabeça negativamente.
— É como se nós a gente criasse tulipas e rosas no nosso jardim.
— Jardim?
Ela deveria ter começado pelo início da explicação sobre jardineiros e corações, mas agora é tarde demais. Assiste-o buscando entender.
— Daiana é um girassol. Bonita, né? — Lucas assente. — Mas não fazemos a menor ideia de como plantar, cuidar ou colher girassóis. Eles são incríveis, mas ao mesmo tempo não pra gente. Então, Daiana prejudica nossas rosas e tulipas.
— Não entendi nada — debocha Lucas em tom pensativo. — Mas eu gosto de flores, mesmo que eu não faça a menor ideia do que seja uma tulipa. — A gargalhada é alta demais depois disso e ambos precisam se controlar. — Escuta... Desde que Daiana chegou, começamos a brigar. Não quero que um girassol estranho faça a gente brigar. É horrível não falar com você. Juro. — Lucas coloca as duas mãos no rosto de Marcela e o aperta feito uma esponja. — Eu dormi escondido no chão do seu quarto depois de beber um monte de suco de morango com vodka como se fosse água.
Ela consegue se livrar das mãos dele.
— Igualzinho uma criança de 8 anos!
— E eu queria jogar uno, mas não podia. — Lucas está piscando devagar, boceja. — Eu gosto da Daiana, mas ela é só uma garota. Muito bonita, mas só uma garota. Você é a MARCELA. — Sorri, Marcela assente.
— Esse é seu monólogo de melhor amigo ou ator? — Marcela semicerra os olhos, Lucas dá os ombros. Ambos ficam em silêncio por alguns segundos. — Posso te contar uma coisa? — Ele faz um gesto confirmando. — Daiana me desenhou na primeira vez que me viu, antes do beijo, e acho que a gente flertou antes de eu notar que aquilo já era mais do que uma aposta para você. Desculpa.
Ele solta o ar preso, apoia-se no sofá e encara a televisão.
— Girassol filho da puta.
— Cara, você fez uma aposta para ficar com ela e Daiana te perdoo. Sei lá, vocês estão quites, não? — Ele nega a com a cabeça repetitivas vezes, depois alonga as costas e desvia os olhos de Marcela. Ela, entretanto, estranha a reação dele.
— Você vai perdoar ela? — Lucas pergunta, ainda olhando a TV em pausa, sério.
Marcela aperta as mãos na coberta, seu coração dói fisicamente só de pensar em Daiana e ela já se arrepende de terem começado essa conversa.
— Eu não vou — determina Lucas e a encara. Marcela franze o cenho.
— Tá bravo comigo?
Lucas solta o ar preso, depois olha para Marcela. Ele passa as mãos pelo rosto, buscando afastar o sono, e depois se levanta. Marcela continua imóvel, o acompanhando só pelos olhos.
— Não tô bravo com você. Estou bravo com a Daiana e não gosto de falar dela. — As sobrancelhas dele quase viram uma no rosto. — Tá?
Ela mantém o silêncio.
Depois que Lucas se senta de novo, voltam a assistir a série, mas nem se falam. Os dois encaram a televisão como se fosse um portal para fugir da tensão estabelecida no cômodo. Quando o episódio acaba, Lucas vai ao banheiro e Marcela olha seu celular. Giulia mandou mensagem, muitas, ela não abriu nenhuma delas. Quando volta, Lucas lhe estende um copo de água e ela aceita.
— Ela me mandou mensagem também — diz Lucas, olhando o celular de Marcela.
Um silêncio deixa o clima estranho. Marcela raciocina um segundo.
— Tudo que aconteceu naquele banheiro foi horrível — conta. — Pra nós três. — Ergue a cabeça para encará-lo, depois bebe da água. — Eu me sentia estranha. — Marcela franze o cenho. — Espera... O que você falou do suco de morango?
— Que suco de morango?
— O suco de morango, o que você falou do suco de morango que tinha na pousada.
— Que bebi com vodka? Foi ideia minha, pra se os professores aparecessem não desconfiarem, ficou muito bom na verdade. Nem parecia que tinha álcool. Bem, exceto pela Daiana que bebeu um monte e começou a brigar comigo desde que saiu daquele banheiro com vocês. Ela tava muito doida, o mais brava que já vi, mas foi bom, assim acabou logo de uma vez.
Ele falava sem parar, mas Marcela estava mais preocupada era com outra coisa.
— Eu bebi do suco — sussurra, ele a encara. — Lucas, eu bebi um monte daquele suco também. Que cara é essa?
— Não pode falar que tinha álcool, vão descobrir que fui eu que levei.
— Meu fígado é mais importante que uma bronca, Lucas. — Ele resmunga.
— Merda! — Lucas caminha até seu lado do sofá e se senta. Encara o teto. — Ah, Ma, por favor... Eu vou ficar muito ferrado. — Marcela semicerra os olhos. — Você tá melhor!
— Você tem tanta sorte dessa dor estar passando — sussurra ela, em tom de ameaça, Lucas sorri. — Eles voltam hoje. — Encara seu celular.
— Já decidiu o que vai falar pra Giulia? — Marcela nega. — Não tem como fingir que ela não existe, né? — Ergue as sobrancelhas e Marcela força uma cara de choro em sua direção. — É só dizer que não tem os mesmos sentimentos. A Giu é super desapegada, vai dar tudo certo.
— Ou eu posso fingir que nada aconteceu — sugere, os dois riem. — Tá... O que você faria se fosse eu?
Lucas pensa um pouco e faz barulho enquanto se deita no sofá.
— Eu nunca estaria no seu lugar.
— Ah é?
— Vai fingir que não? Você me conhece a vida inteira. Sabe que ou as pessoas me conhecem bem, ou se apaixonam por mim. Os dois é impossível.
— Caralho.
Marcela descola os lábios e puxa o pé dele.
— Isso, fala palavrão em casa.
— Não... Tipo, eu não sabia que você pensava assim. — Marcela balança a cabeça negativamente. — Cara, isso não é verdade.
— Tá, tá... Seu eu tivesse no seu lugar seria sincero — responde e Marcela sabe que Lucas fala a verdade. De forma até mesmo irritante, Lucas é muito sincero.— Só que você é medrosa.
— Quando você vai embora mesmo? — Ela pergunta, entrando embaixo do edredom. Os dois dão risada. — Você não pode falar com ela por mim?
— Falar o que? — ele pergunta, ela não responde. Não sabe a resposta.
Marcela não consegue chegar em uma simples solução. Não quer, de forma alguma, machucar a melhor amiga, e então deveria só ser sincera como Lucas a aconselhou. A chave da questão é que o problema, para Marcela, não tem a ver com dar um fora na Giulia e sim o completo contrário: Marcela não quer dar um fora na Giulia. Só que isso significa um milhão de outros problemas.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro