Capítulo 27 - The End
Não deveria ser tão frio.
Eles disseram, repetiram três vezes, garantiram aos pais da Marcela que não seria tão frio.
Marcela estava com raiva, sentia-se traída. A dor em suas pernas eram terríveis. . Era impassível, ela pensava que poderiam cair caso doessem mais. Os soluços estavam mais altos e isso desesperava Sérgio, Lucas e todos os curiosos na porta do quarto.
Lucas correu feito um louco alguns minutos antes dessa cena, até a pousada dos docentes, e bateu na porta com força sem a menor preocupação com a forma rude que acordou os responsáveis. Marcela viu a preocupação em seus olhos quando saiu, isso porque já a viu dessa forma por vezes suficientes para saber que Marcela não precisava estar passando por isso em uma viagem tão sonhada.
Quando voltou, a respiração de Lucas tremia. Deitou-se com ela na cama, tentando fazer Marcela sorrir para esquecer a dor, mas era inútil. Ela só queria ir para casa. Chamava pela mãe em voz baixa, encolhida na cama, só Lucas escutava, e ele limpou a lágrima que escorreu de seu olho esquerdo enquanto tentava, sem conseguir, animá-la.
Os professores correram até o restaurante para ligar para os pais de Marcela, já que só lá a área era boa o suficiente para conseguirem isso. Graças a Deus palavras não matam, caso contrário Bianca, teria feito um massacre. Não houve nenhum palavrão, mas cada uma de suas acusações eram mais feias e duras que isso.
— Eles estão demorando — praguejou Sérgio com a cara de sono evidente. Ele cruzou os braços e caminhou até Lucas e Marcela, os observando de cima. — Melhorou?
Ela negou.
Sérgio olhou para panos encharcados com água morna esquentada aos poucos no microondas da pousada onde estão, ele passou vinte minutos subindo e descendo para requentar. Não existia outra forma de esquentá-la ali. Marcela fungou e sorriu, para confortar Sérgio. Marcela também tomou os analgésicos que sempre carregava consigo, mas a redução da dor não era tão imediata quanto desejavam.
Depois de três horas horríveis, seus pais finalmente chegaram. Estavam os dois assustados e preocupados, usaram um termômetro para garantir que a filha não estava com febre muito alta e ameaçaram os professores de maneira invasiva, mesmo que eles não fossem responsáveis pelas conversas que tiveram com a direção. Roberto a pegou nos braços e levou-a até o carro de aquecedor alto. Outra briga se formou quando Lucas disse que ia embora também, mas a moral da escola já estava se arrastando no chão por tempo suficiente para que desistissem de obrigar o adolescente a continuar ali. Foram então os pais de Marcela, ela e Lucas de volta para São Paulo.
Outra confusão aconteceu no carro.
— Vamos passar no Dr. Diego — Roberto argumentou, com as mãos no volante.
— Amanhã, hoje ela está cansada — retrucou Bianca.
Lucas e Marcela se encararam no banco de trás. Ele apertou a mão dela, odiavam presenciar briga entre seus pais.
— Não, vamos hoje — disse o motorista, Bianca bufou e negou com a cabeça.
— Está tarde, o problema é o frio. A febre dela não está alta.
Bianca olhou para trás, ajeitando o cobertor em Marcela como se faz a bebê e Roberto estava concentrado em ultrapassar os buracos da estrada de terra. Chegariam em casa às 5h.
— Amanhã, vamos no médico — sussurrou Roberto, seu rosto era duro feito pedra e ele não olhava nem para os lados. — E vamos processar a escola. — Bianca o encarou. — Vamos processar essa escola. Eu não ligo se seu irmão é o diretor. Ele é um irresponsável. — Marcela encarava a briga de olhos arregalados.
— Não vou defender o Matheus — Bianca relaxou as costas no passageiro. — Mas não vamos processar a escola, somos donos de metade dela.
— Não me importa! Vamos processar.
— Eu tô bem — Marcela falou, depois prendeu a respiração. A dor continuava ali. — Não aconteceu nada, eu tô bem. — Olhava de um para o outro. — Eu gosto da minha escola.
— Ela gosta da escola — disse Bianca para Roberto.
— E eu, não.
E a discussão se encerrou.
Agora são 2h da madrugada de domingo, um dia depois de todo o caso, e Marcela está entediada.
— Vai, idiota, arruma logo isso!
É a voz de Marcela que ecoa pela sala de sua casa, mais alta do que deveria pelo horário. Lucas não foi para casa. No sábado os pais dela conversaram com os dele, tentando dobrar o descontentamento dos amigos por Lucas ter ido embora da viagem escolar. No fim, cederam.
As dores estão mais controladas, mesmo que Marcela ainda não consiga andar sem senti-las. As cobertas cobrem suas pernas e Lucas está tentando, sem sucesso, fazer a internet pegar para que possam voltar a assistir Stranger Things. Carlos encheu Marcela me mensagens mandando a irmã assistir desde julho, mas ela o ignorou porque não tinha perdoado 100% o acontecido com Thais. Depois que encontrou a Thais no shopping e a ex-cunhada não falou com Carlos, desistiu de ficar aborrecida por eles. Quando ficou sabendo do que aconteceu na pousada, Carlos além de ficar muito irritado como seus pais, argumentou que Marcela não tinha mais desculpas para não assistir já que ficaria deitada por um bom tempo. Ela aceitou.
— Meu Deus, que coisa nojenta! — Lucas reclama.
Ele não gostou muito e a internet travou bem na hora que tinha uma coisa estranha saindo da boca da Barb, personagem da série. Marcela, por outro lado, agora cenas grotescas.
Lucas e Marcela adiaram uma conversa, isso é verdade, mas ela sabe que quanto antes pararem de fingir que nunca brigaram, mais rápido vão conseguir superar essa loucura que virou a amizade deles. É neste instante que a conversa vai ocorrer, já que ela acaba de ver o celular dele piscar três vezes com mensagens de Daiana.
— Vocês terminaram mesmo? — pergunta.
Lucas pousa a mão na cintura. Está de camiseta branca e uma samba canção azul-escuro e a olha como se tivesse sido atingido por uma granada de forma inesperada.
— Fala.
— Sim —responde, sem graça, e ao se esticar de novo atrás da TV, finalmente alcança o moldem e o reinicia.
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