Capitulo 10 - Era De Se Esperar - part 2
Ouve o som de batidas na porta do banheiro e olha para ela, assustada enquanto continua coçando o rosto e agora os braços que parecem ter sido mordidos por mil pernilongos.
— Eu já saio — informa ela, em agonia, passando o sabonete caríssimo da mãe de Lucas no rosto.
Ele alivia a coceira por dois segundos, mas logo todos os poros do seu rosto parecem explodir enquanto Marcela joga água fria e molha toda a sua blusa tentando acabar com o incômodo em seus braços. Geme porque não consegue.
— Marcela? — A voz de Lucas ultrapassa a porta e ela já nem lembrava o porquê de ter vindo. Não consegue pensar em nada além dessa coceira que não parece ter fim e que agora se estende por seus seios e costelas.
— Lucas! — grita, abrindo a porta enquanto levanta parte da blusa, descobrindo a barriga e se coçando freneticamente.
O rapaz a encara com os olhos arregalados e observa a garota mais vermelha que um tomate enquanto faz caretas e tenta coçar partes inalcançáveis das costas.
— Meu Deus, o que aconteceu com a sua cara? — Entra no banheiro e a ajuda a coçar as costas, preocupado. Marcela ainda coça seu rosto e braços enquanto resmunga e começa a chorar, assustando Lucas. — Pai! — grita Lucas e a garota não tem nem tempo de reclamar do chamado.
O homem de cabelos loiros e queixo quadrado chega dois minutos depois, sendo seguido da mulher de cabelos castanhos e corpo muito magro. Os donos da genética que faz Lucas e Igor serem tão cobiçados pela aparência.
Lauro e Tatiana foram modelos e se conheceram assim. Quando Igor tinha três anos e ela engravidou de Lucas, o casal decidiu comprar a casa deles no Brasil e ficar por aqui, mas antes disso viajavam o mundo enquanto o pai dele tirava as fotos hoje espalhadas pela casa. Às vezes aceitam um comercial de margarina ou amaciante, mas é difícil. A mãe começou a fazer valer seu diploma de odontologia e Lauro é agente de novas modelos.
— Tá ardendo — reclama Marcela, sendo empurrada por Tatiana para dentro do box do banheiro depois que a genitora de Lucas o mandou ligar para a mãe de Marcela, que é a médica da família, e Tatiana sabe que sua especialidade não tem nada a ver com alergias, mas é a melhor decisão.
— Tudo bem, querida, fica de baixo da água — pede Tatiana, ligando o chuveiro com água morna sobre a menina ainda vestida, que agora está mais aliviada.
Quando sua mãe chega, Marcela já saiu do banho há alguns minutos. Todo seu corpo ainda está muito vermelho. Bianca vai até ela preocupada e só depois cumprimenta Tatiana e Lauro.
Eles já são amigos há muitos anos, desde antes de terem filhos. Lauro conheceu Bianca quando saiu com a tia Beatriz no ensino médio, logo antes das duas conhecerem o pai de Marcela e toda aquela novela começar. Lauro e Beatriz ficaram juntos por seis meses e logo Lauro foi embora do Brasil para modelar e só via as duas uma ou duas vezes por ano. Depois que se casou com Tatiana e voltou para o Brasil, eles firmaram a antiga amizade. Lucas e Marcela viraram unha e carne na escola e se revezavam na casa de um ou do outro quase todo final de semana.
Igor e Lucas também estão na sala. O mais velho sentado no sofá em paralelo ao da garota de cabelos pretos molhados e escorridos no ombro coberto por uma blusa vermelha de marca de Tatiana. Lucas está de pé, seus baços estão cruzados e ainda veste seu pijama de calça azul marinho escuro e blusa de mangas longas brancas. Lucas não está olhando para Marcela, encara a mãe dela, que pergunta o que aconteceu.
Uma crise alérgica, deduz a mãe e, mas quando Marcela fala tudo o que comeu, bebeu e fez no dia, a médica fica confusa. Não existe nada ali que pudesse causar uma crise tão forte na filha, pensa que talvez seja bom fazer uma bateria de exames enquanto olha para os pais de Lucas, mas, quando Marcela entra no carro, Bianca pergunta:
— O que você não tá contando? — Com naturalidade, a mãe coloca o cinto de segurança e assiste Marcela fazer o mesmo. Checa os espelhos retrovisores e depois encara a filha. — Marcela, eu sei que não foi um dia normal. Por que não se despediu do Lucas quando saímos e por que veio pra cá sozinha?
A filha olha para frente enquanto ignora a mãe e controla suas mãos para não voltar a coçar o rosto. A mulher da partida no carro e, só depois de três quarteirões, Marcela fala:
— Eu e Lucas brigamos porque eu menti sobre uma coisa e ele inventou uma mentira maior ainda, por isso vim aqui. — Marcela ainda encara o trânsito e passa as pontas dos dedos no pescoço de espessura grossa após tantas agressões vindas das unhas dela.
— Você sabe o que acho sobre mentiras?
— Na verdade, eu não menti, só não contei uma coisa — defendeu-se. — Ele nunca mais vai falar comigo — concluiu.
— Ele vai — diz a mãe, trocando a marcha e parando no farol vermelho. Olha para Marcela. — O que aconteceu na escola?
Ela olha a mãe, com aquelas sobrancelhas grossas e o batom marrom característico. Sente-se confortável nesse espaço. Suspira.
— Daiana me odeia — conta, depois avisa à mãe que o farol abriu.
Bianca volta a dirigir e fica pensativa por alguns minutos, até entrarem na rua da casa delas e afirmar:
— Pode ser alergia nervosa, por estresse, na melhor das hipóteses. Não deveria estar tendo, mas vamos resolver isso, okay? — Começa a entrar na garagem do prédio. — Talvez seja melhor você fazer uma nova bateria de exames pra ver se não tem a ver com a anemia.
— Meu pai não vai gostar — sussurra Marcela, retirando o cinto de segurança. — Podemos... Fingir que não aconteceu? Vou ficar bem.
— Vamos conversar sobre isso — responde, confiante, mas Marcela odeia a ideia. — E o Lucas vai te perdoar, não se preocupa.
— Você acha que ele vem na quinta? — pergunta. Há algumas semanas, Lucas não vai nas reuniões para jogar RPG e, sendo apenas Sérgio e Marcela, eles ficam jogando uno ou assistindo algum filme, mas a dessa semana será diferente.
Carlos estará no Brasil graças às férias de verão. Marcela não vê a hora de abraçar seu irmão. Lucas também não, mesmo que não diga em voz alta. Ela quer tanto que Lucas apareça na quinta.
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