Sorrisos de amor
- Jacinto vai nos matar se descobrir que estamos assistindo esse filme - avisei enquanto ainda esperava o saco de pipoca parar de girar na bandeja do microondas.
- Se - Stephano enfatizou - ele descobrir, e ele não vai! - afirmou vindo em minha direção quando o aviso do microondas disparou nos informando o encerramento do preparo da pipoca.
- É melhor mesmo, ou seremos castigados com toda a longa história do cinema - resmunguei pegando a sacola de pipoca e derramando seu conteúdo em uma bacia.
Jacinto nasceu um pouco depois de nós, era um imortal responsável pelo cinema, ele que deu as ideias e ajudou os irmãos Lumière a produzir o primeiro filme, L'Arrivée d'un Train à La Ciotat. Admito que aquilo foi bem sem graça a filmagem, mas a comoção foi engraçadíssima! Todos ficaram assustados com um trem vindo em sua direção por meio da ilusão cinematográfica criada pelos irmãos. Nosso querido amigo imortal ficou com muita raiva de todos e mais ainda de mim e Stephano que havíamos ido apoia-lo em seu primeiro experimento e ficamos rindo enquanto todos se assustavam.
- Mas por que ele odeia tanto esse filme? - perguntou meu marido quando chego por trás de mim e afastou o cabelo de minha pele para ter espaço o suficiente para espalhar beijos pelo meu pescoço.
- Eu não faço a menor ideia - dei de ombros deixando minha cabeça cair para trás e aproveitando cada sensação que se passava por meu corpo ao receber os beijos do homem que eu amava -, ele fica dizendo que esse filme é uma vergonha e tudo mais! - suspirei quando Stephano virou meu corpo de frente para o dele e eu pude finalmente admira-lo, ver aqueles olhos faiscando de desejo por mim.
- Você quer mesmo ver um filme nesse pouco tempo que temos? - eu perguntei envolvendo seu pescoço com meus braços e dando um leve beijo em seu queixo, subindo para os seus lábios.
- Não me tente - ele disse entre risos e beijos, foi ele que me afastou, dando um beijo terno em minha testa e nos levando para a sala carregando na mão esquerda a bacia de pipocas e com o braço direito envolvendo meu quadril.
- Vamos logo assistir essa coisa - eu disse me sentando no sofá e esperando ele se juntar a mim, ele se juntou a mim e fez um pequeno movimento com a mão em frente ao corpo e o filme se deu início - Sabe, não consegui ainda me acostumar com tanta tecnologia assim! - admiti assim que ele me puxou para mais perto e eu pude o abraçar e me acomodar melhor.
- Nós precisamos nos acostumar, amor - ele beijou meu rosto e nos voltamos totalmente para o filme.
Ele se iniciou com uma menina acordando de um coma, em um hospital abandonado, ela simplesmente acordou e saiu andando pelos corredores, encontrando plantas se infiltrando pelos corredores.
- Só eu que acho que isso lembra muito a The Walking Dead? - Stephano me perguntou.
- Não, eu já estava pensando nisso, estou já ficando com bastante medo - anunciei, não por ter medo de zumbis ou algo assim, mas por que caminho o filme iria passar.
Quando a menina conseguiu sair de dentro do hospital encontrou um lugar totalmente diferente, ela estava no ano de 5050, todos usavam roupas diferentes que me lembravam muito ao estilo de Hunter Games. O filme começou a se desenrolar e a cada nova cena era mais uma referencia a outro sucesso de Hollywood, eu e Stephano estávamos cansados, a pipoca estava amarga e consegui me engasgar milhões de vezes a cada trapalhada em que a personagem ridícula se metia.
E o pico de tudo foi no instante em que surgiu uma referencia a Back to the Future, um Marty McFly surgiu em cena como o salvador do mundo e amante da personagem idiota, eu me levantei espantada e apontei para a tela da televisão. Indignada já puxando os cabelos.
- O que é isso? - perguntei batendo o pé - Esses produtores e roteiristas não tem respeito, acham que somos idiotas?
- Amor, todos que assistiram Back to the Future já faleceram, acho que poucos são os que ainda procuram assistir filmes clássicos - ele apontou para a tela de televisão com um sorriso brincalhão -, eles estão aproveitando para ganhar dinheiro!
- isso é plágio, puro plágio! - eu olhei para a tela da televisão novamente - E essa personagem é uma babaca, envergonha o nome das mulheres, que ridículo! - falei fazendo o movimento que meu marido havia feito anteriormente para dar parar o filme - Tenho certeza que Brígida ainda não assistiu a esse filme.
- Ah, com certeza não! - Stephano falou com um sorriso, terminando por soltar uma gargalhada por imaginar nossa grande amiga que trouxe à tona todo o feminismo impregnado na mulher até hoje, tudo que envolve nossa vontade de ser mais do que podemos veio dela e ela definitivamente iria processar as pessoas que fizeram desse filme realidade.
Escutamos um pequeno chiado vir do babá eletrônica, olhamos um para o outro com um sorriso. Tudo foi esquecido, o filme, nossos beijos ou qualquer outra mínima coisa que pudesse ser discutido naquele momento. Stephano foi diretamente para a cozinha onde sabia que uma mamadeira já estava aguardando aquele momento, eu mesma corri escada acima me dirigindo diretamente ao quarto rosa no começo do corredor do segundo andar de nossa casa em Londres.
- Olá, meu amorzinho - sussurrei ao chegar próximo do berço onde Felícia se encontrava segurando os próprios pés e sorrindo com suas gengivas a mostra para mim, o mais belo dos sorrisos, o mais angelical e amado em todo o mundo.
A cada vez que eu olhava para minha filha, fruto de todo o amor existente entre mim e Stephano, eu flutuava de amor. Não existia mais nada para mim, aquele ser deitado me observando com curiosidade e ao mesmo tempo com um sorriso inabalável nos lábios seria minha criação mais preciosa. Eu ter instalado no mundo algo como o romance em palavras não era nada, definitivamente nada comparado ao que eu senti a cada dia que se passava com minha família, a cada passo que eu dava para a minha vida.
-Você está com fome? - perguntei a ela, que pareceu se quando eu finalmente a segurei no colo, a trazendo em direção ao meu peito, beijei sua cabeça que era coberta por fios negros como os meus.
- Posso ajudar em algo? - o pai de minha filha perguntou ao entrar no cômodo e ver nossa filha em meus braços, ele sorriu e Felícia, ao ouvir sua voz, se virou desesperada para ele, o caçando até acha-lo - Está me procurando, meu bem?
Ela correspondeu com um sorriso muito maior do que havia me dando há segundos atrás. Eu me divertia em ver Stephano tão sorridente e babão por nossa filha, foi duro convence-lo em te rum filho, em tentar ter mais alguma coisa que nos prendesse a esse mundo, que me desse motivos para acordar todos os dias e poder ser mais feliz ainda.
Passei Felícia para o colo de seu pai, ela foi sem nenhum esforço, ela adorava toda a atenção que ele disponibilizava apenas para ela. Ele se sentou em uma poltrona ali perto do berço eo ritual de todas as noites que ele iniciou, ele que a alimentava com a ajuda da mamadeira, ele gostava de como nossa filha ficava com os olhinhos brilhantes para e como agarrava, com seus pequenos dedinhos, a mão dele que segurava a mamadeira.
- Às vezes eu fico pensando - ele disse desviando o olhar de nossa filha para mim, que estava os admirando ainda encostada ao berço - se eu não tivesse ido atrás de você naquele dia -desabafou e eu soltei um leve riso.
- Isso foi há cinquenta anos, meu amor - me desencostei do berço e me aproximei dele lentamente, me sentei no braço da poltrona em que ele estava e observei nossa filha sugar o leite rapidamente fechando os olhos bem devagar -, mas fico feliz de você ter ido atrás de mim - beijei o topo de sua cabeça e passei meu braço por seus ombros -, fico feliz por não ter desistido de nosso amor.
- Não, eu nunca desistiria dele e muito menos de você - ele murmurou quando nossa filha encerrou sua alimentação e fechou os olhos por completo - E talvez devêssemos renovar nossos votos, sabe - ele admitiu virando seu rosto em minha direção.
- Bom, acho bem justo, já que para a última renovação de votos esperamos tantos séculos se passarem - disse contendo uma risada.
- Você sempre me lembrará de que demorei a lhe pedir novamente em casamento, não é? - perguntou com um novo sorriso, um sorriso recheado malicia e desejo, direcionado a mim. Aproximei meu rosto do seu, sentindo sua respiração se misturar totalmente a mim, meu corpo amolecer só por imagina-lo junto a mim.
- Vamos ter a eternidade para isso, meu amor - o lembrei dando um sorriso em troca também.
Não demorou muito para eu estar em seus braços novamente naquela mesma noite. Tínhamos muito o que descobrir daqui em diante, agora com um filha teríamos um mundo a desvendar novamente, mas sempre teríamos um ao outro e nossa história parecia que estava começando a ser escrita a partir de agora.
-x-
Nota da autora:
Hey, ganhamos o terceiro lugar no desafio de contos do projeto1989 <3 Sem palavras para agradecer a todos que leram e me apoiaram nesse conto! Foi a primeira vez que entre em alguma posição em um concurso, fico muito feliz haha Ainda mais porque me apaixonei de verdade por esse conto e espero que vocês tenham gostado desse pequeno bônus mega curto, e gostem mais ainda da notícia que vem agora: Marjorie terá um livro só para ela! Agora a notícia ruim: Ele não tem previsão de lançamento :(
Não me matem, por favor! Eu amo todos vocês, mas no momento estou sem tempo para ele e não vou posta-lo aqui sem ter uma previsão de quando poderei dar total atenção a ele.
Mas vocês querem algo para saciar a curiosidade? Bom, aqui a sinopse oficial de O início das eras:
Marjorie McGinnis é uma mulher já considerada solteirona entre a sociedade, já faz cinco temporadas em Londres que ela recusa cada pretendente que aparece em sua frente. E para o seu pai a felicidade da filha basta, seja ela solteira, casada com um grã-duque ou um mero cavalheiro.
Mas tudo está prestes a mudar quando sentimentos inexplicáveis começam a se fazer presente e ela sente que necessita realizar um ato que mudará tudo que ela conhece. Contudo, sem um guia ela está perdida, mais perdida ainda ao descobrir que ela mesma é diferente de tudo, ela é ligada apenas a uma pessoa e destinada ao dever eterno.
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