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3. Aperitivo

Durante o decorrer do dia 30, que era Sábado, David já havia preparado tudo pra ir com seus amigos. Segundo Sara, a festa começava precisamente por volta das sete da noite, no Domingo. Ele tinha bastante tempo livre, então procurou ajudar seu pai o quanto podia em casa, com serviços domésticos.

O senhor Paulo Sales não era o melhor pai do mundo pra David, mas o amava e o respeitava bastante, e isso só se intensificou quando perdeu sua mãe há anos atrás. Ele já é um homem aposentado, e com isso, divide seu tempo com afazeres domésticos à problemas da escola do filho. David odeia quando ele se interessa por quem gosta ou deixa de gostar na escola.

- Então, como vai ser essa festinha? - seu pai o perguntou. Ambos estavam organizando a mesa para o café da manhã.

- É só um rolê com pessoal, pai. - respondeu David, pondo a louça na mesa.

- Você não tinha acertado que iria passar comigo assistindo o jogo? É o Fortaleza que vai jogar, poxa!

Os dois se sentaram na mesa, e começaram a preparar seus respectivos pratos. Uma boa e velha canjica.

- Foi mal, fica pra depois. Prometo.

Paulo conhecia bem o seu filho, e com isso, sabia que era sempre nesse período do ano que o via ficar mais aéreo do que o normal. Por mais que imaginasse a razão de tal coisa, prefiria acreditar em outras. Talvez pretendentes demais, que não sabia qual deles escolher. David puxava os olhos esverdeados da mãe e o cabelo castanho-claro e cacheado do pai, então, para Paulo, o filho era irresistível demais para não o notarem.

- Vai transar lá, não né?

David quase se engasgou com a porção do seu prato preferido que saboreava. Estava surpreso com o nível de intimidade que o pai estava tentando se comunicar.

- Olha, eu posso ser velho, mas sei bastante coisa que posso te aconselhar.

David tomou um gole de leite e o inteceptou:

- Que papo doído é esse?

- Achei que esse seu jeito estranho é por causa da festa que vai. E lá, talvez, você queira fazer essas coisas.

- Pai, não! Nada ver. Você sabe que sou na minha quanto o assunto é a gandaia. Além do mais, você seria a última pessoa que pediria pra me explicar como funciona o sexo.

Paulo ficou pensativo e voltou a comer.

- Não se preocupe, tá? Eu e a galera vamo dar no pé se a coisa tiver chata.

Ele concordou com cabeça, enquanto abria a caixa de margarina.

Apesar de ser um tanto responsável, o senhor Paulo não impedia o jeito que seu filho seguia com a vida, mesmo ele tendo apenas 17 anos. Ele só fazia alguma intervenção quando David aprontasse algo que afetava seu compromisso com a escola, ou deixava evidente a maneira liberal que criava o filho. Não ser tão duro com ele, talvez, era uma das formas que ele encontrou de deixá-lo feliz, em compensação a tamanha perca que teve.

O dia passou tão rápido quanto ele havia previsto.

Já era Domingo, e em seu quarto, após o almoço, David dividia sua atenção da tela do seu computador, morrendo diversas vezes em um jogo de tiro, com pensamentos ansiosos do que faria ao chegar na festa. A razão pra tamanha perca de neurônios, era que David nunca compareceu a nenhuma festa do maior gostosão do colégio. E por deixar tão escancarado que odeia o garoto por todos os cantos da escola, com que cara ele iria aparecer lá?

Isso ele teria que pensar quando chegasse lá, pois o horário que havia combinado com seus amigos para se encontrarem, já estava mais do que no limite. Arrumado com uma roupa não tão chamativa do que um short jeans rasgado e uma blusa branca sem manga com uma caveira dourada estampada ao centro, desceu o condomínio e foi para frente de seu prédio. Pouco tempo depois, marcando exatamente 18h30, seus amigos apareceram dentro de um Ford Marverick preto, onde Marcelo o dirigia e Sara estava no banco do carona. Ele os comprimetou e finalmente partiram para seu destino, naqual, se tornaria a inesquecível melhor festa que já foram na vida.

Mais adiante, um casal se aproximava do mesmo destino que eles, já estavam a poucos metros de distância da residência que aconteceria a tal festa. No entando, o motor do automóvel que utilizavam parou repentinamente, deixando eles a mercê do mal que já rondava a região.

- Que saco! Do que porra adiantou passar no mecânico?! O merda só me roubou! - esbravejou Lucas, frustrado.

Letícia, sua colega de sala e atual ficante, estava no banco do carona, e enquanto retocava seu batom, ouvia o ataque de raiva do garoto.

- Dá pra calar a boca? Vai que alguém passe e nos dê uma mãozinha. - disse ela guardando o batom na bolsa.

- Ah é, espertinha? E que tal agente passar minha "mãozinha" em outros lugares? - sugeriu ele ao avançar pra cima dela com um beijo forçado e feroz, enquanto passava a mão entre as pernas da garota.

Letícia se sentia desconfortável quando o garoto fazia aquilo, pois era inexperiente na forma como ele queria avançar com a relação. Sexo pra ela ainda era um bixo de sete cabeças, mas para seu parceiro não. Lucas queria a todo custo chegar no final com a garota, então faria o que pudesse pra ter isso. Fez até uma aposta com os amigos que transaria com a garota naquele final de semana.

- Lu-Lucas, para! - Ela tentava se libertar dos braços do garoto. - Eu não quero.

- Pare de querer ser santinha, eu sei que você quer. - disse Lucas voltando à beijar o pescoço da garota, enquanto apalpava os seios dela.

Percebendo que seu parceiro estava sem apoio, pois suas mãos estavam oculpadas em outros lugares de seu corpo, Letícia usou a força que ainda tinha para empurrar o garoto longe, se libertando de suas garras.

Lucas percebeu o quanto tinha sido abusado, e tentou voltar atrás com o que acabara de fazer.

- Me desculpe. Eu... Eu não sei o que me deu.

Letícia o olhava apreensiva, sabia que aquilo foi a gota d'água para o que estava rolando entre eles. No entando, deixaria pra dar um ponto final quando ficar longe e segura do garoto, sabia bem o temperamento dele.

Um barulho estranho em frente ao carro, fez com que ambos direcionacem suas atenções para aquilo. Um homem, que estava a poucos passos à frente da luz dos faróis do carro, escavava algo com uma enxada. Ele usava roupas velhas e um chapéu de couro.

Lucas imaginou que o tal homem era um trabalhador da região, e provavelmente cuidava da extensa plantação de milho que preenchia os lados da rodovia que estavam. Ele pediu pra que Letícia o esperasse dentro do carro, pois iria conversar com o homem.

- Boa noite, senhor! Desculpa o incômodo, mas poderia nos ajudar? Eu e minha amiga estamos indo para uma festa e nosso carro deu problema.

Estranhamente, o trabalhador em questão não respondeu nada do que Lucas havia dito. Sem pausas, ele apenas continuava o que fazia em silêncio.

Lucas não entendia qual era a do homem, olhava pra Letícia, que por sua vez, o assistia no carro sem saber o que fazer. Apesar de estranhar a forma como o homem agia, o garoto decidiu o repreendê-lo com um toque em seu ombro, já que estava de costas pra ele. Para a surpresa dele, aquele que estava em sua frente não era um homem, como havia imaginado, e sim uma criatura medonha coberto de palha, vestido com trajes de quem realmente trabalhasse naquela região.

Assustado com o que via, ele tentou voltar para o carro, mas foi impedido pela criatura que o nocauteou com a ferramenta que usava. Enquanto Letícia gritava assustada no banco do carro, o espantalho continuava açoitando Lucas que sangrava tanto ao ponto de respingar na roupa do assassino.

Depois que arrancou com suas próprias mãos a cabeça do garoto, o indivíduo estranho partiu pra cima de Letícia, que já estava rouca de gritar. Ligeiramente, ela avançou para a porta do motorista e a trancou, esperava que com aquilo o espantalho não pudesse fazer mal a ela. No entanto, ela havia esquecido uma variante naquela equação: a enxada que ele acabou de usar pra matar Lucas.

Enquanto ele tentava rachar o vidro, a garota buscava encontrar um solução para o que estava prestes a acontecer. Pegou seu celular na bolsa e discou o número da polícia, porém estava fora de área. Irritada, ela o arremessou contra o vidro onde o assassino estava. Sem saber o que fazer e aos prantos, abriu a porta do seu lado do carro e correu na direção da plantação de milho. Após algum tempo vagando, sem ter noção por onde andava já que estava noite e a plantação a impedia de ver, finalmente chegou ao um ponto onde já não estava mais cercada pelo milharal. Era uma área com uma vegetação rasteira e bem próxima ao lado oposto da rodovia que fugiu. Percebeu também, pelo brilho dos faróis, que um carro vinha ao longe, uma cerca a separava do seu objetivo.

Quando começou atravessar o arame enfarpado, alguém a puxou pelos cabelos, e com uma força monstruosa, a jogou de volta para dentro do milharal. Tentou novamente gritar por socorro, mas o espantalho foi mais rápido perfurando diversas vezes a garganta dela com uma faca que guardava em sua cintura.

Deitada com as mãos sobre seu pescoço, Letícia observava em sua frente a figura aterrorizante que a esfaqueou. Inclinando sua cabeça para o lado, o espantalho indicou com um dedo em frente a seu rosto pra que ela não fizesse barulho. Uma nova concepção do medo, aos poucos, misturava-se com os pensamentos finais da garota.

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