Justo e conforme o não planejado
Jungkook suspirou quando as portas de aço se abriram e ele chegou ao andar onde morava. Segurou no apoio da mala e andou, porém, parou segundos depois ao perceber a rodinha da bagagem presa entre o espaçamento do elevador com o piso. Ele bufou e tentou desprender a rodinha com pouca paciência, logo puxando-a de uma vez e consequentemente fazendo-o dar alguns passos para trás pela força que havia usado.
Parecia inquieto. Os fios loiros cobrindo boa parte do seu rosto e o olhar aparentemente perdido no chão.
O som do elevador ecoou e as portas se fecharam novamente, deixando o andar silencioso demais. Ele suspirou, colocando os fios para trás com uma das mãos, depois pegou a chave no bolso da calça jeans e abriu a porta da sua residência, os calçados foram retirados e a mala foi posta ao lado da porta.
Mais um suspiro.
Jeon observou o apartamento em silêncio por alguns segundos, negando com a cabeça em seguida. Estar ali de novo fazia os seus pensamentos voarem com facilidade, ainda mais que antes, e isso era o que estava lhe deixando mais inquieto e levemente estressado.
[Taehyung 09:25] Me liga caso precise de algo.
Ao ver a mensagem pela barra de notificação, um sorriso mínimo surgiu nos lábios dele. O celular foi desbloqueado e o chat de Kim logo foi aberto.
[Hoje 09:26] Tá bom, obrigado... Você já foi?
[Taehyung 09:26] Não, ainda estou aqui embaixo. Esqueceu alguma coisa?
Jungkook leu aquela frase pelo menos umas três vezes enquanto mordia de leve o lábio inferior, os olhos pareciam perdidos vagando por várias partes do cômodo em que estava, enquanto tentava formular uma resposta apática.
Os dedos voltaram a tatear a tela do aparelho e, por mais que ele quisesse responder de uma forma, a sua resposta teve que sair como a mais correta para aquele momento.
[Hoje 09:28] Não, está tudo na mala. Você já pode ir, Tae, não quero que se atrase para o trabalho por minha causa.
Taehyung pareceu demorar mais que o normal para responder, mas no fim apenas escreveu uma mensagem simples:
[Taehyung 09:29] Tudo bem. Tenha um bom dia, Kook :)
Jungkook sorriu fraco por alguns segundos, o celular sendo desligado no tempo em que passos calmos foram direcionados para o sofá da sala de estar. O corpo foi jogado contra o estofado e então ele se permitiu fechar os olhos, sua cabeça automaticamente pesando pelos pensamentos que não paravam de rondar a sua mente um minuto sequer.
Ele havia voltado para casa. Namjoon seria solto naquele dia. Sua relação com Taehyung estava em outro nível. Uma futura conversa iria ter que acontecer.
No fim, ele já imaginava como isso terminaria.
Depois de alguns minutos ele se levantou e caminhou até o banheiro sem muita animação, os passos calmos e silenciosos, a residência quieta demais.
Tomar um banho quente; era com isso que estava contando naquele momento para tentar evitar aqueles pensamentos desgastantes e insistentes. A água morna em contato com a pele até o fez relaxar um pouco, as pontas dos dedos massageando o couro cabeludo enquanto a água molhava seus fios acabou lhe trazendo uma boa sensação. E até mais que isso. Acabou trazendo uma memória também.
Por um momento, quando seus dedos entrelaçaram seus próprios fios, ele se recordou da mesma forma que fez com os fios de Taehyung em meio ao beijo que deram. Talvez nem fosse uma situação que fizesse sentido para se recordar daquilo, só que ele recordou.
Lembrava perfeitamente daquele momento. Enquanto se beijavam, suas mãos agarravam os fios castanhos entre os dedos enquanto sentia as mãos do delegado explorarem a sua cintura. Lembrava da forma como tinha o seu corpo prensado contra a parede, até mesmo da perna de Taehyung que estava entre as suas naquele momento. Seu corpo não só ficou quente como também o seu coração acelerou.
Céus. Foi um beijo que não durou muito tempo, porém Jeon se perdia nos próprios pensamentos todas as vezes que se recordava dele, era automático.
— Idiota... — se xingou em um fio de voz, a mão se fechando e batendo contra a cerâmica da parede.
Queria poder viver os próximos dias tranquilamente, mas estava impossível com todos aqueles pensamentos.
Namjoon. Taehyung.
Seus sentimentos estavam completamente confusos, tanto que a sua cabeça começava a doer todas as vezes que tentava entendê-los de uma vez.
Namjoon o fez ter boas sensações no tempo em que estavam juntos, foram bons os momentos que puderam vivenciar um com outro, Jungkook sabia disso. Entretanto, a diferença para com Taehyung era simples: Jungkook passou a desejar ter as sensações com ele, queria poder vivenciar e então se perguntar o que iria sentir depois de experimentá-las, mesmo que já estivesse imaginando uma boa parte.
Talvez isso tudo não seria tão confuso se as duas pessoas envolvidas não fossem irmãos. Se esse fosse o caso, talvez Jungkook não estivesse se achando tão idiota por estar raciocinando tudo aquilo em meio a um banho cujo o propósito era relaxar, o que era totalmente o contrário do que estava fazendo. Sentia que sua cabeça poderia explodir de tanto pensar e por mais que ele quisesse esquecer de tudo ao seu redor, não conseguia. Pelo menos não por enquanto.
[...]
Taehyung dirigia o carro em silêncio, o olhar concentrado no trânsito enquanto ouvia uma música escolhida por si tocando baixo. Quando teve que parar o veículo no sinal vermelho, o seu celular tocou ao receber uma chamada. Ele pegou o aparelho e encarou a tela do mesmo, vendo que era uma ligação da sua mãe.
— Oi, mãe — falou simples, voltando a mão para o volante depois de ter conectado diretamente a chamada ao som do carro.
— Como estão as coisas? Já está no trabalho?
— Acabei de deixar o Jungkook. Daqui a dez minutos eu chego. — Fez uma pequena pausa antes de continuar. — Aconteceu alguma coisa? Precisa de algo?
— Não, está tudo bem. Eu apenas liguei querendo saber se você já estava na delegacia. — Deu um breve suspiro. — Eu falei com o seu pai e avisei que eu quero levá-lo para casa quando ele sair.
— Não precisa se preocupar com isso, mãe, eu posso levá-lo.
— Eu sei, o seu pai disse o mesmo, porém eu quero ir e quero que ele veja que eu sou a mãe dele, uma mãe que ama e se preocupa, mesmo que ele pense que não. Então por isso estarei lá, esperando até ele finalmente sair para então irmos para casa.
— Tudo bem, espera na minha sala caso chegue antes de mim.
— Tá bom. Dirija com segurança, ouviu?
— Sempre.
E então desligou a chamada, a música que antes tocava baixo voltando a soar. Kim não sabia ao certo como estava se sentindo, seus pensamentos estavam vagos enquanto dirigia pelas ruas. Queria saber o que aconteceria dali para frente, levando em conta tudo o que tinha acontecido, tanto com Jungkook, quanto com seu irmão.
Tudo seria diferente. Evidentemente. Era com isso que Taehyung contava, até porque não iria conseguir fingir que as coisas estavam como antes.
"Não podemos apenas continuar nossas vidas?"
Aquela frase do de fios loiros estava fixa em sua cabeça. Tinha um certo receio de Jeon querer esquecer de tudo, ou melhor, querer se afastar ou ir embora. Era uma situação delicada, por isso não conseguia pensar em algo que o fizesse parar de remoer tudo aquilo.
Namjoon seria solto em algumas horas, estava tudo certo. Logo, provavelmente, o mesmo iria atrás de Jungkook. O que seria dali para frente, afinal?
O de fios claros tinha confessado uma coisa, que o amava. Mas também ainda amava o seu irmão.
Amava os dois.
As coisas poderiam ser mais fáceis.
Poderia.
[...]
[Jin 10:12] Sua mãe está aqui. Você chegou?
[Hoje 10:16] Cheguei. Acabei de estacionar.
Taehyung desligou o carro após finalmente ter estacionado, se dirigindo para dentro da delegacia onde já se preparava para o que viria. Suspirou fundo, guardando o celular no bolso de trás da calça, a gola da camisa social branca que vestia estava um pouco aberta já que os primeiros botões ele optou por não abotoar; sentia como se sua respiração estivesse mais pesada que o normal naquela hora.
Os passos estavam mais rápidos. Passou por seus colegas de trabalho sem dar muita atenção naquela hora, até chegar na sua sala e abrir a porta. A primeira pessoa que deu atenção naquele lugar, de fato, foi a sua mãe, que estava de pé na frente da janela que dava visão a um pátio bem organizado da delegacia. Ela se virou quando o viu abrir a porta e entrar.
— E o pai? — foi a primeira coisa que ele falou, fechando a porta novamente.
— Ele foi comprar um café para nós. É o tempo em que saímos com o seu irmão, não é? — Ela estava com os braços cruzados e tinha uma expressão apreensiva.
— É, claro. — Ele também cruzou os braços. — Independente do que aconteça daqui pra frente, não quero lembrar do que fiz por ele, mãe. — Suspirou.
— Eu sei, nós também. — Ela se aproximou do mais alto, tocando o seu rosto com uma das mãos. — Não irá acontecer de novo.
— É por isso que estou deixando bem claro que essa foi a primeira e última vez. — A voz estava séria, apesar de que seu rosto indicava uma expressão triste.
— Ele com certeza aprendeu a lição. Sabe que o que fez foi errado.
Silêncio.
Um contato visual de poucos segundos se fez entre os dois.
— E o que fiz por ele foi errado.
— Taehyung, ele é seu irmão. — Ela viu a forma como Kim prensou os lábios e desviou o olhar para outro lugar. — É o seu sangue.
— É, ele é meu irmão. — Esfregou os olhos com os dígitos da mão direita. — É justamente isso, mãe. É por conta disso que não consigo ficar em paz. Tem algo a mais.
— É aquele assunto? — Ela segurou e abaixou a mão que ele usava para esfregar os próprios olhos, fazendo-o olhá-la. — Está se martirizando porque o Jungkook–
— Eu não tô legal com tudo isso — falou de uma vez, cortando a fala da mais velha. — Percebi agora o quão patético eu sou no meio disso tudo, talvez até o mais errado nessa história toda.
— Tudo bem, é normal que se sinta assim. — Suspirou. — Então, o que quer fazer?
Taehyung colocou para trás os fios de cabelo e encarou o teto por alguns segundos. Seu coração estava apertado. Sentia-se deslocado. A sensação era de que nunca mais iria conseguir agir naturalmente com Namjoon.
As outras coisas nem eram o x da questão.
Jeon Jungkook. Este era o x da questão.
— Eu não sei mais o que eu to sentindo, mãe — falou rápido. — Eu prometi que não deixaria ninguém encostar um dedo no Jungkook... — Olhou para a mais velha. — Eu acabei não cumprindo com isso. Não percebe? E se a necessidade desse ato com o Namjoon for algo do meu subconsciente, apenas por que me sinto culpado de ter me envolvido com o Jungkook? — Prensou novamente os lábios.
— Mas é claro que não é isso — respondeu na mesma hora. — Você está confuso, mas não arrependido. O nosso pior inimigo é a nossa mente, nossos pensamentos. — Ela segurou uma de suas mãos. — Você ama o seu irmão e você ama o Jungkook, não deixe a ansiedade colocar dúvidas e medos no seu coração.
— Isso é uma droga.
— É, eu sei. — Ela sorriu fraco. — Faça o que seu coração estiver dizendo, independente do que está acontecendo. — Ele desviou os olhos para qualquer lugar daquele cômodo, suspirando silenciosamente. — Filho, você é bom, uma pessoa iluminada, é por isso que está ajudando o seu irmão. Não se deixe convencer do contrário, ouviu?
Taehyung ficou em silêncio, mirando o mesmo local de antes como se estivesse em um leve transe, porém ouvia perfeitamente a voz da sua mãe.
— Eu vou te esperar lá fora, quando estiver mais preparado. — Se despediu dando um beijo em sua bochecha.
Ele apenas assentiu com a cabeça, vendo a mais velha abrir a porta e sair do cômodo.
Estava sozinho mais uma vez. Sua cabeça estava querendo doer graças aos pensamentos e o leve estresse que estava sentindo.
Se ele ao menos tivesse dormido bem durante a noite daquele dia, talvez estaria se sentindo um pouco melhor naquele momento. Porém, ficar revirando na cama em ansiedade não estava nos seus planos, como também não estava nos seus planos sentir que estava perdendo completamente o controle de suas emoções.
Não conseguia ter a certeza se deveria ou não pensar daquela forma. Querer tirar Namjoon daquela situação não era simplesmente porque se sentia culpado por amar o amor do próprio irmão. Ou era?
Se realmente não fosse, então por que essa dúvida estava martelando seus pensamentos? E em que momento ela passou a existir?
Perguntas e perguntas. Kim poderia jurar que sua cabeça iria explodir.
Jungkook. Namjoon.
Ele finalmente soltaria o irmão. Consequentemente, Namjoon finalmente iria até Jeon.
Mas e Jungkook, como reagiria no meio de tudo aquilo?
Aquela frase, aquela maldita frase novamente. "Não podemos apenas continuar nossas vidas?"
Talvez o de fios loiros conseguisse seguir em frente com sua vida normalmente, mas, definitivamente, Taehyung não conseguiria. E aquela confusão em sua cabeça só confirmava tudo isso.
Em alguma hora Taehyung iria ter que perguntar ao próprio Jungkook a real intenção naquela frase, o que ela realmente significava quando ele resolveu dizê-la. Uma peça daquele quebra-cabeça de pensamentos incessáveis estava faltando e, até entender o que ele queria, aquela indagação iria atormentá-lo por um tempo.
[...]
— Pode sair, está liberado — Seokjin falou calmamente após abrir a cela onde Namjoon se encontrava, o mesmo estava sentado na ponta da cama que estava no canto da parede, o olhar fixo no chão. — Kim Namjoon.
Ele só olhou para o oficial de pé na frente da cela quando se deu conta do seu nome sendo dito por ele. Resolveu se levantar, cruzando os braços no mesmo tempo que olhava para Jin em silêncio.
— Pode chamar o Taehyung para mim?
Seokjin pareceu analisar o outro a alguns passos de onde ele estava, observando atentamente a expressão na face bonita. Olhou ao redor na cela como se estivesse certificando algo.
— Você foi liberado, não entendeu? — Arqueou as sobrancelhas, apontando para o corredor que dava na saída daquele local. — Pode ir para casa.
— E você não me ouviu? — foi a vez dele perguntar. — Eu quero falar com o Taehyung, poderia chamar ele aqui ou não?
— O que você quer?
— É particular, coisa de irmãos.
— Não está aprontando nada, está?
— Claro que não, apenas quero ter uma conversa com ele e fazer as coisas de maneira justa.
Jin suspirou e fechou a cela novamente, trancando-a. Encarou o Kim por alguns segundos antes de voltar pelo mesmo corredor que tinha vindo e assim não demorou muito para vir com a companhia do delegado atrás de si, passando-se apenas três minutos.
Taehyung tinha o semblante sereno, porém estava inquieto. Naquela hora, ele esperava que Namjoon já estivesse assinando alguns documentos para ser liberado e finalmente voltar para casa, mas ao invés disso ele havia requerido a sua presença na cela.
O Kim mais velho rapidamente se levantou da cama que estava sentado e se aproximou das barras de ferro, chegando mais próximo do irmão. Taehyung cruzou os braços e inclinou levemente a cabeça para o lado, esperando ouvir algo.
— Eu agradeço de verdade pelo o que fez — começou falando —, mas eu pensei bastante e preciso ser penalizado pelo meu erro de alguma forma.
— Como é? — Ergueu as sobrancelhas, encarando o mais velho. — E você decide me falar isso justamente na hora que recebe a liberação?
— Eu sou um idiota, Taehyung. Errei feio. — Suspirou. — E fui um completo babaca com a pessoa que mais amo nesse mundo. — Mesmo que Taehyung não quisesse, ele não pôde evitar sentir o peso que aquela última frase teve em si. — Eu magoei nossos pais, como também poderia causar até problemas para você.
— Eu disse que resolvi tudo, voc– — Foi interrompido.
— A questão não é essa. — Segurou com as mãos as barras em sua frente, a cela sendo a única coisa que o separava do seu irmão, que ainda estava acompanhado de Jin ao seu lado. — Eu preciso ser responsabilizado, dessa forma eu conseguiria o perdão que preciso de você e dos nossos pais.
Taehyung iria começar a pensar em como faria para prosseguir para uma nova fase conforme o pedido do irmão, mas Kim voltou a falar novamente.
— E também, só assim eu conseguiria fazer o Jungkook me perdoar e conquistá-lo novamente.
Seokjin alternou o olhar entre os dois naquele momento. Ele percebeu como Taehyung ficou em silêncio com a última fala, assim como também percebeu o olhar observador de Namjoon sobre o mais novo.
Na verdade, aquela sugestão de saída realmente seria uma forma justa olhando para a situação de Namjoon. Se não fosse pela última afirmação, talvez Taehyung ainda não estaria pensando tanto se deveria perguntar qual a proposta do irmão para se redimir de forma justa.
— É uma ótima ideia. — Jin resolveu quebrar aquele silêncio estranho. — Você usaria uma tornozeleira eletrônica, pagaria alguns meses de trabalho social imposto pelo Estado e provaria a sua liberdade.
Os dois pares de olhos ali se dirigiram para Taehyung, que ainda continuava em silêncio e com os braços cruzados. Parecia estar com os pensamentos além dali.
— Você não vai dizer nada?
E só assim, com a voz de Namjoon lhe indagando meio incrédulo, que Taehyung voltou para a realidade. Ele suspirou, assentindo com a cabeça.
— Tudo bem, seis meses de trabalho direcionado pelo Estado com tornozeleira eletrônica. — Namjoon sorriu, contente com o que acabara de ouvir. — E mais uma coisa.
— O quê? — Também cruzou os braços, esperando a fala do irmão.
— Terá que dormir todas as noites aqui até finalizar.
— Como é?
— É justo — falou sério. — Não disse que quer fazer isso direito? Então aí está. — Continuou com a mesma pose de antes.
Namjoon sentiu um leve incômodo ao saber a proposta final, mas decidiu ficar quieto e não rebater.
— Ok, me dê apenas o final de semana com as noites livres, mesmo que eu precise trabalhar até nos sábados e domingos. Eu só peço a parte da noite nesses dois dias.
Taehyung pareceu pensar mais uma vez, olhando nesse tempo para seu colega de trabalho. Jin apenas assentiu com a cabeça, como se estivesse concordando com a sugestão.
— Tá, finais de semana você dorme fora. — Colocou as mãos nos quadris, mordendo a ponta da língua dentro da boca. — E tentarei ver se permaneço com o pedido de trabalho nos finais de semana ou não, vou ver o que posso fazer.
— Iremos arrumar esses quesitos e depois venho te falar pessoalmente quando tudo estiver pronto, inclusive o início e os horários... — Jin terminou de falar, vendo o que estava atrás da cela sorrir minimamente.
— Valeu mais uma vez, obrigado — ele respondeu e voltou a se sentar na cama, parecendo contente e aliviado.
E então Taehyung saiu pelo corredor sem falar mais nada, sentindo algo estranho dentro de si remoer, mas ao mesmo tempo sentir uma pequena tranquilização. Era complicado.
De qualquer forma, aquela tinha sido uma decisão do próprio Namjoon, logo, ele ainda o ajudaria.
[...]
A porta do escritório foi aberta novamente. Taehyung entrou sem muita pressa, acompanhado de Seokjin e sua mãe; a mesma que durante aquele tempo estava esperando alguma notícia enquanto aguardava na recepção.
Ela tinha uma expressão confusa no rosto, viu o filho mais novo sentar na cadeira atrás da mesa e suspirar, jogando as costas contra o estofado de couro e fechando os olhos. A mais velha olhou para o policial que a olhava de volta ,não muito distante da mesma mesa, e então ela gesticulou com as mãos como se quisesse saber o que havia acontecido.
Jin a olhou com uma expressão confusa.
— Ninguém vai me dizer o que está acontecendo? — resolveu falar, chamando a atenção das íris do mais novo ali.
— O Namjoon quer sair de forma justa, mãe. — Ele foi direto.
— Como assim?
— Seis meses todos os dias de trabalho direcionado ao Estado com tornozeleira eletrônica, e também precisará dormir aqui... com exceção dos finais de semana. Mas ainda estamos vendo essa última possibilidade — Jin resolveu responder, vendo a mulher abrir a boca algumas vezes, sem conseguir falar.
— Ele disse que iria querer isso? — Ela olhou para Taehyung, que ainda continuava sentado.
— É, segundo ele, só assim conseguiria o nosso perdão. E, especificamente, conseguirá o perdão do Jungkook e conquistá-lo de novo. — Terminou de falar, vendo o seu pai adentrar na sala logo em seguida com dois copos de café expresso nas mãos.
— Querido, o Namjoon não quer sair agora — ela avisou assim que viu o marido se aproximar.
— Ele não quer? — repetiu confuso, entregando um dos copos para a mulher ao seu lado. — Taehyung? — O olhou, esperando uma explicação.
— Pai, ele quem decidiu isso, tá? — Se levantou. — Ele disse que quer conquistar de forma justa o nosso perdão e o de Jungkook, para conquistá-lo novamente. Eu não posso fazê-lo mudar de ideia.
O de cabelos levemente grisalhos bufou ao saber o motivo para tal atitude do filho mais velho.
— Ele só está pensando naquele rapaz, é apenas o que importa para ele.
— Querido, não fale assim. — Ela colocou a mão em seu ombro. — E se ele realmente quiser fazer a coisa certa, cumprir com o que deve?
— Acha mesmo que ele iria querer ficar aqui se não tivesse algo pelo qual tentaria reconquistar a todo custo? — Fez uma pausa. — E não estou falando da nossa família. É apenas aquele rapaz.
— Taehyung, diga ao seu pai o que ele disse, diga... — Ela andou um pouco mais na direção da mesa. — Fale a ele que não é isso o que ele está pensando. O seu irmão só quer fazer a coisa certa, não é?
Taehyung olhou para Seokjin e suspirou, dando as costas para os três naquele cômodo e passando a encarar a visão que a enorme janela proporcionava do pátio do lado de fora.
É claro que Namjoon queria reconquistar o Jungkook. Mas também queria mostrar a sua família que estava buscando a forma justa de ser liberado, certo?
Taehyung poderia afirmar isso ao seu pai como sua mãe estava pedindo, porém, por que ele sentia que se falasse isso, estaria mentindo de alguma forma?
Como poderia ter a certeza de que as intenções de Namjoon realmente se tratavam de mostrar para os pais que ele queria se esforçar para mudar; começando dali, e que não era um motivo simplesmente guiado por uma força maior que se centralizava em apenas um nome: Jeon Jungkook. Como poderia ter a resposta dessa dúvida?
Aliás, a causa motivadora disso tinha mesmo importância?
Apenas mais pensamentos e indagações.
Só que existia um fato, e era: Namjoon queria fazer a coisa certa sobre sair de forma justa, independente da razão que o motivava a seguir com isso. Ponto.
— Ele quer sair de forma justa e isso é o que importa, essa atitude é plausível e é uma escolha dele — falou, voltando a olhar para os pais que tinham uma expressão triste no rosto. — Vou organizar os documentos, vocês podem ir para casa. — E então se sentou mais uma vez na cadeira. — Jin, vou precisar da sua ajuda com o local que vamos indicá-lo com o trabalho. Vou deixar nas suas mãos essa tarefa, ou público ou privado, veja as melhores condições e depois encaminha pro jurídico.
— Para o jurídico? E por acaso você já está com um juiz em mente para dar essa declaração?
— Vou ter que ligar para a Suzy. — Pegou o celular no bolso da calça, desbloqueando o aparelho em seguida.
— Filho, tem certeza que quer colocar a Bae nessa história? — a senhora Kim perguntou preocupada. — Ela... você sabe bem, eu acho que tem pendências e ela talvez pense qu–
— Está tudo bem, mãe. Somos amigos e trabalhamos com o mesmo ciclo de pessoas, ela vai me ajudar tranquilamente com o que preciso. — Tentou tranquilizar a mulher que o olhava pensativa. Aquela frase dita por ele mesmo até serviu para que ele se convencesse que o contato que iria ter com a sua ex seria daquela forma; tranquila.
— O seu irmão virá para casa ainda essa semana? — o mais velho entre todos resolveu perguntar.
— Farei o possível. — Olhou para os pais de pé em frente a sua mesa. — Nos finais de semana eu deixarei ele livre, vou correr para conseguir isso. — Sorriu minimamente. — Não se preocupem, eu resolvo tudo. Podem ir para casa.
E então, sem relutar com mais perguntas ou dúvidas, eles foram embora após se despedirem dos dois que permaneceram na sala após eles saírem.
Taehyung não esperava que algumas coisas terminariam daquela forma, que seu irmão ainda estaria ali naquele momento e mais ainda, que ele teria que contar com a ajuda de Suzy, sua ex-namorada, para conseguir liberar Namjoon da forma que o mesmo queria. Aquele dia estava saindo tudo conforme o não planejado.
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