3 | Mente melancólica
OI, MEUS BEBÊS!!! Desculpa o atraso de +2 horas, de verdade! Minha programação deu super errado e juro que não vai acontecer de novo :( vocês sabem que eu levo postagem muito à sério
Mas vamos fingir que foi uma forma de "compensar" que eu postei adiantado semana passada hihihi felizmente fã de artistas #1 na billboard com uma música coreana e nomeados ao grammy, né?
ENFIM! ESTAVA MUITO ANIMADA PRA POSTAR PRA VOCÊS!! E VER A REAÇÃO PRINCIPALMENTE COM O COMEÇO KKKKKKKKKK Por favor, comentem e reajam muito pra eu saber o que acharam e usem a hashtag no twitter! Eu sempre leio tudinho!
Boa leitura!
#ConvidaProBaile
»💭«
Jungkook conseguiu.
Jungkook conseguiu me convidar.
Simples daquele jeito, e eu não conseguia me sentir mais miserável. Já tinha passado pelo menos meia hora chorando com a cara enterrada no meu travesseiro, e eu me sentia incapaz de parar. As lágrimas escorriam sem minha permissão e molhavam a fronha que já causava um toque desconfortável no meu rosto.
Eu tinha falhado, eu tinha falhado com Jungkook. Eu não consegui fugir, não consegui dizer não.
No fim, meu melhor amigo realmente achou uma estratégia incrível. No momento que eu saí de casa na manhã de hoje, certo de que conseguiria me antecipar sobre qualquer convite por ler seus pensamentos assim como tinha feito ao longo das últimas semanas, perdi.
Jungkook acordava mais rápido do que eu, então era sempre ele que ficava esperando na frente da minha porta. Ou seja, estava tudo normal aquele dia, e eu não suspeitei, não vi o brilho de determinação em seu olhar.
Então, assim que eu virei meu rosto para oferecer minha bochecha para aquele beijinho doce que ele sempre dava, fui surpreendido com o toque de suas mãos. Ele segurou meu rosto, fez com que eu olhasse no fundo dos seus olhos redondinhos de jabuticaba e pediu. Por fala e pensamento.
— Me acompanha no baile de formatura, Minnie? — Despejou. Suas mãos tremiam de nervoso, seus lábios também, os olhos brilhavam tanto, imploravam tanto que eu aceitasse que eu...
— Claro, Kookie — cedi na mesma hora. De novo. Que nem aquela vez que eu tentei me afastar fisicamente, aos sete anos, mas ouvi ele implorando pelo meu abraço em seus pensamentos. Eu era fraco por Jungkook, mesmo que quisesse ser forte por ele.
Será que ele percebeu que eu estou pedindo... como um casal? Não só como amizade...
Antes que ele perguntasse aquilo também, comecei a caminhar em direção à escola, tentando engatar nas nossas conversas aleatórias de sempre. Tentando fingir que eu não estava completamente destruído por dentro. Eu só precisava ter conseguido fugir por mais três dias... Era muita falta de sorte. Mesmo.
Passamos o dia daquele jeito, fingindo que estávamos normais, mas completamente agoniados. Apesar de fazer as brincadeiras de sempre, os pensamentos que intercalavam-se com as falas não eram fofos e distraídos, e sim pensando... que eu não queria ele de verdade. Que eu tinha aceitado como amigo.
Mas a grande verdade naquilo tudo era que eu tinha aceitado porque Jungkook era a pessoa que eu mais amava no mundo, que eu mais queria estar perto. Porque eu simplesmente não conseguia dizer "não" para ele, mesmo que aquilo fosse o melhor para nós dois. Eu definitivamente era egoísta, impedindo mais uma vez que Jungkook pudesse livrar-se de mim. Desse cara que lia seus pensamentos há mais de dez anos covardemente e ainda por cima tinha a cara de pau de lhe chamar de amigo.
No final, enquanto voltávamos para casa, Jungkook conseguiu alegrar-se um pouco, pensando daquele jeito único e sincero dele que querendo ou não o convite tinha sido um primeiro passo. E que muitas coisas poderiam acontecer no baile.
E aquilo foi um lembrete de que eu realmente estava muito na merda, porque eu tinha que dar um jeito de ir no tal evento sem ceder de novo pra ele, o que seria infinitamente mais tentador com a iluminação parca e colorida da festa, com o clima de casal. Com o tanto que eu sonhei e sonho em beijá-lo como um marco do final de uma fase da nossa vida e o começo de outra.
E era por causa daquilo que eu estava ali, chorando que nem o grande derrotado que eu sou, agarrado naquela cartinha que ele tinha feito pra me convidar e com a qual eu dormia todos os dias, fazendo meu melhor para não manchar a canetinha azul com minhas lágrimas e com o peito dilacerado de vontade de ter a melhor noite da minha vida com Jungkook. Mas se eu a tivesse, condenaria ele. Condenaria para sempre, porque aquela era minha chance de fazê-lo parar de ser meu.
Jungkook merecia ser de alguém, se entregar daquele jeito tão lindo dele, tão incrível, inocente, sincero e puro. Um desperdício, de fato, ser direcionado a mim. Merecia ser de alguém que recebesse todo aquele carinho pela via certa... por seus toques, por suas palavras, pelo jeito apaixonado que ele tinha de olhar... Não pelos seus pensamentos.
A pior parte de todas é que eu tinha entrado em um ciclo que eu simplesmente não conseguia sair. Toda vez que eu fechava os olhos e respirava fundo, tentando me acalmar, a visão do Jungkook arrumadinho pro baile, com o cabelo penteado para trás com gel, lindo como só ele era, me perseguia.
E eu, bobo, estava apaixonado por Jungkook até em meus pensamentos, segurando a mão quente e às vezes até meio suada dele em direção ao baile. E enquanto eu imaginava a gente rindo pelo caminho, algo tão comum, mas aquela noite tão diferente, eu percebia para onde minha mente tinha ido e começava a chorar. Eu era tão fraco por Jungkook que não conseguia nem evitá-lo em pensamentos... como eu iria fazer na vida real?
Chorei tanto que nem sei quando eu dormi, chorei tanto que a primeira coisa que Jungkook me perguntou, na manhã seguinte, foi se eu estava bem. E o desgraçado quase me fez chorar de novo, porque ele era todo muito perfeito e eu era muito apaixonado por ele.
Ah... Queria beijar os olhinhos inchados do Minnie... pensou, e sua forma de matar um pouco aquela vontade foi massagear minhas pálpebras com a ponta de seus dedos cuidadosamente. Ele chorou... Eu sei que ele chorou, mas por que ele não me conta o motivo?
— Tem certeza que você está bem? — Jungkook insistiu, afastando as mãos do meu rosto. Segurei o suspiro saudoso que eu queria dar por sentir falta de seus toques e abri meus olhos, vendo ao vivo sua expressão preocupada.
— Sim, Kookie, já falei. — Forcei uma risadinha para fingir que eu estava bem e normal. Comecei a pensar em como eu poderia justificar meu choro, porque ele sabia que eu tinha chorado, mesmo que eu negasse. — Minha mãe resolveu assistir um filme dramático ontem e você sabe como eu sou coração mole... Chorei a noite inteira.
Toda a postura de Jungkook relaxou com aquilo e ele abriu um sorrisão. Tudo nele transbordava amor e carinho por mim, tão genuíno que parecia me atingir que nem os raios solares quentes do verão. Detestava o quanto eu amava sentir tudo aquilo, todo aquele amor, e eu quase ficava bem só com aquilo.
Isso é, até eu lembrar que era justamente aquilo que eu não podia ter e me deixava miserável.
— Que bom que você e a tia puderam passar tempo juntos... — falou feliz enquanto segurava minha mão para a gente ir para o colégio. Se fôssemos criancinhas pareceria mais do que normal, mas como dois adolescentes quase jovem adultos, andar de mãos dadas indicava coisas diferentes do que na nossa infância. Mesmo assim, mantive elas unidas, como sempre fazia.
O comentário de Jungkook me deixou apenas mais triste. Minha mentira foi uma meia verdade. Minha mãe de fato conseguiu um tempo livre e me convidou para assistir um filme, o que era uma ocasião rara; ela e meu pai eram muito ocupados.
Mesmo assim, não consegui aproveitar aquele escasso tempo com ela. Comi o jantar quieto, porque me sentia muito mal com tudo. Comecei a chorar assistindo o filme antes dele sequer ficar triste e, assim, pedi desculpas e fui pro meu quarto me afogar em autopiedade. E, droga, eu tinha quase certeza que minha mãe propôs tudo aquilo porque foi ela que tinha me encontrado chorando na porta de casa aquele dia...
Será que se eu fosse o Minnie, eu perdoaria meus pais que nem ele perdoou? Tudo bem que os tios não fazem nada por mal e tentam seu máximo... mas acho que sou carente demais, eu me sentiria muito sozinho. Ou, talvez, se eu tivesse sido criado assim já estaria acostumado... Bem, o Minnie sempre foi o mais adulto e maduro entre nós dois, por isso que ele perdoa.
A verdade era que eu não sou tão maduro assim, eu só lia pensamentos. E era impossível ignorar o peso da culpa que meus pais carregavam pela ausência na minha criação, que eu sempre ouvia nas raras ocasiões em que me tocavam. Ler pensamentos era uma espécie de exercício compulsório de empatia.
Não que eu pudesse falar isso para Jungkook, então apenas respondi por pensamentos, o que eu sabia ser uma via de mão única. Era quase solitário o jeito que as palavras acumulavam-se na ponta da minha língua, mas eu simplesmente não podia responder verbalmente.
Saco... Me lembrei do baile e agora eu tô nervoso. Será que meu coração vai aguentar ir com ele? Acho que sou eu que vou buscar ele na porta de casa porque o Minnie sempre se atrasa, né... Mas vou acabar me sentindo o maior galanteador dessa vez.
Será que vai ser tipo em filme? Ele vai abrir a porta da casa dele, todo lindo e arrumado e eu vou ficar sem saber o que falar tamanha a beleza... e ficar apaixonado... Mas eu já acho ele muito lindo e já sou apaixonado, né... Capaz de eu passar mal e desmaiar. Vou pedir pra mamãe fazer só uma sopa de almoço que aí se for pra eu vomitar alguma coisa já tá meio líquido... Saco, por que eu sou assim?
Como eu já posso estar tão nervoso? Minha barriga tá se revirando toda... e a tia da cantina me disse que hoje voltavam os estoques de espetinho! E se eu não conseguir comer? Ah, Minnie, vou dar um jeito de fazer você me pagar um espetinho depois se eu realmente não conseguir comer nada. É tudo culpa sua!
Se eu já tô nervoso assim agora... o que vai acontecer quando eu e o Minnie nos beijarmos? Eu realmente não quero vomitar de emoção logo depois, vai ser horrível... Como que eu explico que é só porque eu fiquei nervoso? Talvez eu não coma nada mesmo no dia.
Que saco! Já tô me iludindo de novo... Eu não deveria me preocupar tanto com essas coisas porque provavelmente o Minnie tá indo comigo só como amigo, pra eu não ir sozinho. E, mesmo assim, já tô pensando em como eu vou vomitar na hora do beijo que nem vai existir. Vou reclamar com meus pais por eles terem me criado iludido desse jeito!
Minha mão já tá suando de novo... Ainda bem que é verão e aí o Minnie deve estar achando que eu só tô com calor, e não surtando com o nosso não-beijo. Mas beijar ele deve ser tão bom... Pena que ele não gosta de espetinho, quem sabe eu não ganhasse um beijo em troca de um?
Da onde eu tiro essas ideias... Queria tirar férias da minha própria cabeça, ela é absurda demais.
Olha, uma flor!
— Olha que flor linda, Minnie! — Apontou, com um sorrisão no rosto distraído até então. Sorri de volta, já estava com os olhos na flor, avisado por sua mente assim que a viu. Soltou minha mão para aproximar-se dela, agachando para observar melhor. — Achei... bucólico...
— Nem sei o que significa essa palavra...
— Também não, mas tenho quase certeza que essa flor é bucólica.
Talvez a flor fosse mesmo bucólica. Apesar de eu não saber o que aquilo significava; assim como Jungkook eu senti um bucolismo vindo dela. O jeito que ela crescia, altiva, no meio de uma rachadura no asfalto... O jeito que as pétalas roxas pareciam macias ao toque assim como a pele do Jungkook e a cobertinha favorita dele eram. Bucólico parecia descrever bem o que eu sentia olhando ela.
Enquanto eu agachava ao seu lado, Jungkook tirou o celular do bolso e passou um bom tempo tentando achar um enquadramento legal para a foto, artista do jeito que ele era. Provavelmente meu papel ali era apressá-lo ou nos atrasaríamos para a aula, mas a única coisa que eu consegui fazer foi observar, apaixonado, como Jungkook era todo incrível.
Mesmo mordendo os lábios, concentrado, ainda carregava um sorriso satisfeito de ter achado uma beleza escondida nas pequenas coisas da vida. O reflexo de seus olhos brilhosos eram doces e empolgados. Mesmo depois de todos aqueles anos, eu não sabia lidar com aquele seu jeito tão genuíno, tão sincero, tão Jungkook de ser. Ele sempre foi daquele jeito, nunca perdeu aquela essência de criança curiosa, nem mesmo na sua fase emo.
E fiquei lá, perdido no seu sorriso, no contraste bonito de seu cabelo bagunçado, negro, e a sua testa. Como era verão, sua pele estava ainda mais bronzeada que o normal, e eu sabia que por baixo da camisa do uniforme ele tinha duas marcas engraçadas: uma da regata que ele costumava usar durante o dia e outra da manga da camisa do colégio, em uma espécie de degradê de cores. Pele de artista, que nem ele todo.
Acho que me perdi tanto admirando ele que nem percebi quando de fato terminou de tirar a foto da tal flor bucólica. Fui arrancado à força de meu transe de paixão ao ouvir sua risada e ao ser puxado para um abraço que quase me desequilibrou, já que eu estava agachado.
Jungkook tirou uma foto nossa enquanto eu afundava em seu peito. Quando me recuperei do susto, observei a selfie que ele me mostrava orgulhoso. E ele, para variar, estava todo lindo, alegre, brilhoso como o sol com seu sorrisão. E eu ainda sustentava aquela expressão de trouxa apaixonado, mesmo desequilibrando. Porque eu sabia que ia cair contra o peito de Jungkook, que tinha aquele cheiro tão gostoso.
Fiquei preocupado ao analisar aquele registro claro da minha paixão por ele. E estava no celular do Jungkook... Será que ele notaria o quanto eu era apaixonado por ele de volta? Espero que não, ou minha vida seria ainda mais difícil.
A carinha dele todo fofo olhando pra flor... Que saco, acho que vou colocar essa foto de wallpaper... Será que ele acharia estranho? Se eu falasse algo sobre ser só na amizade, sei lá...
Ri baixinho, aliviado com o pensamento. Puxei sua bochecha para dar um beijinho na minha flor, que eu tanto gostava de olhar, antes de me levantar e ajudá-lo a fazer o mesmo.
— Vamos chegar atrasados — avisei. E, como uma desculpa de não segurar sua mão novamente porque eu me sentia tão cativado que talvez choraria em ouvir seus pensamentos, comecei a correr.
— Acho que a gente não tá tão atrasado assim! — reclamou, mas acompanhou meu ritmo de qualquer jeito.
— Mas se a gente correr, temos certeza que não vamos chegar atrasados — retruquei. E ver ele correndo ao meu lado me lembrou de uma coisa. — Corrida? Pelos velhos tempos?
Nem terminei de fazer a proposta e Jungkook já tinha arrancado de vez, deixando para trás uma risadinha abafada e a mim. Ele era fofo daquele jeito também. Uma flor competitiva.
Acelerei o ritmo, mesmo que soubesse que àquela altura do campeonato eu não conseguiria ultrapassar Jungkook mais. Não que eu fosse lento, ele que era muito rápido. E nos desviamos das pessoas que usavam as mesmas calçadas e ruas que a gente como se elas não existissem, rindo um com outro, no nosso mundinho.
Brincamos, como se fôssemos aquelas criancinhas de seis anos, e não jovens de dezessete. Jungkook conseguia me transportar com facilidade para qualquer momento da minha vida e eu nem conseguia me sentir bobo por estar agindo de forma tão infantil.
A corrida acabou no bebedouro do nosso colégio, ponto de chegada escolhido, incrivelmente, por Jungkook. Nós dois sorrimos, ofegantes e suados um pro outro, antes de Jungkook dar um sorrisinho vitorioso e se inclinar para beber água.
— Vou propor corridas mais vezes... — comentei com a respiração entrecortada. Acho que os outros alunos nos olhavam estranho, mas eu não ligava. Era quase como se só o Jungkook existisse pra mim... Puta merda, sem ele eu não tenho ninguém. E eu não quero ninguém. Só ele. Deixei com que meu cansaço escondesse a tristeza que me apoderou, do nada. — Quem sabe assim você não bebe mais água...
Jungkook levantou o olhar para mim, observando em silêncio. Mesmo que eu não o tocasse, não era muito difícil adivinhar o que ele estava pensando. Provavelmente alguma coisa como casa comigo, Minnie. Você tem que casar comigo e me lembrar de beber água todos os dias, ou eu vou morrer de pedra nos rins! Imagina que catástrofe! Só nosso casamento vai me salvar, é uma questão de vida ou morte!
Minha cabeça conseguiu recriar a mente de Jungkook com tanta facilidade que me assustou. E, novamente, me lembrou o quão impossível era para mim ter um relacionamento saudável com qualquer pessoa. Sim, eu ficaria sozinho quando não tivesse mais Jungkook, mas talvez aquilo realmente fosse necessário. Eu não tinha outra opção além de viver sozinho ou ser taxado como louco e pertubador.
— Tô indo pra aula, acho que o professor já chegou... — Deixei Jungkook lá, sem nem beber a água eu mesmo, com um nó na garganta.
— Até o intervalo, Minnie! — ele falou alto, querendo chamar minha atenção, mas não pude virar para trás nem para dar um sorriso antes de ir, porque a única coisa que se esboçava no meu rosto era choro.
Passei a aula inteira com a cara enterrada no livro, tentando me esconder. Como eu não era de fazer aquilo, o professor achou que eu estava passando mal e me mandou para a enfermaria. No fim, fiquei chorando em silêncio lá em um leito qualquer, pensando quando que minha vida tinha virado uma tragédia daquele jeito. Aos sete anos, desde que aquela habilidade nojenta tinha aparecido em mim? Ou agora, dez anos depois, que eu sabia que não poderia mais fugir dos sentimentos entre mim e Jungkook e teria que dar algum tipo de fim a eles?
Provavelmente meu destino estava traçado aos sete, quando tudo começou, mas eu poderia ignorar a melancolia do que eu vivia por causa da presença do meu melhor amigo, do meu parceiro de vida, do companheiro que conseguia encher minha existência só de estar perto de mim. Agora, tudo parecia desmoronar.
Às vezes eu fico pensando se a gente é dependente demais um do outro... talvez. Adolescentes já eram meio emocionados e à flor da pele daquele jeito, achando que tudo era questão de vida ou morte. Queria colocar a culpa de toda aquela paixão e dependência nos hormônios e na falta de experiências que fossem me acostumando a ponto de eu não ligar tanto quanto antes, sentir tanto quanto antes.
Queria, mas eu também sabia que parte da culpa era nossa. Sempre estivemos confortáveis em estar em dois. Só nós dois. Tínhamos colegas e as salas separadas exigiram que conversássemos minimamente com os outros para fazer trabalhos. Mas para mim eram só colegas, meu único amigo era Jungkook, e eu sabia que a recíproca era válida.
Eu deveria ter estimulado Jungkook a fazer mais amigos durante esse tempo... ou ter achado amigos temporários pra mim — não no sentido de eu querer usá-los, mas porque era impossível para mim ter amigos com meu toque que revelava tudo que uma pessoa gostaria de esconder —, fazendo com que ele tivesse procurado alguns para ele também. Eu estava preocupado em deixar Jungkook sozinho, porque éramos dependentes demais.
Bem... a gente iria entrar na faculdade. Era um momento novo para todos e meus próprios pais viviam dizendo que lá você encontra a maior parte das pessoas que continuam na sua vida... Jungkook é incrível, cativante e talentoso, com certeza conseguiria fazer amigos. Espero que seja rápido.
— Minnie? Você tá bem? — A voz dele me assustou. Era idiota o jeito que eu sempre pensava nele. Pensei nele até ele aparecer de verdade... será que um dia aquilo ia passar?
Logo vi o rosto preocupado ao que ele puxou aquela cortininha do leito e me encontrou deitado, com cara de quem foi pego no flagra e rastros de lágrimas pelo rosto. Ele imediatamente sentou-se ao meu lado e tocou minha bochecha.
O Minnie tá tão estranho... há dias. E ele não me fala o que é. E isso tá doendo demais, mamãe. Apesar da agitação de sua mente, seu carinho em meu rosto era calmo, e os olhos transbordavam agonia.
— Para de me olhar assim, parece que eu tô morrendo! — Enfiei o dedo em seu nariz, fazendo com que ele tivesse que se afastar para assoá-lo ou espirraria em breve, me xingando. Mexer no nariz do Jungkook sempre foi golpe baixo por causa da rinite dele, mas me dei o direito de usá-lo naquele momento ou eu lembraria de tudo que me preocupava e não conseguiria fugir de chorar na frente dele. Não queria que Jungkook visse aquele lado chorão e patético que parecia cada vez engolir mais quem eu era.
— Vou pra sua sala, não te encontro e a galera da sua turma diz que você tá na enfermaria! — retrucou, estranhamente revoltado de volta, o nariz vermelho. Talvez fosse por causa da rinite que eu ataquei, mas mesmo assim Jungkook não ficava alterado daquele jeito comigo. Acho que eu o frustrei demais... — Te encontro aqui com essa cara de quem foi atropelado por um caminhão... Você acha que eu ia pensar o que, Minnie? Você acha que eu vou te olhar como?
— Desculpa, Kookie... — pedi baixinho, um pouco acuado com seu tom. — Era uma brincadeira...
Ele me encarou demoradamente, mordendo os lábios, aflito. Seus olhos lacrimejavam e ele suspirou, pesado e sentido antes de enterrar o rosto nas mãos.
— Eu sei, Minnie... Você agiu normal, eu que tô estranho agora... Desculpa — pediu de volta, sem nem me encarar. Meu coração partiu ao vê-lo naquela situação por minha causa. Sentei no leito e estiquei minha mão para dar um carinho em seus cabelos, mas eu não deveria lê-lo naquele momento. Com medo, recuei meu toque e meu coração foi consumido de solidão e remorso. — Fiquei assustado, é a primeira vez que você vem pra enfermaria desde aquele dia que você torceu o dedo jogando vôlei, quando ainda tínhamos a aula de educação física juntos...
— Pote ruim não quebra, né? — brinquei, dando uma risadinha, tentando fazê-lo relaxar também. — Não foi nada demais, Kookie, só estava com dor de cabeça mesmo e vim dar um cochilo... Deve ser porque fiquei chorando antes de dormir por causa do filme.
— Você jura pra mim, Minnie? — Ergueu o olhar e me fitou. Sua voz carregava uma súplica que eu não lembrava ter visto ele usando desde os nossos sete anos, quando ele chorou para que eu voltasse a fazer cafuné nele até que dormisse.
— Sim... — tentei responder com o máximo de convicção que consegui juntar entre os pedacinhos do meu coração, mas ainda não tinha certeza se tinha sido muita.
— Ah, Minnie... — Afundou o rosto nas mãos de novo, frustrado. — O que tá te incomodando tanto? Por que você não pode me contar? Pensei que a gente contasse tudo um para o outro, Minnie... Você sabe de tudo sobre mim.
Sim, eu sabia de tudo sobre ele. Até o que não deveria saber, como o fato dele ser apaixonado por mim. Eu apenas olhei para frente em silêncio; não tinha forças para contar uma mentira tão grande na cara dura quanto a que era necessária para que ele aceitasse minha estranheza.
Ele voltou a me encarar e segurou minha mão entre as suas. Você é a pessoa mais preciosa pra mim, Minnie. Juntou elas e puxou até sua boca, deixando um beijo doce em cima. Eu quero te fazer ficar bem... Me diz como eu faço pra você ficar bem... Uma lágrima não chamada rolou por suas bochechas. Por favor, mamãe, me diz que quem fez o Minnie ficar triste assim não fui eu... Foi algo que eu fiz? Por qual outro motivo ele ficaria tão triste e não me contaria? Quis me desmanchar de tristeza ali mesmo. Éramos dependentes demais um do outro. Jungkook não conseguia ficar bem se eu estivesse triste, e deixar ele triste me deixava mais triste ainda. Como eu ia sair daquele ciclo de tristeza? Tudo que eu tentava fazer para aliviar aquilo dava errado.
— Você não pode confiar em mim? — questionou, completamente chateado.
— Você é a pessoa que eu mais confio no mundo, Kookie. — Puxei ele para um abraço e, sem aguentar mais, deixei meus dedos correrem entre seus fios. Saco... Eu gosto tanto do cafuné do Minnie... — Não chore por minha causa, vai dar tudo certo. Vai passar.
Ele disse que confiava em mim, mas mesmo assim ele não me contou o que aconteceu. Jungkook estava magoado. Muito. Com certeza foi minha culpa, mas o quê? Foi por eu ter insistido para ele jantar lá em casa e ir dormir comigo? Ele não tinha contado antes que os pais dele estariam em casa e eu parei de pedir quando ele falou... Eu tenho que parar de pedir para ele dormir comigo? Realmente depois daquela vez eu não parei mais de pedir, mas é que eu queria tanto mais... Fui egoísta. Nunca perguntei se o Minnie queria, só pedi para ele dormir. Foi o convite pro baile? O Minnie realmente nunca vai em festa, nem de aniversário. Ele deve estar indo de obrigação para eu não ficar sozinho... Será que eu deveria falar para ele não ir?
— Kookie... — Despertei ele de seus pensamentos e puxei seu rosto para deixar um beijo em sua testa. Talvez fosse arriscado responder seus pensamentos assim, mas confiei que ele atribuiria aquilo para o fato de que eu o conhecia como a palma de minha mão. — Não pense demais sobre isso, tudo bem? Eu te aviso se você puder ajudar em algo. Agora eu quero lidar sozinho.
— Mas você não está sozinho, você tem a mim — ele choramingou mais uma vez.
— Eu sei, Kookie... Muito obrigado. Não pense demais.
Eu sempre penso demais, Minnie, que pedido mais cruel... Foi o que rodeava sua mente mesmo que tivesse assentido para mim e me puxado em um abraço novamente, em silêncio, sem retrucar de novo. Penso demais e sempre penso em você.
— Eu sei, Kookie... — repeti, baixinho. Eu também pensava demais, e sempre pensava nele.
-🌼-
Não era à toa que Jungkook achava que eu não queria ir ao baile, provavelmente aquela era uma impressão geral das pessoas ao meu redor. Até meus pais, quando descobriram, quiseram dar um apoio mesmo sem saber muito o que fazer, animados porque nunca me viram sair para ir em uma festa, porém estranhando igualmente minhas reações quando o tal baile era o assunto da vez.
Eu realmente parecia pouco empolgado, porque quando Jungkook comentava o horário que ia me buscar lá em casa eu lembrava do quanto que eu queria ter a noite da minha vida com ele. O quanto eu queria beijar seus lábios doces com um sorriso no rosto e eternizar a lembrança em meu coração, então a única coisa que eu conseguia entregar de volta era um sorriso amarelo escondendo o quão triste eu estava por não poder experimentar aquilo.
Quando minha mãe decidiu me levar para comprar roupas novas, eu experimentava todas pensando em como Jungkook ia achar legal me ver usando peças diferentes porque já conhecia todo meu guarda-roupa e me acharia lindo. E pensava em como eu queria estar lindo pro Jungkook. Até perceber, é claro, que eu deveria me afastar dele. E aí eu transitava constantemente entre um sorrisinho bobo e uma preocupação profunda, deixando minha mãe confusa.
Talvez eu nunca tivesse passado por uma avalanche de emoções tão ambíguas quanto nos dias que antecederam o baile. E mesmo agora elas pesavam em meu peito enquanto eu ouvia a campainha da minha casa tocar exatamente às 18:30, quando Jungkook disse que chegaria. Sempre pontual, sempre lá por mim.
Me olhei no espelho uma última vez antes de fechar a porta do armário e sair do meu quarto, o coração na boca, a cabeça nas nuvens. Apesar de terem apoiado minha ida ao baile, meus pais estavam trabalhando aquela noite, então passei pela sala e pela cozinha escuras até a porta da frente.
Nervoso com aquilo tudo, espalmei minhas mãos na porta e apoiei de leve a cabeça de lá sem abri-la, sabendo que Jungkook estaria do outro lado. Nunca desejei tanto ser um adolescente normal. Nunca quis tanto que minha realidade fosse diferente, que minha mãe estivesse lá se despedindo, dizendo o quanto eu estava bonito e que eu me divertisse. Que meu pai sentisse orgulho ao me ver indo comemorar o fim de uma nova etapa da minha vida.
Mas eu não deveria pensar naquilo, minha mãe falou que eu estava lindo nas roupas quando comprou elas comigo, e meu pai me deu um abraço apertado e os parabéns quando nos encontramos por coincidência antes de ele ir trabalhar. Minha realidade era assim e não era um problema.
Eu sabia que o que eu queria que fosse diferente de verdade era aquela habilidade de ler mentes que mais parecia uma maldição. Aquela promessa constante da minha solidão, de que eu nunca poderia ser de ninguém. Aquela promessa de que eu nunca seria do Jungkook.
O que eu mais queria era abrir aquela porta e encontrar Jungkook com um sorriso apaixonado no meu rosto, como minha mente encenava toda vez que eu não lhe domava. Queria segurar a mão dele e caminhar até o baile rindo de qualquer besteira porque eu simplesmente não conseguiria tirar o sorriso no rosto, por estar contente demais; sentir sua palma suar de nervoso contra a minha porque aquela seria a nossa noite.
Queria chegar na festa orgulhoso de estar com ele, feliz de estar com ele, certo em estar com ele. Dançar coladinho mesmo não sabendo dançar, até minhas pernas doerem. Ser puxado para trás da arquibancada vazia para sentarmos para descansar e finalmente experimentar como era o encaixe da sua boca tão linda na minha. Era isso que eu queria.
E era isso que eu nunca iria ter.
Respirei fundo, determinado a não atender Jungkook com cara de choro, e abri a porta. E ele estava tão, tão lindo que parecia um sonho. Um personagem de um romance adolescente do qual eu não podia fazer parte.
Logo ele, que sempre gostou mais de roupas escuras, estava lá quase todo de branco, só para ficar ainda mais parecido com um príncipe encantado. A única peça de cor diferente era uma jaqueta de cetim brilhoso azul clarinha, com flores bordadas na lapela. Tudo parecia resplandecer em Jungkook, um contraste lindo com a pele bronzeada e os cabelos negros. Mas mesmo assim, nada brilhava mais do que seu sorriso.
Era como se eu tivesse perdido todo meu ar só de olhar para ele, apenas mais uma das milhares de provas da minha paixão que eu colecionava como se fossem figurinhas. Queria perder minha consciência também, em seu cheiro, em seu calor, em sua presença.
Talvez eu tivesse passado tempo demais estático, apenas encarando o príncipe encantado que poderia ser meu se eu não fosse amaldiçoado, em completo silêncio de admiração. Buscou minha mão com a sua, levando-a até sua boca para um beijo doce que parecia capaz de me levar para um conto de fadas.
— Vim te buscar, Minnie.
»💭«
Agora vocês já sabem porque o emoji da quebra de texto é uma florzinha! Aff, muito boiola por esses dois!
Então, o que acharam do capítulo? Bem sofrência, mas deu pra entender melhor os medos do Minnie também? Hihi o próximo já é o baile!! Esperavam?
Qual foi a cena favorita de vocês? A minha é a do Minnie admirando o Kookie admirar a flor, acho a narração dele muito bonitinha, principalmente sobre o jeitinho de artista do Kookie (sei que eu que escrevi, mas como comentei nos avisos, essa fanfic é quase externa a mim kakaka)
Não esqueçam de votar e sintam-se mais do que convidados a usar a #ConvidaProBaile lá no twitter e falar comigo! Sou a @callmeikus por lá! Muito muito obrigada por todos os comentários e reações, eu fico bobinha lendo e relendo todas, muito feliz mesmo!
Beijinhos de luz e os boiolinhas voltam dia 18/12 às 19:00, sem atrasos dessa vez!
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