*O dia de amanhã foge do percurso e não entra no roteiro*
***
O sol invadia o meu quarto através da janela aberta que fazia o vento soprar no ambiente. Percebi que, talvez, já fosse o momento de acordar para a vida, para mais um dia que não precisaria ser como o de ontem, embora a tendência fosse essa agora.
Levantei, passei no banheiro para molhar o rosto. Joguei uma água, fiz um coque no cabelo. Caminhei até a cozinha, arrastando meu vagaroso corpo por toda a residência, retirei de dentro da geladeira uma jarra com leite, que fiz ainda durante a madrugada, que é quando faço uma boquinha por conta da falta de sono.
Estava tudo no mais perfeito estado possível. Menos um detalhe, que roubou minha atenção no momento em que me joguei no sofá e liguei a TV.
— "O Marcos saiu sem se despedir..."
Dizia para mim mesma, até relembrar de um outro detalhe: a janela do quarto não estava aberta, e eu nunca a deixo aberta, pois venta muito durante a noite, e faz muito frio.
Entrei em uma correria desesperadora pelo apartamento. A única coisa que passava pela minha cabeça era o maldito incêndio, a maldita situação em que eu me encontrava, e o Marcos também, e por minha culpa, no fim das contas.
Fui até o quarto do Freddy, revirei tudo em busca da arma que guardava. Pensei que, se o Freddy fosse guardar algo bem, com toda certeza, esconderia junto das únicas coisas com as quais não espera que ninguém queira ter contato! Corri para pegar sua mala no quartinho que ficava próximo da cozinha, um vão bem pequeno em que costumamos guardar coisas velhas. Em uma mala junto a uns pertences mais antigos da família achei sua .40. Segurei como se soubesse exatamente o que queria fazer, e talvez eu soubesse.
Retornei para a sala com a arma em mãos. Olhava para todos os lados como se o meu inimigo estivesse invisível, e por toda parte. Não sabia aonde o Marcos estava, e tinha medo de descobrir. Só sabia que nenhum lugar era seguro o bastante para me livrar de um fantasma. Fantasma que insiste em me mandar ameaças todos os dias, e que sempre me traz a sensação de estar sendo seguida, vigiada, manipulada pelos meus próprios sentimentos.
— "Thomas, o Marcos esteve aqui, e eu não sei o que aconteceu, mas eu estou com medo, e eu acho que aconteceu alguma coisa com ele, preciso de ajuda".
Deixei um recado na caixa postal do investigador, que deveria estar atento ao seu celular, mesmo em horário de pausa, se é que essa gente tira pausa.
Foram horas de medo, apreensão, sensação de culpa. Fiquei paralisada em um único lugar do apartamento. O lugar em que eu conseguia visualizar todo o cenário. Qualquer movimento, ou barulho, tudo eu observaria. E, se tivesse chance, iria me defender como fosse possível.
O Marcos chegou 15 minutos depois, disse que foi à padaria. Abriu a porta lentamente, me deixou ainda mais assustada. Confesso que, por alguns segundos, pensei que deveria abrir a porta atacando, pois eu estava sendo atacada, mas não o fiz. Não fiz, mas alguém fez. Vi o Marcos chegar com pães em uma sacola, segundos depois o vi cair com um tiro dado a queima roupa bem na sua cabeça.
Comecei a gritar como uma louca, mais uma vez vi minha roupa coberta por sangue, e agora era o sangue dele, da última pessoa com quem estive. Não consegui pensar muito no que fazer, mas o investigador, tio do Marcos, chegaria em seguida. Verifiquei se o Marcos ainda estava respirando, mas não tive o retorno que esperava. O Marcos estava morto, como concluí, e agora eu era a principal acusada por esse crime também.
São muitas mortes para se carregar nas costas. Tem muito sangue no meu corpo que não é meu, e que foi derramado por alguém que está tentando me fazer parecer culpada. Mas não fui eu. EU NÃO FIZ NADA! Mas acho que o tio do Marcos, investigador Thomas, não vai me dar a chance da dúvida.
— "Ah meu Deus, Aline! AH MEU DEUS!!!"
O Freddy chegou minutos depois, viu o corpo do Marcos, me viu ao lado coberta de sangue e fez o que eu não esperava, nem imaginava que fosse fazer.
— Preciso tirar você daqui. — Diz Freddy desesperado.
O Freddy costuma dizer, e ele conversa comigo sobre essas coisas quando estamos assistindo filmes de investigação, que não se conversa com assassino. E, talvez, agora eu fosse isso. Então, não iriam me chamar para conversar. Não mais.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro