O ciúme mata
Tem uma coisa que você precisa saber sobre mim: eu trabalhava como sous chef. Isso quer dizer que eu sempre soube manusear uma faca muito bem. Minha especialidade, aliás, era carne vermelha.
Eu era casada, também. Passei doze anos com o mesmo homem e, no fim do nosso relacionamento, posso dizer com toda certeza que já não estávamos em nossos melhores momentos. Confesso que eu estava de saco cheio das reclamações, da sujeira que ficava o banheiro, do fato de ele nunca lavar a porra de uma louça.
Mas, naquela época, não se divorciava, entende? Além do mais, nós não tínhamos dinheiro para pagar pelo divórcio, então fui levando e aceitando, até que ele começou com o ciúmes.
O sentimento mais filho da puta que um homem pode sentir.
Davi não era um homem bonito e ele sabia disso. Quer dizer que na escala de beleza do nosso relacionamento, eu vencia. Ele também sabia que eu poderia achar qualquer outro cara para me foder melhor do que ele me fodia. Ele sempre foi o inseguro da relação, mas nos últimos meses do nosso casamento, seu ciúmes piorou.
Quantas vezes ele não chegou em casa me acusando de traição. "Você está transando com o nosso vizinho?". Ou "O que o carteiro falou para você quando deixou as contas em casa?". Também brigávamos muito por causa dos meus parceiros de trabalho. "Cozinhar? Eu sei que você não vai cozinhar. Você vai meter, porque é uma vadia!".
Davi me chamava de vadia mas não conseguia me deixar. Pior para ele.
Um dia minha paciência esgotou. Eu estava relativamente feliz, preparando um jantar para a gente na cozinha - porque o homem não conseguia fritar um ovo, diga-se de passagem -, quando ele apareceu. Fedendo a cerveja e gritando coisas sem sentido.
— Você está transando com o meu irmão! — Foi a única coisa que entendi.
Ele começou a apontar fatos inexistentes sobre essa traição que nunca aconteceu. Pensando em retrospectiva, talvez eu devesse ter traído aquele bastardo.
— Você está transando com o meu irmão, você está transando com o meu irmão, você está transando com o meu irmão...
Mandei ele parar com aquela idiotice. Falei que ele estava louco. Discutimos feio, mas ele continuou me acusando de algo que não fiz.
Davi se aproximou. Quando vi, minha faca havia perfurado seu corpo. Havia perfurado seu corpo mais de dez vezes.
Foi ali que aprendi que o ciúme mata.
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