Capítulo 8
"Eu sei que o amor é o lugar mais solitário quando você cai sozinho." — Feel it twice, Camila Cabello.
Três de julho
Abro meus olhos lentamente, tentando me recordar do lugar onde eu estava, mas logo reconheço minha barraca cor de rosa. Porém, quando viro para o lado, me deparo com um pé praticamente grudado em minha cara e meu coração quase pula para fora do peito, o que me faz sentar rapidamente, encolhida no canto.
— Angelina, o que foi?
— Charlie? — Questiono, incrédula, tentando acalmar a minha respiração. — O que você está fazendo aqui?
— Merda, você não se lembra? Me convidou para dormir aqui quando viu que eu não tinha espaço em minha barraca. — Levo as mãos à cabeça, conseguindo me lembrar um pouco melhor das coisas. Sempre que eu bebo demais demoro um pouco para me recordar das coisas, mas sempre acabo lembrando.
— Ah, sim! Agora eu me lembro! Desculpa, eu costumo demorar para voltar a realidade depois de uma noite agitada.
— Tudo bem! — Ele solta uma leve risada e eu não pude evitar de reparar em seu lindo sorriso. — Se você não se lembrasse, eu me sentiria muito culpado por ter aceitado. Iria parecer que estava me aproveitando da sua embriaguez.
— Fique tranquilo, sei que não foi isso! — Mordo meus lábios e ficamos nos encarando por alguns segundos, em silêncio, até que o constrangimento toma conta de mim e eu desvio o olhar. — Se você não quer que nenhum Wolf descubra que você dormiu aqui, é melhor sair. Creio que ainda estão todos dormindo... Na verdade, não sei que horas são. — Começo a procurar meu celular e o desespero vem quando olho por tudo e não o acho. — Você lembra de ter visto o meu celular, Charlie?
— Droga! Você estava brava e bêbada quando o jogou na areia, Angel! Eu esqueci completamente de pegá-lo!
Culpa do idiota do Christian e da falsa da Cherry!
— Merda! Minha mãe vai me matar!
— Foi mal! Eu devia ter pego ele!
— Eu que não devia ter jogado! — Solto uma lufada estressada e respiro fundo. — Tá tudo bem, já havia passado da hora de trocá-lo!
— Nós podemos procurar na areia, se quiser!
— A maré subiu. Ele, com certeza, já era!
— Tem razão. Desculpa! — Ele suspira e se levanta, com uma certa dificuldade. A barraca era grande, mas não o suficiente para ficar em pé. — Bom, eu vou indo.
— Isso... é melhor!
— Obrigado por me deixar dormir aqui. Com certeza, dormi bem melhor do que teria dormido lá, espremido. — Sorrimos, simultaneamente.
— Quando precisar, só vir falar comigo!
— Nos vemos por aí, Angelina! — O moreno diz, com um sorriso estampado no rosto antes de deixar a barraca.
Eu não conseguia entender que diabos estava acontecendo nessa viagem, mas Charlie estava se tornando uma pessoa muito interessante. Uma parte dentro de mim, queria conhecê-lo melhor... queria ficar mais com ele. Já a outra parte, me julgava por tê-lo convidado para passar a noite comigo.
(. . .)
Depois de ter tomado o café da manhã, disponibilizado pelos inspetores, vesti o meu biquíni verde musgo e coloquei em minha bolsa de praia um protetor solar, uma toalha e meus óculos de Sol. Saio da barraca e caminho até o chuveiro, lavando todo o meu corpo e meus cabelos, que ainda estavam repletos de areia da noite passada. Após calçar os meus chinelos e caminhar molhada até a praia, reparo que a areia está repleta de alunos do RiverHigh. Antes de sentar, me seco e estendo a toalha no chão.
Enquanto passava o protetor solar em meu corpo, olhei para o mar e vi os Wolfs surfando. Eles realmente mandavam muito bem! Não pude evitar meus olhos procurando o Charlie. Eu nunca tinha visto ele sem camisa e admito que seu corpo era mais bonito e definido do que eu pensava que fosse, mas também não era algo forçado como o do Christian, que passa quase quatro horas por dia na academia. Era algo bem mais bonito e natural.
Eles, diferente dos demais surfistas que eu conheci, não tinham os cabelos loiros e longos. O cabelo do Charlie era o mais longo, mas ainda assim não dava para prender, caso ele quisesse. Porém era necessário ficar jogando-o para trás ou para os lados, para não cobrir os olhos. Seu cabelo é castanho e tem algumas mechas loiras, devido ao tempo que ele passa exposto ao Sol. Muitas mulheres pagam muito em um salão para fazer isso no cabelo. Sem falar que seus fios são ondulados e dificilmente se ajeitam, o que o deixa extremamente charmoso. (Parecido com o do Harry Styles, no início da One Direction! Eu amava!)
Assim que termino de passar o protetor solar, coloco os óculos escuros e me deito, mas dez segundos depois, Ryder se senta ao meu lado e eu sou obrigada a me sentar novamente.
— Como você está, Ryder? Muita ressaca?
— Eu estava, até entrar no mar. É o melhor remédio para ressaca! — Ele ri, me fazendo rir também.
— E como foi sua noite com a Rebecka? Rendeu em algo?
— Se rendeu, eu não me lembro! Sério, a noite passada é um branco para mim... A última coisa que me lembro foi de você me beijando, do nada!
— Bom... então eu te falo! Vocês dormiram juntinhos na barraca e, aparentemente, ela ficou muito irritada ontem!
— Disso eu tenho certeza! Hoje de manhã, a primeira coisa que ela disse foi "Vai lá com a Angelina, vai!" — Ryder imita a voz dela, me fazendo gargalhar.
— Que bom que funcionou! Espero que vocês fiquem juntos. Eu não gosto dela, mas só de ver o tanto que você gosta, já torço pelo casal!
— Valeu, Nina! Mas não sei se ela me vê assim não... Às vezes ela só sentiu um ciúme de amizade, sabe? Não sou bom o suficiente para ela.
— Pare de pensar assim, Ryder! Tudo o que uma mulher quer, é um homem que a ame da forma que você ama essa garota! Eu odeio falar isso da minha inimiga, mas a Rebecka é uma sortuda!
— Eu sou péssimo em receber elogios, Angelina! — Era nítido, pois suas bochechas estavam completamente coradas.
— Não tem problema. O importante é que você saiba!
— Obrigado, de verdade! Espero que você também encontre alguém que te ame assim. E espero que ela retribua o amor que eu sinto, porque é horrível amar sozinho.
— Nem me fale! O amor é um lugar muito solitário quando você ama sozinho, mas se Deus quiser, ela vai abrir os olhos. Se não abrir, você vai encontrar alguém muito melhor!
— Assim seja! — O loiro sorri e se levanta, logo em seguida. — Eu queria te convidar pra sentar com a gente, mas... — O interrompo.
— Mas não dá! Relaxa, eu entendo! Vai lá com eles... antes que te chamem de traidor!
— Podem me chamar do que quiserem! Nos vemos mais tarde?
— Claro!
Ryder acena e corre em direção aos amigos. Ele não tinha tanto medo da reprovação dos Wolfs como o Charlie tinha e falava comigo na frente de todo mundo.
Eu estava distraída, até que o choro de uma garota chamou a minha atenção. Quando olho para trás, avisto uma garota corpulenta sentada em um tronco, sozinha, com lágrimas escorrendo pelo seu rosto. Eu me lembro de ter visto ela algumas vezes nos corredores da escola, mas não fazia ideia do seu nome. Porém, mesmo assim, caminho até ela lentamente.
— Hey... — Digo, me sentando ao seu lado e a garota me olha, espantada.
— Está falando comigo?
— Não vejo mais ninguém aqui além de você. — Sorrio, tentando ser simpática, mas ela continua incrédula.
— E por que você está falando comigo? Se veio me zoar ou tirar sarro de mim, por favor, vá embora! Eu já não estou bem hoje! — Engulo em seco.
— E por que eu faria isso?
— Porque você é uma Lion! É isso que vocês fazem!
— Pode ser o que eles fazem, mas eu não sou assim! Na verdade, eu vim aqui porque te ouvi chorando e queria entender o motivo... Saber se posso te ajudar de alguma forma.
— Tem como você me deixar magra e fazer o meu melhor amigo me ver de uma forma diferente? Uma forma que não seja "a melhor amiga gorda que joga futebol comigo"?
— Está apaixonada pelo seu melhor amigo e ele te vê apenas como uma amiga, isso? — Ela afirma com a cabeça e eu solto uma leve risada. — Minha querida, sei exatamente o que você está passando e o quanto machuca!
Eu fui apaixonada pelo Steve durante a minha vida toda... e nunca tive a chance de ser correspondida.
— Duvido que você saiba. Olha só pra você! É bonita, tem um corpo perfeito, é rica, se veste bem...
— Dinheiro não é nada e se vestir bem é questão de ponto de vista... Agora ser bonita e ter um corpo bonito, isso você tem também.
— Ah, não precisa mentir, Nina!
— Não estou mentindo... desculpa, qual o seu nome?
— Cloe.
— Não estou mentindo, Cloe! Posso não parecer a pessoa mais indicada pra te falar isso, por ser uma Lion, mas a verdade é que esse padrão de beleza imposto pela sociedade, é uma grande merda! Você é linda do jeito que é! Olha esses olhos verdes... olha esse sorriso! Caramba, mulher, você tem que se dar mais valor! Sem falar que se você estiver "dentro do padrão", mas tiver um caráter horrível, como o de algumas pessoas, seu corpo e sua beleza não servem de nada. Sei que parece clichê, mas a parte mais bonita do ser humano é a alma. Se ela for suja, não há beleza que limpe! Eu tenho certeza de que, além da sua beleza exterior, você é linda por dentro e se o seu melhor amigo não perceber isso, outra pessoa perceberá! Confia em mim! — Noto as lágrimas em seus olhos e não posso evitar meus olhos de marejarem também.
— Ninguém nunca disse isso pra mim. Na verdade, sempre falam que eu sou uma aberração.
— Sabe o que você faz quando alguém falar isso pra você? — Mostro o dedo do meio, a fazendo gargalhar. — Você fica linda sorrindo!
— Obrigada, Nina! Queria que o Luke pensasse isso também...
— Posso te dar uma dica? Pra ele te amar, você tem que se amar primeiro! Então, se eu fosse você, eu tiraria essa camisa, ficaria apenas com o seu biquíni lindo e chegaria até lá de cabeça erguida, sem se importar com o que as pessoas vão pensar, sabe por quê? Porque você sabe o quão linda você é... e só isso importa! Daí sabe o que vai acontecer? Ele vai perceber isso também! Talvez demore, porque os homens não são tão evoluídos quanto nós, — brinco — mas te garanto que logo ele vai perceber.
— Você tem razão! Se eu não me amar, ninguém vai amar! Obrigada, Angelina! — Cloe se levanta e me dá um forte abraço, antes de tirar sua camisa e caminhar com a cabeça erguida pela praia. Fico a observando e um garoto faz alguma piadinha sem graça com seu corpo, mas ela segue minha dica e mostra o dedo do meio para ele, deixando-o completamente sem graça. Em seguida ela olha para mim, comemorando, me fazendo gargalhar e aplaudi-la.
Caramba! Eu tinha esquecido do quanto ajudar alguém era bom e gratificante.
Quando volto a me sentar na areia, olho para o lado e vejo o Charlie sentado com os Wolfs, a alguns metros de distância de mim, me encarando. Quando nossos olhares se chocam, o moreno abre um leve sorriso e eu retribuo, sentindo minhas bochechas corarem, por algum motivo que eu não conseguia entender.
Maldito sorriso!
(. . .)
Após aquela longa tarde na praia, reparei na marquinha do meu biquíni e sorri. Eu amo minha facilidade em pegar uma cor! Tomei um banho na ducha, ainda incomodada com os olhares em cima de mim. Eu estava morrendo de saudades de tomar um banho decente na minha banheira, sem precisar me preocupar se alguém estaria olhando.
Quando volto para a barraca, enrolada na toalha, reparo o quão suja de areia ela está e faço uns malabarismos para conseguir me trocar sem sentar na sujeira. Coloquei um short jeans, um cropped com listras amarelas e brancas e penteei meus cabelos, antes de sair de dentro dela e tirar toda a areia que lá havia.
Depois de longos minutos, consegui, por fim, fechá-la e sentar em volta da fogueira. Dessa vez, os inspetores estavam oferecendo um sanduíche e uma garrafa de suco, mas a cantoria em volta era a mesma.
Eu me sentei para comer, em um dos troncos deitados no chão e não pude deixar de reparar nos Wolfs, que estavam à minha frente, do outro lado do fogo. Matthew estava tocando violão e eles cantavam de forma engraçada... eles riam muito, sem se importarem com a opinião alheia. James e os outros dois garotos, que eu nunca me lembro o nome, estavam dançando junto com a Rebecka, enquanto o Charlie e o Ryder cantavam de forma completamente desafinada. Eu não consegui conter o riso.
Se os Lions estivessem aqui, provavelmente estariam indo até o restaurante, pois odiariam comer o sanduíche oferecido pela escola e, com certeza, não estariam se divertindo assim, pois o que os outros pensam é sempre a coisa mais importante para eles.
A verdade é que eu queria ir até lá e me sentar com eles, pois ficar sozinha na viagem de verão estava sendo terrível, mas isso seria uma péssima ideia, com certeza.
— Oi... — eu estava tão entretida nos meus pensamentos, que nem reparei no Charlie saindo dali e caminhando até mim. — No que está pensando? Parece tão tristinha.
— Em nada! — Forço um sorriso e apoio minha cabeça em uma das mãos, olhando para ele. — O que faz aqui? Está querendo comprar briga com seus amigos?
— Na verdade, vim selar um acordo de paz durante essa viagem. Nós conversamos, votamos e, bom... a maioria aceitou!
— Que belo ato de caridade! — Digo e ele ri, como se esperasse a minha resposta.
— É verão, Angel! Ninguém quer ficar sozinho no verão!
Ele leu os meus pensamentos, só pode!
— Aceita, Angelina, por favor! Vai ser divertido!
— Tem certeza de que não vou atrapalhar vocês?
— Você consegue fingir não ser uma Lion? — Ele diz, brincando, mas aquela pergunta me fez pensar.
— Não sei... Acho que sim. — Abro um leve sorriso e ele encara meus olhos.
— Eu vi a forma como você falou com aquela menina que estava chorando, hoje de manhã. Você conseguiu fazê-la parar de chorar e ainda colocou um sorriso em seu rosto... Isso não é uma coisa que um Lion faria. Você é diferente delas e só precisa fazer meus amigos perceberem isso.
— Eu sou bem mais do que só uma Lion, Charlie!
— Então mostre esse seu outro lado no restante dessa viagem, ok? Venha, vamos nos divertir! — O moreno estende sua mão e eu não hesito em segurá-la, com um enorme sorriso no rosto.
Chegando lá, todos me recebem com sorrisos, exceto por Rebecka que revira os olhos. Me seguro para não falar nada a ela, pois o nosso ódio era cem por cento recíproco. Porém consigo me segurar.
Naquela noite, nós cantamos, dançamos e nos divertimos. E foi assim o restante da viagem... melhor impossível! Eles me trataram como se eu realmente fosse uma Wolf.
Talvez, ser uma Wolf não seja tão ruim assim.
Após esses seis dias com eles, eu posso admitir que, depois da morte do Steve, eu nunca me diverti tanto quanto nessa viagem.
Bem que minha mãe falou que eu iria agradecê-la por isso.
Aquele era o nosso último dia ali... No dia seguinte, estaríamos partindo antes do almoço, então hoje tinha que ser um dia perfeito! Eu tinha que aproveitar cada segundo, pois quando tudo isso acabar e voltarmos para Rivercity, voltaremos a ser inimigos.
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