Capítulo 6
"Eu sempre digo o que eu penso
Eu nasci sem um zíper na minha boca
Às vezes, eu nem quero dizer aquilo
É que demora um pouco pra eu me entender" — Women like me, Little Mix
Dois de julho.
Eu pensei que dormir em uma barraca seria a coisa mais desconfortável do mundo, mas eu estava tão cansada que dormi como um anjo. Quando acordei, a primeira coisa que fiz foi colocar um biquíni e uma saída de banho, por cima. Depois, peguei minha escova e minha pasta de dente e saí da barraca, notando que eu estava completamente sozinha, mas dei de ombros, imaginando que todos haviam ido à praia.
Caminhei até a ducha, escovei meus dentes e quando estava voltando para a minha barraca, vi um bilhete colado nela com fita adesiva.
Todos nós fomos para o outro lado da ilha. Siga as flechas e chegará até nós!
Que estranho, mas ok.
Antes de sair, passei protetor solar em todo o meu corpo, para evitar que eu ficasse parecendo um pimentão e enchi minha garrafinha de água no chuveiro. Melhor isso do que desidratar. Peguei minha toalha, meus óculos de Sol, meu chinelo e comecei a seguir as flechas. Elas eram desenhadas à mão e estavam extremamente mal coladas, o que me levou a pensar que foi um improviso dos inspetores, por não quererem me acordar.
Já fazia vinte minutos que eu estava andando no meio daquelas árvores altas e sendo mordida por muitos mosquitos. Até que... não haviam mais flechas.
E onde eu estava?
No meio do nada!
— Que merda é essa? — Resmungo em tom baixo, girando em torno de mim na tentativa de escolher qual caminho seguir. Porém tudo o que eu via eram árvores iguais e, para piorar a situação, eu arranquei as flechas do caminho assim que passei por elas, para poder jogar no lixo e não poluir o meio ambiente. Assim, eu não conseguiria voltar para o acampamento.
Senti minha respiração acelerar e o medo tomou conta de mim. Diversas coisas ruins começaram a passar pela minha cabeça, então fiz de tudo para afastar esses pensamentos rapidamente, antes que eu surtasse de verdade.
— Pensa, Angelina! Pensa! — Caminho de um lado para o outro, falando sozinha. — Se isso é uma ilha, qualquer caminho que eu seguir reto vai acabar me levando para o mar. Talvez, se eu for até a praia, eu encontre alguém e possa pedir ajuda. Isso! É o que vou fazer!
Escolho o caminho mais iluminado pelo Sol e começo a segui-lo. Após quase uma hora caminhando, começo a ouvir o barulho das ondas e suspiro, aliviada. Porém, ao chegar lá, me deparo com uma praia vazia, o que fez meus olhos marejarem de raiva.
— Só pode ser brincadeira! — Bufo e me sento na areia, me sentindo completamente exausta de tanto andar. Pego a minha garrafinha de água e tomo um pouco mais da metade dela em um só gole, de tanta sede que eu estava.
Aos poucos eu fui me acalmando, por conta do som gostoso do mar, e comecei a pensar em como tudo isso foi acontecer, pois, com certeza, os inspetores não cometeriam um erro tão grande desses. Dessa forma, só vem um nome em minha mente...
Rebecka!
— Essa garota vai se ver comigo! — Solto uma lufada frustrada no ar e soco a areia, sentindo meu sangue ferver.
Eu não fazia ideia de como voltar e estava cansada demais para andar naquele momento, então eu resolvi estender a toalha e deitar para pegar um pouco de Sol. Tirei minha saída de banho, ajeitei o meu biquíni e me deitei virada para cima.
O que eu não imaginava era que, minutos depois de ter fechado os olhos, eu dormiria e acordaria com o Sol quase se pondo.
Eu estava ferrada!
Levantei no susto, com o coração a mil e, então, peguei minhas coisas do chão e saí de lá às pressas. Estava andando de forma desgovernada pela floresta, sem fazer ideia de onde eu estava indo. Eu só não queria estar perdida quando anoitecesse e já estava escurecendo. — Por que diabos a escola decidiu vir a essa ilha de pescadores? Mais da metade dela é completamente deserta!
Ao perceber que eu não estava chegando a lugar nenhum e que tudo já estava ficando escuro, as lágrimas começaram a escorrer de forma descontrolada e eu comecei a correr. Não estava enxergando nada quando, de repente, trombo com alguém e grito em desespero.
— NINA, SOU EU! — A pessoa grita e, quando ameaço fugir, me segura pelos braços. — Nina, olhe pra mim, por favor! — Estava escuro demais para ver quem era, mas naquele instante eu consegui reconhecer a voz.
— Ch... Charlie? — Questiono, engolindo o choro.
— Calma, está tudo bem, ok?
— Tudo bem? — Me desvencilho do seu toque, irritada. — Tudo bem o cacete, Scott! Eu passei o dia inteiro perdida nessa merda de ilha e estava prestes a passar a noite também!
— Nós jamais deixaríamos você passar a noite sozinha, Angelina! Assim que o Sol começou a se pôr e vimos que você não havia chego, saímos para te procurar!
— Então você sabia disso... sabia dessa brincadeira idiota?
— Eu...
— Você é um idiota, Charlie! É isso o que você é! Eu pensei que eu fosse morrer, ok? — Falo, sem conseguir conter a raiva e nem as lágrimas.
— Não tem como você morrer... — ele inicia, mas eu o interrompo.
— Você sabe disso! Você já veio aqui antes! Eu não sei, não faço ideia do que eu posso encontrar nessa ilha!
— Desculpa, Angel! De verdade! — Reviro os olhos e caminho até ele, muito magoada e lhe encaro os olhos, que estavam praticamente invisíveis devido à pouca luminosidade.
— Você não precisa do meu perdão! Você é meu inimigo e acabou de me provar isso. Fui burra de pensar que podíamos ser amigos. Você é um merda assim como os seus amigos e sua mãe! — Falo sem pensar e o deixo completamente sem reação. Depois de alguns segundos preenchidos por um silêncio ensurdecedor, o moreno abaixa a cabeça e passa a mão nos seus cabelos compridos.
— Vamos nessa, Angelina. — Ele diz, em tom baixo e, antes de começar a caminhar na minha frente, me joga duas bananas. — É melhor você comer, senão vai passar mal. — Consinto e como enquanto o sigo, sem conseguir falar nada.
Depois de andarmos alguns metros, completamente mudos, eu consegui me acalmar. Porém a culpa por ter falado com ele daquela maneira, começa a tomar conta de mim. Sem pensar duas vezes, puxo sua mão, fazendo-o olhar para mim.
— Desculpa... Eu não quis dizer aquilo! Eu estava... nervosa, assustada, brava e magoada! Eu não pensei antes de falar! A verdade é que eu nasci sem zíper na boca, Charlie! Falo mais do que devo, sempre.
— Não, você tem razão Angelina! Somos inimigos! — Eu realmente não esperava essa resposta seca. Admito que me desestabilizou um pouco.
— Não precisamos ser...
— Mas escolhemos ser! — Ele diz e volta a caminhar na minha frente, me obrigando a engolir as palavras que eu tinha para dizer.
Depois de mais alguns minutos, estávamos de volta ao acampamento. Quando chegamos lá, seus amigos correram até nós, aliviados.
— Amém que você a encontrou, Charlie! Estávamos muito preocupados! — Ryder diz, me fazendo revirar os olhos.
— Não precisam fingir que estavam preocupados comigo. Vocês só estavam preocupados com a bronca que iriam levar se não me encontrassem! — Suspiro e, antes de sair, olho o Charlie uma última vez, notando a expressão triste em seu rosto.
— Angelina! Onde passou o dia todo? — Um dos inspetores, preocupado, me para. Penso em contar para ele o que aconteceu, mas a verdade é que eu não queria ser a vilã e estragar o verão de todos os Wolfs.
— Eu só estava dando uma volta e acabei me perdendo na hora de voltar, me desculpe!
— A ilha é muito perigosa à noite, Nina! Não faça mais isso! — Concordo com a cabeça, forçando um leve sorriso. — Agora tome um banho ali na ducha e vá se arrumar. Hoje é a noite do Luau!
— Pode deixar! Obrigada! — Digo e ando em passos rápidos até minha barraca, para pegar o sabonete, o shampoo e o condicionador.
Tomar banho lá era um verdadeiro perrengue. Primeiro, porque tomar banho de biquíni é péssimo e lá não podia tirar... O chuveiro ficava no local mais visível possível. Segundo, porque alguns garotos tarados não paravam de me encarar, o que me obrigou a sair rapidamente. Era constrangedor tomar banho ali. Assim que voltei para a barraca, tirei o biquíni molhado e o coloquei dentro de uma sacola. Em seguida, passei desodorante e vesti um macacão de tecido rosado, que minha mãe havia me dado. Ele era bem confortável e bem fresco. Perfeito para a ocasião. Depois de ter penteado meus cabelos, passado um rímel, de leve, e um batom nude nos lábios, saí da barraca, me sentindo bem comigo mesma.
Meu dia havia sido péssimo e eu fiz um ótimo papel de idiota, mas eu não deixaria isso estragar o verão.
Com certeza, esse não é o verão dos meus sonhos e aqui não é onde eu gostaria de estar. Porém é o meu verão e vou fazer com que seja divertido!
(. . .)
O Luau era na praia, bem pertinho do acampamento. Haviam várias luzes penduradas, uma enorme fogueira no centro e uma banda tocando em um pequeno palco de madeira que construíram, próximo ao único restaurante do local, que disponibilizaria comida para nós. A decoração estava muito linda!
Passei alguns minutos dançando sozinha, até que eu cheguei à seguinte conclusão: Isso só vai ser divertido se eu beber algo e fizer alguma amizade.
Olhando em volta, notei que eram poucas as pessoas que aparentavam estar bebendo álcool, até que eu vi o Ryder dançando sozinho, com uma garrafa de vodka nas mãos. Não pensei duas vezes antes de correr até ele.
— Hey, Ryder!
— Hey, Nina? Está falando comigo mesmo? — Ele questiona, confuso e eu rio, sem graça.
— Claro que estou!
— Por... por quê? — Naquele momento, eu notei que ele procurou alguém com o olhar e quando encontrou, suas pernas tremeram, então eu olho para trás e vejo que era a Rebecka, — que estava sentada com o Charlie e os outros Wolfs, um pouco distante de nós — o que me fez abrir um enorme sorriso, pensando na resposta perfeita para a sua pergunta.
— Porque eu percebi que você é apaixonado pela Rebecka! — Falo e ele cospe toda a bebida que havia acabado de colocar na boca e me olha, incrédulo, comprovando que eu estava certa. — Caramba! Eu chutei e acertei! Sou incrível!
— Jogou verde comigo? Não acredito que eu me entreguei!
— Se entregou rapidinho! — Rimos simultaneamente.
— Eu gosto dela, mas ela não gosta de mim e acho que nunca vai gostar!
— E por que não? Você é bonito, sarado e não parece ser tão chato como pensei que fosse. — O loiro abre um enorme sorriso e me abraça de forma fofa, dando a entender que não estava acostumado a receber elogios, da forma que eu imaginei que estivesse.
Eu realmente tinha uma visão muito errada sobre eles.
— Obrigado, mas ela não vê isso! Charlie falou para eu tentar causar ciúmes nela... Talvez assim ela passe a me olhar com outros olhos, mas sei lá! Acho que não vai funcionar.
— Acho essa uma boa ideia! Se você quiser, posso te ajudar com isso! — Ele franze a testa, me encarando.
— Por que você me ajudaria?
— Porque eu preciso de um amigo para curtir a festa, um pouco de vodka e, se tudo der certo, a Rebecka vai ficar irritada e eu adoraria causar isso! — Sorrio e ele tenta conter, mas acaba sorrindo também.
— Eu deveria negar... Se juntar com uma Lion para enciumar minha melhor amiga, é muito errado, na teoria, mas eu vou aceitar porque a ideia é incrível! Como faremos isso?
— Nós vamos dançar, beber, conversar e rir. Você não vai olhar para eles em nenhum momento! Pode deixar que eu vejo se ela está olhando. O objetivo é você fingir que esqueceu totalmente da existência dela, pelo fato de estar comigo.
— E quando eles perguntarem o motivo de eu estar com você?
— Fala que eu cheguei em você pedindo um gole da sua bebida e que não sou tão chata quanto pensou que eu fosse. Só isso!
— Ok e nós vamos... nos beijar? — Ryder engole seco e suas bochechas ficam vermelhas, estampando o constrangimento que ele sentiu pela pergunta, o que me fez rir.
— Eu juro que eu te beijaria, Ryder, mas é que eu meio que estou ficando sério com uma pessoa e acho que só de conversarmos e dançarmos juntos, ela vai enlouquecer!
Eu realmente o beijaria sem problema algum. Porém Christian havia dito que não ficaria com ninguém durante o verão, pois eu sou a única que ele quer beijar. Dessa forma, eu faria o mesmo, pois não aguentaria o peso na consciência por ter traído ele... mesmo que ainda não tenhamos nada oficial.
— Sim, sim! Desculpa pela pergunta... Foi idiota da minha parte!
— Relaxa, não foi não! Eu teria perguntado a mesma coisa! — Naquele momento, uma música lenta começa a tocar e todos os casais se juntam para dançar. Quando olho em direção ao Charlie, noto que ele e Rebecka estavam nos olhando fixamente.
Eu nunca pensei que ouvir o Charlie falando que somos inimigos doeria, mas doeu. Estava realmente chateada com ele, que parecia estar se incomodando com minha aproximação repentina ao Ryder. Não minto... eu adorei isso!
— A Rebecka está muito brava nos olhando, Ryder! — Rio. — Tá funcionando muito bem!
— Sério? E o que eu faço agora?
— Deixe essa garrafa no chão, se aproxime lentamente de mim e abrace minha cintura. — O loiro faz exatamente isso e ficamos a poucos centímetros de distância. Eu conseguia sentir a sua respiração em meu rosto. — Agora vamos dançar bem devagar e, em alguns segundos, você me gira e ri de forma espontânea, ok? Como se estivesse se divertindo muito!
— Ok! — Ele responde. Mordo meu lábio inferior e, logo em seguida, sou girada, quase tropeçando em seu pé, o que nos faz gargalhar. — Desculpa!
— Você é muito desengonçado, Ryder!
— Eu nunca tinha dançado uma música lenta! Me dá um desconto!
— Está me devendo uma, branquelo!
— Então eu vou te pagar agora! Abre a boca! — Ele diz, pegando a garrafa de vodka do chão e caminhando até mim.
— O que você vai fazer?
— Vou virar na sua boca por cinco segundos, tá?
— Eita! Se eu vomitar tudo a culpa é sua! — Solto uma risada e abro a boca, sentindo-a encher-se aos poucos. Ele se afasta e ri alto enquanto eu me esforço para engolir e sinto a minha garganta queimar, fazendo diversas caretas. — Meu Deus! Isso é horrível! — Rio, já notando minha visão um pouco embaçada. — Agora é a sua vez! — Roubo a garrafa da sua mão. — Abre a boca!
E foi assim que a noite começou...
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