Capítulo 4
"Você me faz sentir como sonho de adolescente." — Teenage dream, Katy Perry.
Vinte e nove de maio
Owen já havia dado a partida no carro, quando reparo que Charlie está me encarando pelo retrovisor e não consigo desviar o meu olhar dele também. Não sei o porquê, mas aquilo fez meu corpo inteiro se arrepiar e tirou o meu ar por alguns instantes, até que ele sumiu da minha vista.
— Nina, se você tem algum problema comigo, vamos conversar, mas não desconte no meu filho, ok? Ele já tem problemas demais! — Owen diz, me deixando completamente sem palavras.
Eu não queria que ele pensasse que o problema fosse com ele, até porque não era a verdade e ele não merecia isso. Owen é ótimo para mim e principalmente para a minha mãe. Sempre foi!
— Não tem nada a ver, ok? Foi... um desafio idiota! De adolescentes bêbados e idiotas.
— Jura?
— Se eu tivesse problemas com você, Owen, você estaria ferrado e seria o primeiro a saber, com certeza! — Solto uma leve risada e ele ri também.
— Deus me livre ter você como inimiga!
— Deus te livre mesmo! — Sorrio. — Não está mais bravo comigo, não é?
— Não estou bravo. Já fiz muitas besteiras na minha adolescência... Faz parte da vida! Porém temos que arcar com as consequências dos nossos atos, não é Nina? Não adianta tentar fugir delas. — Ele diz, calmo, e eu bufo, com medo do castigo que estava por vir.
— Toda ação tem sua reação, eu sei! — Suspiro e apoio a minha cabeça na janela. — Só queria que a minha mãe me perdoasse.
— Ela está brava agora, mas logo isso passa e ela te perdoa. Confie em mim.
— Espero que seja logo mesmo!
Alguns minutos depois, estávamos em casa e assim que abrimos a porta da sala, nos deparamos com minha mãe e meu pai sentados no sofá, conversando. Isso era uma situação muito estranha e inusitada, pois eles quase nunca conversavam. Assim que nos veem, eles se levantam e voltam o olhar para mim.
— O que foi? Por que estão me olhando assim? — Questiono, sentindo um nó se formar em minha garganta.
— Nós conversamos e decidimos qual será o seu castigo. — Minha mãe começa e eu apenas cruzo os braços, a encarando. — Você não vai para Miami com suas amigas. — Arregalo os olhos e prendo a respiração. Eu não podia acreditar no que eu havia acabado de ouvir.
— Quê? Mãe, não faz isso, por favor! Você sabe há quanto tempo eu estou esperando por essa viagem!
— Ponto final, Angelina. Você não vai. — Meu pai fala e eu sinto meus olhos transbordarem.
— Mas está tudo certo para eu ir! Eu já comprei todas as roupas, minha mala está quase pronta e eu não quero passar o verão aqui! Eu tenho que me divertir, eu preciso disso!
— Tivesse pensado nisso antes de fazer o que fez!
— Mas mãe... — ela me interrompe, com um grito.
— CHEGA! Você não vai e ponto. Nem adianta argumentar.
— Eu tenho uma ideia... — Owen fala, fazendo nós três o encararmos. — Ela não vai para Miami, mas para não passar as férias inteiras aqui, podia ir pra Small Island com a escola. São dez dias em uma ilha, dormindo em barraca e sem internet. Acho que pode ser bom pra ela!
— O quê? Não! Nem que me paguem eu vou nessa viagem idiota! Ninguém que eu conheço vai e eu não estou nem um pouco afim de dormir em barraca!
No primeiro momento, minha mãe parecia ter odiado a ideia do Owen, mas um enorme sorriso formou-se em seu rosto, depois da minha reação.
— É uma ótima ideia!
— Mãe, eu não quero ir para uma ilha de pescadores! Deve ser a coisa mais chata do mundo!
— Esse é o seu castigo, Angelina! Você vai. Sean, ligue para a escola garantindo a vaga dela.
— Pode deixar! Vou comprar uma barraca pra você também! — Meu pai sorri e beija a minha testa. — Você vai nos agradecer depois! Não tem nada melhor do que essas viagens de escola, querida!
Eu tinha mais de cem argumentos para não ir, porém minha mãe estava sorrindo e não parecia mais estar tão brava comigo, então resolvi ficar quieta.
Até porque sei que de nada adiantaria. Eles não voltariam atrás.
Eu tentei, porém não consegui impedir as lágrimas de caírem. Estava triste por ver o verão que eu tanto esperei e planejei indo por água abaixo, principalmente agora que as coisas começaram a rolar entre mim e o Christian. Para não chorar na frente de todos, subi rapidamente as escadas e me fechei no quarto, me encolhendo na cama e encostando minhas costas na parede.
Esse seria o meu segundo verão sem o Steve e tenho péssimas lembranças do primeiro. Eu só queria me divertir e conseguir esquecer tudo isso.
— Nina, posso entrar? — Minha mãe questiona, ao lado de fora do quarto e entra, mesmo sem eu ter respondido algo. — Eu sei que você está triste, mas você errou e tem que ser castigada. — Ela fala, se sentando em minha frente e encarando os meus olhos. — Tem alguma coisa acontecendo que eu não sei?
Sim, várias, mas naquele momento, a saudade tomou conta de mim.
— Eu sinto falta do Steve, mãe! Eu só queria voltar no tempo e nunca ter parado de falar com ele. Queria estar em Nova Iorque sendo eu mesma, saindo todas as tardes com ele, sem ter com o que me preocupar e sem ter que planejar as coisas, porque eu sabia que qualquer coisa se tornaria divertida, pois estaríamos juntos! — Colocar aquilo para fora, apenas me fez chorar mais. As imagens dele vieram em minha cabeça e a saudade me espancou. A única coisa que minha mãe podia fazer naquele momento, era me abraçar e dizer que essa dor iria passar... e foi exatamente o que ela fez.
— Eu sei que deve doer demais, mas tenho certeza de que Steve não iria gostar de ver você chorando por ele... Ele diria que você tem que deixar o passado para trás e viver intensamente a cada dia, como se fosse o último.
Ela tinha razão. Ele realmente diria isso se estivesse aqui.
— Me desculpe por ter arruinado o seu verão, mas se eu não te castigasse, não estaria sendo uma boa mãe! — Solto uma leve risada e encaro seus olhos.
— Desculpa por ter saído sem sua permissão e por ter feito o que fiz. Eu fui uma péssima filha! — Imploro o seu perdão e ela sorri, me dando um beijo na testa, logo em seguida.
— Eu já fui adolescente, filha! Sei muito bem como é fazer coisas sem pensar nas consequências. Só espero que isso não se repita.
— Não vai, mãe! Eu prometo! — Sorrimos, simultaneamente, e então eu suspiro, aliviada. — Estamos bem de volta?
— Estamos e eu te garanto que depois você vai me agradecer por te obrigar a ir nessa viagem da escola. Escreva o que estou falando!
— Duvido muito, mas já que não tenho escolha... pago pra ver!
(. . .)
Passei longos minutos conversando com minha mãe e depois de horas no banho, para finalmente conseguir tirar a tinta do meu rosto, desci para comer. Durante o jantar, meu pai apareceu com uma enorme sacola nas mãos.
— O que é isso, Sean Parker? — Minha mãe questiona, incrédula.
— Bom, eu sei que a Nina odiou a ideia de passar dez dias em uma ilha e principalmente o fato de dormir em uma barraca, não é? Então, para a situação não ficar TÃO ruim assim, comprei uma barraca especial! Vem abrir, filha!
Franzo a testa e dou passos rápidos até ele, curiosa para saber como era a tal barraca. Quando tiro a grande caixa da sacola, leio em voz alta o que estava escrito:
— Barraca tamanho família. — Sorrio ao perceber que ela era inteiramente rosa. — Da minha cor preferida! Obrigada, pai! — O abraço fortemente.
Ele pode estar bravo, magoado ou irritado, mas sempre, mesmo que inconscientemente, acaba me mimando de alguma forma.
— Por que uma barraca tão grande se ela vai dormir sozinha? — Owen questiona e eu o fito com o olhar.
— É perfeita, Owen! Pelo menos não vou ter que dormir encolhida!
Depois disso, minha mãe o convida para jantar conosco e ele aceita, sentando-se à mesa. Mais ou menos uma hora depois, ele vai embora e combina que, na segunda-feira, vai me levar até o porto para eu pegar o barco.
Assim que volto para o quarto, abro meu notebook e chamo todos os Lions no Skype, alegando que precisava conversar. Não demora muito para eles aceitarem e entrarmos em uma chamada de vídeo.
— Oi gata! Como você está? — Mia diz, deitada em sua cama, no seu quarto cor de rosa.
— Nossa, Nina! Está com uma cara péssima! — Luna diz, gargalhando, mas eu apenas reviro os olhos e forço um sorriso.
— Eu... chamei vocês pra dizer que não vou mais para Miami. Fui parar na delegacia ontem, depois de pichar a casa do líder dos Wolfs e, bom... meu castigo é não ir com vocês! — Eu ignorei a reação de todo mundo, apenas fiquei olhando para o Christian. Diferente de todos que haviam achado a situação engraçada, ele estava sério e parecia realmente ter ficado triste. — Era isso que eu tinha pra dizer! Se divirtam bastante e nos vemos quando voltarem!
Forço um sorriso e fecho o notebook, decepcionada por eles não terem ficado chateados com a minha ausência na viagem.
Eu estava deitada, quase dormindo, quando meu celular apita e eu vejo que é uma mensagem do Christian, me fazendo despertar na hora.
Chris: Hey, está sozinha?
Eu: Sim... por quê?
Chris: Está na sala ou no quarto?
Eu: Quarto...
Chris: Então abra a sua janela porque eu estou subindo.
Meu coração para por completo quando olho pela janela e vejo-o subindo pela árvore trepadeira. A primeira coisa que eu faço é me olhar no espelho, notando o quanto eu estava feia. Tento arrumar o meu cabelo rapidamente, coloco um roupão por cima do meu pijama de ursinho e me sento na cama, fingindo estar plena e nem um pouco nervosa.
— Caramba, isso parece bem mais fácil nos filmes! — Ele sorri e então eu me levanto, sorrindo também.
— Por que veio aqui?
— Já que não passaremos o verão juntos, como eu pensava, eu vim me despedir de você. — O garoto se aproxima lentamente, abraçando a minha cintura. — Tem certeza de que não pode ir? Eu faria qualquer coisa pra te ter lá!
— Infelizmente, não... Minha mãe é irredutível e, bom... — encaro seus lábios — eu errei feio, né?
— As três foram idiotas por terem te desafiado a fazer isso. Nós nunca fazemos isso!
— Estou começando a achar que elas queriam se livrar de mim de alguma maneira. O... — Quase falei "Charlie"! — meu pai disse que a polícia quase não passa naquela região e talvez elas que chamaram, só para me sacanear. Acha possível?
— Não duvido de mais nada que venha delas... as três não sabem o que querem da vida. Mas se fizeram isso, pode ter certeza que eu vou descobrir. — Abro um sorriso e, sem pensar, selo os nossos lábios, sendo correspondida no mesmo instante.
— Vou sentir falta disso durante o verão.
— Nem me fale, Nina. Eu estava achando que faríamos isso o verão inteiro. Agora essa viagem perdeu metade da graça.
— Não fale assim! Nós temos muito tempo pela frente! Curta bastante esse verão e saiba que quando você voltar, estarei aqui te esperando. — Sorrio, parecendo uma tola apaixonada.
— É... Saber disso, talvez torne as coisas um pouco mais fáceis, mas... vai ser difícil ficar o verão inteiro sem beijar na boca. — Engulo seco, sem saber o que falar.
— Se... se você quiser, não precisa... — Ele interrompe, colocando seu dedo indicador nos meus lábios.
— A única garota que eu quero beijar, Angelina, é você! — Sua voz, sussurrando em meu ouvido, fez o meu sangue ferver. Comecei a beijá-lo no mesmo instante, o empurrando na cama.
Tiro sua camisa e a jogo no chão, reparando no seu corpo perfeito e sentando em seu colo. Ele não demora muito parar tirar o meu roupão e rir, ao olhar o meu pijama infantil.
— Eu adorei! — Ele diz e eu reviro os olhos.
— Cala a boca! — Sorrio e tiro a blusa, deixando meus seios à mostra.
— Caramba, isso sim eu adorei! — O moreno começa a beijá-los e eu sou completamente dominada pelo fogo e pelo prazer. Eu sonhei com esse momento desde a primeira vez em que o vi e foi muito melhor do que eu esperava. Nós estávamos com muito desejo e a eletricidade correu em nossas veias, na mesma sintonia.
Minha primeira vez não podia ter sido melhor.
Pelo menos, eu achava que não.
(. . .)
— Eu vou sentir saudades. — Ele diz, me encarando enquanto estávamos deitados na cama.
— Eu também.
— Vamos continuar isso depois do verão, certo?
— Tem alguma dúvida? É claro que vamos! — Um enorme sorriso se forma em seus lábios, me fazendo sorrir também.
— Eu queria poder ficar mais, mas minha mãe está me esperando em casa.
— Se você quiser, podemos nos ver amanhã! Sei lá, ir em alguma sorveteria ou algo do tipo.
— Eu amo sorvetes! Passo para te buscar às duas, pode ser?
— Perfeito! — Abro um sorriso e o moreno começa a se vestir rapidamente. Antes dele sair, o beijo uma última vez. — Manda uma mensagem avisando que chegou bem.
— Pode deixar, linda! Até amanhã!
Ele desce com dificuldade e eu fico o observando, até que ele desaparece da minha vista.
Oh céus! Eu estava completamente apaixonada por ele.
(. . .)
No domingo, para a minha tristeza, não fomos à sorveteria. A mãe dele o proibiu, alegando que ele tinha muita coisa para fazer antes de viajar, o que me fez lembrar que eu tinha que arrumar a minha mala.
Eu nunca tinha ido numa ilha e não fazia ideia do que levar, então resolvi pedir a ajuda de minha mãe, o que foi uma ideia ótima, pois tivemos uma tarde perfeita de mãe e filha. Ela me fez provar e desfilar todos os looks, fingindo ser a apresentadora do desfile. Estava tudo tão divertido que foi até fácil esconder o quanto eu estava chateada por não ir à Miami e por estar prestes a viajar para um lugar que eu não queria e, ainda por cima, sem nenhum amigo comigo.
— Pronto, filha! Tudo organizado para amanhã! Quer que eu leve lá para baixo e deixe junto com a barraca?
— Sim, por favor!
— Ok. Agora vê se descansa, porque amanhã será um longo dia... e o início de férias inesquecíveis!
Acho que ela quis dizer: O início de longas férias...
— Boa noite, mãe! Te amo!
— Eu também te amo, filha! Durma bem!
Depois de tomar um banho e escovar os dentes, eu me deitei na cama e tentei imaginar as possibilidades de algo legal acontecer nesse verão, mas só de lembrar dos nerds e excluídos que geralmente vão nessas viagens de escola, concluo que não tem nenhuma.
Eu estava quase pegando no sono quando uma borboleta preta entra pela janela do meu quarto, fazendo meu corpo gelar.
Sei que é estranho e que talvez não passe de uma coincidência, mas todas as vezes em que eu vi uma borboleta preta, algo muito ruim aconteceu.
Eu não fazia ideia do que iria acontecer, mas já estava sentindo calafrios.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro