Capítulo 2
"Juro pela minha vida que tenho sido uma boa garota (oh)
Hoje à noite, eu não quero ser" — My oh my, Camila Cabello
Vinte e oito de maio
Já estava escuro e eu ainda estava revirando o meu guarda-roupa, procurando algo para vestir. Parecia que nada era ideal para "a primeira noite do verão", "a primeira festa do verão". Eu tinha que ir com minha melhor roupa.
Após umas vinte trocas, achei o vestido perfeito. Florido, curto e um pouco decotado. A cara da estação! Em meus cabelos loiros, fiz leves cachos com o babyliss e passei uma maquiagem iluminada, sem exagerar muito. Por último, coloquei minhas sandálias brancas, com salto, e desci as escadas, mandando uma mensagem para as garotas, mas fui repreendida pela minha mãe, que estava sentada no sofá da sala.
— Por que está vestida assim, filha?
— Vou em uma festa, mamis. A Mia está quase chegando para me buscar.
— Uma festa? E por que não nos avisou?
— Achei que não tinha necessidade... É só uma festa! Nada demais!
— Porém você tinha que ter me perguntado. Não pode sair fazendo o que bem entende, Angelina. Nem dezoito anos você tem ainda!
— Ai, desculpa, ok? Da próxima vez eu juro que te aviso! — Reviro os olhos, pois não estava nem um pouco afim de ouvir seus sermões.
Minha mãe é uma mulher incrível. Trabalhou por vários anos na Broadway, por conta da sua voz e do seu talento e, mesmo com vários espetáculos, ela sempre conseguiu ser uma mãe presente. Sem dúvidas, ela é maravilhosa! Exceto quando se estressa e começa a dar sermões em mim. Isso, definitivamente, me irrita demais.
— Tudo bem... Então, se da próxima vez você me avisa, da próxima vez você vai à festa, ok? — Ela sorri, cínica, e dá tapinhas em meu ombro, voltando a se sentar logo em seguida.
— Você tá de brincadeira, né? — Rio, na esperança de ela rir também, mas isso não acontece. — Não vai me deixar ir?
— Talvez, Nina, se você tivesse me pedido ou perguntado se tinha autorização para ir, eu teria deixado. Porém, como iria sair sem me perguntar nada, vai ficar em casa para aprender a lição. — Abro a boca, indignada, e me sento ao seu lado.
— Não posso aprender a lição amanhã? Prometo que limpo a casa inteira! Faço o que você quiser!
— Você vai fazer o que eu quero hoje, filhota. Vá até o seu quarto tirar esse vestido minúsculo, colocar um pijama, pegar um demaquilante e tirar essa maquiagem, ok? Depois disso você pode descer para jantar e, dependendo do horário, podemos até assistir um filme.
— Mãe, eu entendo que esteja tentando me educar, mas, por favor, deixa eu ir. É a primeira festa do verão! Está todo mundo falando disso há semanas! Eu não posso simplesmente não ir. — Suplico com o olhar.
— Então, aparentemente, você teve semanas para me pedir, mas preferiu ficar calada, bancando a filha rebelde e independente, não é? Lamento, Nina, mas hoje você vai ficar em casa. — Sinto meu sangue ferver de raiva. Eu não iria aceitar isso. Eu não podia perder essa festa.
— Posso saber o que você vai ganhar me impedindo de ir?
— Vou ganhar a minha autoridade como sua mãe.
— Vá a merda — cuspo as palavras e subo as escadas rapidamente. Fico um pouco arrependida pela forma como falei com ela, mas a raiva era maior naquele momento.
Eu tinha que dar um jeito de ir à festa. Eu não podia ter perdido horas me arrumando para nada.
Meu celular apita e quando o desbloqueio, vejo uma mensagem da Mia, alegando que já tinha chego. Olho pela janela e consigo vê-la.
— Eu vou nessa festa. — Sussurro para mim mesma e começo a pensar em um plano para sair sem que minha mãe me veja.
Caso minha mãe entre no meu quarto, ela tem que pensar que estou dormindo. Para isso, pego três travesseiros, cubro-os, deixo meu livro aberto na escrivaninha e apago a luz. Bem encostada na minha janela, tinha uma trepadeira. Eu nunca desci por ali, mas creio que não seja algo impossível. Nos filmes, sempre pareceu fácil.
Coloco o celular no sutiã e me curvo na janela, para descer. Assim que estou do lado de fora, olho discretamente para baixo e sinto meu coração acelerar. Nunca fui fã de altura... Muito menos de trepadeiras.
Lentamente e com medo, fui descendo, segurando as folhagens com todas as minhas forças. Quando vi que estava quase chegando no chão, pulei e nunca agradeci tanto por não estar usando salto fino.
— Angelina Miller, você é maluca! — Mia diz, rindo, e eu corro em direção ao carro, pedindo para que ela fique em silêncio. No segundo em que entro e fecho a porta, caio na gargalhada junto com ela. — Por que teve que sair por lá? A porta estragou?
— Minha mãe estava com um humor do cão e me proibiu de sair.
— Daí você saiu pela janela... Rebelde essa minha amiga, hein?
— Eu jamais perderia essa festa, bebê! — Sorrio, mordendo os lábios, e a ruiva dá a partida, dirigindo em alta velocidade até chegarmos lá.
Assim que chegamos, nos deparamos com uma casa extremamente cheia e com uma música muito alta. Diferente de todas as festas que eu tinha ido até então, essa era do lado de fora da casa e perto da piscina.
— Bem-vinda às festas de verão de Rivercity, loira! — Christian me abraça por trás, fazendo meu coração quase sair pela boca. — A propósito, você tá muito linda!
— Obrigada, — digo, com receio de parecer um pimentão — você também não está nada mal!
— Nada mal? — Ele ri, fingindo estar indignado e cruzando os braços. — Me arrumei todo para você e é isso o que você me diz? Nada mal?
— Ok. Você está um gato, mas tem como ficar melhor! — Mordo meus lábios, encarando-o franzir a testa.
— Ah é? Como?
— Tirando essa sua camisa! — Puxo-a para cima, com sua ajuda, até finalmente tirá-la. Eu não consegui desviar o olhar do seu abdômen sarado. Era como se eu estivesse hipnotizada por eles. — Uau! — Digo, em um suspiro e quando volto a olhar seu rosto, me deparo com um largo sorriso.
— Você é muito atrevida, Angelina Miller!
— E você adora isso, não adora? — Questiono, de forma sedutora, sentindo uma enorme vontade de beijá-lo. Quando eu estava prestes a tomar uma iniciativa, Andrew e Jason, Lions também, se aproximam e pulam em suas costas.
— Olha, já está sem camisa! Nina, tire o celular do bolso dele e a chave do carro. — Jason ordena e eu nem penso duas vezes antes de fazer isso, ao ver a cara de desespero do Christian.
— Qual é, Nina? Está do lado deles agora? — Gargalho, enquanto os dois o tiram do chão, segurando suas pernas e seus braços, e o jogam na piscina.
Eu estava rindo muito até vê-los se aproximando de mim.
— É melhor tirar tudo o que possa estragar na água, Nina! — Andrew diz, sorrindo e me ergue por trás.
— NÃO! NÃO ME JOGUEM! — Grito, enquanto eles dão muitas gargalhadas, mas logo sinto meu corpo caindo naquela água gelada. Quando volto para a superfície, mostro o dedo do meio para os dois, que estavam rindo como idiotas e nado até o Christian. — Espero que essa piscina não esteja entupida de cloro, porque se estiver, minha roupa já era!
— Sabia que você ficou uma gostosa assim, toda molhada? — Ele diz de forma tão natural e inocente, que olho para baixo e percebo que o vestido de tecido fino, molhado, deixou meus peitos completamente marcados.
— Oh céus! Eu não tinha planos para entrar na piscina. — Digo, cobrindo-os com os braços e sentindo minhas bochechas corarem. Christian estava me encarando fixamente e eu daria tudo para saber o que passava na cabeça dele naquele momento. Como eu não tinha bola de cristal e nem conseguia ler mentes, perguntei. — Por que está me olhando assim?
— Porque eu estou doido para fazer isso! — O garoto cola os nossos corpos em baixo da água e sela nossos lábios, dando início a um beijo lento, intenso e maravilhoso.
Eu não conseguia acreditar que depois de um ano apaixonada por ele, eu finalmente estava beijando-o. Mia havia me dito que ele não parava de falar de mim ultimamente, mas pensei que ela só estava tentando me iludir. Pelo visto, era verdade. Com certeza esse foi o melhor beijo que eu dei na minha vida! Eu conseguia sentir a eletricidade percorrendo pelo meu corpo.
— Pelo jeito vou ter que fazer isso o verão inteiro, Angelina. — Ele sussurra, assim que nos afastamos e eu sorrio.
— Eu vou adorar fazer isso durante o verão. E na casa da Mia... talvez possamos ter mais privacidade! — Sorrio de forma maliciosa, fazendo-o morder os lábios e desviar o olhar.
— Não vejo a hora!
Nós ficamos mais alguns minutos na piscina, mas logo saímos para beber algo. Andrew devolveu nossos celulares e nos deu duas toalhas. Me sequei o máximo possível, mas é claro que continuei molhada. Eu precisaria de um secador e de tempo pra secar essa roupa. Por isso dei de ombros e ignorei.
Bebi uma, duas, três, cinco, oito doses de tequila! Esses jogos de eu nunca são malditos! Eu mal conseguia raciocinar direito.
— Nina! Você está muito bêbada! — Disse Luna, a sombra burra da Mia, se aproximando e rindo de mim, me fazendo rir também. — Caramba, quanto você bebeu?
— Umas cinco! Cinco! Ou... seis! Foram sete! NÃO! Foram oito! É, foram oito!... Na verdade, eu não sei! — Ela gargalha e me abraça de lado, me levando novamente para o lado de fora da casa.
— O que acha de você, a Mia, a Cherry, e eu sairmos daqui e fazermos alguma loucura? — Olho para o lado e vejo as duas me encarando, empolgadas e acabo sendo contagiada pela empolgação, mesmo sem entender nada do que iria acontecer.
— VAMOS!! — Comemoro sei lá o quê, gritando, e corremos até o carro de Mia. Assim que entramos, ela liga o rádio no volume máximo e começa a dirigir muito rápido. — O que exatamente vamos fazer?
— Alguma loucura! — Diz Cherry, animada, não esclarecendo a minha dúvida.
— Que tipo de loucura?
— Não sabemos. Quebrar um vidro, pichar um muro... — ao ouvir isso, eu rio, cínica, fazendo as três me encararem — qual é a graça?
— Desde quando vocês têm spray para pichar um muro?
— Desde hoje, querida! Comprei especialmente para você estreá-lo!
— Mas por que pra mim?
— Se você quer ser oficialmente uma Lion, precisa nos provar isso.
Eu pensei que eu já fosse mesmo uma Lion.
— E o que eu vou pichar? — Questiono e levo as mãos à cabeça, na intenção de fazer as coisas pararem de girar, mas não funciona.
— A casa do líder dos Wolfs! — Mia diz, com um sorriso maligno e eu arregalo os olhos.
— Do Charlie?
— Do próprio!
— E se tiver alguma câmera de segurança? Ele vai saber que fui eu!
— Esse é o objetivo, querida! Esse spray é de tinta permanente... Dessa forma, estaremos mostrando para eles que Rivercity só pode ter uma gangue: os Lions!
Engulo seco, sentindo o medo tomar conta de mim. Elas não sabiam que o Charlie era filho do meu padrasto. Nós dois concordamos em omitir isso, devido à tamanha insignificância. Porém, obviamente, ele iria contar isso para a minha mãe e ela iria me matar... primeiro, por ter saído de casa e segundo, por fazer uma loucura dessas.
— É aqui. Desce lá e escreve: "Lions mandam aqui!".
— Mas... e se a polícia nos ver?
— Que polícia, Nina? Não tem polícia nenhuma aqui. — Ela revira os olhos e então me fita, fazendo minhas pernas tremerem. — Você quer ou não quer ser uma Lion?
— É claro que eu quero!
— Então pega esse spray e vai lá! — A Cherry me entrega o tubo rosa e eu encaro Luna e Mia, que fazem sinais para eu ir.
Eu não podia deixar de ser uma Lion justo agora que eu consegui ficar com o Christian. Eu não esperei um ano por isso para perder em uma noite.
— Tá bom... eu vou! — Saio do carro cambaleando, ainda sob efeito do álcool.
A casa era toda branca e eu conseguia ouvir o barulho do mar. As luzes da sala estavam apagadas, então deduzi que ele e sua mãe já estavam dormindo. Respiro fundo, enquanto chacoalho o spray e, então, começo a escrever. A frase estava saindo extremamente torta, mas eu apenas queria terminar logo e sair correndo dali, então não estava ligando para a estética. Quando eu estava escrevendo o último M da palavra "mandam", escutei o barulho da sirene do carro da polícia se aproximando. Quando olhei para trás, as garotas já tinham dado partida, saindo rapidamente dali. Eu até pensei em correr, mas a policial me abordou rápido demais.
— Mãos para cima, garotinha! — Uma policial negra se aproxima, apontando a arma para mim. — Sabia que pichar é crime, não é?
— Eu... eu... — estava tão nervosa que nem conseguia terminar a frase.
— Você está extremamente bêbada. Entre já no meu carro.
Suspiro aliviada por não ter sido algemada e entro no veículo, tentando conter minhas lágrimas e o desespero.
— Eu não sei o que passa na cabeça de vocês, jovens, para fazerem esse tipo de coisa... Quem mora ali? — Ela dá a partida, fazendo um sinal para eu colocar o cinto.
— Charlie Scott. — Uma lágrima escorre, mas a enxugo na hora. Estava morrendo de medo da bronca que eu iria levar.
— E por que fez isso?
— Se eu não fizesse... não faria mais parte dos Lions.
— Lions? O que é isso? Uma gangue adolescente? — Ela ri e eu afirmo com a cabeça, envergonhada, fazendo seu sorriso sumir. — Olha, se tem uma coisa que aprendi com meus cinquenta anos de vida, foi que amizades como essas, que lhe influenciam a fazer coisas assim, alegando que se não fizer, não será mais integrante do grupo, não valem a pena. Além do mais, são tóxicas. Tenho certeza de que você não queria terminar a noite na delegacia, não é?
Nego e as lágrimas começam a escorrer. Eu não consigo mais controlá-las. Quando chegamos lá, a policial cujo o nome, segundo o crachá, era Marina, me acompanhou até uma sala, apenas segurando meu ombro.
— Aguarde aqui. — Ela ordena e eu consinto, me sentando na cadeira que lá havia e me debruçando sobre a mesa. Eu só me lembro de ter chorado muito e, de repente, acordar com minha mãe, meu pai e Owen na minha frente, extremamente sérios. — Fiquem tranquilos que eu já conversei com ela e ela está arrependida. Me prometeu que nunca mais vai fazer algo assim! — Marina piscou para mim e abriu um leve sorriso. Eu não entendi o porquê de ela estar me ajudando, mas estava grata por isso.
— Então não precisamos pagar nada? — Minha mãe questiona e a decepção era evidente em sua voz.
— Não, fiquem tranquilos. Só acho legal ela limpar a sujeira que fez.
— Pode ter certeza que ela vai! — Wendy me fuzilou com o olhar e saiu de lá andando em minha frente. Meu pai e Owen a seguiram, mas eu nem tinha cara para olhá-los.
— Por que me ajudou? — Questionei Marina.
— Sei do seu histórico, Nina. Você é uma boa garota, só está passando por uma fase difícil. Não faça eu me arrepender, está bem?
— Não farei. — Sorrio. — Muito obrigada! — Ela sorri e então eu saio em passos rápidos, tentando alcançá-los. Quando chego do lado de fora, vejo que os três já estavam dentro do enorme carro do meu pai. Ao subir e fechar a porta, estava me preparando para ouvi-los gritando, mas isso não aconteceu. — Me desculpem. Eu não sei onde eu estava com a cabeça.
— Por que pichou a casa do meu filho, Angelina? — Owen encara meus olhos, mas tudo o que eu consigo fazer é desviá-los. — Você devia ter ouvido sua mãe e ficado em casa.
— Eu sei. Desculpa.
— Pedir desculpas não adianta, Angelina. A última coisa que a Wendy merecia era ter que buscar a própria filha na delegacia. — Ele conclui e nenhuma palavra sai da boca do meu pai e nem da minha mãe.
Quando Sean — meu pai — para em frente à minha casa, Wendy e Owen descem em silêncio e entram em casa, mas eu permaneço ali, na esperança de ouvir alguma coisa.
— Pai, eu... — Ele me interrompe em tom baixo, com lágrimas nos olhos.
— Não esperava isso de você. Estou decepcionado e não quero conversar agora. Amanhã falamos disso.
— Mas pai... — Sou interrompida novamente e as lágrimas voltam a escorrer.
— Amanhã. Entre logo e tome um banho. Está insuportável o cheiro de álcool vindo de você. — Consinto com a cabeça e me retiro, chateada.
Eu não suportava a ideia de tê-los magoado. Estava me sentindo uma péssima filha e uma péssima afilhada.
Ao fechar a porta, olho os dois, que estavam sentados no sofá e penso em milhares de formas de me desculpar, porém, antes mesmo de eu começar a falar, minha mãe me corta.
— Amanhã trate de acordar cedo, ir lá pedir desculpas ao Charlie e limpar a parede da casa dele.
— O spray é permanente. — Comento, preocupada.
— Não me importa. Você vai dar um jeito de limpar. Faça isso e depois voltamos a conversar. Enquanto isso vou pensando no seu castigo.
Em nenhum momento, durante essa conversa, ela olhou para mim e isso me afetou imensamente.
— Mãe... — Suplico, chorando.
— Vá tomar um banho e dormir. Amanhã será um longo dia.
Eu preferia mil vezes que ela tivesse gritado, surtado, feito um escândalo... Preferia que ela estivesse com raiva, mas não decepcionada. Decepção é o pior sentimento que podemos proporcionar a alguém. A culpa por isso é o pior que podemos sentir.
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