São Paulo
Setembro, 2016

"Olhos castanhos, pele morena
Essa menina rouba a cena"
— Fly (Pele morena)

Estou sentado na grama do Ibirapuera usando o tronco de uma das árvores para encostar. Aqui é um ponto estratégico, posso ficar na sombra e observar as pessoas ao meu redor, sempre fico neste lugar quando quero capturar paisagens e pessoas interessantes com minha câmera. Para mim, fotografar é a arte de congelar momentos, se um dia acontecer de eu perder a memoria, posso reviver através das fotos. É claro que o mais produtivo é curtir o passeio e deixar a tecnologia à parte, mas por outro lado, eu gosto de registrar essas ocasiões. O parque fica mais lindo durante a primavera, as árvores ficam mais bonitas e vivazes e o pôr do sol fica mais lindo e desenhado. É a minha segunda estação favorita, só perde para o verão.

Na época da primavera é perfeito para desfocar o fundo da imagem, fazendo isso as flores e animais ficam em destaque. Eu amo vir para cá para fugir de tudo quando quero um tempo para mim, e ainda posso curtir meu hobby. Esse parque é o pulmão da grande São Paulo.

— Shakespeare! Volte aqui, garoto. Agora! — uma senhora passa por mim com uma guia de cães tentando correr atrás de um Golden Retriever.

O cão passa correndo perto de uma garota e um senhor sentados em uma toalha com uma cesta de piquenique. A garota levanta-se e aproxima-se do tal Shakespeare, ajoelha na grama e conversa com ele, enquanto a senhora, agora em passos curtos, vai até eles. Como estou um pouco longe, não consigo ouvir o que a garota diz, mas parece que está funcionando. O cão fujão presta atenção e não ousa sair do lugar. Não perco tempo, e tiro uma foto desse acontecimento inusitado. A dona do cão chega até eles, conversa com a garota e diz poucas palavras com o cachorro. Imagino que ela deve estar agradecendo a heroína de longos cabelos castanhos e dando uma bronca no Shakespeare.

Pouco tempo depois a garota e o senhor vão embora, essa foi minha deixa para ir também. Não ocorreu mais nada interessante por aqui.

Quando chego em casa, ouço o som das teclas do piano e sei que vem do quarto onde meus pais passam grande parte do tempo, nesse cômodo tem instrumentos, partituras e outras coisas do mundo da música clássica. Sigo até o quarto andando bem devagar para não interromper ou distrair minha mãe e fico no batente da porta assistindo-a tocar lindamente. Ela está com os olhos fechados e em alguns momentos balança o corpo no ritmo da canção. Ela sempre se entregou de corpo e alma à música. Tenho muito orgulho dos meus pais, o talento corre pelas veias deles. Quando a música acaba e ela finalmente abre os olhos, nota minha presença e abre um sorriso. Minha mãe é a musicista mais linda e talentosa que eu conheço.

— Sonata ao Luar? — pergunto mesmo já sabendo a resposta. Quando se é filho de músicos você acaba decorando alguns nomes.

— Sim, amo essa canção. É linda. Chegou cedo, pensei que fosse ficar lá por mais tempo.

— Eu também achei, mãe. Hoje uma senhora estava correndo atrás do cachorro e uma garota a ajudou. Shakespeare foi direto na cesta de piquenique da menina. Depois disso não aconteceu nada interessante e eu resolvi vir embora.

— Shakespeare é o nome do danadinho? Gostei. Andou fotografando muito hoje? Você sabe o que penso sobre isso. É muito estranho sair por aí tirando fotos de pessoas desconhecidas.

— Está errada, senhora Baxter, eu fiquei o tempo todo sentado na grama. Capturei o momento que a menina estava falando com o Shakespeare enquanto a dona corria para alcançá-lo. Mãe, você sabe que a fotografia para mim é como a música para a senhora, não tente tirar de mim

— É, eu sei sim. Quero ver essas fotos. Vamos?

— Com certeza.

♡

Oi, pessoal. Como vocês estão? Quase que esse capítulo não sai essa semana, não estou bem e não deu para fazer uma revisão detalhada, sorry. Então, de tanto pesquisar estou começando a gostar de fotografia também. Enfim, vou ir embora para não falar o que não devo. Se você gostou, não esquece de deixar o seu voto, obrigada.

Beijinhos e até o próximo capítulo
😚❤