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VII - Destino


Chester despertou com um ronco do Brad. Enfiou os dedos por detrás das lentes dos óculos e esfregou os olhos. Reparou que tinha adormecido encostado à cabeceira da cama, ainda vestido, com os auscultadores nos ouvidos. Olhou para o discman, estava desligado. Alguém lhe tinha carregado no botão do stop para lhe proporcionar um bom sono. Apostava que tinha sido o Mike, sempre atento aos pormenores, com aquela cortesia típica dos japoneses. Chegava a ser irritante, mas ele gostava, em segredo, da atenção do outro.

O problema era que ele nunca tinha um bom sono. Era sempre recheado de pesadelos e de más impressões, constantemente acossado por lembranças que ele julgava já ter sepultado no seu subconsciente. Não era o que os psiquiatras costumavam afirmar, naqueles programas vespertinos, perante uma plateia ao vivo de donas de casa necessitadas de conselhos práticos sobre a vida? Os traumas eram enviados para o subconsciente para manter o consciente são, ou uma treta parecida? Ele já devia ter superado os seus medos, mas todas as noites estes regressavam em forma de pesadelos. A sorte era que ele não se lembrava do que sonhava. Ou lembrava-se muito pouco.

Pois, Mike desligara-lhe o som, mas não lhe tirara os óculos... Arrancou os auscultadores, desenleando o fio que se enrolava junto ao peito. Verificou depois as armações e como não as tinha entortado, encolheu os ombros, recolocando os óculos no nariz, prendendo as hastes atrás das orelhas. Franziu a cara com um bocejo.

Espreguiçou-se e sentiu os ossos estalarem. Não tinha chegado a tomar banho. Simplesmente, caíra no sono a ouvir Nirvana. Merda, que aquele Cobain cantava! Sabia que tinha a capacidade para ser uma voz do rock tão potente e inesquecível como a de Kurt Cobain. Bastava mostrar-se tão sofrido, indiferente, provocador e irónico como o vocalista dos Nirvana que já não estava no mundo dos vivos. Cobain era uma autêntica lenda, tinha conseguido morrer com a mágica idade de vinte e sete anos e juntar-se a outras lendas como Janis Joplin, Jim Morrison ou Jimi Hendrix que também tinham desaparecido aos vinte e sete.

Fez contas com os dedos. Faria vinte e quatro anos no ano seguinte, portanto tinha três anos para deixar a sua marca indelével no mundo. Cantar tudo o que precisava de cantar e entregar-se ao sacrifício das grandes estrelas da música. Ocupar o panteão extraordinário dos deuses do rock!

Precisava de editar um disco primeiro, pensou desanimado. E era por causa disso mesmo, para arrancar definitivamente com a carreira onde ele se iria sentir profissionalmente realizado, que estavam em Nova Iorque naquele mês de setembro.

Levantou-se. Mike dormia, todo tapado, bem enrolado no cobertor, no canto mais afastado da cama. O Brad ressonava no sofá e parecia uma locomotiva. Ele não iria conseguir adormecer naquela barulheira. Bem, podia dar um pontapé no guitarrista e mandá-lo calar-se, mas naquela fase o seu cérebro tinha despertado totalmente e não valia a pena provocar uma discussão, acordar os outros dois, para depois ficar de vigília enquanto os via a cair outra vez no sono.

Lembrou-se de que não tinha tomado banho. Entrou na casa de banho, foi urinar. Olhou para a cabina suja do duche e não lhe apeteceu. Regressou ao quarto. Remexeu na sua mochila, agarrou no maço de tabaco e guardou o discman. De um bolso mais pequeno retirou o telemóvel. Tinha cinco chamadas não atendidas. Uma da irmã, uma da Elka, a mãe do seu filho. As outras três eram da Sam, a sua mulher. Suspirou, sem paciência para devolver as chamadas. De qualquer modo era já muito tarde, mesmo com a diferença horária, ia acordar toda a gente, sobressaltando-os, julgando que seriam más notícias por causa da hora. Atirou o aparelho para cima da mochila. Esfregou a cara e levou os dedos aos cabelos encaracolados. Não fazia nada ali. Vestiu o casaco e saiu do quarto.

No pequeno átrio mal iluminado, estava apenas aceso um candeeiro sobre o balcão que emitia uma luz escassa e amarela, os seus passos foram travados por uma voz.

- Ei, onde pensas que vais? Estamos fechados.

Um vulto erguia-se atrás do balcão e da luz do candeeiro, fazendo com que fosse impossível identificar-lhe o rosto. Pelo tom e pelo corpo ele verificou que não era o mesmo italiano simpático que os acolhera no início da noite. Compreensível, o homem estaria a dormir e deixara alguém mais jovem para fazer o difícil turno da madrugada. Por detrás do vulto ele entreviu um relógio analógico, os ponteiros marcavam pouco depois das duas da manhã.

Ele não respondeu e o outro completou:

- Se saíres agora só podes regressar depois das seis, que é quando abrimos.

- Seis da manhã?

- Sim.

- Existe algum clube aqui perto? Apetece-me ir beber uma cerveja...

O rapaz, sensivelmente da mesma idade do que ele, saiu de detrás do balcão. Deixou de ser um vulto, ganhou um rosto e um corpo. Olhou-o analiticamente, cruzou os braços.

- Yeah, meu. Temos o "Five Cents". São só dois quarteirões, se fores na direção do rio. Voltas à direita e vês logo a porta, fica também à tua direita. Mas já sabes. Ficas por lá até às seis, não vale a pena saíres antes. O "Five Cents" fecha às sete, pelo que estás à vontade...

- OK... Obrigado, meu. Têm doces por lá?

- Tens dinheiro?

Ele enfiou as mãos num bolso interior, a conferir um pequeno rolo de notas que enfiara ali dentro. Todo o seu fundo de maneio para a viagem. Não devia estar a gastá-lo com extravagâncias, no dia seguinte teria que comer, mas que se lixasse. Acenou que sim.

- Tenho.

- Procura pelo Louis. Diz que vais da minha parte.

- E quem és tu?

- Sou o Dan, da pousada. Ele sabe quem é.

- Basta isso?

- Sem problemas, meu.

- De certeza? Não quero sarilhos com a bófia. Não sou de cá.

- Eu sei. Tu e os teus amigos vieram da Califórnia, não foi? Chegaram esta tarde... O meu tio disse-me. E os outros dois? Também querem doces?

- São só para mim. Não lhes fales disto, vais dar-te mal. Principalmente comigo.

- Oh... percebo. Gostas de te divertir. Sozinho.

Levou um cigarro à boca. O outro sacou de um isqueiro e acendeu-lho. Chester soltou uma baforada. Mordeu o piercing que usava no lábio inferior. Achou que estava tudo conversado e foi para a rua. Escutou o rapaz a trancar a porta do lado de dentro. Pronto, estava por sua conta.

Uma brisa fresca perfumada com os cheiros do rio Hudson bateu-lhe no rosto. Era como se estivesse a mastigar lodo e peixe podre e fez uma careta. Cuspiu para o lado. Levantou as golas do casaco para proteger a nuca do frio daquela madrugada silenciosa, húmida, vazia e percorreu encolhido os dois quarteirões, fumando o cigarro. Foi fácil dar com o tal clube. Sobre a porta tinha uma luz azul e um néon da mesma cor piscava com o nome do estabelecimento, que coincidia com o que o rapaz lhe tinha dado. Esmagou a beata debaixo da sapatilha. Deu dois toques com os nós dos dedos na vitrina do recanto que se situava ao lado da porta fechada e pediu um ingresso. Apareceu um homem calvo, moreno, carrancudo, vestido com uma camiseta interior, como se estivesse a dormir num quartinho ao lado e se tivesse levantado para o atender. Os olhos do homem estavam inchados e sonolentos, a boca pendurava-se-lhe, com grumos de cuspo a assomar-se aos cantos. Esse homem deu-lhe um cartão amarrotado e explicou-lhe que tinha de fazer um consumo mínimo de cinco dólares. Ele perguntou pelo Louis e o homem disse-lhe que o podia encontrar junto ao bar, que vestia uma gabardina verde. Nem se deu ao trabalho de confirmar de onde ele conhecia o Louis pelo que, naquela etapa, ele não teve de usar a senha oficial. Fechou o guiché e Chester bateu à porta com dois murros.

O clube era um local acanhado, com pior aspeto do que o homem que dispensava os ingressos. O chão estava peganhento e imundo, no bar apinhavam-se um sem fim de corpos ébrios e barulhentos, os seguranças pareciam capangas a soldo de algum gangster, a pista de dança era um espaço circular num canto, onde se acotovelavam dezenas de pessoas que se moviam sem graciosidade conforme a música que era dispensada por um disc jockey que manobrava a sua mesa de mistura atrás de um gradeamento. A maioria dos empregados eram masculinos, mas ele conseguiu ver pelo menos duas mulheres que iam e vinham do bar até ao conjunto de mesas. Corajosas. Ou desesperadas, para trabalhar num lugar como aquele.

Bem, para ele era um lugar excelente para passar a noite. Não quis ser esquisito, não valia a pena. Já tinha conhecido clubes piores do que aquele. Também havia mulheres a frequentá-lo, geralmente acompanhadas dos respetivos namorados.

O seu cérebro estava mais desperto do que nunca, por causa da nicotina que acabara de fumar, por causa da música estridente, embora o techno pop não fosse o seu género preferido. Esgueirou-se através da multidão, uma das vantagens de ser magro, alcançou o bar e pediu uma cerveja. Carimbaram-lhe o cartão, ele reparou que os cinco dólares obrigatórios dariam para mais outras quatro. Passou os olhos pelas pessoas mais próximas e encontrou a gabardina verde.

Aproximou-se do famoso Louis, segredou-lhe ao ouvido que vinha da parte do Dan da pousada e que queria doces. Três pastilhas chegavam. Na realidade, não tinha dinheiro para mais, não podia estourar com as suas poupanças logo na primeira noite, o Shinoda haveria de comê-lo vivo, e o Louis não precisava de saber da sua miséria. O Louis entregou-lhe o ecstasy e ele engoliu os comprimidos de uma vez, bebendo-os com um gole de cerveja.

À medida que o químico lhe ia entrando no sangue ele foi-se descontraindo. O efeito da droga foi rápido e começou a rir-se sozinho. Refugiou-se numa ponta obscura da pista de dança e ali ficou a cantar para si mesmo, a abanar a cabeça e a beber a sua cerveja. Não meteu conversa com ninguém, nem ninguém veio ter com ele. Começou a suar, mas não tirou o casaco. Sentia-se bem naquele calor que o fazia ter mais sede.

A música era cada vez mais rápida e tribal, a linha da bateria furava-lhe os ouvidos como pancadas de martelo no crânio. O clube oscilava em luzes e cores indistintas, exacerbadas, numa tontura deliciosa. Nesses momentos de escape fácil, os seus pesadelos diluíam-se como açúcar num copo de água. Os seus demónios deixavam de o importunar. E ele via tudo límpido e bonito.

Junto ao gradeado do disc jockey, encostada à trama metálica, ele reparou numa mulher.

A postura dela era tal, tão régia e diáfana, que parecia não estar ali. Uma alucinação. Um holograma. Ele olhou para a garrafa de cerveja e pestanejou. Se tivesse sido LSD, ele tinha a certeza de que estava a fabricar aquele anjo feminino. Mas fora ecstasy e isso só lhe provocava euforia e descaramento. Olhou para a mulher durante muito tempo. Eventualmente, ela deu por ele e trocaram um olhar intenso.

Chester aproximou-se, hipnotizado e assombrado.

Quando se inclinou sobre ela, para lhe falar ao ouvido – de outro modo não se conseguia fazer ouvir devido ao volume impossível da música – sentiu-lhe um perfume florido que o deixou ainda mais zonzo. Teve consciência de que devia cheirar tão mal quanto um porco e sentiu uma vergonha divertida que lhe provocou uma cãibra no estômago. Apertou o gargalo da garrafa para se controlar e não desatar a rir. Queria conhecer a mulher e não podia estragar a conquista.

- Hi, eu sou o Chester.

Ela juntou o corpo ao dele e respondeu-lhe no outro ouvido:

- Líria.

- Líria...

Estavam os dois juntos, a poucos milímetros de se tocarem, enrolados numa dança estática, cabeças quase pousadas no ombro um do outro, bocas a roçar os lóbulos das orelhas. A voz dela foi um sussurro estival. Ele teve uma segunda cãibra. Ela informou-o:

- Podes chamar-me de Lilly.

- Yeah. Lilly é mais fácil.

- E quer dizer a mesma coisa. Líria, lírio, lily. Um lírio é uma flor abençoada.

- Ei, gosto dessas tretas misteriosas. O que mais me podes dizer sobre os lírios?

- Representam a inocência e a pureza – respondeu ela –, são flores usadas pelas noivas nos buquês, no dia do seu casamento. Simbolizam o amor eterno.

- Certo, querida. Eu amo-te.

Ela colocou os braços em redor do pescoço dele, por onde as gotas de suor deslizavam, copiosas.

- Obrigada – desenhou as palavras com os lábios.

Novamente inclinado sobre ela, ele quis saber:

- Não me vais dizer que me amas também? É assim que se responde... Ou então com "I know", como em Star Wars. Já viste Star Wars?

- Quem nunca viu? – Ela tinha-o abraçado.

- Sei lá, deve haver alguém neste mundo que tenha estado a dormir nestes últimos anos... Se bem que com o Episódio I, que estreou em maio, toda a gente se tenha recordado dos filmes antigos. Star Wars ficou uma merda com este filme, não achaste?

- Prefiro The Matrix.

- Yeah! The Matrix! Muito curtido, meu. Adorei esse filme. Um amigo meu não gostou tanto, porque já tinha visto o Ghost in the Shell e diz que foi tudo copiado daí. As ideias e tal. Conheces? É um filme japonês de animação...

Ela deitou a cabeça para trás e riu-se. Ele agarrou-a pela cintura, puxou-a para si e perguntou-lhe, preso naquele encanto:

- Que outras tretas misteriosas tens para me dizer?

- Não devia estar aqui.

- Pois não. Tu pertences a um palácio. És linda!

- Não sei o que faço aqui... Não me lembro de ter chegado aqui. De repente... Isto é um sonho?

- O que foi que tomaste? Também conheces o Luigi?

- É como se eu estivesse de longe, a observar-me, mas não consigo estabelecer a ligação direta com o meu verdadeiro corpo.

- Eh... Uma cena como no The Matrix? Significa que tomaste o comprimido vermelho e que já sabes a verdade?

Líria fez uma cara triste.

- Não, não sei a verdade. Não sei de nada. Tenho uma voz cá dentro que me diz para correr.

- Correr...

Ela assentiu, cada vez mais melancólica. Ele embalou-a, mexendo os braços que não lhe largavam a cintura, numa espécie de bailado tosco que não condizia com o ritmo monótono da música do clube. Ela deixou-se conduzir. Era ligeira como uma pena. Como uma ilusão. Mas ele conseguia apalpar-lhe as curvas e sentir-lhe a consistência.

- Eu também tenho essa voz – concordou ele.

- Acho que sou eu. Aquela que eu sou de verdade que me tenta salvar, do outro lado da sanidade. Preciso de despertar... antes de fazer algum estrago irreversível.

- Somos sempre nós. Não estás a estragar nada. Pelo contrário...

As luzes estroboscópicas desenharam um padrão estranho de cores sobre a pista de dança para onde eles tinham deslizado, sem se aperceberem. As sombras insinuaram-se no rosto dele e no dela, clarões e trevas alternando-se que esbateram as feições dela até a tornarem numa boneca igual à de uma animação japonesa, que embranqueceram as lentes dos seus óculos. Chester estava cada vez mais enfeitiçado. Não a iria largar nunca mais, naquela noite e para a vida toda.

Tinha-se apaixonado.

- É mais fácil correr – suspirou ela, encostada outra vez ao ombro dele.

Ele fazia-lhe carícias no cabelo enquanto dançavam, no meio da pista de dança. Completou, criando uma rima:

- It's easier to run... Replacing this pain with something numb. It's so much easier to go, than face all this pain here all alone. É mais fácil correr... Substituir esta dor por alguma coisa dormente. É tão mais fácil ir embora, do que enfrentar esta dor sozinho.

- Sim, acho que sim. Isso foi especial.

- Escrevo canções.

- Isso é um poema para mim?

- Não, é um poema para mim.

- Oh, é justo. Não te conheço de lado nenhum.

Perguntou-lhe se queria tomar qualquer coisa. Ela disse que sim. Beberam algumas cervejas que ele registou no seu cartão. Ela, de algum modo, não tinha cartão algum consigo, o que consistia noutro mistério que ele não se deu ao trabalho de desvendar, como tinha ela conseguido entrar ali sem pagar o consumo mínimo de cinco dólares.

Perdeu-se a contemplá-la. De resto, depois de começarem a beber juntos, nunca mais conversaram nada. Ela manteve os olhos toldados por aquele sofrimento indizível e ele manteve-se curioso e expectante, queria descobrir se ela iria dissolver-se num milhão de bolhas de sabão. Saíram de mão dada e sentaram-se num beco sujo, ao lado dos caixotes do lixo. Ele fumava, a olhar para a faixa de céu que se via para além dos beirais mergulhados na penumbra da noite. E ela, miraculosamente, continuava com ele, cabeça deitada no seu braço, quieta e muda como uma criatura mágica que fora arrancada do seu reino de fábula.

E ele sentia-se apaixonado. Tinha encontrado uma fada ou qualquer coisa parecida.

Começou a contar-lhe anedotas e a fazer-lhe momices para despertá-la do torpor. E ela ria-se, de joelhos no cimento do chão, sentada sobre os calcanhares, a fixar-se atentamente nos gestos exagerados dele, a tentar entendê-lo, sorrindo e sendo feliz novamente.

Quando Chester regressava aos tropeções ao hotel, já não a tinha ao seu lado e não sabia dizer quando ela se tinha ido embora.

Simplesmente, voltava sozinho pelo caminho junto ao rio, a percorrer os dois quarteirões. O sol já tinha nascido e, pela azáfama que enchia as ruas, já passava das seis da manhã. O hotel teria a porta aberta e podia ir tomar um banho e descansar e o Mike nem sequer iria dar pela sua saída. O Brad muito menos. 

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