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Capítulo 14

Me visto, tomo o café da manhã lentamente e depois de me despedir dos loucos que se fazem passar por minha família, saio da casa indo diretamente até o portão.

Como prometeu, Alex está me esperando do outro lado da rua. Ele faz menção de querer sair, mas lanço um olhar tão mortal a ele que o garoto entende que nesse momento é melhor não dar as caras ou acabaria entrando em um interrogatório sem fim.

─Bom dia. –Diz com sua voz rouca e respondo com um aceno de cabeça.

O caminho todo é feito em um silêncio desconfortável e quando finalmente chegamos no colégio, nem espero que o carro esteja totalmente desligado para praticamente pular do automóvel como se estivesse escapando de um sequestrador.

─Te espero depois da aula. –Grita e balanço a mão indicando que entendi o recado.

Droga. Mil vezes droga.

As aulas passam incrivelmente rápido e não posso deixar de pensar no maldito almoço. Porque tive que aceitar essa loucura? Não devo nada a Alex, mas incrivelmente ele consegue me manipular e acabo fazendo tudo o que ele quer no final das contas.

Quando o sinal bate indicando o final das aulas, uma sensação estranha toma conta do meu corpo. Começo a tremer e a suar pensando no que está por vir.

Amanda coloca a mão no meu ombro e diz que vai ficar tudo bem, mas não sei até que ponto devo acreditar nisso.

Converso coisas bobas com ela, apenas para atrasar esse momento o máximo que posso, mas como a inteligente que é, ela me empurra para fora e grita para que deixe de ser uma covarde.

Caminho lentamente pelo corredor até a porta de saída, me sentindo como um condenado à morte no corredor para a cadeira elétrica. Tudo bem, eu sei que estou exagerando, mas essa é a exata sensação que tenho nesse momento.

Peço a todas as divindades que ele tenha esquecido ou que tenha acontecido algo que impeça esse almoço, mas quando passo pela porta e o vejo encostado na lateral do seu carro elegante, um suspiro resignado escapa pela minha boca.

Paro bem na sua frente e ele me observa curioso.

─Está nervosa, jogadora? –Debocha e dou um tapa no seu braço musculoso, produto de horas de treino levantando a doida da Melina no ar.

─Não, porque estaria nervosa? –Minto descaradamente e ele solta uma risada nada convencida. Provavelmente minha cara de cervo assustado foi o que me delatou.

Sem dizer nada, contorno o carro e abro a porta, colocando o cinto de segurança ao me sentar no assento de couro luxuoso.

Alex apenas balança a cabeça e ri, entrando no lugar do motorista e colocando a chave na ignição. Antes de dar a partida, ele me observa atentamente e coloca uma mão em cima da minha coxa que não deixava de se mexer irritantemente.

Observo hipnotizada o seu toque e sinto que minha pele começa a esquentar bem ali, onde seus dedos se movem carinhosamente.

─Marjorie, se realmente está desconfortável com tudo isso do almoço, eu posso te deixar em casa, não vou ficar bravo nem ofendido, só não quero que faça algo que não é do seu agrado. –Solta, me pegando totalmente de surpresa. Viro meu rosto para ele e percebo que sua expressão é algo preocupada.

─Não. Eu prometi que te acompanharia e vou cumprir. –Engulo seco e retiro sua mão de cima da minha perna antes que cometa alguma loucura como beijá-lo novamente o que seria totalmente humilhante.

─Tudo bem. –Respira profundamente e solta o ar em um suspiro. Sem dizer mais nada, liga o carro e pegamos o caminho que suponho seja até a sua casa.

Para o clima não ficar mais tenso do que já está, ligo o rádio e uma playlist começa a tocar imediatamente. São as músicas que ele gosta. Um estilo pop meio punk e melancólico.

Até que não são tão ruins. Em um ponto do caminho, simplesmente fecho meus olhos e desfruto da melodia. Encosto minha cabeça na janela e penso em como eu fui parar nessa situação, com alguém que obviamente não vai com a minha cara e só precisa de mim para ajudá-lo com algo que poderia ser solucionando facilmente se abrindo com seus pais.

Mas não é hora para arrependimentos, a besteira já foi feita o que me resta agora é aceitar o meu destino.

Quando finalmente chegamos na sua casa, não me surpreendo com a riqueza do lugar, afinal estamos falando de uma das famílias mais ricas da cidade, senão do país.

Alex desliga o carro e depois de descer, vem até a minha porta e a abre, estendendo sua mão para me ajudar a sair.

Não consigo controlar a sensação de calor que me invade cada vez que ele me toca, é algo tão natural como respirar.

Engulo saliva profundamente para tentar tirar qualquer ideia maluca que surja na minha cabeça e peço aos céus que me ajudem nesse almoço.

Caminhamos de mãos dadas até a porta e antes mesmo que o garoto possa tirar a chave do bolso, ela é aberta e um homem de terno que não parece ter mais do que cinquenta anos aparece na nossa frente.

─Olá senhor Estensoro. Vejo que trouxe companhia. –O homem diz olhando diretamente nos meus olhos e sinto que minha bochecha fica completamente vermelha.

─Sim Richard, esta é Margo, minha namorada. –Alex solta com tanta naturalidade que me pega de surpresa. Lhe lanço um olhar assustado e ele apenas sorri e aperta minha mão suavemente, em uma tentativa de me acalmar.

Balanço a cabeça e tento não deixar óbvio que tudo não passa de uma farsa.

Sem dizer mais nada, entramos na enorme casa e vamos direto para a sala de jantar.

O lugar é tão lindo que sinto que vou ter uma overdose de riqueza. Quase não tenho tempo de absorver muita coisa pois Alex me puxa pelo cômodo e me leva até uma enorme mesa montada com pratos, talheres, copos e guardanapos de um tecido que parece ser mais caro do que minha roupa.

─Oh, você chegou querido. –Sua mãe diz ao nos ver e dá um abraço rápido nele e depois se aproxima de mim e me estende a mão. No começo fico meio confusa mas balanço sua mão mesmo assim. ─Que bom te ver, Margo certo? –A mulher me observa atentamente e sinto que vou desmaiar a qualquer momento.

─Sim, é um prazer conhecê-la, senhora Estensoro. –Digo automaticamente e ela apenas balança a cabeça. Logo após, o pai dele aparece e aperta a mão do filho e depois a minha.

Me sinto terrivelmente desconfortável e posso presumir que Alex está na mesma situação.

O homem me escrutina assim como a mulher e olha para o filho levantando a sobrancelha, sem dizer absolutamente nada.

Alex fica visivelmente envergonhado e por alguns segundos fico com um pouco de dó dele. Seu pai é tão frio, quanto o Alasca, disso posso ter certeza.

Para nossa sorte, alguns minutos depois, a cozinheira anuncia que o almoço será servido e respiro aliviada, pelo menos minha boca estará cheia de comida o que me impedirá de dizer alguma besteira.

Vamos até a mesa e nos sentamos. Fico do lado de Alex e os seus pais se sentam bem na nossa frente. Não sei porque, mas me sinto como se estivesse em um interrogatório.

─Fica calma, vai dar tudo certo. -Alex sussurra no meu ouvido enquanto aperta levemente minha coxa. Apenas balanço a cabeça porque sei que não conseguiria dizer absolutamente nada nesse momento. Seu toque está me afetando cada vez mais, como se eu gostasse dele...

─Então Margo, fiquei sabendo que está no time de basquete da escola. -Senhor Estensoro afirma, com as mãos sob o queixo. Essa cena me lembra muito o filme "O poderoso Chefão" e isso só me deixa ainda mais nervosa.

─Hã... sim. -Sinto como se minha língua travasse nesse momento e um suor frio escorre pelas minhas costas.

─Ela é uma ótima jogadora pai, você tem que ver! -Alex diz animado, mas seu pai sequer olha para ele.

─É uma pena que destruiremos a quadra então. -Solta e nesse momento, sei que ele não está nem aí para os alunos. O único que o interessa é o dinheiro.

Meu coração começa a bater cada vez mais rápido e Alex parece perceber que a raiva está me dominando ao escutar essa frase.

─Então, que tal se comemos? Estou morrendo de fome. -Diz, colocando uma enorme quantidade de comida na boca.

Eu sabia que esse almoço ia ser uma furada, mas o infeliz do dançarino não quis me escutar.

Todos comem e eu coloco algumas porções de comida na boca, sem sentir realmente o sabor. Uma pena, porque parecia estar delicioso.

Quando finalmente terminamos o almoço, invento uma desculpa esfarrapada de que preciso ir buscar a minha irmãzinha no colégio. Não quero passar nem um minuto a mais com essa família.

Durante todo o almoço, eles fizeram questão de trazer a Melina para o assunto, dizendo que estava linda no jantar, ou contando sobre suas novas aquisições e mais um monte de baboseiras, somente para me diminuir. Alex ficou incomodado, porém não disse nada. Pelo visto ele é apenas um fantoche para os pais e os obedece cegamente, mesmo pensando que ele faz o que quer, seus pais dominam praticamente noventa por cento da sua vida e isso me deixou um pouco triste. Eles podem ter todo o dinheiro do mundo, mas uma coisa é certa, nessa família falta muito amor e união.

Como Alex me trouxe, ele se ofereceu para me levar de volta para casa. Todo o caminho foi feito novamente em silêncio e pela primeira vez, agradeci por isso. Não sei o que dizer e se for ser sincera, tenho medo de esculachar a sua família sem dó.

Quando ele estaciona no meu portão, suspiro aliviada e abro a porta rapidamente, querendo escapar o mais rápido possível dessa situação, mas o garoto é mais rápido e segura meu braço firmemente, me impedindo de sair.

─Espera, Margo. -Pede e volto a me sentar. ─Queria te agradecer por ter ido hoje e te pedir desculpas por tudo que meus pais disseram. Eles são meio... babacas às vezes. -Sua voz soa um pouco triste e sinto que tenho que consolá-lo.

─Tudo bem, não precisa se desculpar. Eles não são você. -Digo simplesmente e ele balança a cabeça. Retiro sua mão do meu braço e saio. Caminho até minha casa sem olhar para trás, mas sei que ele só irá embora depois que eu passar pela porta.

Quando já estou dentro de casa, vou direto para o meu quarto e me jogo na cama, pensando em quão louco foi o dia de hoje.

Só espero que amanhã não vire tema de fofoca nos corredores do colégio.

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