Capítulo 13
Alex me entrega uma peça de roupa e depois percebo que se trata de um casaco meu que estava dentro do armário.
Estendo a mão e seguro o objeto macio na frente do meu corpo. Balanço minha cabeça e me repreendo por ser tão idiota. Eu achava mesmo que ele iria me beijar? Quanta ingenuidade. É como Melina disse, eu e ele não combinamos, somos dois opostos, duas pessoas que foram feitas para ter destinos totalmente diferentes.
O garoto me observa por mais alguns minutos sem dizer nada, até que sai me deixando sozinha e completamente perdida.
Pego o resto da minha roupa e corro até o banheiro para me vestir. Não quero correr o risco de ser pega desprevenida novamente.
Já com o uniforme, saio e encontro a escola completamente vazia.
Vou direto para casa. O caminho passa em um borrão, talvez pela minha mente distraída ou talvez porque excedi a velocidade, de novo.
Só de pensar que terei que me encontrar com os pais dele, meu corpo treme de nervosismo. Porque aceitei esse pedido? É algo que nunca saberei.
Quando estaciono no portão de casa, meu telefone toca avisando que uma nova mensagem acabou de chegar. Desbloqueio o aparelho e leio o conteúdo.
"Esqueci de te avisar que o almoço é amanhã, podemos ir juntos depois da escola"
Leio pausadamente cada palavra e absorvo a importância delas. Merda, na onde foi que eu me meti?
Passo pela porta ainda tentando descobrir como solucionar essa confusão e só percebo que não há ninguém em casa quando encontro um bilhete colado na porta da geladeira.
Resumindo, meus pais foram ao cinema com Emma e deixaram almoço no forno.
Lembro que havia um filme que ela queria ver a dias e eles finalmente resolveram mimar a pequena.
Rara vez saímos para jantar ou a um parque, na verdade a qualquer lugar que implique gastos. Meus pais trabalham duro para manter nosso lar em pé e tanto eu quanto Emma, aprendemos a não exigir deles, coisas que não estão nas suas possibilidades.
Almoço com calma e depois de lavar toda a louça suja, aproveito para descansar um pouco. O treino hoje foi pesado, já que o campeonato está cada vez mais próximo. Meu peito se aperta só de pensar nisso. Por uma parte estou muito nervosa pelo jogo e por outra, pelo fato de que a quadra corre o risco de ser demolida depois do evento.
Imediatamente a imagem de Alex invade meus pensamentos. Será que ele vai cumprir sua parte da promessa? Ou será que apenas está me usando para conseguir o que quer? Não... pelo pouco que o conheci, percebi que ele não faria isso comigo, ou... será que sim?
O dilema interno continua até que meu telefone resolve tocar insistentemente. Quando vejo o nome dele no visor, minha respiração fica mais intensa e sinto meus batimentos cardíacos se acelerando.
─O que quer Alex? –Pergunto sem rodeios, tentando não transparecer que sua ligação me deixa sem ar.
─Nossa, para que essa ignorância toda, Marjorie? –Exclama mas posso sentir que ele está rindo do outro lado da linha.
─Diz logo para que me ligou, que não tenho todo o tempo do mundo não garoto!
Escuto sua respiração por alguns segundos antes dele finalmente resolver responder.
─Então, te mandei uma mensagem mas você não respondeu... liguei para ver se estava tudo bem... –Diz sussurrando a última parte e me pegando totalmente de surpresa.
Agora quem ficou sem palavras fui eu.
─Alô? Está aí? –Sua voz soa novamente e me apresso a responder.
─S-sim... estou bem, obrigada por se preocupar, cheguei e fui direto almoçar...
─Então, o que achou do que te mandei?
─Pode ser, irei de ônibus amanhã para a escola então, assim não deixo minha moto sozinha depois da aula... –Penso alto e escuto um resmungo.
─Não precisa ir de ônibus, eu te busco na tua casa e te levo depois do almoço.
─O que? Claro que não! Eu moro do outro lado da cidade Alex, você teria que acordar sei lá, as cinco da manhã para chegar a tempo e...
─Marjorie, não perguntei se podia. Estou dizendo que irei te buscar amanhã e te deixarei em casa sã e salva depois do almoço, me passa seu endereço por mensagem. Nos vemos amanhã. –Declara e simplesmente desliga o telefone na minha cara, sem sequer esperar por resposta. Quem esse idiota acha que é?
Solto um palavrão e vou até o banheiro. Talvez um banho quente me tranquilize.
Meia hora depois, de banho tomado e vestida com roupas confortáveis, converso com Amanda por mensagens de texto e conto as novidades. Como sempre, ela acha tudo lindo e diz que Alex está muito afim de mim e eu? Bem, nego tudo. Minha amiga é um pouco louca, anda vendo muitos filmes adolescentes e com certeza deve achar que estamos em algum tipo de clichê americano.
Depois de conversar por mais de duas horas e receber conselhos sobre como agir na casa de Alex, acabo pegando no sono e sou acordada horas depois, ou melhor, sacudida horas depois.
─Acorda Margo! Acorda! –A voz de Emma soa animada e abro um olho, cansada.
─Oi pestinha! E aí como foi o filme? –Minha voz sai rouca de sono e ela cai na risada.
Me sento na cama e a garota se acomoda do outro lado.
Fico sabendo praticamente do filme inteiro e seus olhinhos chegam a brilhar em alguns momentos. Me sinto um pouco triste, pois gostaria de levá-la para passear mais vezes, porém eu não trabalho então teria que pedir dinheiro aos meus pais, o que está fora de cogitação. Eu peço o necessário e economizo bastante com a gasolina. Se fosse de ônibus para a escola, ficaria muito mais caro.
─Que lindo meu amor, fico feliz que tenha se divertido. Sentiu saudades de mim? –Brinco e ela balança a cabeça avidamente o que me faz rir. Minha irmã é meu tesouro e eu sinceramente não sei o que faria sem ela.
─A mamãe disse que vai fazer macarronada para o jantar. –Solta e concordo. Já estou acostumada com suas mudanças de assunto repentinas.
─Mas que ótima notícia maninha, a macarronada da mamãe é a melhor, não acha?
─Sim, mas a lasanha do papai ganha em primeiro lugar sempre. –Sua declaração me causa muita graça e tenho que me controlar para não soltar uma gargalhada.
─Vou te contar um segredo, mas você não pode contar a ninguém. –Sussurro e ela balança a cabeça concordando, cheia de curiosidade.
─Eu também acho que a lasanha do papai é a melhor, mas não deixe a mamãe saber, senão ela vai ficar chateada. –Pisco um olho e ela faz um pequeno sinal com os dedos, indicando que vai guardar o nosso segredo.
Ah Emma, como amo essa sua inteligência e sagacidade.
Conversamos sobre coisas triviais, fico sabendo que ela não foi mais importunada pelos dois garotos idiotas e suspiro aliviada. Conto como foi meu dia e ela me faz um milhão de perguntas, as quais respondo pacientemente.
Depois de pelo menos uma meia hora de jogar conversa fora, papai nos chama para jantar e nos sentamos à mesa rindo e conversando sobre qualquer coisa.
Comemos normalmente e depois nos juntamos para arrumar a bagunça que deixamos. Não temos empregada então cada um tem uma tarefa específica na casa. Eu me encarrego de lavar a louça suja, e varrer o chão, além é claro de organizar meu quarto, Emma também mantém o seu impecável e ajuda com o pequeno jardim que temos na frente de casa. Mamãe se encarrega de lavar as roupas sujas e papai de passar pano, quando pode é claro, já que passa o maior tempo fora de casa, trabalhando. Particularmente, eu gosto de limpar. Me distrai e tranquiliza, mas algumas vezes me deixa pensativa, como nesse momento.
Algumas coisas passam pela minha cabeça e me pego pensando novamente no almoço de amanhã, isso me faz lembrar que tenho que dizer aos meus pais sobre isso. Coloco a vasilha no escorredor, seco minhas mãos e pego um copo de água, para tentar me acalmar.
Respiro fundo uma e outra vez, criando coragem para pedir permissão.
─Mãe... –Sussurro e ela caminha até ficar do meu lado. Essa mulher tem uma audição incrível.
─Oi filha, aconteceu alguma coisa? –Pergunta curiosa e balanço a cabeça, tentando retrasar um pouquinho que seja essa conversa.
─Então, um... amigo, me convidou para almoçar na casa dele amanhã, será que posso ir? –Solto a pergunta de uma vez e rezo para que ela diga um não bem redondo, mas mamãe me surpreende, como sempre.
─Claro filha! Quem é esse amigo? É da escola? –A resposta sai acompanhada de um sorriso e tenho que me controlar para não ficar com as bochechas vermelhas de vergonha. Bebo um gole de agua para disfarçar ─Ele é seu namorado? –Sussurra e quase cuspo todo o liquido. Dou uma engasgada e mamãe me ajuda, dando pequenos tapas nas minhas costas e rindo de orelha a orelha.
─Não mãe, ele é só um amigo! –Minha voz sai esganiçada e me sinto uma idiota nesse momento, pois sei que minha expressão contradiz totalmente com o que quero dizer.
─Tudo bem filha, eu não direi nada a seu pai. –Pisca um olho e sai me deixando sozinha novamente.
─Eu não sou namorada dele, nem gosto dele. –Resmungo irritada e quando me viro, pego Emma me encarando.
Levanto uma sobrancelha e ela apenas solta uma risadinha e sai correndo para o seu quarto. É oficial, minha família endoidou.
Vou para o meu quarto fazer minhas tarefas e quando estou quase caindo de sono, lembro de ir dar boa noite a todos.
Reviso o alarme do meu celular e envio o endereço da minha casa a Alex, para que ele me pegue amanhã. Essa parte não contei à mamãe, porque se o fizesse, aí sim que ela enlouqueceria achando que eu e Alex estamos realmente juntos. Se ela soubesse o que realmente está acontecendo, provavelmente me colocaria de castigo.
Recebo uma resposta alguns minutos depois e Alex avisa que horas passará por mim. Que Deus me ajude.
Deito na cama e tento dormir, mas não consigo parar de pensar nesse almoço. Sinto um frio na barriga cada vez que percebo que terei que ficar de mãos dadas com ele, próximo a ele e parecer que gosto dele. Isso me deixa intranquila.
Acabo finalmente sendo vencida pelo cansaço e acordo algumas horas depois, antes mesmo do alarme tocar, a ansiedade tomando conta de mim e me deixando cada vez mais aflita conforme a hora de ir para a escola vai se aproximando.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro