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Capítulo 11 - parte III

Caminho até a porta e respiro fundo antes de girar a maçaneta e dar de cara com o garoto.

Alex varre meu corpo com o seu olhar e sua boca se abre e fecha várias vezes. Sinto que estou fazendo o mesmo. Ele está lindo, o terno abraça seu corpo tão perfeitamente, como se tivesse sido costurado diretamente na sua pele.

Ficamos pelo menos uns dois minutos assim, absorvendo a imagem um do outro, até que ele faz um som com a garganta.

─Está muito bonita, Marjorie. –Diz com a voz rouca e sinto que minha pele queima de vergonha.

─Obrigada, você também está bonito. –Sussurro e ele faz um sinal com a cabeça.

─Vamos?

─Claro... –Me viro e vejo Amanda parada no pé da escada com as duas mãos no peito, como se estivesse vendo um filme romântico. Aceno para ela me despedindo e ela devolve o gesto, subindo correndo até o quarto. Provavelmente para nos observar enquanto caminhamos até o carro.

Saio da casa e fecho a porta que se tranca sozinha. Começo a caminhar ao seu lado e Alex coloca sua mão nas minhas costas. Solto uma respiração nervosa enquanto sou levada até o banco do passageiro. Ele abre a porta e entro com cuidado para não amassar o vestido. Passo o cinto de segurança pelo meu corpo e tento encaixá-lo, mas não consigo e bufo, não sei de vergonha ou frustração.

De repente, Alex passa seu corpo por cima do meu e coloca o cinto no lugar facilmente. Essa proximidade me tira totalmente dos eixos. Minha respiração acelera e um tremor percorre a minha pele, como se estivesse uns dez graus negativos e não os vinte e quatro.

O garoto parece sentir o mesmo, já que me observa com um olhar estranho.

─Obrigada. –Sussurro e como se minha voz quebrasse o "feitiço", ele sai rapidamente de cima de mim e fecha a porta, indo para o banco do motorista.

─De nada. –Responde simplesmente, sem olhar para mim e gira a chave colocando o motor do carro em marcha.

Viajamos o caminho inteiro calados, cada um no seu mundo e totalmente aéreos.

Fico incomodada com esse silencio sepulcral. É como se ele estivesse sendo obrigado a ir comigo, quando foi ele mesmo quem sugeriu essa loucura.

Desvio meu olhar para a janela, observando a cidade enquanto nos movemos sem pressa. Meu gosto por velocidade acaba me deixando ainda mais inquieta.

─Você pode ir mais rápido se quiser, sabe? –Digo sem me mexer.

─Posso, mas não quero. –Sua voz rouca reverbera dentro do espaço reduzido.

─Nossa, não precisa ser tão grosso... –Agora estou olhando diretamente para ele com a sobrancelha levantada.

─Não fui grosso, Marjorie. Apenas fui sincero. –Levanta os ombros e não sei exatamente o que sentir diante dessa declaração. Porque ele não quer ir rápido? Será que não quer acabar essa tortura o antes possível, assim como eu?

Balanço a cabeça e volto a olhar para o lado.

Passamos mais alguns minutos no transito e de repente percebo que estamos parando. Estacionando na verdade, na frente de um lugar que exala luxo.

É um daqueles salões de festa em que só o aluguel deve custar minha casa inteira. O medo de fazer alguma besteira se apossa de mim novamente e sinto minhas mãos tremendo levemente em cima das minhas pernas, até que Alex segura uma delas com a sua e olho para o meu colo, surpresa com esse toque.

─Vai dar tudo certo, confie em mim. –Pede com um olhar hipnotizante sobre mim e sei que aceitaria qualquer coisa que ele me dissesse nesse momento. Apenas concordo com a cabeça porque realmente não tenho ideia do que dizer a ele. Alex imita o movimento e leva minha mão até os seus lábios e beija suavemente meus dedos, me arrancando um ofego engasgado. ─Agora vamos, lembre-se do que combinamos, tudo sairá bem. –Me solta e me sinto só novamente. Tiro o cinto de segurança e saio do carro como entrei: com cuidado.

Do lado de fora, vários fotógrafos e gente rica entrando pela porta. Pego a pequena bolsa e espero que meu "namorado" dê a volta no carro e se coloque do meu lado. Como fez na casa de Amanda, ele põe a mão nas minhas costas e me dá um leve empurrãozinho para que comece a me mover.

Caminhamos lentamente até a entrada, não parando um segundo sequer, até que estamos dentro do local. Não consigo esconder minha expressão de espanto ao ver a quantidade de pessoas ali dentro e a riqueza de detalhes no salão. É tudo tão lindo que me sinto tonta por um instante.

Procuramos a mesa com o nome da família de Alex e ele puxa a cadeira para que me sente. Agradeço e ele se senta do meu lado. Vejo outro sobrenome no pequeno cartão e quando estou quase perguntando a ele sobre isso, Melina chega com sua família e se senta do outro lado de Alex. Merda. Sabia que isso não daria certo.

A garota sequer olha para mim. Escuto que ela sussurra algo no ouvido do meu vizinho e ele se levanta de repente, sendo acompanhada por ela com passos rápidos. Acabo ficando sozinha com um monte de pessoas desconhecidas. Presumo que o homem e a mulher que chegaram com Melina, são os pais dela, mas há uma mulher muito bonita e elegante, sentada bem na minha frente, que não para de me olhar. Vou me sentindo cada vez mais incomodada até que ela resolve finalmente dizer algo.

─Então você é a famosa namorada de Alexei? –Pergunta me pegando de surpresa. Jamais imaginaria que esse seria o nome de Alex.

─Sim. –Respondo confiante.

─Eu sou Rebeca, mãe dele. É um prazer conhecê-la, querida. –Diz com sua voz fina e delicada.

─O prazer é meu, senhora, me chamo Marjorie. -Digo educada e ela faz um gesto com a cabeça.

─Há quanto tempo estão juntos? –Solta e eu sabia que esse diálogo não ia demorar a acontecer.

─Há dois meses. –Recito o que combinei com Alex, mas ela não parece nada convencida.

─Jura? Ele nunca nos falou de você... –Observa e sinto meu rosto ficando vermelho. ─Oh querida, não quis dizer isso, é só que Alex é bem reservado com as suas coisas.

A mulher tenta consertar o que disse, achando que me senti mal pelo comentário, mas na verdade eu fiquei foi preocupada com que ela descobrisse a nossa farsa.

─Tudo bem... não tem problema, eu também demorei a dizer aos meus pais sobre nós. –Digo tentando transparecer uma calma que não sinto e ela concorda se virando para conversar com a amiga.

Alguns minutos depois, Alex volta de onde quer que tenha ido e senta novamente do meu lado. Melina está com a cara tão amarrada que parece que chupou uma sacola de limões.

Minha mão é tomada novamente pelo garoto e tenho que me controlar para não desfazer o contato. Não estou acostumada com isso.

─Tudo bem? –Alex sussurra no meu ouvido e balanço a cabeça.

─Você não me disse que tinha uma namorada tão bonita, filho. –Irina puxa assunto quando percebe que eles voltaram, fazendo com que ele se afaste de mim.

─Ela é linda mesmo mãe. –Pisca um olho e não sei se está dizendo a verdade ou segundo com o teatro. ─Não vi papai por lugar nenhum... –Muda de assunto para desviar a atenção de nós.

─Ele está conversando com algum dos investidores querido. Em alguns minutos deve se juntar a nós, o leilão está quase começando.

─Ah, ótimo. –Ele responde mas posso sentir que sua voz não condiz com o que ele fala. Como se não se sentisse realmente feliz em ver o pai.

─Então Marjorie, o que faz da vida, seus pais têm alguma empresa? –Melina pergunta e minha vontade é de dar um soco na cara dela nesse momento.

Não sei o que responder me sinto completamente sem palavras.

─Ela estuda no nosso colégio, joga basquete no time principal. Já ganharam vários prêmios na verdade, mãe. –Alex responde como se sua mãe tivesse feito a pergunta. Melina só falta soltar fogo pelas orelhas.

─Isso é muito bom! Muitas universidades procuram jogadoras que acabam se tornando profissionais! –Exclama e Melina solta uma risada debochada.

─Como se ela tivesse dinheiro para pagar uma universidade... –Sussurra, porem tanto Alex quanto eu escutamos.

─Já chega Melina, continue dizendo essas coisas e seus pais ficarão sabendo dos seus "hobbies". –Alex ameaça fazendo com que ela se cale e uma curiosidade imensa me invade. Gostaria de saber o que ela esconde debaixo dessa máscara de garota perfeita.

Como não sei o que dizer, prefiro ficar em silencio enquanto a conversa continua na mesa. Uns vinte minutos depois, o pai de Alex aparece e se senta ao lado do pai de Melina. Eles se cumprimentam animadamente e começam a falar de negócios. Do meu lado o clima fica cada vez mais tenso. Melina só falta jogar dardos com olhos para minha mão e de Alex que permanecem unidas. Converso com ele sobre qualquer coisa, e rio sincera quando ele diz alguma besteira engraçada. Uma sensação estranha começa a surgir no meu interior, como se eu estivesse realmente gostando de toda essa atenção, por mais que saiba que tudo isso é uma mentira das grandes.

Todos no salão fazem o mesmo: jogam conversa fora, falam de negócios ou simplesmente criticam as roupas dos outros convidados, como a mãe de Melina faz. Irina escuta calada o que ela diz, não concorda nem discorda, apenas observa a mulher com um olhar entediado. Percebo que ela não gosta do que escuta, mas não diz nada para não ficar um clima desagradável, já que o marido precisa fechar um negócio com o pai de Melina, pelo que Alex me explicou.

Os garçons trazem as bebidas e aceito uma taça de champanhe, porque é o único que há para beber pelo visto. Sinto o gosto forte do álcool e faço uma careta para não tossir. Nunca tinha bebido na minha vida, droga. Alex ao perceber, alisa minhas costas e aí sim tenho que me controlar para não jogar todo o líquido para fora. Engulo com dificuldade e pego ele sorrindo sinceramente com a cena.

─Pelo visto não gostou da bebida... –Brinca e nego com a cabeça fazendo com que ele de outra risadinha. ─Vem, vamos ver se tem algo sem álcool para você. –Se levante e me leva para longe da mesa. Agradeço mentalmente pois assim terei um descanso de uma certa garota.

Sou levada até a cozinha e Alex pede um copo de água gelada a um garçom que passava rapidamente, só que o garoto sequer escuta, ele está tão preocupado em colocar mais canapés em uma bandeja que me dá um pouco de pena.

Vou até o que parece ser uma geladeira e a abro. Encontro algumas garrafas de água e pego uma para mim.

Volto até onde Alex está parado e ofereço um pouco do liquido fresco a ele.

─Obrigado. –Bebe um pouco e devolve a garrafa para mim. ─Quero pedir desculpas pelo que Melina disse, sei que você escutou. Ela pode ser bem inconveniente as vezes. Não sei porque faz isso.

─Às vezes? Na verdade, ela é assim sempre, Alex, só você que não percebe.

─Eu a conheço desde que era criança, já me acostumei com esse jeito dela de ser...

Me surpreendo com essa confissão, não sabia que eles eram amigos a tanto tempo.

─Eu não ligo, para ser sincera. Ela não me afeta. –Levanto os ombros terminando de beber a agua e jogando a garrafa vazia em um cesto de lixo. ─Agora é melhor voltarmos para a mesa, antes que ela diga coisas que possam nos comprometer. –Tento sair da cozinha, mas Alex segura meu braço suavemente, me impedindo.

─Eu conversei com ela, deixei bem claro que é melhor ela manter a boca fechada, pode ficar tranquila. –Fala calmamente. Ficamos parados nessa posição até que uma voz no microfone avisa que o leilão está por começar.

Alex então leva sua mão até uma mexa de cabelo que havia escapado do penteado e a coloca delicadamente atrás da minha orelha. Durante todo esse tempo, literalmente deixei de respirar. Seu toque suave me deixou estática.

─Vamos ou daqui a pouco alguém virá atrás de nós. –Sussurra enquanto engole seco e eu apenas balanço a cabeça como um cachorrinho de brinquedo.

Nos sentamos novamente e todos prestam atenção ao mestre de cerimônias que realizará o ato.

Coisas absurdas são leiloadas, como uma viagem a Paris, ações e até um iate. Quem tem tanto dinheiro assim? Oh certo, eles.

Depois de quase duas horas de escutar as mesmas frases, o leilão finalmente termina e o jantar é servido. Para a minha sorte, é algo simples: frango ao molho de ameixas com purê, só que é servido tão glamourosamente que parece aqueles pratos que vemos nos filmes e propagandas. Melina conversa com a mãe de Alex o jantar inteiro e joga algumas indiretas relacionadas ao nosso namoro falso, porém se a mulher percebeu, fez de conta que não entendeu, o que me deixou bastante nervosa.

Quando todos terminam de comer, os pratos são recolhidos e é aberto um espaço no meio do salão para aqueles que querem dançar.

Alex se levanta e estende a mão para mim. A tomo rápidamente, querendo me distanciar dessa mesa e caminhamos até o centro da pista de dança. Todas as músicas são lentas, o que nos obriga a dançar bem próximos. Em um momento, encosto minha cabeça no seu ombro, sentindo o cheiro do seu perfume amadeirado. Respiro fundo e garoto ri.

─Você acabou de me cheirar, Marjorie? –Pergunta divertido me lançando um olhar divertido.

─O que? Claro que não! –Minto e ele me puxa para mais perto me encarando agora com um olhar sério.

De repente sua boca paira sobre a minha e ele deposita um beijo casto nos meus lábios, me pegando completamente de surpresa, sua boca continua sobre a minha, me causando literalmente uma combustão interna.

Por vergonha ou talvez instinto, fecho meus olhos e sinto suas mãos se deslizando lentamente pelas minhas costas, o que acaba me arrancando um gemido baixo. Alex aproveita esse momento para invadir minha boca com a sua língua e o beijo que começou casto, se transforma cada vez mais em uma cena digna de cinema.

Sinto meu corpo se amolecendo com a deliciosa sensação que seus lábios me trazem, minha pele queima debaixo do seu toque e se ele não estivesse me segurando, com certeza estaria voando nesse exato momento. Minhas mãos vão parar na sua nuca, trazendo-o para mais perto e aprofundando assim o nosso contato. Por um instante, sinto como se não existisse ninguém mais no salão a não ser nós dois.

Quando ambos sentimos a necessidade de respirar, nos afastamos e Alex beija minha testa carinhosamente antes de me abraçar novamente, ainda ofegante.

─Por que fez isso? –Pergunto agitada, nós combinamos que beijos estariam fora de questão.

─Eu... eu não sei Marjorie. Tinha muita gente nos observando, pensei que um beijo ajudaria a dar veracidade à nossa história. –Responde na maior cara de pau e eu me sinto cada vez mais envergonhada.

─Você não deveria ter feito isso! Deixei bem claro que não haveria nada de beijos! –Digo alto por causa da música alta e ele faz uma cara de raiva misturada com algo de decepção, mas eu não me importo se gritei com ele, Alex sabia das nossas regras.

─Olha, eu sinto muito, mas não tem porque ficar tão brava garota, foi só um beijo! –Grita e gesticula com as mãos e lágrimas se formam no canto dos meus olhos. O motivo? Não faço ideia. Empurro seu corpo para que se afaste de mim e antes de sair correndo pelo salão, me viro e sussurro triste.

─Só um beijo? Pode até ter sido para você Alex, mas para mim foi meu primeiro beijo.

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