Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

Não conte nada ao seu coração

— Lisa

— Lisa Manoban, 19 anos. Nacionalidade tailandesa. Suspeita de participação no assassinato e ocultação do cadáver de Roseanne Park.

Lisa encarou as mãos, as unhas longas e quebradas, cheias de sujeiras nas pontas. Se olhasse por muito tempo o investigador ou qualquer ponto da sala, sua cabeça doía. Ainda não tinha decidido se era pela luz incomoda, que estava prestes a queimar, ou se era pelo olhar dele. Ele, o investigador, era um forasteiro como ela, enviado especialmente para investigar o assassinato suspeito de uma garota que ainda tinha muito para viver e consequentemente, estava ali tentando tirar qualquer mínima informação de Lisa, presa naquela sala cinza e pequena, sem janelas e com cheiro de mofo.

— Lisa, por favor, eu preciso que você preste atenção no que eu estou falando — ele disse, dessa vez quase como se sentisse pena. — Você ainda não tem um advogado, sua mãe não pode pagar um. — As folhas são passadas, várias em cima da mesa de aço. — Dentre todas as suspeitas, é a que mais tem chances de ir a julgamento...

Aquele homem era jovem, usava um óculos antiquado, dos anos 70 talvez, vivia escorrendo até a ponta do nariz. Deveria malhar regularmente, os músculos saltavam pela camisa de botões listrada. Os olhos eram de um castanho claro e viviam inquietos. Lisa gostou dele porque, diferente do delegado, ele parecia se importar.

— Você está aqui há horas e eu sei que não quer ficar mais e...

— Qual o seu nome? — A pergunta saiu quebrada. Tinha tanto tempo que não se ouvia que parecia tão ou mais surpresa que o próprio investigador.

— Jackson Wang, da divisão de homicídios de Seul.

— Jackson Wang... — O sotaque fez as primeiras sílabas se tornarem mais acentuadas. — Então, Jackson, você acha que eu vou ser presa?

— Eu nunca disse isso, mas você conhece as circunstâncias.

— As circunstâncias... — repetiu, dessa vez com um sorriso debochado no rosto. — Filha de prostituta...

— Na verdade, passagem na polícia por roubo de uma pulseira da vítima.

— Como você disse, foram as circunstâncias.

Lutou contra as lágrimas para dar a melhor cara de durona, mesmo que estivesse com sede, com fome e com medo do que poderia acontecer dali em diante.

— Eu posso te ajudar, Lisa. — Ele se inclinou suavemente sobre a mesa de metal, ajeitando os óculos no rosto. — Só precisa me dizer qual foi a última vez que viu Roseanne com vida.

E deveria dizer? O que mudaria se dissesse? Poderia acabar assinando sua sentença de morte ali mesmo. Era uma garota despreparada, amedrontada e que precisava confiar num policial que conheceu a menos de 24 horas.

Apesar que "confiar" era um termo muito forte, nunca poderia confiar em quem estivesse tentando incriminá-lá, só poderia torcer para que ele não tivesse um quinto da maldade da garota morta.

— A última vez que vi Rosé foi em uma festa, na mansão do prefeito.



(12 de março de 1995 - 1 dias antes)

— O que acha que Ruby está fazendo?

— A pergunta é: o que acha que Ruby vai fazer? — Kai sussurrou. — E eu não sei a resposta pra nenhuma das duas... ei! Você não acha que está bebendo demais? — Ele puxou a garrafa de vinho das mãos da namorada, mas Jennie apenas riu, rodopiando pelo quarto.

As persianas do quarto de Kai faziam um bom trabalho em tapar qualquer resquício de luminosidade no cômodo. O quarto era tão grande e cheio de móveis expansivos que, para Lisa, a festa poderia acontecer ali dentro. Achava problemático deixar um bando de adolescentes com tanto espaço em potencial para fazerem merda, soltos e bêbados, mas a casa não era dela, muito menos a festa.

Jennie dançava no meio do cômodo usando apenas sutiã e calcinha, na televisão passava um clipe das Spice Girls "Wannabe." Ela já tinha dançado todas as músicas antes daquela e dançaria todas depois também. O rosto vermelho pela bebida e o corpo molhado de suor se remexia sem parar.

— Eu não acho que tenha sido uma boa ideia...

— O quê? — Jennie parou de dançar e foi até Lisa, com um sorriso bêbado no rosto. — O que não foi uma boa ideia?

— Fazer essa festa com você assim. — Apontou para o corpo de Jennie.

— Assim como? — Ela chegou mais perto, suada e arfando. Lisa olhou para Kai por cima do ombro dela, ele encarava o chão. — O que foi? — Jennie agarrou o maxilar de Lisa e a beijou.

Foi excruciante ter que empurrá-la para que a soltasse, mas Jennie não parecia nem um pouco triste ou arrependida quando se afastou. Kai continuava encarando o chão, ainda sem se mexer.

A risada de Jennie rompeu pelo quarto, ultrapassando a música.

— Ah, por favor! Kai não liga, não é, meu amor? — Ela se aproximou dele, pegou seu rosto e o beijou também. Foi a vez de Lisa encarar o chão, sentindo as bochechas ficarem quentes pela vergonha.

— Por que vocês estão com essa cara? Não era isso que queriam? — Jennie gritou.

— Eu queria que você tomasse um banho e colocasse a porra de uma roupa! — Kai falou entre dentes, tomando os braços da namorada e arrastando-a para o banheiro, mas ela o empurrou, dando passos tortuosos para trás.

— Já está agindo como meu marido? Lisa é amante de qual de nós dois?

— Eu a levo pro chuveiro, te encontro lá embaixo. — Lisa intercedeu no meio deles, decidindo ignorar a fala de Jennie e a levar para o banheiro. Ela aceitou ser guiada.

O banheiro era maior que o trailer onde morava, ficava dentro do closet e era dividido em dois espaços, um destinado a banheira e o outro ao chuveiro. Um espelho ocupava boa parte da parede lateral, junto a uma bancada de mármore lotada de cremes e desodorantes. Jennie tirou a lingerie enquanto seguia para a banheira e apenas se deitou lá, esperando que Lisa ligasse o registro e trouxesse o sabonete.

— O que você fez lá fora não foi legal, sabia? — a tailandesa disse. Sentou-se na borda da banheira, enfiando a mão debaixo do jato quente que enchia a redoma de porcelana. Jennie brincava com a espuma, mesmo que a água não cobrisse suas pernas. Lisa suspirou, se sentia uma mãe cansada do serviço cedendo aos caprichos de um filho mimado.

— Não foi nada demais.

— Nada demais? — Lisa bufou. — Tem certeza que está tudo bem?

— É só isso que eu ouço desde que cheguei, sabia? — Os lábios de Jennie fizeram um arco para baixo. — "Você está bem?" "Você não pode fazer isso ou aquilo porque você não está bem!" Vocês me tratam como se eu fosse uma doente!

— Nós te tratamos como uma pessoa que passou por uma situação anormal e que precisa de ajuda. — Lisa observou a expressão de Jennie se fechar em uma carranca. — Você acha legal me beijar na frente de Kai e beijar Kai na minha frente? Achar legal me destratar só porque não quero transar com você?

— Eu não estou te destratando porque você não quis transar comigo! — Ela se aproximou, o rosto molhado e cheio de espuma a milímetros dos de Lisa. — Eu estou te destratando porque você não quis transar comigo e quis transar com o Kai.

Lisa se afastou, quase se desequilibrando na borda da banheira.

— Ruby, como assim? Eu nunca fiz nada com Kai, ele é o seu namorado.

— Não precisa mentir pra mim, Lisa. — Ela ainda brincava com as bolhas de sabão, o jato de água quente subia um vapor abafado. — Foi difícil ser recusada por você, já que nunca recusou sexo antes, não é? Kai está aí de prova. O mais difícil pra mim foi perceber que você é uma vagabunda igual a sua mãe.

Lisa piscou algumas vezes, processando a informação aos poucos; já havia sido chamada de coisas piores, desde criança conhecia aquele linguajar, por ser filha de uma prostituta, puta, vagabunda, piranha, meretriz... mas em todas essas ocasiões ela sorria e mostrava o dedo do meio em resposta, porque palavras assim nunca a machucaram. Até agora. Demorou para ter confiança nas pernas e firmá-las para se levantar.

As lágrimas não a esperaram sair do banheiro.

O dia passou rápido, agradeceu que a mansão fosse grande o suficiente para não cruzar com Jennie em nenhum momento até o começo da festa. Estava sentada no jardim, perto de roseiras e gnomos na grama. Podia ver gente aos montes chegando. A música lá dentro era ensurdecedora.

Kai mandou todos os funcionários embora há quase uma hora, o porteiro que implicava com ela tinha demorado a sair, mas agora a casa era completamente deles. Quem quisesse entrar que entrasse, mas a mordomia de receber bebida e comida na mão foi o preço a ser pago. Lisa sentia um aperto no peito; era esse sentimento que Kai havia dito preceder situações ruins.

Ele saiu da casa, emoldurava um sorriso sereno nos lábios e cruzou o gramado em uma corrida tranquila até se sentar ao lado dela. Os cabelos tinham sido recém lavados e exalavam o cheiro de perfume caro. Kai esticou as pernas, a calça jeans de lavagem clara era cheia de rasgos, como a sua. A única diferença era que a pele à mostra no jeans de Lisa era coberta por uma meia arrastão que não demorou muito para ser puxada pelos dedos inquietos de Kai, em uma brincadeira silenciosa.

— Jennie pediu para te trazer roupas novas, mas vejo que você já passou no trailer para buscar.

— Precisava esfriar a cabeça e o monza estava me chamando... Você sabe como é. — Riu, descansando a cabeça nos ombros dele. — Além do mais, eu não preciso de nada vindo de Jennie ou daqui.

— Nem disso? — Ele tirou a jaqueta de couro verde antes amarrada na cintura, era a mesma que Lisa pediu emprestado na última corrida que participaram. Os três mudaram tanto desde aquela noite que parecia ter acontecido há anos atrás. Lisa abraçou a peça, sentindo o cheiro dele e de Jennie e um misto de saudade de um tempo que nunca voltaria.. — Pode ficar com ela, é um presente — ele disse, sorrindo.

— Obrigado... por tudo.

— Eu ficaria mais agradecido se você entrasse e me ajudasse a cuidar de Ruby.

Lisa vestiu a jaqueta.

— A namorada é sua... — cantarolou.

— Nem me lembre. — Ele se levantou, puxando-a no processo.

Bateu as mãos na bunda e nas coxas, tirando os resquícios de grama que estavam ali, e encarou a mansão à frente. Era como se aquela construção antiga guardasse uma surpresa que estava prestes a ser revelada. Os pelos do seu braço se arrepiaram.

Eles começaram a andar lado a lado, os ombros se encostando, os passos sendo abafados pela música que tocava dentro da casa.

— Às vezes, eu acho que ela não ama nenhum de nós dois. — Não precisou dizer o nome dela, Kai entendeu a quem se referia. — Ela ama ter opções, mas odeia que as opções dela tem outras opções.

— Penso nisso todos os dias. — Kai suspirou.

Estava sendo acusada por algo que não fez e nada que dissesse parecia fazê-la acreditar em suas palavras. Naquele curto período de tempo antes de entrar na casa, com Kai ao seu lado, imaginou-se agindo como Jennie achava que agia e entrelaçou a mão na dele, quente e macia. A respiração dos dois eram audíveis e eles andavam devagar, o motivo poderia ser o clima fresco do lado de fora ou um pedido mudo que aquele contato durasse mais tempo.

— Sabe o que minha mãe sempre diz? — Lisa sussurrou.

Kai a encarou com as sobrancelhas erguidas.

— Sua mãe diz muitas coisas.

— Ela é um papagaio ambulante que ama dar conselhos, você sabe... — Encostou a cabeça levemente nos ombros dele de novo, os passos iam diminuindo até ser apenas um arrastar de pés. — Ela sempre me diz para não confiar em garotos.

— Ah, diz?

— Diz.

— E você acha bonito desrespeitar ela assim?

— Ai meu Deus... você é tão convencido! — Empurrou os ombros dele, os dois gargalharam, como se nada mais importasse a não ser o céu escuro acima deles e os pedregulhos chutados no chão. Kai a fitava intensamente e tinha uma piada pronta para ser dita, soube pelos olhos arregalados e o sorriso que aumentou assim que agarrou a mão dele de novo, mas Lisa não permitiu que ele dissesse e o beijou.

Kai não esperava por aquele beijo e demorou para agarrar a cintura de Lisa, mesclando as línguas em um selar afobado. Não se lembrava da última vez que beijou alguém do sexo oposto. Era diferente não sentir os seios pressionados por outros e a altura desproporcional que fez com que ficasse na ponta os pés. Quando terminaram, a euforia de ser quem Jennie disse que era quase a fez gostar daquele beijo.

Mas Lisa se arrependeu segundos depois, aquela era uma versão impulsiva sua, dando esperanças para algo que não poderia lidar depois.

— Posso te pedir um favor? — Kai colou a testa na de Lisa, a respiração dele era baixinha e quente. — Não confie em nada do que Jisoo disser.

Lisa estreitou os olhos, pronta para refutar aquela ordem, mas foi interrompida por outro beijo.

Ela se enganou quando pensou que a festa ainda começava, assim que entrou na mansão precisou dar alguns passos para trás, chocada com a massa de corpos dançantes por todos os lados. Uma música do momento soava nas caixas de sons e todos ali pareciam ser uma só batida. A juventude de Huimang Hill compareceu em peso, como faziam nas corridas.

Ali nenhum deles eram boas crianças, ninguém precisava fingir ser, os pais não estavam olhando, estavam muito ocupados com seus escargot e champanhe na festa organizada pelo prefeito, na saída da cidade. Lisa obrigou os pés a se moverem para longe da pista de dança, subiria para um quarto disponível e se trancaria lá para esquecer os beijos de Kai, para se imaginar indo embora daquela cidade, livre como sempre foi e agora não conseguia mais ser. Talvez toda a sua insatisfação fosse por esse motivo: nunca esteve presa a nada, nunca teve rédeas ou receios, mas quando sua mãe disse que era hora de ir embora, Lisa não quis, pensou em Jennie, Kai, no monza e em todos os momentos bons que eles a proporcionaram e não conseguiu dizer "sim."

Seus passos recuaram quando a música fez a mesma coisa, de repente, uma orla de vaias encheu a sala e foram substituídas por arfares de surpresa quando a figura parada no primeiro degrau da escada apareceu.

Jennie era como uma estátua grega, uma deusa encarando todos os mortais abaixo. Ela usava um vestido transparente, disposta a mostrar todas as curvas tapadas apenas por uma lingerie preta, a mesma que usava mais cedo. Ela não parecia receosa com a falta dos cabelos, como sempre esteve e estava há dias atrás, ali parecia que, por decisão própria, quis cortá-los. Irradiava uma aura de confiança que faziam todos ficarem de boca aberta.

— Peço desculpa pela interrupção! — Ela não precisou de microfones, altos falantes ou qualquer outro instrumento para que fosse ouvida, a sala reinava em silêncio. — Sei que estão surpresos por me verem de novo, os boatos correram enquanto eu estava fora, não é? Mas não se preocupem, a garota que eu estava transando nas fotos também está transando com o meu namorado, então ele não está perdendo em nada!

Um burburinho surgiu, os olhares encontraram Lisa. Nunca se sentiu tão suja como ali. Jennie a fez se sentir envergonhada por ser quem era, afirmando o que todos achavam que fosse. O ódio não era cabível ali, só uma tristeza imensa por ter confiado nela, por ter pensado que Jennie fosse ser diferente.

— Vocês só estão aqui porque eu queria muito fazer esse baile para mostrar a nossa querida garota, Rosé, o símbolo de Huimang Hill, a bondade em carne e osso... que ela tem que tentar com mais afinco se quiser me matar de novo!

Dessa vez, os burburinhos se tornaram uma bagunça de zumbidos e uivos, olhares confusos e surpresos. Jennie não olhava para nenhum deles, os olhos dela estavam fixos na porta da mansão.

Rosé tinha acabado de cruzar a porta principal.

Ela estava parada com Jisoo ao seu encalço, como um cachorrinho de madame. Rosé lançava um olhar desafiante a Jennie. Pela primeira vez na vida tinha encontrado uma pessoa a altura para competir e não sabia se achava isso um máximo ou um afronte. O vestido era da mesma tonalidade dos cabelos. Rosé parecia uma labareda, pronta para incendiar aquele lugar, destruir tudo e acabar com todos.

— Jennie, que bom te ver, nem tão sã, mas salva! — ela saudou, em alto e bom tom. — Acho que temos muito o que conversar!

Lisa estremeceu com a troca de olhares entre as duas. A apreensão tomava conta dos rostos desconhecidos, de Jisoo, Kai e dela própria.

O aperto que sentia o dia inteiro no peito era um aviso que a noite seria longa e mudaria a vida de todos eles.

— Lisa? — O investigador estalou os dedos, permitindo que saísse daquela lembrança. Ele mexeu nas gavetas da mesa de aço, pegando uma caixa de lenços. Lisa não compreendeu para que aquilo servia até sentir o rosto molhado, as lágrimas como cascatas quentes pelas suas bochechas. Retirou alguns lenços da caixa e secou o rosto. Ele esperou que ela estivesse pronta para perguntar novamente:

— Você disse que viu Roseanne pela última vez na festa de Kai. O que aconteceu depois?

Lisa reprisou todos os momentos que não podia falar, os que não queria falar e os que realmente importavam.

— Eu não sei — disse por fim. — Acordei no outro dia sem saber onde estava... eu... simplesmente esqueci de tudo que aconteceu depois que a vi.

Ele não precisava saber que estava mentindo.

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro