Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

Não conte nada ao romantismo

— Kim Jisoo

(11 de março de 1995 - 27 dias antes)








— Matei dois coelhos com uma cajadada só! — Rosé riu.

Ela estava deitada na cama, o quarto na completa escuridão a não ser as lampadinhas na estante de livros, fazendo um relevo bonito pelas coxas desnudas e sombras pelo rosto sorridente. O corpo de Rosé estava coberto por uma camisola de seda de um laranja quente: a cor dos seus cabelos e a temperatura da sua pele. Os seios quase saiam do decote e Jisoo precisava, vez ou outra, desviar o olhar.

Aquele quarto estava no imaginário dela desde pequena. Rosé tinha os melhores brinquedos e um rosto delicado, amigável, com marias chiquinhas e bochechas fofas. Quando elas cresceram o quarto foi mudando e o modo como Jisoo o imaginava também. Ele habitava seus sonhos eróticos e seus pesadelos, alternadamente.

Rosé se sustentou pelos cotovelos, estava tão extasiada que seus olhos brilhavam.

— Você precisava ver a cara do pai dela quando levei as fotos... foi hilário!

— E você não teve medo? — perguntou Jisoo.

— Por que eu deveria? — Rosé bufou. — Vamos ver Jennie apenas no funeral dela.

Jisoo tirou alguns fios de cabelo da frente do rosto, o cobertor era tão macio que poderia permanecer deitada na mesma posição a noite toda, exalando o cheiro familiar dela.

— Não estou falando sobre isso, e sim, se o pastor descobrir sobre... você sabe.

Mais especificamente, sobre o que elas faziam no escuro quando ninguém estava vendo. Era pecado também, certo? Jisoo ouvia isso no culto todos os domingos.

Rosé arregalou os olhos, os lábios brilhavam convidativos e borrados de gloss de morango.

— Não, eu não sei do que você está falando, Jisoo-ah.

— Se ele descobrir sobre nós também — concluiu a fala.

Rosé riu alto, como se tivesse ouvido uma boa piada.

— Descobrir o que? Não há nada entre nós, Jisoo!

Ela voltou a se deitar na cama, recuperando o fôlego entre gargalhadas.


⟡ ⟡ ⟡


Jisoo chutava uma pedrinha pelas ruas enquanto andava os quarteirões que faltavam para chegar a sua casa. A lua estava cheia e iluminava mais que os postes nas calçadas, porém, se ela olhasse para o horizonte, as montanhas escuras tomavam a vista, grandes o suficiente para fazê-la pensar não haver nada a não ser Huimang Hill.

Era claustrofóbico.

A pedrinha caiu longe demais para que voltasse a chutar, rolou para um jardim idêntico a sua casa, numa casa idêntica à sua casa também. O que normalmente mudava era a cor das portas, o nome da família na caixa de correio e, naquela noite, a garota sentada na cadeira de balanço, no jardim.

Jisoo semicerrou os olhos, acreditando ver um fantasma. A garota estava tão taciturna sentada no balanço, empurrando a gangorra com os pés, que parecia ser algo extracorpóreo. A ferrugem das correntes emitia um barulho que ressoava alto pela rua deserta, o monza vermelho estava estacionado do outro lado da rua.

Lisa demorou o que pareceu séculos para encará-la de volta e, quando o fez, Jisoo deu passos receosos para trás. Mesmo que estivesse na sua casa, pisando no seu gramado, aquela garota a fez se sentir uma intrusa.

— O que faz aqui? — perguntou Jisoo.

Lisa se balançou um pouco mais devagar, os cabelos loiros estavam molhados e ela vestia um casaco jeans grande, talvez de Kai, a calça jeans era da mesma lavagem. Ela olhou para Jisoo como se a tivesse notado só naquele momento.

— Não é tarde demais para garotas boas andarem sozinhas por aí? — retrucou Lisa.

Jisoo observou ao redor, a rua estava silenciosa e vazia, tirando elas e o monza.

— Você também está sozinha, Lisa — disse.

— Mas eu não sou boa — rebateu ela.

Jisoo sorriu, mas não deveria ter cedido tão rápido. Lisa estava na longa lista de garotas que Rosé a mandou ficar longe, porém, naquela noite, o ódio por Rosé borbulhava num tipo de amor diferente, do tipo que te faz querer fazer algo de errado mesmo que seus pais tenham proibido, como colocar a mão no fogo só para ter a sensação de queimar. Lisa trazia esse perigo iminente no escuro, como se fosse beijá-la ou matá-lá. Ela carregava os olhos de quem viveu muito pela pouca idade e não estava ali por coincidência do destino.

— Que tal sairmos daqui? Ficar por muito tempo em frente as casas da família tradicional me dá alergia — sugeriu Lisa.

Jisoo olhou para a sua casa, todas as luzes estavam apagadas.

— Minha mãe me espera para o jantar.

Lisa se levantou da gangorra.

— Sua mãe fechou as panelas há uma hora.

— É um pouco estranho você observar a minha família — rebateu Jisoo e, por impulso, deu mais um passo em direção a Lisa. Os pelos do seu antebraço se arrepiaram com a proximidade, poderia tocá-la se quisesse, sentir a maciez daquela pele tomada por um tom amarelado, graças à luz dos postes.

— Eu não tinha mais nada para fazer enquanto te esperava chegar e queria ter certeza que não arrumaria nenhuma desculpa para não sair comigo —  justificou Lisa.

— Eu posso apenas não querer ir. — Jisoo deu mais um passo. — E acho que está na casa da Kim errada.

Estavam tão próximas que a pequena dose de coragem que a atiçou se foi. Lisa era bons centímetros mais alta e o cheiro de cerveja barata exalava como um perfume francês. O pedido implícito ainda estava de pé, as mãos finas dela foram parar na calça jeans e de lá saiu uma chave, que Jisoo pegou antes que caísse no chão.

— Eu te deixo dirigir — disse Lisa e, da mesma forma relaxada, entrou no carro, esperando-a.

Jisoo mordeu o lábio inferior até sentir dor o bastante para parar, e apertou a chave entre os dedos. O monza estava lá, como se fosse um ser vivo, instigante, e a persona de Lisa dentro dele era ainda mais. Sentiu seu coração martelar tão rápido que zunia seus ouvidos, e uma brisa fria farfalhava a sua saia enquanto andava até o carro.

Rosé ficaria tão brava.


⟡ ⟡ ⟡



Os pés de Jisoo balançavam no ar, estava sentada no capô do monza. Lisa preferiu ficar em pé, ao seu lado.

O canto das cigarras preenchia o silêncio. O chão era de terra batida, vermelha, subia uma fina partícula de pó da mesma cor que impregnava nas roupas. A frente delas, a vista era tão bonita que tomava os olhos.

Apesar de morar ali desde que nasceu, Jisoo nunca tinha ido aquela parte da cidade. O topo de uma das serras que rodeavam Huimang Hill.

As casas lá embaixo pareciam feitas em uma maquete, todas simétricas e iluminadas. Mais à frente, o vale proibido se estendia, a rota 87 a cruzava como um rasgo pecaminoso e o pântano cobria grande parte da área ao fundo.

O braço de Lisa resvalou no seu, quente, tenso, poderia descer os dedos e ver no que dava quando chegasse no fim.

— Está com medo? — perguntou Lisa.

Jisoo levou a garrafa até os lábios e sorveu mais um pouco da cerveja, direto do gargalo.

— Eu tenho medo de várias coisas, mas estranhamente, não estou com medo agora.

— Uma "forasteira" te chama para sair, te leva pra uma estrada deserta, te oferece bebida e você aceita sem nenhum pingo de medo? — Lisa estalou a língua no céu da boca. — Huimang Hill falhou com você.

Jisoo deu de ombros.

— Em Huimang Hill se pode confiar em todo mundo, aqui só moram pessoas boas, então só estou praticando o que me ensinaram.

Elas se encararam, segurando o riso, mas gargalharam logo depois.

— Gostei de você, Jisoo... — disse Lisa, dando tapinhas na sua coxa. — Mas a sua lógica continua errada, eu não faço parte da regra, eu não moro em Huimang Hill, moro na saída. À margem.

Jisoo tomou mais um gole da cerveja, sentia aquela sensação boa do fogo, de saber que ele vai queimar seu dedo e ainda sim colocá-lo na brasa. Era o grito de dor que seguia depois, era o êxtase de fazer algo errado.

— Eu não me importo, estou cansada das pessoas boas de Huimang Hill — retrucou.

Era fácil gostar de Lisa, Jisoo não precisava ser educada ou fingida. A saia que vestia estava amassada, as pernas abertas mostravam a calcinha rendada, os cabelos amassados pelo casaco fediam a cigarro e não havia aparências para seguir, ninguém para lhe dizer para "fechar as pernas e se comportar como moça." O silêncio se estendia como uma dimensão paralela entre elas, as faziam próximas mais rápido do que conversas idiotas sobre filmes, garotos e Huimang Hill.

Lisa perdeu o olhar no horizonte, com um sorriso sereno nos lábios.

— Você é diferente do que eu pensei que seria... — disse ela, lentamente, escolhendo as palavras com cuidado. — Deveria arrumar alguém legal, sair dessa enquanto é tempo...

"Sair dessa enquanto é tempo" está aí um conselho que nenhuma delas seguiu.

Jisoo bufou.

— Você fala como se eu tivesse alguém.

— Você tem Rosé. — Lisa trombou nos ombros de Jisoo, como se fossem amigas fofocando sobre os garotos da sala. — O papel de melhor amigas de infância pode dar certo com o povo daqui, mas o jeito que você olha pro decote dela... tsc, me revela muita coisa.

— Não temos nada. — Jisoo sorriu, mas sabia que não estava sendo convincente, os olhos grandes de Lisa queimavam as suas bochechas.

— Não precisa negar, nem admitir, eu sei como é ser um segredo. — A voz de Lisa era baixinha, nem as cigarras poderiam ouvi-las. — Eu sei como é se olhar no espelho e pensar "O que há de errado comigo? Por que ela só me procura para foder? "Por que eu não sou uma garota pra casar?" Porque por mais que você tente, que coloque essas saias e sorrie graciosamente... você é diferente delas. Esse sonho da casa de cercadinhos brancos, filhos e um marido perfeito que a gente vê em filmes é para garotas sortudas. Não nascemos sortudas, Jisoo.

— Por que está me dizendo essas coisas? — indagou, desorientada.

— Porque somos parecidas... com vivências diferentes, mas parecidas — respondeu Lisa.

Jisoo se remexeu, tentando soar séria.

— Não podíamos ser mais diferentes, estrangeira.

Lisa riu. Era incômodo o jeito como ela agia, cheia de confiança e auto defesa, como se soubesse tudo e tivesse vivido tudo e Jisoo fosse burra demais para não perceber. Aquilo a excitava.

Lisa tomou toda a sua cerveja em goladas e jogou o casco junto aos outros.

— Por que você acha que somos diferentes? Porque você tem um pai e sua mãe não vende sexo no trailer? Por que você finge que gosta de garotos? Porque vai ao culto aos domingos e usa roupas que o pessoal daqui acham aceitáveis para uma menina como você?

— Uma menina como eu? — repetiu Jisoo. — O que você sabe como é ser uma menina como eu, Lisa?

— Você não entendeu? Eu não sei nada sobre como é ser você, nem eles sabem, ninguém sabe, Jisoo!

A Kim não costumava falar palavrões muitas vezes, mas segurou um na garganta. Achava inusitado Lisa estar disposta a ouvir sobre seus anseios, medos e inseguranças, e realmente parecer interessada neles. Lisa, a viajante que conheceu várias pessoas diferentes e até ali, naquele lugar desinteressante, andava com a desvirtuada filha do pastor e com o popular filho do prefeito. O que Jisoo poderia oferecer em troca?

— Eu não tenho nenhuma história macabra ou rebelde o suficiente para contar, se é isso que quer ouvir — disse.

Lisa rolou os olhos.

— Eu não quero ouvir isso, Jisoo.

Teria que ir pelo caminho difícil.

— Ser uma garota como eu é... estar presa, me sinto presa desde que acordo até quando vou dormir. E eu tento me encaixar no que todos esperam de mim, no que esperam que uma "criança boa" faria... mas não consigo... menos quando estou com ela. Ela é a única pessoa que me vê, é a única pessoa que me faz continuar aqui. Eu sou a única dela e ela é a minha única. — Jisoo olhou para o pulso, mas a pulseira não estava mais lá. — Juntas até depois do fim.

Se calou, com medo de ter estragado tudo, de ouvir a risada de Lisa, de virar chacota no grupo dos rebeldes daquela cidade, mas a estrangeira apenas suspirou.

— Posso te contar um segredo?

Jisoo maneou a cabeça em afirmação.

— Eu descobri há muito tempo que quando elas dizem que somos as únicas, nós não somos as únicas, nunca vamos ser, Jisoo. É bobeira pensar em andar de mãos dadas ou dar beijinhos na praça... — Lisa riu, amarga. — No máximo, você será a madrinha do casamento dela com outro cara e terá que fazê-la gozar quando ele não conseguir.

Um silêncio angustiante pairou sobre as duas. Os olhos de Jisoo estavam inquietos.

— E quando ela diz que não temos nada...

— É porque ela quer você, mas não precisa de você — respondeu Lisa.

As lágrimas desciam ininterruptas pelas bochechas de Jisoo, maciças e solitárias, A verdade era dolorosa e insossa, tão esmagadora que doía. Se levantou e ficou de frente a Lisa, os ombros dela eram firmes enquanto os seus soltavam espasmos. O barulho do choro era baixinho, como sempre foi ensinada a fazer. Aquele era o tipo de dor da qual não gostava, a que crescia dentro e ficava lá, matando seus órgãos vagarosamente.

— Não se preocupe, ok? Eu vou te ajudar — cochichou Lisa, em um tom professoral. Ela esperou pacientemente o choro de Jisoo cessar e se tornar apenas um ressonar de nariz. — Olhe para mim.

Jisoo não queria ter que fazer isso, a maquiagem estava borrada e o nariz vermelho, mas fez pois não conseguia dizer "não". Essa era a sua natureza: receber ordens de quem a dava um minuto de atenção, como um cachorrinho de rua que abana o rabo para qualquer um que dê um afago na cabeça e o segue na esperança de conseguir migalhas.

Lisa era tão firme que os olhos dela brilhavam. Jisoo poderia fazer tudo que ela mandasse.

— Vamos acabar com isso. — Lisa tinha todas as respostas do mundo na ponta da língua afiada, escondidas debaixo da franja, transcritas nos olhos grandes.

— Vamos, vamos sim... — Jisoo maneou a cabeça em afirmação, soluçando.

— Mas antes, para que tudo dê certo, eu preciso de um favor... um favor muito importante.

Jisoo a fitou, esperançosa.

— Qual favor?

Lisa molhou os lábios com a língua, sem cortar o contato visual.

— Me conte onde Jennie está, okay? Eu preciso saber a localização do Retiro.

Jisoo deu alguns passos para trás, atordoada, mas as mãos de Lisa prendiam seus braços. Rosé não precisou dizer que o lugar onde Jennie estava era para ser mantido em segredo, já que tudo entre elas era segredo. No entanto, Lisa não era uma preocupação antes, agora ela estava prestes a responder todas as perguntas que faziam o coração de Jisoo bater ansioso. Pela primeira vez na vida, não se sentia sozinha dentro daquela cidade claustrofóbica.

Jisoo fitou os fundo dos olhos dela, reunindo coragem.

— Podemos ser amigas depois?

Lisa afagou os seus ombros, sorrindo.

— É claro que podemos. É uma promessa, Jisoo.

Talvez Huimang Hill tenha falhado com Jisoo, pois seria prudente que ela continuasse não confiando em garotas que vinham de fora dos muros daquela cidade perfeita.

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro