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Não conte nada ao casal

(13 de março de 1995 - 3 dias antes)

— Jennie





O trailer estava vazio.

Jennie procurou Lawan pelos cômodos, mas nem mesmo a senhora se encontrava ali naquela manhã abafada. O que a restou foi pegar o cigarro amassado em cima da mesa, o café frio e adulterado e caminhar para os fundos da casa móvel, encarando o horizonte sem fim pelas montanhas.

Pela primeira vez na vida, se forçou a acreditar haver um pote de ouro no fim do arco íris que cruzava o céu, passando pelo azul e indo além das árvores e do pântano que o horizonte escondia. Se forçou a pensar nisso pois acalentava o coração, fazia com que não se sentisse tão sozinha como estava depois do Retiro.

Passou as mãos pela cabeça, sentindo as mechas enroscarem nos dedos. Voltaria a ser atraente se eles crescessem. A volta dos cabelos traria a vida que levava antes — que não era boa, mas era melhor do que aquela.

Se virou para retornar ao trailer, porém uma figura a fez recuar.

Jisoo estava na porta dos fundos. O tempo estava abafado e ela usava uma blusa gola rolê e saias abaixo do joelho. Os cabelos pretos estavam molhados e chegavam até a cintura. Era como se a mãe ainda escolhesse as roupas e o corte de cabelo — ou a falta dele — o que não duvidava que acontecesse.

— Lisa não está aqui! — falou alto, sem ânimo para ir até Jisoo.

— Eu não vim falar com Lisa, vim falar com você! — ela respondeu.

Elas entraram na cozinha, Jennie deixou o copo sujo de café na pia e Jisoo se sentou na mesa de dois lugares, colocando um pouco da bebida para si.

— Eu queria que tivesse dado certo. — Ela batucava os dedos no copo de vidro. — Sobre me salvar — ela repetiu. — Queria que tivesse dado certo.

— Bola pra frente, Jisoo. — Sorriu breve, se sentando na única cadeira vaga.

— Mas você não pensa? — Algo dentro daquelas pupilas dilatadas borbulhavam adrenalina. — Não pensa como... como poderia ter salvo a sua irmã?

— Irmão — Jennie corrigiu e desviou dos olhos de Jisoo, estava estranhamente incomodada com aquela atenção exacerbada e o constante batucar que os dedos dela faziam no copo. — O que você sabe sobre Amber?

— Nada, nada! Eu só tô falando bobagem, né? — Ela riu, mas durou mais do que o necessário.

Era como se Jisoo tivesse decorado as falas de um script. Nunca conversaram de uma forma saudável e familiar, nunca houve um papo ameno para fazer com que elas relaxassem. Pode ser esse o motivo de estar tão desconfortável na presença de Jisoo, a ingênua e boba Jisoo.

— Está tudo bem. — Jennie respirou fundo, tentando sorrir novamente. — Você está indo bem.

— É que eu queria recomeçar com você, não só essa conversa, mas... tudo, sabe?

Jennie deu de ombros.

— Claro, por que não?

A expressão de Jisoo ficou séria.

— Você deve tá achando essa conversa estranha. — Ela falou em um sopro e tomou o resto do café em uma golada. — Mas eu fico pensando em como você tem pessoas maravilhosas que te amam, como Kai e Lisa, que moveram montanhas pra te ter de volta...

Os olhos de Jisoo se encheram d'água e foram-se acumulando mais e mais lágrimas até que uma conseguiu descer pelas bochechas. Jennie não conseguiu achar nada de satisfatório para dizer e o desespero se acentuou ainda mais ao perceber os ombros de Jisoo soltava leves espasmos. Ela estava chorando.

— Ei... — Se inclinou na mesa, afagando o ombro dela em um carinho desajeitado que não conseguiu continuar por muito tempo. — Não fique assim, você terá essa pessoa também!

— Será? — Jisoo limpou as lágrimas fujonas na blusa, os lábios tremiam. — Vocês três se amam e conseguem lidar tão bem nesse namoro... ah, Ruby, você não sabe a sorte que tem!

Jennie gargalhou, foi surpreendente como aquele gesto dentre todas as outras tentativas soou normal.

— Não há nenhum relacionamento a três entre mim, Kai e Lisa. Eu sei que é complicado, mas pra ser mais específica, não há nada entre Lisa e Kai.

Continuou a rir, mas o sorriso foi morrendo aos poucos, graças à expressão de Jisoo. As sobrancelhas dela estavam juntas e os lábios em uma linha tênue, como se fizesse força para entender. O momento que era para ser descontraído e risonho se tornou tão constrangedor. Limpou a palma da mão suada na camisola, sentindo um cansaço sem motivo, pressionando os seus ombros para baixo. Qual o problema de Jisoo?

— Então, eu... acho melhor ir embora porque... você sabe, muitas coisas pra resolver. — Ela se levantou da cadeira.

— Você sabe alguma coisa que eu não sei? Jisoo, por favor, se você souber, quero que me fale!

Jisoo prendeu os lábios entre os dentes, e se jogou na cadeira.

— Eu não queria! Eu juro! Lisa me fez prometer não contar nada para ninguém, ainda mais para você!

— Ainda mais para mim? — Jennie tentou controlar o estômago embrulhado. — Se quer tanto recomeçar comigo precisa ser sincera Jisoo. Comece agora.

Ela não se mexia, nem parecia estar respirando.

— Lisa está dormindo com Kai.... aquele dormir... — Ela se interrompeu, respirando fundo. — Ela está transando com Kai escondido de você, ontem eu tive que mentir porque ela me pediu. Lisa não dormiu lá em casa, ela dormiu na casa de Kai.

Jennie encarou um ponto específico atrás de Jisoo até não enxergar mais nada com clareza, as lágrimas nublaram a visão. Precisou se obrigar a mexer, a piscar e permitir que elas descessem pelas bochechas, a não recusar a dor que dilacerava seu coração. Se acostumou com esse desconforto de uma maneira que nunca achou que precisaria, graças ao que passou nos últimos dias, e voltou com a certeza que era mais tolerante aquele sentimento, mas a confissão de Jisoo provou o contrário.

Ela continuou:

— Os dois acabaram se envolvendo quando você estava lá no Retiro e...

— Lisa te contou isso? Ela... contou?

Jisoo se calou, estampava um olhar de pena no rosto, como se doesse dizer o que queria dizer.

— Por favor, me prometa que não vai contar isso pra ninguém, muito menos ao Kai. Ele não gosta de mim e eu posso perder a amizade de Lisa.

Jennie precisou de um tempo para repensar o pedido de Jisoo, não porque queria contar, confrontar os dois querendo respostas, mas porque tinha medo de deixar escapar, de não conseguir se manter impassível vendo uma mentira dessas se desenrolar bem na sua frente.

— Tudo bem, mas me prometa que irá contar se Lisa te disser mais alguma coisa.

Jisoo concordou com um menear tímido e se despediu rápido ao sair do trailer, deixando para trás Jennie e um milhões de pensamentos lotados de insegurança e indignação.

Sentiu-se mais sozinha do que nunca.

Assim que chegou à rua conhecida, Jennie se enfiou entre os arbustos que decoravam as calçadas. Apertou com mais força o boné na cabeça e rezou para não ser reconhecida pela vizinhança. A casa que morava era a algumas quadras de distância da casa de Rosé, mas em Huimang Hill todo mundo conhecia todo mundo. Era quase impossível andar sem ser reconhecida, ainda mais a filha do pastor.

Apesar que, depois do Retiro, poderia ser confundida com um ladrão, um pivete ou um desconhecido, tudo menos a garota rebelde do pastor.

Se cansou de ser pacífica, cansou de ficar presa em um trailer esperando por Lisa ou Kai, ouvindo recomendações e advertências. Eles estiveram onde ela esteve, mas não saíram como ela saiu. Saber que Rosé continuava livre, recebendo méritos e vivendo a vida normalmente depois de tirar tudo de Jennie, a deixava encabulada. A informação que recebeu essa manhã foi a gota d'água para fazê-la sair e procurar uma vingança sozinha. Depois do que Jisoo contou, entendeu que não poderia confiar nas únicas duas pessoas que confiava.

Com o fim do dia, em Huimang Hill, as casas ganhavam um pouco de vida, os homens de família chegavam para o café da tarde, as crianças voltavam da escola e o cheiro de pão e café enchia a rua de felicidade. Se perguntou se dentro daquelas casas o sentimento persistia ou se o cheiro de pão e café era só fingimento, como era na sua casa. Quando menor, nessa hora do dia ela deveria orar, ajoelhar no milho e agradecer a Deus a comida que tinha na mesa, rezava com medo, com medo de errar e receber castigo, com medo de ir para o inferno.

Piscou algumas vezes, enfiando essas recordações bem no fundo da sua mente, pois se distraiu e não percebeu a aproximação de Rosé. O vestido alaranjado esvoaçava pela brisa de fim de tarde e ela mantinha um sorriso sereno no rosto.

Iria dar a volta até a porta dos fundos da casa de Rosé, tinha uma janela que dava acesso ao quarto da garota. As residências eram as mesmas, lembram desse fato? E se aproveitaria disso para chegar até Rosé. Confrontá-la em plena luz do dia era perigoso demais, traria espectadores indesejados e a informação que estava viva chegaria aos ouvidos pastor, mas confrontar Rosé no aconchego do quarto dela seria mais eficaz, estaria invadindo o único lugar que ela pensou estar segura.

Ajeitou a roupa que usava de Lisa e deu um último suspirar corajoso antes de sair de trás dos arbustos. Rosé entrou em casa e a porta foi fechada. Jennie olhou para o lado direito, ninguém estava na rua, olhou para o esquerdo e uma mão forte apertou seus ombros.

Se virou com brusquidão, o grito pronto para sair da garganta, mas engoliu o seco, momentaneamente aliviada ao ver Kai.

O alívio deu lugar a raiva.

— O que pensa que está fazendo? — ele sussurrou, se escondendo no arbusto que Jennie estava a segundos atrás. — Eu e Lisa estávamos te procurando o dia todo!

— Ah, você e Lisa estavam me procurando? — bufou, irônica. — Conta outra!

— O quê? Claro que estávamos! Por que está aqui?

— Por que acha que eu estou aqui? — Se aproximou, apontando o dedo no peito dele. — Estou fazendo o que nenhum de vocês tem coragem para fazer!

— A questão não é coragem, Jennie! — Kai tomou o braço dela, apertando. — O que pensa que vai fazer quando encontrar Rosé?

— Vou...

— Vai? Vai o quê? Jogar na cara dela tudo que passou no Retiro? Depois vai se sentir frustrada porque Rosé não se importa? Não vai ser novidade ela não se importar, porque realmente ela não dá a mínima pelo que você passou! Você vai se irritar tanto que vai partir pra cima dela, vocês vão brigar feio, e depois? O que vai acontecer?

Kai a soltou. Jennie não percebeu que chorava, mas as lágrimas desciam quentes pelas suas bochechas. Encarou a face dele e sentiu raiva, sentiu raiva e nojo de cada traço daquele rosto, do nariz, da boca, das bochechas e do cabelo, era tanto ódio que não conseguiu se conter e partiu pra cima dele. O primeiro tapa acertou a bochecha, o segundo o peitoral, mas não conseguiu desferir o terceiro porque teve as mãos presas por ele. Kai era maior, mais habilidoso e conseguiu controlá-la bem rápido, girando o seu corpo e abraçando-a por trás, impedindo que continuasse a se debater.

Jennie chorava mais alto, se engasgava com saliva, fraca, exausta, cansada de lutar.

— Por que você fez isso? — Tossiu, espirando uma dezena de baba nas mãos dele, mas ele continuou sem soltá-la.

— O que você tá falando? — perguntou Kai, confuso.

— Ela era minha... você a roubou de mim, a única coisa que eu tinha nesse mundo e você.... você foi lá e... Você tem tanta coisa, você nasceu com tudo, Kai!

Assim que se viu livre do aperto dele, foi de encontro ao chão. Sentiu o gosto do concreto na boca junto a sangue e lágrimas salgadas. Kai tentava tirá-la do chão, fazê-la reagir, mas não conseguia.

— Eu não sei do que está falando, Ruby... — Ele a abraçou, como um adulto ninando um bebê. — Eu não sei...

— Você não pode vir aqui, não pode, depois de tirar tudo de mim, não pode me impedir de tentar fazer a última coisa que eu quero fazer! — Repousou a cabeça no ombro de Kai, sentindo a maciez da camisa dele contra os lábios.

— Se a última coisa que quer fazer é ir atrás de Rosé, eu vou impedir. Você já perdeu muita coisa, por favor, não dê esse gostinho a ela.

Não sabiam se havia chamado atenção de alguém dentro das casas, mas os canteiros floridos continuavam vazios, as luzes acesas e as vozes das crianças não se interromperam em nenhum momento. Não, não chamaram atenção alguma. Era fácil ser indesejado naquela cidade, era fácil sentir como Lisa se sentia desde que chegou ali.

— Vamos, precisamos sair daqui. — Ele se pôs de pé e puxou Jennie pelos braços.

O acompanhou até o carro, que não era o monza, mas sim, um dos carros da prefeitura. Ao entrar nele, se sentiu desconfortável, sem o cheiro de menta e o banco familiar que estava acostumada. Kai também não sabia dirigir tão bem naquele modelo diferente do habitual.

Chegou à conclusão que os dois estavam acostumados a Lisa e ao monza.

Caminhou a passos lentos até o trailer, olhou para trás para ver Kai partir pela estrada. Ele não saiu do carro, eles não conversaram nada o caminho inteiro. Lisa já estava correndo para fora do trailer e, sem nenhuma palavra trocada, abraçou Jennie. Não devolveu o abraço, permaneceu parada, sentindo o corpo dela com a mesma temperatura, o mesmo cheiro e a mesma sensação familiar de estar em casa. Lisa se afastou minimamente, tocando os novos arranhões de Jennie.

— O que aconteceu? Onde você estava?

— Fui atrás de Rosé, Kai me impediu. — Se pôs a andar, deixando Lisa para trás.

— Você... meu Deus! — Ela apressou o passo para alcançá-la, mas Jennie já havia entrado no trailer. — Por que ele não veio com você? O que aconteceu lá?

— Por que está tão preocupada com Kai querer entrar ou não? É até estranho ele trocar aquela mansão por isso aqui! — Já em um dos quartos, chutou o ar para que os sapatos saíssem mais depressa. Aproveitou e tirou a jaqueta, jogando-a na cama, e demorou um tempo para perceber que Lisa continuava parada na porta, os olhos grandes fitando-a na escuridão.

— O que há de errado com o meu trailer?

Jennie soltou um suspiro fundo.

— Nada... não tem nada de errado com o trailer, Lisa. Kai não pôde entrar porque o prefeito está na cola dele... esse negócio de vestibular e tudo mais... ele precisa chegar cedo em casa.

Lisa maneou a cabeça, aceitando a mentira parcialmente. Deu para perceber que, quando ela engoliu o seco, estava engolindo uma mágoa também.

— E você? Teve a sua aventura?

Abriu os braços machucados no escuro.

— Parece que sim, mas não do jeito que eu queria.

Lisa puxou a cordinha para acender a luz. Jennie se sentou na cama, observando-a agachada na frente do armarinho. Lisa tirou algumas gazes, soro e se sentou ao seu lado. Ela vestia um jeans bem maior que o corpo, porque só encontrava tamanhos certos na sessão infantil, se claro, comprasse roupas, o que não acontecia. Lisa montava o seu estilo baseado nas coisas que ganhava, o que era um grande feito já que tudo que usava parecia ter sido feito apenas para ela. O topper de tricô era duplamente pequeno, mostrava as clavículas cheias de pintinhas. Ela começou a limpar os machucados de Jennie.

— Você está se esforçando para ganhar cicatrizes — Lisa disse.

Passou as mãos na cintura dela.

— É porque assim você cuida de mim.

Era bom sentir a textura da pele de Lisa nos dedos, tão macia e convidativa. Ela ao menos se importava com os toques, estava concentrada em limpar as feridas de Jennie.

— Eu deveria te castigar, isso sim.

— Então me castigue — Jennie sussurrou. — Hoje eu quase me meti em uma encrenca que não conseguiria sair sozinha.

Lisa se enrijeceu.

— Ruby, acho melhor não.

O cenho de Jennie se franziu.

— Por que?

Lisa olhou para os lados, sem saber o que dizer.

— Você está toda machucada, acabou de chegar do Retiro e...

— Você acha que eu voltei morta? — Jennie se aproximou de Lisa e agarrou a cintura dela. — Eu estou bem aqui e quero você.

— Não é uma boa hora... — Lisa tentou se afastar ainda mais, mas as costas bateram na cabeceira da cama. — Jennie, que merda, me solta, tá me machucando!

— E quando vai ser, ein? Quando vai ser a hora? Quando meu cabelo crescer e eu parecer mais apresentável?

— O problema não é o seu cabelo, você me quer pra provar isso pra si mesma! Quer sexo porque acha que tudo vai voltar a ser como antes, que você vai voltar a ser como antes. Eu não quero transar para ser assim! — Ela empurrou as mãos que ainda apertavam a sua cintura. — Pode parecer inimaginável, mas posso muito bem não estar no clima.

Jennie se sentiu enojada.

— Então procure Kai, ele pode transar do jeitinho que você quer!

Se levantou e deu as costas a Lisa, e tropeçou pelos móveis até passar pela porta dos fundos e sair do trailer.

As serras pareciam inexistentes mescladas à escuridão da noite, tudo estava escuro, ali não tinha postes, só a luz da lua. Os pés descalços de Jennie pisavam na grama seca e se arrastaram até o asfalto. Ela caiu, batendo os joelhos nus nos pedregulhos. A brisa fria atingiu o seu corpo em um abraço bem-vindo, arrepiava os pelinhos do braço e trazia o cheiro característico de pneu de caminhão queimado, terra e orvalho.

Voltou a chorar, mas a estrada acalentava as suas mágoas.

Talvez ela não estivesse tão sozinha assim, tinha a si mesma, e sabia exatamente o que deveria fazer.

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