Não conte nada a justiça
— Jisoo
— Esse segredo vai morrer com a gente — sussurrou Rosé. Elas observavam o corpo afundar na água grossa. A luz da lua iluminava o lodo que cobria a superfície da água, sombreando o corpo e as bolhas de ar, como se lutasse contra o lago para ir embora de vez.
— Esse segredo vai morrer com a gente — respondeu, no mesmo momento que Rosé foi com os lábios até os seus. O gosto mentolado do cigarro estava lá, as mãos cheias de barro foram até os seus cabelos.
O caminho até o chevette foi longo, a cada passo Jisoo sentia o mundo ruir. O coração batia pesado, angustiado, a cabeça doía e era tarde demais para se sentir culpada, para culpar Rosé por acelerar o carro e acabar com a vida daquela desconhecida na estrada. Não foram as suas mãos no volante do carro, mas ainda sim, se sentia parte da situação. Era cúmplice, acabara de findar a vida de uma garota e não tinha mais volta.
Rosé apertava o volante com força, os olhos ainda repousando no lago, à frente delas. O pântano chegava a ser acolhedor depois de descobrir os seus piores segredos.
O caminho da volta foi silencioso. Um gosto amargo impregnava no céu da boca de Jisoo, a língua ficou áspera e seca, um frio sobrenatural surgia no seu estômago e se alastrava por todo seu o corpo. A lama começava a secar nos cabelos e pele e seria difícil tirar na hora do banho. No meio de todas essas questões, só percebeu que o chevette estava parado quando ouviu vozes, uma conversa apressada e bêbada. Jennie, Kai e Lisa estavam no meio da estrada, na frente do carro.
— Você está nos seguindo, garota? — Jennie estreitou os olhos, o farol do carro iluminava os três como um farol. — Não aceita perder uma vez sequer, não é?
Rosé apertou ainda mais forte o volante, os nódulos dos dedos estavam rígidos.
— A cidade é pequena, já que se esqueceu. A última coisa que queríamos hoje era encontrar vocês!
Só com um olhar de soslaio, Kai percebeu que algo de importante aconteceu, que elas fugiram do que foi estipulado. Ele estava há alguns passos atrás de Jennie e Lisa e passou dois dedos sobre os lábios, apontando para o fim da estrada. Rosé maneou a cabeça rapidamente e voltou a encarar Jennie e Lisa.
— Jisoo, tá tudo bem? — Jennie perguntou, preocupada. O olhar de Lisa também seguia a mesma preocupação.
Engoliu o seco, não conseguia falar.
— Não é da sua conta. Saiam da minha frente, inferno! — Rosé buzinou e apertou o pé no acelerador. Os três saíram da frente e ela partiu, dirigiu para a mansão de Kai. Era isso que o gesto significava.
Nunca pisou naquele lugar antes, mas Rosé parecia de casa. O porteiro deixou que entrasse sem ao menos perguntar os nomes ou o porquê de toda aquela sujeira. Cidade pequena, garotas conhecidas, nada demais aconteceria.
À noite, a mansão tomava um ar místico. A decoração antiga, cheia de móveis escuros e papel de parede dourado, trazia um ar misterioso aos cômodos, como se alguém estivesse espionando o que elas faziam pelas frestas das portas. Os olhos das pinturas pareciam segui-las pelo corredor. Eram intrusas em muitos aspetos, estavam sujas e um rastro de lama era deixado para trás a cada passo que davam. A casa estava silenciosa demais, os empregados deveriam estar dormindo.
— Onde está o prefeito e a primeira dama?
— Na capital — Rosé respondeu.
Ela parou em frente a um dos quartos do corredor e rodou a maçaneta com cuidado. A porta se abriu, ela sorriu para Jisoo e entrou. O quarto era uma suíte usada para visitas, não havia pertences em lugar algum, só uma cama forrada por um lençol branco e um armário de mogno embutido. O papel de parede era o mesmo do corredor e de toda a casa, a luz amarelada estava fraca e não cumpria muito bem a função. Rosé abriu as portas do armário e pegou uma toalha e roupas limpas, colocando-as em cima da cama. Eram roupas de Jennie.
— Você não vai querer explicar para os seus pais porque está tão suja, vai? — ela perguntou, como se tivesse lido a mente de Jisoo.
Elas tiraram as roupas sujas de lama e nuas, foram até o banheiro da suíte. Era boa a sensação de ser cuidada por Rosé, ter as mãos dela desembaraçando seus cabelos e escovando suas costas com ajuda de uma bucha vegetal. O jato do chuveiro era quente o suficiente para se tornar insuportável e logo o vapor com cheiro de sabonete de coco tomou conta do banheiro. A lama do pântano era tão densa que não encontrou saída pelo ralo e se acumulou nos azulejos, como uma poça bolorenta.
Elas ficaram o que pareceu ser horas debaixo daquele jato. Ainda se sentia suja depois do banho.
— Quero que fique aqui, já, já venho te encontrar para irmos embora. — Rosé passou a guia da jardineira-saia pelos ombros. Ela era um pouco mais alta que Jennie e as roupas ficaram justas, já em Jisoo ficaram largas demais.
Sozinha, sem Rosé no quarto, se sentou na beirada da cama, sentindo a pele arder, os cabelos pingarem e os lábios trêmulos. Era como se tudo doesse, como se fosse a verdadeira vítima do atropelamento. As roupas de Jennie cheiravam a traças e mofo, ela não as usava há algum tempo.
Ficou sentada ali como uma filha obediente esperando a mãe liberá-la do castigo até que se cansou de esperar e decidiu explorar a mansão por sua conta e risco.
Não precisou andar muito, as vozes exasperadas cortavam o silêncio, saíam do último quarto o corredor. Se aproximou na ponta dos pés, controlou a respiração arfante e se agachou em frente a porta mal fechada. Pela fresta que restava, viu os ocupantes do quarto, Rosé e Kai, em uma discussão acirrada. Kai parecia ter acabado de chegar, o cheiro de suor e vinho era tão forte que irritava suas narinas. O quarto era o dele, era maior do que o anterior e estava uma completa bagunça, cheio de roupas pelo chão, halteres, uma bola de futebol e livros jogados.
— E se elas descobrirem? Me viram lá, estávamos sujas, é óbvio que vão sacar!
— Rosé, relaxa! — Ele se sentou na cama, tirando o sapato. — Jennie e Lisa estavam bêbadas demais para notarem alguma coisa, devem ter achado que você e Jisoo, sei lá, acabaram de sair de um spa natural. — Kai gargalhou e Rosé deu um tapa nos ombros dele, pareceu ter doído, mas ele não reagiu. — A maluca aqui é você por ter matado alguém sem me chamar, ainda por cima trouxe a Virgem Maria como companhia para dentro da minha casa.
— Jisoo acabou de me ver atropelar uma pessoa, ela não podia ficar sozinha — justificou Rosé.
— Por mim, ela já estaria sozinha há muito tempo, de preferência a sete palmos do chão.
Um silêncio desconfortável surgiu até Rosé perguntar:
— Como Amber?
— Você ainda se preocupa com isso? — Kai se deitou na cama. — Não há a menor chance de descobrirem, eu conheço o diretor do Retiro, ele me deixou entrar.
Jisoo tapou a boca com as mãos, um jato de respiração ruidosa saiu pelos seus lábios, ficou com medo de ser ouvida. Kai matou Amber? A raiva que nutria por ele aumentou gradativamente naquele segundo.
Rosé estava longe do campo de visão, mas a voz dela era irritadiça.
— É claro que eu me preocupo. Se eles chegarem até você, vão chegar até mim.
— Está preocupada com você ou fingindo estar preocupada com você para que eu não perceba que está chateada pela morte de Amber? As pessoas morrem, pequena, é a vida.
Kai se sentou novamente, o rosto risonho. Rosé mexeu em alguma coisa no ponto cego de Jisoo e logo depois um livro cruzou o quarto e quase acertou Kai.
— Amber nos viu crescer. Ela te considerava um irmão!
— Ele, Rosé. Ele — Kai rolou os olhos, como se estivesse cansado de ter que corrigir todas as vezes os pronomes do garoto que matou. — Eu também fiquei chateado, ok? Mas foi necessário. Amber era uma má influência para Jennie, ele começava a pôr ideias na cabeça dela, fazendo-a querer fugir daqui e ensinando essas merdas sobre feminismo e o caralho a quatro...
— E não vamos esquecer que você estava doido para saber qual a sensação de matar algo maior que um coelho, não é? — A voz dela quase sumiu de tão baixa. Kai encarou Rosé por alguns segundos. Era incômodo não saber qual expressão ela o devolvia.
— Eu fui um visionário. — Ele levantou uma das sobrancelhas. — Se Amber estivesse vivo descobriria o nosso plano bem rápido, ele era ridiculamente esperto, e foi a partir dele que tive contato com o Retiro. Não saberíamos para onde mandar Jennie se não fosse por isso. — Ele se levantou da cama e partiu até Rosé, agora os dois estavam fora do campo de visão de Jisoo e um formigamento intenso acertou suas pernas, queria entrar lá para saber o que acontecia. — Você só está com inveja porque eu fiz tudo sozinho, mas não se preocupe, foi rápido, ele já estava fraco e não sofreu muito, acho, felizmente ou infelizmente, isso fica ao seu cargo decidir.
Ouviu um barulho de tapa, depois disso, silêncio. Estava tão curiosa que até o seu estômago começou a roncar, precisava saber o que estava acontecendo.
— Sozinho? — Ouviu Rosé bufar. — Você me fez dirigir por quase dois dias para aquele fim de mundo para limpar a sua bagunça, Kai. Fiquei semanas com terra debaixo das unhas, mentindo que jardinagem era meu novo hobby.
Um mal estar atacou o corpo de Jisoo como uma virose repentina, queria vomitar, suor descia pela testa, frio e pegajoso. Percebeu no que estava se metendo, que não tinha mais volta, que seria mais uma vítima, que Rosé era muito mais perversa e guardava muito mais segredos do que poderia suportar saber.
— Vamos parar de falar de morte, não quero te ver excitado. Vim para pegar as fotos e a câmera — Rosé acrescentou.
Jisoo mordeu os lábios para conter um respirar fundo e voltou a prestar atenção na conversa, agora Rosé já estava no seu campo de visão. Kai estava sentado na cama, ela estava na frente dele.
— Já sabe o que fazer, não é? Depois da corrida? — ele perguntou.
— Chantagear elas. Não precisa me ensinar o básico — Rosé respondeu.
— No dia seguinte, quando Jennie for a sua casa, dê o remédio e não deixe muito óbvio. Ela precisa achar que a ideia de fugir do Retiro usando ele partiu dela própria. — Ele foi até o guarda roupas, pegou uma bolsa de atletismo e deu a Rosé, a câmera e as fotos deviam estar lá dentro. — E sobre a pulseira? Como conseguiu convencer o delegado Min?
— Eu sei de um podre dele, ele vai fazer tudo para a esposa não saber, incluindo prender Lisa pelo "roubo" da pulseira.
— Deixe claro que é só Lisa, policiais não são nada inteligentes.
— Ninguém dessa cidade é. — Ela pegou a bolsa. — O outro par da pulseira está no braço do cadáver, tive que pegar de Jisoo.
— Ótimo.
Os dois ficaram em silêncio por alguns minutos, Rosé voltou a falar, dessa vez mais baixo do que antes.
— Jennie vai querer que você pague a fiança... quando Lisa for presa.
— Ela deve vir aqui me pedir isso. — Ele fez uma careta, se espreguiçando. — Mas meus pais estão na capital, essa vai ser a desculpa. Enquanto isso, você vai à casa dela e monta o cerco, mostre as fotos. O pastor vai ficar tão puto quando ver que a única coisa que vai pensar é na minha voz, falando sobre o Retiro e como ajudou Amber a se arrepender dos pecados na última vez que fui visitá-lo.
Rosé deu um tapa leve no peitoral de Kai.
— Você não presta.
— E você também não. — Ele se aproximou. Uma tensão estranha surgiu entre os dois.
— Não a deixe muito tempo lá. Você sabe como Amber ficou, aquele lugar deve ser... — Rosé suspirou, como se sentisse pena. — Um inferno na terra.
— Não se preocupe. Vai ser o tempo suficiente para eu aparecer lá como o grande salvador da pátria. Jennie vai voltar a me amar tão rápido que não vai nem se lembrar que um dia parou.
— E vai me odiar — lembrou Rosé.
— Isso também faz parte do plano. Nada pode sair do roteiro, não antes do baile, trate de fazer a sua cadela entender muito bem o que estamos lidando. Eu vou deixar a maçaneta da porta solta, ela só precisa acertar com força a sua cabeça. Acha que Jisoo tem capacidade mental pra isso?
Com raiva, Jisoo formou punho com as mãos, queria tanto dar um soco no meio daquele rosto idiota, mesmo que não tivesse nenhuma chance de acertar. Queria acabar com Kai. Mas a conversa acabou e a única coisa que poderia fazer era voltar para o quarto antes que um deles percebesse a sua intromissão.
— Uma última coisa...
Ouviu a voz de Rosé e precisou recuar para ouvir. Dessa vez, não enxergava nada a não ser a madeira da porta.
— Jisoo ainda não sabe, mas eu quero que ela vá embora comigo, quando chegar a hora, quando encontrarem a garota no lago e Jennie e Lisa forem presas... Jisoo tem que estar bem longe daqui, entendeu?
— Se ela não estragar tudo...
— Kai, ela vai embora comigo.
— Seu pedido é uma ordem, princesa. — ele suspirou, nada feliz por cumprir essa parte do acordo.
✢
A última vez que Jisoo viu Rosé foi no pântano, logo depois que ela acordou da pancada na cabeça. A mentira contada por Kai a Jennie e Lisa, que ele e Jisoo jogaram o corpo de Rosé no lago, foi muito bem aceita pelas meninas. Os quatro eram um só a partir dali, nada mais poderia unir um grupo de pessoas do que uma morte em comum, eles nunca mais falariam no assunto, como se a garota de cabelos ruivos nunca tivesse existido.
Lisa chorou o caminho todo, ela não conseguia olhar para as próprias mãos. Jennie, de certo modo, estava aliviada e preocupada.
Deixaram-na na porta de casa ao anoitecer. Jisoo teve certa dificuldade para entrar pelos fundos sem ser descoberta e na hora de se limpar, sentiu falta das mãos de Rosé experientes para tirar a lama do pântano, as suas só pareciam fracas.
No dia seguinte, a cidade entrou em alerta. O senhor e senhora Park chegaram do evento feito pelo prefeito e não encontraram a filha em lugar algum. Rosé não era de sair sem avisar os pais, frequentava apenas a igreja, escola e a biblioteca. Uma garota caseira não sumiria assim, do nada.
No terceiro dia, a cidade inteira partiu numa ação conjunta para procurá-la pela floresta. Ninguém pensou em procurar no pântano, porque todos em Huimang Hill faziam um bom trabalho fingindo que ele não existia. Jisoo preferiu não ir, disse a mãe que estava muito mal e pela sua aparência, realmente foi convincente.
No quarto dia, os pais de Rosé apareceram no jornal local, oferecendo qualquer quantia em dinheiro para quem soubesse o paradeiro da filha. A polícia trabalhava na hipótese de sequestro. Os Park tinham muito dinheiro.
Jisoo passou os dias acordada, dia e noite, porque se lembrava das palavras que ouviu secretamente de Rosé. Ela escalaria a janela do seu quarto e traria o chevette de volta — o maldito chevette, que colocou Jisoo como suspeita número um — mas nada disso importava no momento, porque Rosé iria aparecer, tinha que aparecer, como uma garota dos filmes adolescentes, tirando-a desse inferno e partindo juntas, numa viagem sem fim.
Mas no quinto dia, quem apareceu foi Lisa.
— Posso entrar? — Ela tinha os olhos fundos, cheios d'água, e havia emagrecido muitos quilos. Aparentava estar em uma fase terminal de alguma doença, a pele tomou um tom pálido e os ossos saltavam pelas juntas. A raiz castanha sobressaia entre os fios loiros, mas, estranhamente, Lisa ainda estava bonita, tragicamente bonita.
Jisoo carregava o irmão, que cochilava nos seus braços, e pediu um segundo para colocá-lo no berço. Assim que voltou, Lisa já estava na sala de estar.
— Quer água, café...? — Apontou para o sofá e ela se sentou. — Meus pais não estão em casa, estão no grupo de busca.
Lisa meneou a cabeça, desgostosa.
— Achei que estaria lá... também achei que estaria mais abalada, por tudo que aconteceu.
Jisoo engoliu o seco.
— Eu fiquei... nos dois primeiros dias.
— E não está com raiva de mim?
Lisa a encarava com os olhos cansados, dava para ver toda a dor contida neles. Ela implorava para ser odiada.
— Por que eu estaria com raiva de você? Eu estava lá, foi um acidente — Se aproximou, mas mudou de ideia na metade do caminho. — Eu também... tenho culpa, de qualquer forma. — Não mentiu nessa última frase.
Elas ficaram se encarando pelo que pareceu muito tempo, até Lisa se acabar em lágrimas. Foi abrupto como uma represa se rompendo. O choro dela era alto e doloroso, difícil de ouvir, e Jisoo não teve outra alternativa a não ser abraçá-la e esperar que cessasse.
— Jennie... ela... — Lisa fungou. — Ela vai se casar com Kai.
Jisoo se afastou, fitando o rosto molhado de Lisa.
— Como assim?
— Kai a pediu em casamento ontem, eles vão casar... eu fui tão idiota, meu Deus! Por que eu fui tão idiota?
— Você não podia imaginar, de qualquer forma... eles... — se interrompeu. Não era boa nisso, não deveria ao menos ter tentado.
— Não, não, eu podia imaginar... — Lisa se levantou, a voz anasalada pelo choro. — Estava na cara que eu iria me ferrar desde a primeira vez que pisei aqui. Eu fui a única que perdeu tudo nessa porra de cidade, parece um inferno, merda! Eu não consigo mais dormir ou comer! Minhas mãos estão sujas, minha consciência é um pesadelo! O que eu fiz pra merecer isso? Me diz?!
Jisoo mordeu os lábios, se segurando para não contar que as coisas iriam piorar e não, ela não merecia nada do que estava acontecendo, mas se tinha algo que estava careca de saber, era sobre as injustiças do mundo.
No sexto dia, uma ligação anônima chegou à polícia, o corpo do que parecia ser uma garota foi encontrado boiando no pântano. Era de difícil identificação, estava em processo de decomposição mais avançado devido aos componentes do lago. Os sapatos de Rosé foram encontrados na margem e a pulseira de ouro estava presa no braço esquerdo do corpo.
A garota era ruiva. Não tiveram mais dúvidas.
A catedral ficou coberta por margaridas, o odor forte delas fez com que Jisoo espirrasse algumas vezes. Agarrou o terço, rezou para que tudo desse errado. Rosé já deveria estar longe e mentiu sobre levá-la junto. Se sentia usada, suja, uma criminosa, merecia ir para a cadeia. Escondeu tantos segredos que eles ganharam vida própria e ameaçava engolir ela por inteiro, mentiu e ferrou com a única pessoa que poderiam ajudá-la. Jisoo teve chances, milhares dela, de fazer a coisa certa, desperdiçou todas e não tinha ninguém para culpar além de si mesma.
Encarou Jennie e Kai, de mãos dadas, pareciam o casal que todos queriam ver na primeira capa do jornal. Os cabelos de Jennie cresciam rapidamente, agora eram um amontoado de cachos grossos, como os cabelos de um bebê. Ela voltou a usar roupas curtas, como sempre fazia no começo da primavera, como se nada tivesse mudado. Kai parecia feliz, ele deu um sorriso mínimo para Jisoo quando percebeu que estava sendo observado. Em contrapartida, Lisa se encontrava do outro lado da catedral, os cabelos estavam penteados, mas o copo ainda parecia esquelético. Aparentemente, o trisal foi rompido.
Jisoo voltou a encarar a foto de Rosé, presa ao pedestal, sorrindo. Se lembrava daquele dia com uma vivacidade surpreendente. Os Park contrataram uma equipe de fotógrafos para cobrir o aniversário de 18 anos de Rosé e ela passou o dia todo treinando aquela pose "espontânea". Todos ali olhavam aquela foto e achavam ser só um golpe de sorte uma câmera ter registrado naquele momento, tudo parecia singelo e simples demais. Os cabelos ruivos reluzindo no sol, voando pela brisa leve, o rosto com quase nada de maquiagem, apenas um rouge avermelhando as bochechas e os lábios brilhando com um gloss rosado... aquela foto conseguia exprimir bem o que Rosé Park era. Uma fachada bem planejada.
O xerife interrompeu o discurso do prefeito, abaixando o microfone para poder falar. Algo dentro de Jisoo a avisou antecipadamente.
Não era só Lisa e Jennie que seriam presas.
— Jisoo Kim, Lisa Manoban e Jennie Kim, estão acusadas, oficialmente, do assassinato e ocultação de cadáver da jovem Rosé.
Rosé não estava mais no comando do plano. A pequena piscadela que Kai deu para Jisoo assim que os guardas a alcançaram fez seu estômago revirar.
Algo de errado aconteceu.
Com Rosé.
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