32. Sagitário
Eu e Thomás decidimos jantar em algum restaurante próximo da Avenida Paulista e acabamos no Sukiya da Augusta. Já anoitecia quando ele me deixou na porta de casa, beijando meus lábios uma última vez e me acompanhando com o olhar enquanto eu entrava com o enorme buquê em mãos.
Esperava que não tivesse alguém em casa, mas sabia que encontraria meus irmãos ali sem dúvida alguma. De qualquer modo, teria que explicar o que um buquê de rosas vermelhas fazia naquela casa.
Assim que entrei, joguei minha mochila de lado e fui até a cozinha, pretendendo colocar minhas rosas na água. Havia andado com elas durante o dia todo, recebendo olhares e sorrisos, e sabia que devia hidratação à elas. Quando coloquei a última rosa na jarra de suco que servia como vaso improvisado, minha mãe pisou os pés na cozinha.
- De quem é isso? - Perguntou, colocando o avental no corpo ainda com as roupas do trabalho.
- É meu. - Respondi, ainda sem olhá-la e sentindo minhas bochechas corarem.
- Quem te deu? - Sentia a excitação pingando em sua voz, me fazendo ficar ainda mais envergonhada.
- O babaca do Thomás. - Davi entrou na cozinha, indo diretamente para a geladeira e pegando um refrigerante.
- Por que você não cuida da sua vida, Davi? - Semicerrei os olhos na sua direção.
- Porque estou preocupado demais cuidando da minha irmã inconsequente e burra. - Davi bateu o refrigerante na bancada ao seu lado.
- Ei, ei, ei! O que está acontecendo aqui? - Minha mãe se colocou entre nós e olhou para o meu irmão. - Por que estão se tratando assim? Por que chamou sua irmã de inconsequente e burra? Por que chamou o namorado dela de babaca? - E então seu olhar confuso e chateado estava em mim. - O que aconteceu com vocês? Eram tão amigos.
- Pergunte ao seu filho. - Apontei para Davi. - Eu não aguento mais ele me sufocando e jogando na minha cara que eu preciso dele de vez em quando.
Davi apenas abaixou a cabeça, fingindo interesse na tampa do seu refrigerante.
- É isso mesmo, Davi? - Minha mãe perguntou, voltando seu olhar para ele.
- Ele está se mostrando ser igualzinho ao Tuti. - Resmunguei, saindo da cozinha a passos largo. - O que é uma pena, porque o mundo não precisava de outro macho babaca! - Gritei por cima do ombro, chegando ao meu quarto e batendo a porta atrás de mim.
Não entendia se Davi estava passando por problemas no relacionamento ou estava só tentando complicar a nossa relação. Talvez estivesse com ciúmes de Thomás e não soubesse como lidar com aquilo. Querendo ou não, eu era a sua irmã e pelo menos um dos meus irmãos tinha o instinto de querer me proteger, mesmo quando eu não quisesse ser protegida.
Mas eu não iria tentar me acertar enquanto ele não percebesse que estava errado e agindo como um idiota. Enquanto isso não acontecia, eu precisava sair daquela casa ou enlouqueceria.
Comecei a bombardear meus amigos com mensagens sobre o que poderia ser feito naquela sexta feira à noite, mas nenhum deles parecia tentado a sair. Foi então que eu tive uma ideia e um sorriso largo pintou em meu rosto.
Eu: E se eu disser à vocês que temos que comemorar meu início de namoro com Thomás?
Não demorou para Carolina responder com letras exageradamente maiúsculas.
Carol: O QUÊ? COMO A JULIA SAGITARIANA COMEÇOU A NAMORAR? SAGITÁRIO NÃO DEVERIA SER O SIGNO QUE GOSTA DE SAIR? QUE É DO MUNDO? SE TIVESSE DITO ANTES, TERIA FEITO A SEMANA DA DESPEDIDA DE SOLTEIRA DA JULIA. VOCÊ TÁ ME ZOANDO, NÉ? SÓ PODE SER BRINCADEIRA.
Só conseguia rir e revirar os olhos para o seu exagero.
Eu: Eu pedi pra vocês saírem comigo a semana toda e ninguém se mexeu pra nada, problema de vocês se o Thomás passou na frente.
Carol: Ah não. Reunião na casa do Guilherme hoje mesmo.
Gui: Como é?
Carol: Isso mesmo que você leu.
Lola: Não vou conseguir ir.
Carol: Novidade.
Gui: Carolina, para de ser louca. Não vai ter reunião nenhuma aqui hoje.
Carol: Vai sim, somos apenas nós três.
Eu: Carolina, para de ser louca. Amanhã a gente resolve o que faz.
Carol: OK. Festinha particular na casa do Gui amanhã?
Lola: Se for amanhã, eu também vou.
Fiz uma careta, imaginando que Davi também estaria envolvido, mas resolvi não perguntar sobre a presença dele.
Gui: É claro que eu e minha casa estaríamos envolvidos... Vocês gostam de mim só pela minha casa?
Eu: Sim.
Gui: Já imaginava.
Carol: Combinado?
Eu: Sim. Vai morrer até amanhã sem os detalhes?
Carol: Talvez.
Eu: Boa noite, Carolina.
Bloqueei meu celular e sorri, deixando-o de lado.
Não me lembrava quando fora a última vez, mas naquela noite eu dormi com um sorriso leve nos lábios.
Gui mandara mensagem dizendo que os pais iriam passar o fim de semana na casa de praia, dando tempo o suficiente para que pudéssemos ficar à vontade.
Quando me preparei pra sair, ouvi a voz da minha mãe me chamando da sala e ali encontrei meus irmãos em seus pijamas. Nenhum deles ousou me olhar, tendo apenas minha mãe atenta em mim. Meu pai já devia ter saído pra trabalhar.
- Onde vai? - Ela quis saber.
- Na casa do Gui. - Dei de ombros.
- Você não vai, Davi? - Minha mãe se virou para o meu irmão que estava focado em mandar mensagens.
- Mais tarde. - Murmurou.
- Nem você, Tuti?
- Mãe, eu nem sou parte do grupinho bobo deles. - Meu irmão mais velho fez uma careta, voltando a assistir sua série na televisão.
- Não quer esperar para que Davi vá com você? - Ela se virou para mim mais uma vez.
- Não. Tchau. - Mandei um beijo e saí a passos largo dali, sem dar tempo para que ela me chamasse mais uma vez.
Não sabia muito bem como funcionava esse negócio de namoro, já que eu nunca havia sido pedida em namoro. Todas as minha relações ficavam apenas subentendidas e nunca chegávamos a realmente fundir famílias e amigos. Mas decidi que diria à Thomás onde estaria naquela tarde, convidando-o para que se juntasse à nós assim que possível. Não esperei por sua resposta, já que no segundo seguinte Carolina abriu a porta da casa de Guilherme e me puxou pra dentro, pegando o celular de minhas mãos e escondendo-o.
- OK, devolve meu celular e me diz o que você tá fazendo. - Estiquei a mão na sua direção, esperando pelo aparelho.
A garota me ignorou, pegando minha mão e nos levando até a sala de estar. A televisão estava pausada no início de algum filme que eles haviam escolhido.
- Vamos passar a tarde assistindo filme? - Perguntei em confusão, cumprimentando Lola e Gui.
- E bebendo vinho! - Carol ergueu as duas garrafas na minha frente. - Mas antes queremos que nos conte tudo sobre Thomás.
Queria deixar aquele assunto para mais tarde, mas era melhor que eu contasse antes que Davi chegasse.
Me servi de um pouco de vinho e me sentei na poltrona, deixando os três no sofá em L. Sem demora contei à todos como tudo havia se desenrolado até o atual momento, sem me demorar muito nos detalhes.
- Não acredito que você começou a namorar no signo de sagitário. Sério. - Carol dizia, finalmente me devolvendo o celular.
- Eu sou uma exceção. - Dei de ombros, verificando as últimas mensagens e vendo as respostas de Thomás.
Thomás: Te encontrarei lá depois de almoçar com meus pais.
- Acho que Thomás vai vir aqui. - Bloqueei meu celular e o senti vibrar mais uma vez, mas ignorei.
- Estou com fome. - Lola reclamou. - O que vamos comer?
- Podemos pedir uns lanches. - Gui sugeriu.
Todos concordaram prontamente e fizemos o pedido através do aplicativo dele, ouvindo a campainha tocar assim que finalizamos.
- Que serviço eficiente. - Elogiei.
Meus amigos riram enquanto Gui se levantava para atender a porta. Continuei a verificar as mensagens quando uma que Matheus apareceu na tela e eu cliquei sem pensar duas vezes. Era um convite para uma festa no... Cemitério? Franzi o cenho, olhando as informações e voltando na sua conversa com um enorme sorriso nos lábios.
Eu: A festa é pra me enterrar viva?
Finalizei a pergunta com ícones rindo enquanto eu mesma ria.
- O que é tão engraçado, dona Julia? - A voz de Thomás apareceu atrás de mim.
No susto, pulei da poltrona e derrubei o celular direto no chão. Me virei de frente para ele com a mão no peito e sentindo o coração acelerado. Tinha um sorriso sem graça nos lábios enquanto tentava descobrir se ele havia visto que eu respondia Matheus.
Pelo sorriso largo que abriu e o beijo que me deu assim que se aproximou, tive certeza de que ele não havia visto. Meus amigos fizeram questão de assoviar, gritar e bater palmas, acabando com o clima e fazendo com que nos afastássemos.
- Senti sua falta. - Confidenciou, selando nossos lábios mais uma vez e então se afastando. - O que vamos fazer?
- Estávamos começando a ver um filme para esperar nosso almoço chegar. - Gui informou. - Você já almoçou?
- Já. Obrigado. - Thomás sorriu para nosso amigo e se sentou na poltrona antes ocupada por mim.
Me abaixei para pegar meu celular e o coloquei na mesa de centro, ignorando completamente qualquer mensagem que pudesse vir a chegar. Sem pestanejar, me sentei de lado no colo de Thomás, sentindo o garoto me acomodar em seu colo confortavelmente.
- Que filme vamos ver? - Perguntei.
- Um bem lixo de terror que o Guilherme escolheu. - Carol reclamou.
- Não é lixo e você vai se arrepender de ter dito isso. - Apontou para Carol com os olhos semicerrados.
- Tanto faz. - Carol revirou os olhos, bufando e voltando a se sentar. - Só dá o play.
O filme era ruim e chato. Passamos a maior parte do tempo rindo e tirando sarro do Guilherme. Os lanches não demoraram a chegar e decidimos comer sentados no chão, bem a tempo de Davi chegar. Não sentei mais no colo de Thomás e agradeci por ele não ter aparecido antes ou teria que aguentar uma possível discussão. Pelo menos a sua expressão mal humorada eu poderia aguentar.
Thomás não pareceu perceber que meu irmão o tratara diferente ou simplesmente não se importou. Desde que havia chego, Davi se enfiou em sua bolha com Lola, parecendo conversar sobre o que se passava no filme até este chegar ao fim.
Permaneci no chão, sentada entre as pernas de Thomás enquanto recebia uma carícia nos cabelos muito bem vinda. Parecia que havia se passado uma eternidade quando o filme escolhido por Gui acabou.
- OK. O que faremos agora? - Questionei, bebendo o resto do meu vinho e me virando para meus amigos.
- Nós vamos embora. - Carol anunciou, se levantando.
- Espera. - Pedi, me levantando e impedindo que ela levasse as garrafas de vinho vazias para a cozinha. - E se eu disser que tenho uma festa diferente para levar vocês?
- Que tipo de festa? - Thomás questionou.
Pressionei os lábios, contendo a risada e imaginando as diversas reações que eles teriam. Não tinha mais volta, eu tinha que fazer o convite, tinha que tentar.
- Vamos à uma festa no cemitério.
- O QUÊ? - Todos perguntaram em uníssono.
- Julia, a senhora está louca. - Carol passou por mim, balançando a cabeça em negação.
- Julia, deixa de ser maluca. No cemitério? Sabe quantos escorpiões, baratas e sei lá mais o quê tem lá? - Gui questionou.
Lola só balançava a cabeça em negação enquanto ria e eu pude ver meu irmão contendo o sorriso.
- Julia, você tá falando sério? - Thomás perguntou atrás de mim, tocando minha cintura.
- Mas é claro que eu tô. - Envolvi seu pescoço com meus braços e sorri abertamente. - Vamos! Vai ser novo e legal!
Thomás me analisou por um momento, parecendo pensar sobre o assunto e assentiu por fim, me fazendo beijar seus lábios brevemente e abraçá-lo fortemente, animada por ter pelo menos a sua companhia.
- OK, o Thomás já topou. - Me voltei para os meus amigos, me soltando do pisciano.
- Agora ficou sério. - Carol disse, voltando da cozinha e se sentando ao lado do Gui. - Se o Thomás, que é pisciano e namora, vai à uma festa no cemitério, então quem sou eu pra não ir?
A conclusão de Carol fez Thomás rir ao meu lado.
- Mais alguém? - Tentei, quicando no lugar enquanto olhava para meus amigos.
- Tudo bem, estou curioso e convencido. - Gui ergueu as mãos, se rendendo.
Lola teve uma troca de olhares com meu irmão. Davi apenas deu de ombros enquanto a garota se virava e assentia com um pequeno sorriso nos lábios.
Sem dúvida alguma aquela seria a nossa experiência mais louca juntos.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro