27. Escorpião
Fiquei ocupada entre sofrer pelas notas mais baixas e voltar a estudar para as provas de recuperação da semana seguinte. Não sabia muito bem com funcionava o próximo signo, então preferia me garantir antes que fosse tarde demais - como fora da última vez.
Por isso não me importei quando eu e Matheus trocamos poucas mensagens. Foi melhor assim já que eu pude me concentrar em estudar e só isso. Se ele quisesse, poderia me chamar, eu estaria esperando para respondê-lo - talvez não no mesmo minutos, mas ele poderia lidar com a minha ausência.
Thomás também parecia absorto em seus próprios problemas, mas estava mais presente que o aquariano. Foi por isso que eu aceitei de bom grado quando ele ofereceu para frequentarmos uma das muitas festas que Lucas armava no fim de semana.
Pelo que eu havia entendido, o objetivo daquela festa era comemorar que, pela primeira vez em muito tempo, o garoto havia passado nas primeiras provas do bimestre sem uma recuperação sequer. Aparentemente o garoto passava a se dedicar aos estudos como deveria ter feito todo esse tempo, mas não acreditava que duraria muito tempo. Talvez apenas quisesse impressionar uma garota.
Decidi avisar meus amigos para que tivesse um reforço caso precisasse e para que pudéssemos nos divertir - como vinhamos fazendo. Meus pais não ficaram muito felizes por verem os filhos saírem mais fim de semana, mas prometemos que no dia seguinte estaríamos no almoço de domingo na casa da vovó.
Desse modo chegamos na casa do Lucas próximo das onze horas. Pelo que eu sabia, os pais do garoto viajavam muito e davam margem para o garoto fazer aqueles tipos de confraternização. Aquela parecia estar mais vazia do que anterior, apenas com alunos do último ano e poucos dos outros anos do ensino médio. Quase nenhum dos garotos que estudaram com Tuti estavam ali - além dele, é claro.
Decidimos ficar na parte dos fundo da casa, próximo a piscina do garoto enquanto tínhamos nossas bebidas em mãos. Como queria ficar sóbria, passei a dividir uma bebida com Thomás.
Fazia um tempo que eu não interagia corretamente com ele. Antes eu conseguia dar um pouco mais de atenção, conversar um pouco, mas não passávamos de alguns selinhos e trocas de carícias inocentes. Talvez eu tivesse me sentindo culpada pelo que havia feito com Matheus ou talvez eu estivesse cansada da carga de estudos que estava tendo.
Talvez naquele momento tivéssemos uma oportunidade de ter algum diálogo. Foi por isso que me afastei dos meus amigos, que se lamentavam pelas notas que haviam tirado - exceto Lola e Guilherme que eram dedicados demais para caírem na mesma situação que nós -, e me sentei com ele em uma das mesas dispostas ali.
A nostalgia nos atingiu em cheio e rir foi inevitável. Tinha me esquecido do quanto eu gostava do som da sua risada.
- Se estivéssemos na casa do Gui, eu com certeza estaria assustada com a coincidência. - Thomás foi quem falou primeiro, mordendo o lábio inferior para conter o sorriso largo.
- Foi proposital. - Dei de ombros.
- Claro que foi. - O garoto semicerrou os olhos na minha direção, rindo mais uma vez comigo. - Mas me diga: como você está?
- De recuperação. - Revirei os olhos, dando um gole no copo.
- Jura? - Thomás franziu o cenho e eu assenti. - Você de recuperação e o Lucas passando de primeira. Parece que o mundo virou de cabeça para baixo.
- Você nem imagina. - Arregalei os olhos mirando meus próprios pés.
O silêncio predominou e eu senti um gosto amargo na boca. Será que a distância havia nos deixado como dois desconhecidos? Não era o que eu queria, mas foi o que eu consegui com as minhas atitudes.
- E Matheus? Está... Quer dizer...
Thomás começou, mas dava para notar que não sabia como mencionar tudo aquilo.
- Quer mesmo falar sobre isso? - Ergui uma sobrancelha, e notei que ele travava uma batalha interna entre decidir se queria mesmo saber e se magoar ou se queria continuar ignorante e se jogando de cabeça nessa relação. - Não é porque decidimos que estaríamos livre para ficarmos com outras pessoas que precisamos falar sobre elas.
O garoto concordou com um murmurio e eu notei que parecia desconcertado. Me aproximei mais dele e toquei sua coxa, sentindo uma sensação esquisita e conhecida nascer em meu baixo ventre.
Aproximei os lábios de um Thomás surpreso e sussurrei ao pé da sua orelha:
- Nada que me impeça de te dizer que não falo direito com ele desde terça feira.
Me afastei o mínimo para que ele pudesse me olhar e vi na sua expressão a curiosidade.
- Por quê? - Perguntou em um sussurro.
- Porque eu sinto sua falta. Porque queria me dedicar à você. - Deslizei minha mão por seu corpo até atingir seu rosto. - Porque quero você. - Sussurrei antes de beijá-lo.
Todos os nossos beijos tinham o gosto doce do carinho e respeito, mas aquele estava longe de ser inocente. Parecia mais aquele que tivemos em seu quarto um pouco antes de viajarmos, quando decidimos que não seríamos exclusivos.
Não me arrependia da decisão tomada, mas nada me impedia de temer. E se ele encontrasse outra garota? Alguém melhor que eu? Alguém que realmente quisesse um relacionamento com ele? Mas por outro lado me parecia cedo demais para aquilo, eu não estava preparada e temia traí-lo. Não confiava no Universo e seus signos traiçoeiros.
Descolei nossos lábios e olhei em seus olhos, vendo um Thomás sedento como não havia visto antes.
- Você me enlouquece. - Confessou.
Dei uma risada baixa e selei nossos lábios enquanto acariciava seus cachos.
- Por quê? Não fiz nada. - Pressionei os lábios, contendo o sorriso que ameaçava nascer em meus lábios.
- Não fez nada? - Thomás semicerrou os olhos na minha direção e eu não consegui mais conter a risada. - Você é esperta, dona Julia, e não me engana.
- Nunca foi minha intenção te enganar. - Selei nossos lábios uma última vez e me levantei. - Será que podemos pegar mais um pouco? - Mostrei para ele o copo vazio e o vi assentir.
Passei a andar na frente, mas não o vi me acompanhar e olhei para trás, vendo o garoto concentrado em um ponto fixo, parecendo perdido em pensamentos.
- Só um minuto! - Ele pediu, com o dedo indicador erguido.
Foi aí que eu entendi que ele estava excitado e ainda não podia se levantar. Não consegui conter a gargalhada.
- Eu vou indo na frente. - Avisei.
- Vai indo na frente sim. Você não perde por esperar. - O garoto ameaçou, mas riu junto comigo.
Foi ainda rindo que eu entrei na cozinha para preparar uma nova bebida para mim. Quase não haviam pessoas ali, mas uma delas quase me fez desistir e dar meia volta. Lucas nunca perdia tempo de me provocar ou fazer alguma gracinha e, como a Julia Escorpiana, eu não sabia muito bem como lidaria com aquilo.
Continuei meu caminho até as bebidas e passei a preparar, sentindo seu olhar queimar em mim conforme se aproximava. O garoto parou ao meu lado, apoiando o cotovelo e quase se colocando em minha frente para chamar minha atenção.
- Precisa de ajuda, Lucas? - Quis saber, me virando para ele.
- Não posso te admirar enquanto faz uma bebida na minha casa? - O cheiro de álcool invadiu minhas narinas e eu quase tive um coma alcoólico só com o odor. - Quer dizer, isso sempre passa pelos meus pensamentos mais safados em muitas noites solitárias, mas nós sempre estamos despidos.
Semicerrei os olhos na sua direção e fiz a minha melhor expressão debochada.
- Você? Noites solitárias? - Voltei para a minha bebida e coloquei um pouco do gelo que havia ali. - Conta outra, Lucas. Desde que eu o conheço, nunca vi você sem uma mulher pendurada no seu pescoço.
O garoto gargalhou e eu me mantive concentrada em não errar nas doses.
- Uma delas sendo a sua melhor amigo, né Julinha? - Provocou.
Apertei com força a garrafa e vodka e fechei os olhos, pensando no quanto valia a pena estourar a cabeça daquele retardado naquela garrafa. Cheguei à conclusão de que não valia.
- Escuta Lucas, é assim que você conquista as garotas que diz estar apaixonado? - Me virei para ele mais uma vez e vi ali sua expressão divertida se tornar séria. - Falando mal das melhores amigas delas? Você ainda tem que comer muito arroz e feijão para chegar aos pés de um Matheus ou um Thomás.
Lucas ainda me encarou alguns segundos antes de sair dali a passos largos.
- Ótimo colocar o papo em dia com você! - Acenei para ele, vendo-o mostrar o dedo médio para mim.
Revirei os olhos e mexi a bebida, sentindo braços envolverem minha cintura. Me virei com um sorriso largo e entreguei a bebida nas mãos de Thomás que logo bebeu e fez uma expressão satisfeita.
- Está muito bom. Aposto que fez sozinha e sem pedir ajuda de ninguém. - Elogiou enquanto me devolvia a bebida.
- Fiz com um toque de deboche também. - Dei um gole na bebida. - Está muito boa mesmo.
- Eu nunca minto. - Deu de ombros, colando nossos corpos e selando nossos lábios. - Encontrei o Lucas no caminho e ele não parecia nada feliz. O que aconteceu?
- Coloquei ele no lugar. - Respondi, bebericando do meu copo.
- Julia... O que você disse para o Lucas? - Thomás semicerrou os olhos na minha direção.
- Nada demais. - Dei de ombros. - Ele estava dando em cima de mim pra sua informação.
O garoto não pareceu surpreso com a minha declaração. Conhecia bem demais o amigo para saber que ele ainda tentaria algo comigo. Mas também me conhecia o suficiente para saber que eu não cederei à ele - não importando qual signo eu estivesse.
- Vamos dançar um pouco. - Thomás pegou minha bebida e saiu na frente.
- Ei, volta aqui! - Corri atrás dele, abraçando-o por trás enquanto caminhávamos até onde algumas pessoas dançavam.
Passei a dançar colada nele enquanto trocávamos alguns beijos e bebíamos todo o líquido que havia em nosso copo compartilhado. Quando acabou, decidimos que era melhor que parássemos de beber e nos focássemos em apenas nos divertir com o pouco de álcool que já tínhamos no sangue.
Em algum momento daquela noite, a nossa dança passou a ficar sensual demais e eu podia sentir o volume em sua calça a cada vez que decidia fazer alguma dança mais sensual. Não sabia se era a bebida ou se eram as músicas ou se era o tempo que estávamos esperando por aquilo, mas eu sei que não passaria daquela noite. Nenhum de nós aguentava mais esperar - e por que deveríamos?
Puxei Thomás para me beijar em um canto mais afastado onde alguns casais já estavam formados e ninguém parecia interessado na vida alheia. Suas mãos passeavam por meu corpo sem pudor, procurando por fundir nossos corpos como podíamos enquanto ainda estávamos em público.
Descolei nossos lábios apenas para falar ao pé da sua orelha enquanto sentia seus beijos em meu pescoço.
- Vamos pra sua casa. - Implorei.
- Sério? - O garoto parecia surpreso com o meu pedido e se afastou para ver se eu não havia dito aquilo apenas em um momento de tesão.
- É sério. - Assenti, olhando em seus olhos verdes para que ele soubesse que eu falava a verdade.
- OK. Claro. Agora? - Ele se afastou para pegar o celular e abriu o Uber para chamar um carro.
- Sim, agora. - Assenti.
Foi a minha vez de pegar meu celular para avisar Davi que não dormiria em casa, mas estaria na minha cama antes dos nossos pais acordarem. Ele trataria de me cobrir sem problemas e avisaria aos nossos amigos que estava bem. Muito bem.
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