26. Escorpião
Apesar de ainda não estarmos devidamente descansados, eu e Davi decidimos ir à escola naquele dia. Para que não me atrasasse demais, decidi que checaria as mensagens do celular a caminho do colégio e foi o que eu fiz. Não havia nada demais, apenas reclamações sobre o cansaço dos meu amigos e sabia que aquilo se estenderia pelo resto do dia. Não haviam mensagens de Thomás e nem de Matheus, mas também não enviei uma mensagem. Eles me procurariam se sentissem minha falta e muito em breve nos veríamos pelos corredores.
Ao chegar na sala, pude ver que Thomás dormia tranquilamente e cima da mochila e o perdoei de imediato. De repente a vontade de vê-lo pareceu ser um dos principais motivos para eu ter acordado e colocado o uniforme para ir ao colégio. Me sentei em sua frente e acariciei seus cachos, sem ter a intenção de acordá-lo, apenas observar enquanto dormia. É claro que não me saí muito bem já que ele ergueu a cabeça no segundo seguinte, a expressão que carregava ainda era sonolenta, mas o sorriso que nasceu em seus lábios era genuíno.
- Bom dia, dona Julia. - Murmurou enquanto se esticava para selar nossos lábios brevemente. - Preparada pra voltar à realidade?
- Nem um pouco, mas estava com saudades de todos vocês.
O garoto assentiu uma vez e voltou a descansar a cabeça em seus braços, voltando ao seu sono profundo. Decidi que não iria atrapalhar e voltei minha atenção para o professor assim que este entrou em sala de aula. Demorou um pouco, mas meus amigos apareceram pouco depois, também cansados demais para manter qualquer diálogo.
Quando o horário para lancharmos bateu, a maioria de nós foi se arrastando até o lugar de costume. Me sentei com ao lado de um Thomás ainda sonolento, mas se esforçando para comer o salgadinho que havíamos comprado para dividir.
Ainda comentávamos sobre a viagem e minha atenção só foi desviada quando meu celular vibrou com uma mensagem de Matheus.
Matheus: Acho que fiquei de recuperação em algumas matérias. Quer passar o dia me ajudando a estudar?
Mordi o lábio inferior, imaginando que não teríamos apenas uma tarde inocente de estudos. Não depois de ter acontecido o que aconteceu na viagem. Ainda não havíamos conversado sobre e eu acreditava que aquilo jamais seria mencionado.
Eu: Na sua casa? Acha que pode ser uma boa ideia?
Procurei por seu rosto na multidão de alunos e o encontrei recostado com alguns colegas mais ao longe enquanto sorria para o celular. O celular voltou a vibrar em minhas mãos.
Matheus: Você não acha?
Pressionei os lábios para conter um sorriso e voltei a digitar uma última vez antes de guardar o celular:
Eu: Não tenho dúvidas de que será uma excelente ideia.
Avisei minha família que passaria a tarde estudando na casa de Carolina. Não sabia se eles lidariam bem com a verdade caso eu dissesse que iria para a casa de outro garoto que não fosse o Thomás que eles já começavam a se acostumar.
Não queria imaginar se aquele pensamento fazia tudo ficar mais claro quem era o meu preferido ou quem, na minha cabeça, realmente valia a pena. Se eu estava indo para a casa de outro garoto, aquilo não me fazia necessariamente digna de escolher um preferido.
Deixei que meus pensamentos sobre qualquer outro garoto que não fosse Matheus se dissipassem. Eu queria estar ali pra ele por inteira. Queria fazer o que tivesse vontade e quando tivesse vontade. E o mais importante: com quem quer que eu tivesse vontade.
A sua casa era grande, com vaga na garagem para dois carros - mas completamente vazia naquele momento -, uma casinha de cachorro ao fundo e um vira lata muito simpático nos recepcionando.
- Esse é o Taz. - Matheus acariciou o cãozinho preto que pulava em seu colo.
Eu sempre quis ter um cachorro, mas como morei a vida toda em apartamento aquele era apenas um sonho mesmo.
- Olá Taz. - Me abaixei e deixei que o cachorrinho sentisse meu cheiro para então poder acariciá-lo. - Qual a história por trás dessa fofura? - Olhei para Matheus que parecia feliz com a cena que se desenrolava ali.
- Esse garoto me seguiu até em casa um dia e não foi embora ou parou de chorar até que estivesse desse lado do portão. - Deu de ombros, como se fosse algo que ele fizesse sempre com qualquer cachorro da rua, como se qualquer pessoa fizesse o mesmo que ele.
- Que sorte de esbarrar nesse dono incrível. - Falei, me virando para o Taz e me levantando. - E a história por trás do nome? - Quis saber enquanto ele nos guiava para dentro da casa.
- Ele é um demônio. Comeu a casa toda até enlouquecer meus pais. - Nós rimos e eu podia imaginar o que ele já devia ter aprontado ali. - Mas ele era um bebê, então era natural que ainda fizesse aquele tipo de coisa. Quando cresceu, deixou de ser atentado. - Semicerrei os olhos pra ele, enquanto subíamos as escadas. - Tudo bem, talvez só um pouco. - Mais uma vez caímos na gargalhada.
Passamos por um longo corredor com algumas portas fechadas até chegar ao seu quarto. Era espaçoso - bem maior que o meu pelo menos. Ali eu podia ver que era um garoto engajado com causas sociais, com algumas fotos em trabalhos voluntários e até lembranças de manifestações como adesivos e bandeiras esquecidos.
- Está um pouco bagunçado. Não sabia que você realmente aceitaria a minha proposta de vir aqui. - Confessou.
- Era para eu não ter aceitado? - Me virei para ele, as sobrancelhas erguidas.
Talvez eu tivesse sido muito atirada. Será que ele pensaria mal de mim por ter sido uma mulher livre e aceitado vir à sua casa de primeira?
- Sim. Quer dizer, não... Argh! - Com um murmurio de frustração, o garoto abaixou a cabeça e respirou fundo antes de voltar a se dirigir à mim olhando na minha direção. - Eu queria muito que você aceitasse, mas as pessoas gostam de fazer joguinhos hoje em dia. Por isso achei que não aceitaria.
- Achou que eu fosse igual aos outros? - Mordi o lábio inferior para conter a risada, gostando de encurralá-lo daquela forma.
- Esse mundo é todo errado e me obrigou a achar esse tipo de coisa. Será que poderia desculpar esse pobre garoto que ainda está descobrindo esse mundão?
O garoto tinha olhos brilhantes e sorriso esperto. Um toque inocente e sedutor que foi o bastante para que eu me rendesse.
Me aproximei os passos que nos separavam e beijei seus lábios, entrelaçando meus braços em seu pescoço enquanto sentia ele tocar minha cintura em uma carícia despretensiosa.
Não imaginava que nossa relação avançaria de tal modo que chegaria àquele ponto. Não havia chego tão perto de transar com qualquer outro garoto com tamanha rapidez como naquele momento. Mas eu não estava com medo.
Quando aceitei ir à casa dele, não imaginei que seria daquele jeito, mas a vida nunca é do modo como planejamos e tudo bem. Eu gostava do rumo que aqueles supostos estudos tomavam.
Eu tomei a iniciativa de puxá-lo até a cama enquanto o beijava e me sentei assim que senti a superfície bater em minha perna. O garoto continuou de pé depois de descolar nossos lábios e eu vi o fogo da luxúria queimando em seus olhos.
Em um ímpeto de coragem eu abri sua calça, os olhos ainda presos nos seus enquanto tratava de tirar a peça. Seu membro já apresentava sinal de vida e eu não podia deixar de sorrir vitoriosa ao saber que causava aquilo nele.
O garoto tirou a sua própria blusa e se aproximou de mim, fazendo com que ambos deitássemos na cama. Seus lábios tocaram os meus de imediato e mais uma vez eu estava envolvida naquele momento íntimo, com Matheus seminu sobre mim enquanto eu estava completamente vestida.
Decidi mudar isso e descolei meus lábios, tirando minha blusa e deixando de lado. As mãos hábeis do garoto passaram a tirar minha calça do uniforme, deixando-nos empatados. Seus lábios correram por meus pescoço enquanto eu tratava de tocá-lo, fazendo movimento circulares para cima e para baixo. Os beijos em meu pescoço se tornaram grunhidos e eu sentia ele ficar cada vez mais duro ao meu toque.
Sem aguentar por muito tempo, decidi terminar de tirar suas roupas e percebi ele se levantar, caçando algo em uma cômoda ao longe, enquanto se livrava definitivamente da cueca. Ao retornar devidamente vestido com a camisinha, não pude deixar de abrir um enorme sorriso.
- Que menino prevenido. - Abri um sorriso malicioso e vi suas bochechas corarem.
- Tenho que cuidar de nós dois. - Piscou ao fim da frase.
Sem demora, Matheus terminou de me despir e tocou minha intimidade, vendo o quanto eu estava pronta para recebê-lo. O garoto de encaixou entre minhas pernas e pouco a pouco foi se fundindo a mim.
Fazia tempo que eu não ficava tão íntima de alguém como naquele momento e eu até havia me esquecido da sensação. Naquele momento não havia outro lugar que eu quisesse estar além dos braços de Matheus Ribeiro.
O único som que preenchia aquele quarto era o das nossas respirações pesadas, dos nossos corpos se chocando e nossos gemidos de prazer. Vez ou outra nossos lábios se encontravam e encontravam outras partes do nosso corpo em uma carícia gostosa que completava todo aquele cenário.
Não demorou para que chegássemos ao nosso ápice, admirando o garoto por não ter descansado até que eu estivesse devidamente satisfeita.
Ele se desfez do preservativo e voltou a deitar comigo embaixo das cobertas, trazendo consigo o celular. Não queria ficar bisbilhotando, mas foi inevitável não querer ver o que ele fazia ali. O que poderia ser tão importante que não podia esperar para que eu fosse embora ou no mínimo que se passasse pelo menos meia hora desde o fim da nossa transa?
- Vai querer o que para comer? - Quis saber enquanto continuava a digitar com o indicador, como a maioria das mães fazia. - Estou fazendo um pedido no Ragazzo.
Ah, então era só isso. Talvez eu estivesse ficando muito paranoica.
- Eu vou querer duas de queijo e duas de marguerita. - Decidi, me levantando e passando a me vestir.
Eu e Matheus passamos o resto da tarde entre assistir Netflix e trocar alguns beijos. Não voltamos a nos envolver sexualmente para o meu desapontamento. Só não entendia porque estava com uma necessidade tão grande de transar tantas vezes naquele dia, mas no dia seguinte os meus amigos fizeram questão de me lembrar.
- Soube que foi na casa de Matheus ontem. - Carol carregava um sorriso malicioso enquanto esperávamos na fila para comprar algo para comer.
Me virei para ela com os olhos arregalados. Olhei para os lados e não parecia que alguém estava interessado com nossa conversa e eu agradeci por aquilo.
- Como? - Sentia minhas bochechas corando pouco a pouco.
- Só ligar os pontos, querida Julia: Davi é amigo de Matheus e, por mais que você quisesse esconder essa informação dele, ele jamais faria isso com o amigo. - Foi Gui quem tomou as rédeas da conversa.
Procurei por meu irmão e Lola entre os alunos, e os encontrei sentado na mesa de sempre com Thomás em seu encalço. Ainda não havia encontrado com Matheus e não sabia se ele havia vindo à escola naquele dia já que não havia falado com ele desde que saíra da sua casa.
Será que havia algo de errado? Eu havia feito algo de errado?
- E nos lembramos de algo importante: a senhorita está no signo mais safado do zodíaco. - Carol parecia animada com a descoberta. - Então pode desembuchar.
Então agora tudo fazia sentido: as paranoias e a vontade de transar o tempo todo, a sensualidade e luxúria que antes não tivera.
Dei um riso baixo e mordi o lábio inferior, desviando o olhar para meus próprios pés.
- Você... Ah Julia, sua piranha safada! - Carol me abraçou com força enquanto eu e Gui caíamos na gargalhada.
- Cala a boca! - Tapei seus lábios, impedindo que ela dissesse mais alguma coisa.
- Eu vivi para ver Julia se entregar tão rápido assim. Estou orgulhoso. - Gui passou a mão em meus cabelos, bagunçando-o.
- Não achei que pudesse melhorar, mas eu tenho que agradecer ao Universo por nos dar o melhor experimento das nossas vidas, por poder assistir de perto. A cada signo eu fico mais animada para saber o que vai acontecer. - Minha melhor amiga quicava no lugar e eu só conseguia revirar os olhos.
Ela tinha razão, eu estava amando ser a Julia Escorpiana e talvez a Julia Virginiana não se orgulhasse da minha diversão, mas eu não me importava com a minha versão certinha. Naquele momento eu não me arrependia de nada. Eu continuaria vivendo e criando memórias inesquecíveis.
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