22. Leão
No dia seguinte, eu acordei logo enviando um áudio aos meus amigos contando tudo o que havia se passado quando eles não estavam por perto. Finalizei contando sobre o beijo com Matheus.
Carol: Não acredito! Deu?
Gui: Carolina!
Carol: O quê? Você tá interessado também que eu sei.
Eu: Não, Carol. Não rolou nada mais que um beijo.
Carol: Acho que foi diferente com o Gui e a Tati.
Gui: Faz um anúncio, Carolina.
Carol: Com prazer.
Eu só conseguia rir das mensagens e, quando estava prestes a responder, alguém bateu à minha porta.
- Oi. - Um Davi tímido entrou pela minha porta.
Eu me sentei, dando espaço para ele se sentar, o que fez de bom grado.
- Como foi ontem? Soube que estava na festa, mas não a vi.
Pressionei os lábios e deixei o celular de lado, erguendo uma sobrancelha na sua direção.
- Soube que eu estava com Matheus?
Davi desviou o olhar para a colcha da cama, contornando as linhas da costura.
- Ele me contou que rolou um drama entre você e o Thomás. - Meu irmão me olhou por sob os cílios. - Queria saber se está tudo bem.
Dei um meio sorriso e me censurei por chegar a achar que ele brigaria comigo por estar com seu amigo, como ele já havia feito.
- Está tudo bem. Eu acho. - Dei de ombros. - São dois pesos, duas medidas. Eu vejo Thomás chateado e isso me afeta, mas chego em casa e dou um beijo em Matheus.
- Sem detalhes! - Meu irmão balançou as mãos em frente ao seu rosto.
- Eu não ia dizer nada. - Ergui as mãos espalmadas na altura dos ombros, rindo do seu jeito atrapalhado. - Não aconteceu mais do que isso.
Com um longo suspiro e depois de me olhar por um momento, ele se debruçou na cama e me abraçou.
- Só não o deixe machucá-la. - Meu irmão se desvencilhou do abraço mais rápido do que eu gostaria, se levantou e colocou as mãos na cintura, me olhando. - Lembre-o sempre que você tem dois irmãos.
Revirei os olhos e ri da sua proteção com a única irmã.
- Obrigada. Vou alertá-lo sempre de que sou uma mulher forte e que posso ser uma Julia Escorpiana vingativa. - Disse com um sorriso brincalhão.
- Ah, é claro. - Davi parou por um momento, o cenho franzido e então eu entendi o que ele tanto pensava. - Acha que ele vai estragar tudo em duas semanas?
Dei de ombros, rindo mais uma vez, agora do seu espanto.
- Não duvido de nada que possa vir de um garoto da nossa idade.
Meu irmão meneou a cabeça e se deu por vencido, saindo do meu quarto em seguida.
Eu passei a maior parte do final de semana no celular, vendo algumas atualizações sobre a festa, mas a maior parte do tempo eu estava interessada em trocar mensagens com Matheus. Descobri coisas como seu signo, mas não entendia muito aquário. Eram uma mescla de piscianos com sagitarianos? Eu tiraria minha dúvida muito em breve testando os três signos.
Mas a segunda feira não tardou a chegar e, com ela, mais um dia de aula e o meu último dia como uma leonina. Estava especialmente ansiosa parta chegar àquele dia e sabia que aquilo tinham nomes, sobrenomes e estariam ali.
É claro que eu tinha esperanças de ver Matheus antes de entrar para a aula, mas com Thomás presente, achei que deveria tomar cuidado com seus sentimentos - mesmo que ele não o tivesse feito por mim. Por isso que eu entrei na sala e me sentei, continuando a trocar mensagens com Matheus que parecia atrasado - para o meu alívio. Não sabia que loucura ele poderia fazer ou talvez eu estivesse com expetativas demais para algo que talvez nem chegasse a acontecer.
De qualquer modo, as primeiras aulas passaram rapidamente, mas não pude evitar o drama que acontecia no canto da sala. Thomás tinha os braços cruzados, estava sentado em sua mesa enquanto Lucas e seus amigos o rodeavam. De onde eu estava, podia ouvir Lucas falar com clareza.
- Não fica assim. Eu tentei te avisar como ela era. Mulheres são assim mesmo e depois reclamam que nós é que somos os canalhas. - Lucas deu dois tapas no ombro do amigo enquanto eu observava tudo com os olhos semicerrados e com as mãos na cintura.
- Ah, mas ele não está mesmo falando de você! - Carolina se levantou e eu impedi que ela continuasse seu caminho até lá.
- Vão indo na frente. Eu sei me virar sozinha. - Pedi.
Em um primeiro momento houve resistência, mas eles se deram por vencidos e sumiram atrás de mim.
Respirei fundo e caminhei até lá, vendo alguns olhares surpresos direcionados à mim. Toquei o ombro de Lucas o vi dar espaço para que eu me postasse em frente ao Thomás.
- Será que podemos conversar? - Questionei, olhando para os outros meninos e completando: - A sós.
- Tudo o que tem para dizer à ele, pode dizer com a nossa presença. - Lucas interviu, envolvendo os ombros do amigo mais uma vez.
Ergui as sobrancelhas e cruzei os braços, me virando na sua direção e medindo-o de cima à baixo.
- Escuta, Lucas, estou feliz que sejam amigos de novo, que você queira reintegrar o Thomás no clube dos canalhas, mas será que você pode dar um tempo? Esse não é o momento de pagar de amigão, OK? Você tá vendo algum amigo meu aqui? - Apontei à minha volta. - Sabe por quê? Porque esse assunto só cabe à mim e ao Thomás. Então façam o favor e nos deem licença. - Apontei para a porta da sala.
Lucas trocou olhares com Thomás por um momento e então saíram, um por por um, deixando que eu pudesse ter um momento a sós com o garoto. Não podia negar que o gostinho de vitória me deixava cada vez mais confiante.
Me recostei na mesa de frente para Thomás e vi ele mirar seus pés, os braços ainda cruzados em um sinal de que estava recluso a tudo o que pudesse vir de mim.
- Foi tudo uma grande confusão. - Comecei o que acreditava que seria um monólogo. - Estou passando por grandes problemas, maiores do que você pode imaginar e os quais eu não posso partilhar sobre. Só queria te dizer que não conversei com você na semana passada por muitos motivos e o maior deles é porque eu não iria pensar direito, e provavelmente me arrependeria da decisão que fosse tomar. Mas te garanto que hoje sou uma menina diferente e estou disposta a ouvir o que você tem a dizer.
O garoto permaneceu mirando o chão e só ergueu o olhar a final da minha frase. Ele mordia o lábio inferior, pensando sobre tudo o que eu havia dito e sobre o que queria dizer. Foi depois de assentir algumas vezes que ele resolveu falar:
- Eu sei que você deve ter pensado em mil e uma coisas quando viu aquela garota no meu celular, mas depois que você deu a entender que nosso relacionamento era aberto, eu não quis ser passado pra trás e não quis me magoar. Por coincidência eu conheci essa garota, mas por algum motivo não era a mesma coisa. - Ele deu um longo suspiro e umedeceu os lábios enquanto descia da mesa apenas para se recostar dela, as mãos apoiadas nas laterais. - Não tinha ideia de que você estava apenas comigo e pode ter certeza que eu teria feito diferente se soubesse que não tinha ninguém além de mim.
Não era da boca pra fora. Era apenas uma Julia diferente, em um signo diferente, tomando decisões distintas. Não tinha como ele imaginar, apenas achar que eu era uma completa maluca.
- É complicado. - Murmurei, pressionando meus lábios.
- Foi complicado ver que eu havia perdido você para outro quando a vi na festa com o Matheus. - Ele cuspiu o nome do garoto e eu contive uma risada. - Eu sei que deveria ter ido atrás de você e até achei que você viria atrás de mim, mas descobri que você é orgulhosa.
- As provas também não facilitaram muito. - Fiz uma careta.
- Com certeza. - Ele riu brevemente e eu me senti mais leve. - De qualquer forma, queria pedir desculpas por qualquer dor que eu tenha causado em você, nunca foi minha intenção.
- Tudo bem. - Umedeci os lábios, dando-lhe um meio sorriso.
Nós ficamos nos olhando por um momento e eu fiquei me perguntando se ele esperava que eu fosse pedir desculpas, porque eu não estava tentada a buscar um motivo pelo qual ele achava que eu tinha que me desculpar.
- Pode me dar um abraço? - Perguntou.
Sem pensar muito sobre, assenti e me aproximei dele, chocando meu corpo contra o seu e envolvendo sua cintura enquanto seus braços se ocupavam de envolver meu pescoço. Ficamos alguns segundos naquele posição, algumas carícias sendo trocadas e um beijo dado no alto da minha cabeça. Permiti erguer meu olhar e ficar olhando-o por baixo. Ele devia ser, pelo menos, vinte centímetros mais alto que eu, o que era o suficiente para que pudéssemos nos fitar pelo que parecia ser uma eternidade.
- Volta pra mim. - Sussurrou tão baixo que eu duvidava que alguém fora da nossa bolha pudesse ouvir. - Por favor.
Dei um meio sorriso e entrelacei meus dedos no seu cabelo, puxando-o para um beijo.
Eu não imaginava que sentia tanta falta daquele toque até perdê-lo ou até tê-lo de volta. Sabia que a recíproca era verdade, já que ele me beijava com saudade, me abraçando para si como se tivesse medo de que aquilo fosse um sonho do qual ele fosse acordar.
Não sabia onde aquilo daria, nem se poderia ser um erro ter tomado aquela decisão de tê-lo de volta em minha vida. Mas ainda não sabia o que eu faria com Matheus. Foi por isso que eu deixei o problema para a Julia Libriana e permiti que a Julia Leonina curtisse mais um pouco o beijo de um Thomás desejoso.
"Quero que você faça me sentir como se eu fosse a única garota do mundo"
xx
N/A: E agora? Temos companhia a mais... Acham que isso vai dar um problema ou eles vão saber lidar com tudo?
Estão gostando?
xx
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