14. Gêmeos
Depois da aula no dia seguinte, fomos direto para a casa do Gui. Não esperava que o meu melhor amigo disponibilizasse alguma bebida alcoólica para que nos divertíssemos depois da troca de ovos. Foi uma surpresa ao chegarmos e ele sacar do armário uma vodka.
- Não tinha algo melhor? - Carol fez uma careta.
- Para de reclamar, Carolina. - Gui revirou os olhos e levou consigo energético, suco e água de coco para acompanhar com o destilado.
Depois que nos sentamos na área externa de sua casa em uma roda, iniciamos a troca de ovos. Mesmo que fosse a nossa tradição, inserimos Davi e Tom em nossa roda sem problemas.
- Muito bem. Quem começa? - Gui quis saber.
- Eu! - Levantei o braço. Não foi surpresa para os meus amigos, na verdade acreditava que eles até esperavam que eu me prontificasse. - Meu amigo secreto é uma pessoa muito malcriada.
- É o Guilherme. - Carol apontou para o amigo.
- O que te faz pensar que não é você, Carolina? - Gui colocou as mãos na cintura. - Você é muito santa mesmo.
- Ai gente, para de brigar. - Grunhi e revirei os olhos. - É uma pessoa que merece ser devidamente amada e respeitada, e que eu espero que nunca mais duvide da minha lealdade. Ah! E todo mundo acha que ela é parente da Taís Araújo.
- Sou eu! - Carol comemorou e me abraçou, enquanto eu lhe dava o ovo. - Não vou duvidar nem se você estiver em um signo desleal. - Ela sussurrou antes de se afastar e piscou pra mim.
- As pessoas também acham que eu sou parente da Sabrina Sato. - Lola se pronunciou.
- Não, ninguém acha isso. - Carol cortou a garota, fazendo-nos rir e Lola lhe mostrar a língua.
A dinâmica se passou com leveza. Carol tirou Lola, que tirou Guilherme, que tirou a mim. Não demorou para estarmos todos nos empanturrando de chocolate e bebida.
- Vodka com água de coco? - Tom fez uma careta ao beber do meu copo.
- É, Thomás. - Carol nos interrompeu. - Você não sabia que a Julia adora cantores como Wesley Safadão?
- Carolina, se você vai me queimar para o Tom então é melhor você aprender que essa música é do Naldo.
- Toma essa! - Guilherme gritou do outro lado da roda, fazendo todos rir e a garota fazer uma careta pra nós. - Vou pegar mais suco. - O garoto se levantou e Tom foi atrás dele, murmurando que precisava usar o banheiro.
- O Gui parece mais leve. - Lola comentou, bebendo um pouco do seu copo.
- Com certeza deve ser por causa da Tati. - Soltei sem querer e, quando me toquei, arregalei os olhos para as minhas amigas.
- Oh-oh. - Ouvi meu irmão dizer antes de Carol me encher de perguntas.
- Como assim? O que tem a Tati? A minha Tati?
- Tudo bem, você tem que me prometer que não vai falar nada. - Olhei para trás, procurando pela presença de Gui e o achei ocupado demais para voltar logo.
- Fala logo. - Minha amiga me apressou.
Respirei fundo de olhos fechados e comecei a explicar rápido antes que meu amigo aparecesse.
- No dia da sua festa, eu estava procurando um lugar pra dormir e, sem querer, encontrei ele e a Tati na cama. Sem roupas. Lençol bagunçado. - Pressionei os lábios.
- Puta que o pariu, a Tati e o Guilherme estão transando. - A garota colocou a mão na testa.
- Mas é só isso o que eu sei. Não sei se eles estão namorando, não sei se foi coisa de uma noite, se ele gosta dela, nada! - Ao olhar mais uma vez na direção de Guilherme, vi ele e Tom se aproximando. - Fica quieta agora. - Sussurrei com urgência.
- Não acredito que você me soltou isso agora, Julia. - Ela resmungou ainda antes deles terminarem de se aproximar.
- O clima pesou. - Gui pareceu perceber e olhou para cada um de nós. - O que aconteceu? Alguém peidou?
Dei uma risada nervosa, acompanhada de Lola e Davi.
- Não é nada. - Garanti ao Gui.
Gui deu de ombros e voltou a mexer no celular, procurando a próxima música para nos entreter.
- Por que você nunca fala sobre sua vida amorosa conosco, Guilherme? - Carol interrompeu o silêncio e conseguiu deixar tudo ainda mais tenso. Devo ter parado de respirar naquele momento. - Quer dizer, todos sabem que meu romance com Lucas foi unilateral, que Lola está namorando Davi, e que Julia está pegando Thomás, mas e você?
- Talvez eu não tenha uma vida amorosa. - Gui deu de ombros. - Ou não queira compartilhar dela. Por que isso agora?
Carol deu de ombros.
- Tati disse que estava procurando por um novo amor e achei que você pudesse estar interessado.
- Ela diss... - Gui semicerrou os olhos na direção da morena. - Como você descobriu?
Ele era esperto demais para cair em qualquer plano, por melhor arquitetado que fosse.
- OK, acho que é a nossa deixa. - Fui me levantando, mas Carol agarrou meu braço.
- Você fica. - Seu olhar voltou para Gui depois que ela continuou. - Eu vi vocês na cama no meu aniversário. - Agradeci por ela ter ocultado a parte de que eu havia aberto minha boca grande demais e havia criado aquela situação.
- E o que você quer ouvir, Carolina? - Gui entrelaçou os dedos e curvou seu corpo para frente.
- Vocês estão juntos?
- Não. Porque ela não quer assumir um relacionamento. - O meu amigo confessou e eu senti mágoa no seu tom de voz.
- Então você está apaixonado? - Me peguei perguntando, mordendo a língua em seguida.
- Acho que sim. - Gui passou a mão no cabelo afro. - Preciso de um cigarro.
Eu, Carolina e Heloísa reviramos os olhos ao mesmo tempo.
Era sempre assim com Guilherme.
Ele ficava nervoso? Precisava de um cigarro.
- Você precisa parar com esse vício. - Repreendi meu amigo.
- Você é quem precisa ver a terapia que é isso. - Meu amigo ergueu o canudo de câncer na minha direção.
- Muito obrigada. - Ergui a mão na sua direção. - Vamos pro seu quarto, já está ficando frio aqui fora e eu não quero ficar cheirando à brasa. - Torci o nariz, me levantando com os outros.
- Então acabou o questionário sobre a Tati? - O garoto gritou quando estávamos prontos pra entrar em sua casa sem ele.
- Por enquanto! - Eu e Carol gritamos de volta em uníssono, fazendo-o rir e negar com a cabeça.
Nós decidimos que veríamos um filme. Daria tempo o suficiente de Guilherme fumar o seu cigarro e nós termos escolhido. Decidimos pelo gênero de terror, o único que Lola conseguia assistir apenas quando estava em conjunto.
- Davi vai tirar proveito dessa oportunidade. - Provoquei, sem papas na língua.
- Por que você não cala a boca, minha irmã? - Davi arregalou os olhos para mim, sentado no enorme pufe que tinha no canto perto da janela.
Lola não deixou de rir da reação dele, deitada confortavelmente em seus braços.
Tom não se importou em se sentar na cama do meu amigo, as costas estavam recostadas na cabeceira enquanto eu e Carol estávamos na ponta da cama, perto da televisão.
- Quer que eu deixe a cama pra vocês? - Carol sussurrou.
Arregalei os olhos pra ela e dei um sorriso malicioso.
- Carolina! - Dei um tapa em sua coxa.
- O que foi? - A garota se fez de desentendida, mas tinha um sorriso esperto pintado nos lábios. - Só fiz uma pergunta inocente.
- Eu não vou fazer nada aqui na casa do Guilherme, pelo amor de Deus né. - Sussurrei de volta.
- Ah, nunca se sabe. Um carinho às vezes cai bem. - Deu de ombros e se levantou, sabendo que levaria um tapa se estivesse por perto quando finalizasse a sentença.
- Depravada! - Gargalhei e me aproximei de Thomás.
- Sobre o que estavam falando? - O garoto me puxou para si quando eu alojei meu corpo entre suas pernas.
- Melhor você nem saber. - Continuei olhando para o filme pausado, sentindo seus braços me rodearam e ele beijar meu rosto.
Deitei a cabeça em seu ombro, o gesto sendo o bastante pra olhá-lo. Dei um meio sorriso quando seu olhar encontrou o meu, as covinhas em seu rosto aparecendo quando ele retribuiu o sorriso.
- Sua sorte é que eu não sou curioso. - Piscou pra mim.
- Não pareceu no dia em que nos conhecemos melhor. Só faltou pedir o número do meu RG. - Acariciei seus cabelos e vi sua expressão surpresa.
- Ah, e isso foi um crime? Eu deveria ter passado a noite toda só beijando você ao invés de realmente querer te conhecer? - Ergueu as sobrancelhas, um sorriso ainda pintando seu rosto.
- Eu não iria reclamar. - Murmurei.
Sem me preocupar com a presença das minhas amigas ou do meu irmão, colei meus lábios aos de Thomás e aprofundei nosso beijo. Eu poderia culpar a bebida pelo nosso estado de exibição, mas eram só os sentimentos que já não cabiam dentro do peito e precisavam ser expressados.
Um sentimento que eu continuaria negando até quando pudesse.
- Olha a putaria! - Guilherme entrou no quarto e eu parti nosso beijo com um riso baixo. Pude ver ele entregando pipoca para Lola e Davi, Carol e, por fim, para mim e Thomás. Ele ficou com a sua, assim como tinha feito uma apenas para Carol.
Thomás ergueu as mãos, mostrando que era apenas um beijo inocente.
- Não quero ninguém de safadeza na minha cama.
Gui sentou ao nosso lado e Carol tomou um lugar aos nossos pés, deitada de frente para nós.
- Para de ser estraga prazeres, Guilherme. - Carol saiu em minha defesa.
- Tudo bem, Carol. Se lembra que aqui é o antro de amor dele e da Tati? Ninguém pode manchar isso. - Provoquei, vendo meu amigo revirar os olhos.
- Eu preciso beber mais se for aguentar vocês falando dessa menina. - Ele bebeu de seu copo antes de apoiar ao seu lado.
- Até a sua pipoca cheira cigarro. - Carol reclamou, fazendo careta ao cheirar a comida.
- Ah, claro! Vocês também reclamam do meu cigarro.
- Não sei como nicotina te acalma. Se fosse maconha eu até entenderia. - Comentei, comendo da minha pipoca.
- Aí é que ele federia tudo de verdade. - Carol interviu, se sentando na cama.
- Nem pense em fumar essa erva fedida. - Apontei meu dedo indicador para o meu amigo.
- Quem olha suas redes sociais, não imagina que você acha maconha uma erva fedida. - Davi foi quem se pronunciou.
- Eu sou a favor da legalização, mas isso não quer dizer que eu não ache que é uma erva fedida. As pessoas não queimando a planta perto de mim, fica tudo bem. - Sorri para ele e voltei meu olhar para Thomás. - Você não fuma essa planta fedida, certo?
O garoto gargalhou e eu sorri junto com ele por instinto.
- Não, Ju. Mas caso eu venha a fumar, farei isso longe de você.
- Aprendeu direitinho. - Dei dois tapas no seu braço e fui sussurrar em sua orelha. - Mas talvez eu também queira experimentar, então pode me chamar.
O garoto riu e me abraçou mais fortemente.
- Você é muito doida. - Ele selou nossos lábios e eu pude ouvir alguém dar início no filme, me fazendo virar para a televisão, ainda podendo sentir seus lábios roçarem minha orelha. - Mas eu adoro. - O garoto sussurrou, por fim.
Não sabia o desenrolar daquela situação, não tinha certeza do que eu queria, nem mesmo do que ele queria. Naquele momento eu decidi aproveitar, mas não sabia se deveria deixar meu coração aberto e correr o risco de me machucar, ou fechar e perder uma oportunidade de ouro.
Com um suspiro, deitei a cabeça em seu ombro e prestei a atenção no filme. Ou pelo menos tentei, já que Thomás era uma grande distração para o corpo e para a mente.
Sabia que não poderíamos passar mais do que alguns beijos e carícias inocentes e não sabia se era o signo ou simplesmente a nossa ligação cada vez mais forte, mas estava cada vez mais difícil não me entregar para o pisciano. Só restava saber se ele também sentia o mesmo e eu só descobriria se tomasse a iniciativa, já que o garoto era respeitoso demais para tentar algo a mais comigo e, se eu continuasse a esperar, talvez nunca soubesse.
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