77 - The Blame Is On Me.
Dentro do bosque frio e escuro, Skye tropeçava nas pedras e nos galhos secos, enquanto segurava firmemente a mão de James, que já estava irritado. Ele não achava que o lago seria tão distante.
"Eu só preciso empurrar ela na parte descongelada do lado e deixar a natureza fazer o resto." Foi o que ele pensou, após assistir um documentário sobre a vida animal onde filhotes recém nascidos morriam afogados no rio, quando a mãe não os observava.
Parecia fácil.
O luar distante banhava a copa das arvores ressequidas. A neve branca cobria o chão, como um tapete alvo e frio, sobre o qual as crianças deixavam suas pegadas enquanto se aprofundavam no interior do bosque - pegas essas, que Robert e James seguiam, muitos metros à distância.
- Você tem certeza que eles seguiram essa direção? - Robert arfava, apontando a lanterna em direções divergentes. Suas mãos descobertas estava trêmulas.
- Sim, mas as pegadas vão desaparecer em pouco tempo, está começando a cair mais neve. - Harry mantinha os olhos atentos no chão, e os ouvidos em alerta.
Robert não pôde evitar um breve suspiro, admirado. Seu olhar caiu sobre o pequeno rosto preocupado do filho, e ele pode notar algo que, em todo esses anos, nunca havia percebido, algo que o deixou fascinado.
Um pequeno sorriso escapou de seus lábios, chamando a atenção do garoto, que franze o cenho ao encará-lo.
- O que foi? - O vento frio soprava, bagunçando seus cachos.
- Eu nunca tinha notado isso... - Robert agora mantinha o olhar no chão, chutando folhas secas que apareciam em seu caminho.
Um minuto de silêncio.
- Você parece com a sua mãe. - Os olhos do mais velho marejavam. - É inteligente demais para a sua idade... fico feliz em saber que você puxou mais à ela do que à mim.
Ele funga, passando a mão gelada sobre o rosto, e em seguida desviando o olhar para a direção contrária a que Harry estava.
Antes que o garoto possa responder, um barulho chama a atenção dos dois.
Não muito distante de onde estavam, um galho seco parecia ter sido partido, fazendo o barulho ecoar.
Robert aponta a lanterna naquela direção, fazendo com que duas pequenas silhuetas sejam avistadas.
- James?! - O homem chama, apertando os olhos para enxergar melhor.
Ao perceber que haviam sido avistados, James segura Skye, colocando-a nos braços e correndo, seguindo a pequena trilha que havia encontrado alguns minutos antes.
A luz da lanterna que carregava estava fraca, mal iluminando alguns metros à frente, porém ele continuava correndo com a menina nos braços, desviando das árvores ao redor e dos troncos caídos.
Com lágrimas nos olhos, Skye grita ao perceber que seu colhinho de pelúcia havia escorregado por entre suas mãos e sido deixado para trás.
- Bunny! - Ela chorava, com os dedos minúsculos apontados na direção do bichinho. - Hazz, o Bunny caiu!
Discretamente, James sorriu ao pensar na inocência da criança que ainda achava que ele era mesmo Harry. Porém, ignorando as súplicas para parar, ele apenas continuou correndo, sendo perseguido por seu pai e seu irmão.
Robert se esforçava, porém seus músculos não eram tão resistentes quanto os de uma criança de 12 anos, e o corpo coberto apenas pela camiseta não o aquecia, fazendo com que sua respiração fique cada vez mais pesada, o que torna difícil correr. Por alguns segundos sua visão torna-se completamente desfocada, fazendo-o tropeçar em uma pedra e cair, alguns passos atrás de Harry, que, mesmo temendo perder James de vista, volta para ajudar o pai.
- Você está bem? - o menino ajoelha-se ao seu lado.
- Estou - Ele arfa, grunhindo de dor ao tentar mover o pé. - Acho que torceu, mas não se preocupe, vá pegá-lo.
O mais velho falava com dificuldade, sentindo seu corpo cada vez mais frio e pesado. Ele toma a lanterna que havia deixado cair e entrega nas mãos de Harry, segurando firmemente seus ombros e o encarando, enquanto dizia:
- Salve nossa Skye, eu confio em você.
Com um sorriso fraco, ele deixa que Harry parta, correndo pela vida daquela que deveria ser protegida, não importa o quê.
O menino movia-se o mais rápido possível, sem se importar com os galhos secos das arvores que, vez ou outra, atingiam seu rosto deixando pequenos cortes. Não era o momento certo para se incomodar com a própria dor, ou com as pernas quase dormentes. Ele apenas continuava correndo.
- J-James! - Ele grita, quase sem fôlego. - Pare! - Sua respiração era pesada e forçada.
- Volte casa, Harry! - Ao longe, o eco trazia a voz do irmão e o choro baixo de Skye.
Ao perceber que quem a carregava não era, de fato, Harry, a menina torna-se inquieta, tantando se desvencilhar dos braços do mais velho ela tenta escorregar.
- Fique quieta! - James esbraveja, segurando-a mais firme.
- Eu quero ir para casa! - Skye se debatia, empurrando o rosto de James e chutando seu tronco. - Me solta!
Cogitando qual seria a maneira mais prática de agir neste momento, James olha para a frente conseguindo, finalmente, enxergar o tão desejado lago.
Um sorriso obscuro surge em seus lábios.
- Isso! - Ele gargalha.
Ele diminui o passo ao chegar em uma parte onde a neve estava fina, precisando andar devagar para não cair. Vendo a oportunidade perfeita, Skye morde seu ombro, fazendo-o soltá-la bruscamente e gritar de dor. A menina escorregada, deslizando pelo gelo em direção à quina de uma pedra, na qual sua cabeça bate, fazendo o líquido carmesim escorrer e manchara neve branca.
Harry avança sobre James, fazendo com, devido ao peso dos corpos combinados, os dois caiam, rolando sobre o chão gelado
Os garotos iniciam uma luta corporal. Rolando e ficando sobre Harry, encaixando suas pernas ao lado do corpo do irmão, James desfere socos do rosto do outro, que desvia algumas vezes, tentando imobilizá-lo.
- James! - Harry grita, ao sentir o rosti ser atingido por um golpe. - Para! - Ele segura as mãos do irmãos, prendendo seus pulsos.
Jogando James para o lado, Harry consegue ficar por cima, pressionando as mãos do irmão no chão, vendo-o se debater cada vez mais bruscamente.
- Sai! - James sacode a cabeça, batendo com os pés no chão, chutando a neve, uma vez que suas pernas não poderiam se mexer, por causa do peso de Harry.
- Você não precisa machucar ninguém, James, por que está fazendo isso?! - as lágrimas já molhavam seu rosto, fazendo o caminho sobre suas bochechas e pingando sobreo irmão, logo a baixo.
- A culpa é toda sua, Harry! Porque você não pôde me escolher?!
O local é preenchido por luzes e vozes, quando um grupo de policiais surge. Eles tiram Harry de cima de James e uma equipe de para-médicos vai até Skye, colocando-a em uma maca.
Para Harry, tudo parecia um sonho. Um sonho profundo e assustador, do qual ele queria desesperadamente acordar. Mas todas aquelas pessoas fardadas, as luzes, o som das sirenes ao longe, o sangue sobre o chão e a dor de ver seu irmão se debatar enquanto tentava ser acalmado por um policial - tudo isso - denunciava que nada foi um sonho. Absolutamente tudo era real. Uma realidade cruel.
Então, ele apenas fechou os olhos, enquanto sentia os sons cada vez mais abafados e distantes.
(...)
- Harry, você não precisa fazer isso. - A luz do Sol invadia a sala, refletindo nas cortinas alvas e iluminando o interior.
Harry estava sentado no sofá. Ele tinha um curativo ao lado da boca e uma mancha roxa abaixo do olho esquerdo.
Robert estava sendo ao seu lado, com o pé engessado pousado na mesinha de centro. Roselee se encontrava de pé, observando.
- Você não deve pagar pelo erro do James. Sabe disso, não é?
- Como eu poderia... - a voz do garoto saiu rouca e baixa. Há muitos dias ele não falava sequer uma palavra.
Ele pigarreia, antes de continuar.
- Como eu poderia continuar vivendo aqui, com vocês? Por causa do meu irmão Skye está no hospital.
- Mas você não fez nada de errado! - Robert interrompe.
- Eu fiz sim... - Harry encara o tapete, brincando com as dedos sobre seu colo. - Eu transformei James nessa pessoas. Se eu tivesse sido mais atencioso, isso não teria acontecido.
Uma lágrima discreta escapa, caindo sobre a calça de tecido escuro que ele usava. Enchendo os pulmões de ar, Harry fica de pé.
Seus cabelos molhados estava bem penteados. Ele usava tênis brancos e uma camisa social, um pouco comprida demais para sua estatura.
- Eu não posso cometer o mesmo erro outra vez. - Ele esconde as mãos nos bolsos da calça, encolhendo os ombros. - Não posso deixar neu irmão sozinho outra vez.
- Você quer realmente isso? - Pela primeira vez, Roselee se pronuncia. Ela tinha os olhos vermelhos e fundos, devido a todas as noites que passou em claro, no hospital com a filha. Seus cabelos estavam presos e com um lenço ela cobria a boca.
- Sim, eu quero que vocês me mandem para o orfanato com James.
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