66 - Frozen Past.
- 15 anos atrás -
- Devemos nos preparar para o inverno mais frio da década. - O homem sentado na poltrona em frente a TV parecia feliz com a notícia.
- As crianças me preocupam. - A mulher loura sentada no sofá ao lado leva a xícara de chá à boca, sentindo o calor do líquido envolver sua garganta. - Skylar é tão jovem, todos eles são, e se ficarem doentes? Robert, não podemos pagar médicos.
- Querida, não se preocupe, por favor. - Seus olhares se encontram. - Eles ficarão bem, eles tem a nós.
Um meio sorriso escapa dos lábios da mulher, apesar de sua expressão ainda ser pesada.
Lá fora os primeiros flocos de neve cobriam a calçada onde duas crianças brincavam com blocos de montar.
- Eu quero o azul. - O menino de olhar frio procurava a cor desejada entre os blocos espalhados ao seu redor.
- azul é meu. - A garotinha ao seu lado arriscava as primeiras palavras do vocabulário.
- Eu disse que eu quero o azul. - O tom autoritário era incomum para alguém da sua idade.
- azul é meu, Jamie. - Seus pequenos olhos castanhos estavam fixados no bloco em suas mãos.
O menino levanta-se, sem se importar em desfazer o castelo onde passará um bom tempo trabalhando. Com passos pesados ele vai até a menina, parando à sua frente.
- Me dê o bloco, Skylar. - Ele estende a mão. - Agora!
- Não. - Choraminga.
O menino segura o pequeno objeto, puxando para longe do alcance de Skye, que logo põe-se a chorar.
- Devolve, Jemie. - A menina soluçava enquanto tentava alcançar a mão do garoto, inútil uma vez que ele era bem mais alto e esticava cada vez mais o braço para longe dela.
Já de pé, Skye segura a barra do casaco do menino, implorando por seu brinquedo, em meio a lágrimas, porém tudo que consegue é ser empurrada com brutalidade, caindo sobre as outras peças no chão.
- JAMES! - A mulher que estava parada próximo a porta, observando a cena, corre em direção a garota, tomando-a nos braços. - Entre na casa, agora! - Ela ordena ao garoto, que obedece sob murmúrios.
Ao entrar na casa James cruza a sala em passos pesados, apoiando-se no batente da porta que levava a cozinha.
- O que aconteceu, dessa vez? - O homem ainda sentado em frente a TV pergunta, sem a dar ao trabalho de desviar o olhar da pequena tela luminosa.
- James empurrou a Skye, de novo! - A mulher se movia de um lado para o outro, na tentiva se acalmar a criança desesperada em seus braços.
Com um suspiro o homem encara o garoto sério do outro lado do cômodo.
- Você fez isso, James?
- É claro que ele fez, Robert, eu sei o que eu vi!
- Acalme-se, Roselee. - Robert levanta-se, caminhando até a esposa.
- Como eu posso me acalmar? Não é a primeira vez que ele faz isso, esse menino vai acabar machucando nossa filha, me escute!
- Não fale de mim como se eu não estivesse aqui, vaca! - James empurra o jarro de vidro sobre a cristaleira, fazendo-o partir-se em cacos grossos espalhados sobre o carpete
Um silêncio perturbador pousa sobre o ambiente. Mesmo a pequena Skye havia parado de chorar.
Com passos lentos Robert caminha até James, parando em sua frente, tendo os braços apoiados nos quadris.
- Eu acho que fui bem claro sobre seus modos da última vez que conversamos. - Sua voz era grave.
- É o meu jeito, não posso mudar. - Um sorriso sinico surge nos lábios do garoto ao dar de ombros.
- Essa desculpa é tão egoísta, James! - Robert esbraveja. - A partir do momento em que o "seu jeito" assim como você fala, magoar ou perturbar outras pessoas, não é mais sobre você, então, sabe o que você faz, neste caso?
- O quê? - Ele não estava realmente curioso, era óbvio a frase que viria a seguir.
- VOCÊ MUDA!
- Hoje -
Abro os olhos de súbito para encarar o teto completamente branco. Eu havia tido um sonho ruim do qual não conseguia lembra, porém a sensação ainda estava lá. O medo, a tensão, a dor ainda estavam presentes em mim.
Com certo esforço sento-me na cama, observando a janela coberta pela geada. E lá estava uma lembrança, a terrível e dolorosa memória da noite passada. O homem cruel que, horas atrás, me observava daquela mesma calçada onde, agora, só haviam enfermeiras caminhando.
E se tudo foi um sonho?
Impossível. A dor era real.
Aquele homem que esteve aqui me conhece. A única outra pessoa que me conhece neste lugar, é a garota que esteve aqui.
Qual o nome dela? Eu preciso lembrar, preciso de um nome para procurar.
- É isso, Talyta!
- Quem é Talyta? - A voz masculina me assusta, fazendo com que direcione meus olhos para a porta.
Era ele. Jeffrey, o médico da noite passada.
- Lembrou de alguém? Uma amiga? - Ele para na beira da cama, escondendo as mãos nos bolsos do jaleco.
- Eu... Acho que sim. - Minha garganta está seca.
- Isso é ótimo! Lembra de mais alguma coisa?
- Ela está aqui. Eu preciso falar com ela.
- Aqui? - Ele parecia confuso ao me encarar.
- Neste hospital. Por favor, eu preciso falar com ela.
Algo me diz que ela sabe quem era o homem da noite passada.
- Eu posso tentar ajudar, sabe o sobrenome?
- Não.
- As características físicas?
- Bom... Cabelo curto preto, olhos castanhos e rosto machucado.
Ele tira um aparelho celular do bolso onde suas mãos estavam, e encara fixamente a tela.
Após alguns minutos, ele me olha outra vez, esperançoso.
- Você está certa, tem uma paciente com esse nome e descrição. Ela foi baleada, como você. - Franze o cenho, como se essa observação o deixasse intrigado.
- Onde?
- Quarto 312.
Com certa dificuldade levanto-me da cama, caminhando em direção a porta, mesmo sob as repreensões do médico.
- Volte para a cama, você não pode andar sozinha por aí. - Ele segura em meu braço.
- Eu preciso encontrar ela. É a única esperança de saber o que aconteceu comigo.
Olhares fixos são convincentes, soube quando ele suspirou e assentiu.
- Eu te ajudo a encontrá-la.
Enquanto caminhavamos pelos corredores sem cor, mais lembranças da noite passada surgiam, como se tudo que aconteceu continuasse se repetindo em minha mente como um looping sem fim.
Entramos em um elevador. Encarando as paredes metálicas enquanto subimos ao segundo andar, me pergunto porque não o notei antes. Talvez eu pudesse ter me escondido aqui noite passada, afinal, minha salvação foi o médico ter aparecido no momento certo.
Não consigo sequer salvar a mim mesma.
Quando as portas se abrem nos deparamos com um amontoado de médicos e enfermeiros aparentemente nervosos, falando coisas inteligíveis e caminhando ao longo do corredor.
- O que aconteceu aqui? - Doutor Jeffrey pergunta para uma médica que falava ao celular.
- A paciente do 312.
Talyta.
- O que houve?
- Ontem a noite, ela desapareceu.
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