15
Minho saiu do quarto, dessa vez devidamente vestido, andou preguiçosamente a procura da visita inesperada e quando o encontrou sentiu seu coração errar uma batida por um mísero segundo.
Jisung estava sentado no sofá, seus joelhos estavam parcialmente colados enquanto seus pés estavam afastados e ele os balançava inconscientemente e em seu colo Kkami ressoava manhosamente, feliz com o carinho que recebia em suas orelhas. O garoto estava com a cabeça abaixada dando total atenção ao cachorrinho o qual dava carinho e graças a isso a franja um pouco grande cobria seus olhos, porém mesmo de longe Minho conseguiu vê-lo sorrir e suas bochechas gordinhas dar-lhe uma expressão extremamente fofa fazendo com que o mais velho sentisse seu coração quentinho.
Um tanto que atordoado pela visão fofa que acabara de presenciar o ruivo balançou a cabeça e pigarreou atraindo a atenção do menor para si, eles se encararam em um silêncio desconfortável e os minutos pareciam demorar para passar, era como se tudo estivesse ficado, de repente, em câmera lenta. Kkami pulou do colo de Jisung e foi ate Minho passando a abanar o rabo e latir pedindo por comida, o mais velho foi com o cachorro ate o quarto do irmão colocando a ração do animalzinho em seu pratinho e depois de fazer um breve carinho voltou para a sala.
Jisung ainda estava no mesmo lugar, mas dessa vez com um olhar perdido divagando em pensamentos que Minho quis por um momento saber. O mais velho mesmo que sem querer passou a observar em silêncio o rosto do outro garoto, seus olhos o fitavam com certo ar de curiosidade e ele acabou franzindo as sobrancelhas ao perceber que o moreno havia colocado mais dois brincos e um piercing na orelha esquerda.
— Então... — Jisung balbuciou, finalmente quebrando o silêncio desconfortável que os prendia.
— Você gosta de animais? — Minho perguntou o que tanto queria, desde que ele viu Jisung e Kkami juntos teve vontade de perguntar aquilo. A maioria das pessoas gostam de animais, porém ele sentiu certa necessidade em ouvir a resposta do mais novo, era como se fosse algo importante para ele conhecer mais o outro e de fato era.
— Eu gosto. Quando era criança e morava em uma fazenda eu tinha um hamster mas um dia ele acabou fugindo da gaiola e uma cobra o comeu. — Lembrou suspirando tristemente, Pokka foi o primeiro animal que teve.
— Lamento. — Minho curvou os lábios em um sorriso triste sem saber ao certo o que falar para prosseguir com o assunto.
— Nem vou perguntar se você gosta de animais afinal você faz medicina veterinária. — Han gargalhou e o mais velho permitiu-se rir também ao ouvir a risada gostosa do outro soar na sala e suas bochechas encherem-se de ar com o gesto inconsciente.
— Gosto bastante, desde novo tive certeza que iria trabalhar com algo que pudesse ajudar as pessoas ou ate mesmo salva-las, enquanto crescia percebi que nem todo ser humano merece salvação, o que é diferente dos animais. — O ruivo sorriu brevemente encarando o lustre. — Os animais são muito preciosos e deveriam ser mais respeitados e cuidados, nem todo mundo que diz ama-los os amam de verdade, no fundo todos nós temos um lado ruim mas isso não se aplica a eles.
— Da 'pra perceber que você realmente é apaixonado por isso e olhe que nem te conheço direito. — O moreno riu um tanto que nervoso. — Deu para ver que você tem um bom relacionamento com o Kkami mesmo ele sendo do Hyunjin.
— Sim, ele só estranha um pouco meus gatos, mas não é nada que não posso controlar. — Sorriu.
— Serio que você tem gatinhos? — Os olhos do mais novo adquiriram um brilho diferente somente ao ouvir aquilo. — Eu sempre quis ter um gato porém minha mãe é alérgica.
— Sim, eu tenho três. — Minho sorriu completamente orgulhoso. — A conversa está boa mas consigo vê-lo tremer daqui, é melhor você tomar um banho quente e vestir roupas secas.
— Não precisa, já estou de saída. — Jisung sorriu ainda mais nervoso, ele não queria incomodar o mais velho.
— Você não me incomoda, caso esteja pensando isso. — Minho sibilou. — O Hyunjin não está e eu não vou deixar você ir embora debaixo de chuva, é ate bom que a gente pode tentar nos conhecermos melhor... — Murmurou pedindo com a cabeça para que o outro o seguisse. — Eu estive pensando nas coisas que você me disse e também no que os seus amigos podem perguntar quando estivermos juntos, sem saber ao menos o mínimo um do outro eles vão descobrir que tudo não passa de uma mentira e provavelmente isso te deixará em maus lençóis.
— É, você está certo. — Jisung maneou a cabeça em um aceno concordando com o mais velho. — Afinal não custa nada tentar.
*
Jisung cheirou pela milésima vez a blusa folgada que agora usava, nunca havia passado pela sua cabeça que um dia usaria as roupas de Minho e lá estava ele, trancado no banheiro se perguntando se deveria sair da forma que estava ou voltava a usar suas roupas úmidas. Sentia-se estranhamente acanhado quando o assunto se tratava do Lee e essa timidez repentina já estava começando a encher seu saco, o que diabos ele tinha de tão diferente para que ele se sentisse tão tímido em sua presença?
Depois de murmurar para seu próprio reflexo de que era capaz de ir se encontrar com o mais velho novamente ele girou os tornozelos e destrancou a porta do banheiro deixando o cômodo timidamente, andou de volta para a cozinha como se pisasse em ovos encontrando o outro concentrado em ler algo em seu celular enquanto virava uma xícara de porcelana com desenhos delicados de flores vez ou outra, bebericando o chocolate quente. Jisung pigarreou anunciando sua presença, sentando ao lado do mais velho.
— Está quase frio, é melhor tomar logo. — Minho sibilou entregando ao mais novo uma xícara parecida com a sua cheia de chocolate quente.
— Obrigado.
Novamente o silêncio desconfortável se instalou no ambiente e assim permaneceu ate que os dois presentes ali terminassem de tomar o chocolate quente que o mais velho havia preparado para eles. Minho estava lavando as xícaras enquanto Jisung ainda continuava sentado na baqueta do balcão encarando as costas largas do ruivo sem saber ao certo o que falar.
Han sempre foi tagarela e um pouco hiperativo, ele nunca conseguiu ficar calado por muito tempo nem mesmo quando acaba ficando sozinho e todo aquele silêncio estava deixando-o desconfortável, sentia o pânico se aflorar em seu interior e ele não sabia o que fazer afinal era a primeira vez que se via nesse tipo de situação.
Um miado agudo tirou o mais novo dos seus devaneios e automaticamente ele olhou na direção do barulho conseguindo enxergar um gato de pelagem marisca — conhecido principalmente como gato malhado —, Jisung acabou sorrindo e então começou a chamar o animal que apenas deu-lhe as costas e saiu andando para o pequeno corredor ignorando-o completamente.
— Dori não gosta muito de pessoas estranhas, ele é bem arisco ate comigo mesmo, sabe? — A voz do ruivo soou risonha ao ver a expressão incrédula do mais novo por ter sido ignorado. — Você precisa corteja-lo para que ele deixe você se aproximar, ele é bem independente. Vem.
Jisung sentiu o corpo estremecer levemente ao sentir os dedos do mais velho entrelaçar-se aos seus puxando-o na direção do corredor, ato este que Minho fez inconscientemente e ao perceber soltou rapidamente a mão do moreno se desculpando em um murmúrio envergonhado. O gato estava deitado no corredor lambendo a pata e quando percebeu a presença dos dois humanos automaticamente parou o que fazia e passou a encara-los com seus olhos verdes que lembravam uma esmeralda.
— Por que eu me sinto intimidado por um gato? — Jisung murmurou rezando para que somente o ruivo ouvisse mas obteve como resposta um miado agudo, fazendo com que Minho começasse a rir.
— Apenas relaxe, ok? — Minho o empurrou levemente pelos ombros na tentativa de aproxima-lo mais de seu gato. — Se apresente 'pra ele.
— O que? Por quê? — O moreno olhou para trás capturando os olhos do mais velho ficando preso a um rápido contato visual.
— Anda logo, Jisung!
— Dori, meu nome é Han Jisung e eu... bem... quero ser seu amigo? — O moreno falou incerto aproximando-se cautelosamente do gato que somente o olhou, acabou virando para Minho perguntando-o através do olhar o que ele deveria fazer e o ruivo apenas deu de ombros e indicou com as mãos para que ele continuasse. — Eu sou músico, posso compor uma música para você.
No mesmo instante Dori balançou o rabo e levantou, se aproximando mais do moreno e começando a se esfregar nas coxas do garoto que estava de joelhos no chão. Jisung o pegou no colo fazendo-lhe carinho atrás da orelha enquanto sorria vitorioso pela conquista.
— Agora que prometeu vai ter que cumprir. — Minho falou, gargalhando. — Você precisava ver o que ele fez no rosto do Hyunjin por ele ter prometido comprar-lhe um ratinho de brinquedo e não comprado, eles não se falam ate hoje.
— Isso mesmo pequeno, afinal o titio Hyunjin é muito idiota e só idiotas falam com ele. — Han murmurou para o gato afinando um pouco a voz e obteve um miado dengoso.
— Mas você fala com ele... — Minho murmurou e o outro apenas o ignorou, estava ocupado demais ouvindo Dori ronronar com suas carícias.
Segundos depois um outro gato surgiu no corredor indo ate o moreno e se esfregando em suas coxas pedindo por carinho e atenção, agora o Han estava quase deitado no chão dando carinhos não somente a Dori, mas também ao gato de pelagem laranja que havia acabado de chegar. Aos olhos de Minho era uma imagem fofa de presenciar, o ruivo estava encostado na parede com os braços cruzados apenas observando em silêncio o mais novo se divertir com seus gatos ouvindo os risinhos gostoso que Jisung acabava soltando quando Dori ou Doongi lambiam suas mãos.
O resto do dia se resumiu a isso, eles conversaram abertamente tentando se conhecer ao máximo enquanto brincavam com Dori, Doongie e Soonie que o Han só conseguiu ver porque o dono teve que ir busca-lo em seu quarto. No final das contas Jisung mal percebeu quando começou a se soltar mais na presença do mais velho e a se sentir mais confortável ao lado dele.
No fim, ter tentado valeu a pena.
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