1 - No Olho do Furacão
Salão dos Deuses. Localização Desconhecida.
Sempre que uma profecia é lançada, o mundo entra em frenesi. Nascidos do Sol e da Lua esperam ansiosos para que as palavras do oráculo se concretizem a fim de presenciarem o que virá em seguida. Afinal, uma simples profecia pode mudar o mundo inteiro. Já aconteceu antes. Mas esperar não faz muito o estilo dos deuses. Pelo menos não dos que estavam reunidos naquela noite para discutir as rédeas das linhas que moldariam o futuro. Ninguém sabe ao certo quem são eles, pois seus rostos se parecem com as faces da multidão. Claro, isso se você conseguir prestar atenção nesses seres. A única coisa que diferencia um deus de um humano são seus olhos. Eles brilham no escuro. Por isso se escondem nas sombras de uma sala mal iluminada, onde uma mesa circular contém o palco central de suas mais ilustres jogadas.
Umma, a deusa das tempestades, era uma das participantes da reunião naquela noite. Seus cabelos pretos combinavam perfeitamente com seus olhos cor de magenta. Ela tinha um sorriso no rosto ao contemplar a beleza do tabuleiro que era o mundo a sua frente. Pelo que parecia, ela sabia exatamente o que responder à pergunta de seu irmão.
— Cabe a você decidir.
— Parece que já temos o palco perfeito para o nosso acaso — disse Umma.
Sem hesitar, assoprou uma brisa suave de seus lábios a qual passou por suas mãos e direcionou-se até o meio do tabuleiro. A brisa transformou-se em um vento forte, e o vento forte transformou-se em um enorme furacão. Seus olhos voltaram-se para a bola de cristal flutuante logo em cima da mesa de jogo. Pobre do alvo que receberia uma surpresa dos deuses.
53 graus Norte, 15 graus Leste. Mar Real.
— Homem ao mar!
— E o que estão esperando, seus molengas? Ele está afundando! Joguem as cordas.
— Sim, senhor imediato!
Essas foram as primeiras palavras que Dimitri ouviu ao que parecia ser muito tempo para ele. A tempestade que se formava era monstruosa, imersa em ventos traiçoeiros e em ondas do tamanho dos maiores monstros marinhos. Raios iluminavam os céus noturnos de forma caótica, fazendo com que as sombras das nuvens se parecessem com os piores pesadelos. Havia três caravelas ao norte e um navio desconhecido de porte pequeno a leste. A tripulação a bordo corria de um lado para o outro, seguindo os comandos de seus oficiais. Amarravam e desamarravam cordas, domando suas velas selvagens, sem se importar com suas vestes pesadas da água salgada que inundava o convés. Dimitri era espirituoso e até estaria animado com aquela adrenalina se não fosse ele quem estava com água até o pescoço.
— Puxem os cabos, homens!
— Perigo a bombordo, perigo a bombordo!
E tudo tremeu.
O navio virou bruscamente, mas não a tempo de fugir do impacto ao bater de frente com uma onda feroz. Dimitri debatia-se e nadava com dificuldade, sendo levado pela maré. Ele lutava contra os espíritos da água e da correnteza que o puxavam violentamente para as profundezas desconhecidas do oceano, sem piedade. Gritos. Conseguia ouvir vozes ao longe, mas eram comandos abafados e sem sentido para ele. Talvez fosse por causa de seus ouvidos que estavam completamente submersos. Talvez fosse seu cérebro começando a entregar os pontos para a inconsciência. Seu corpo cansado fazia de tudo para sobreviver até o último instante, mas não aguentava mais segurar o fôlego. Era impossível chegar à superfície. Seus pulmões queimavam e pediam por misericórdia. Seu corpo já não correspondia, sua alma implorava para se esvair.
Parece tão mais fácil deixar a água entrar...
E Dimitri fechou os olhos, soltando o ar pela boca e deixando o corpo ser levado pelos espíritos da água.
Naquele momento, cordas grossas foram atiradas e apertadas ao redor de sua cintura fina. Um rapaz pulou da embarcação e agarrou-o desacordado, aparentemente. Lutando contra a tempestade, ambos foram resgatados pela âncora, que subiu lentamente até levá-los de volta ao convés onde o corpo de Dimitri foi jogado com força contra o chão de madeira. E bateu a cabeça. Confuso e atordoado, abriu os olhos, mas tudo o que viu foram vultos curiosos.
— Mas... é um garoto!
Se Dimitri ainda não estava desacordado, foi naquele instante que tudo ao seu redor escureceu.
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