29 - Estou Te Preparando.
O céu estava nublado intensamente, o cinza cobria as estrelas que outrora estavam brilhando.
Os irmãos da igreja se apressaram para não serem "apanhados" pela chuva. Gabriela e seus pais esperavam pacientemente a chegada do motorista.
Enquanto que Benjamin conversava com sua irmã.
Gabriela mostrou-se aflita quando ouviu o estrondo do trovão.
- Ainda com medo? - pergunta Benjamin.
- Não. Eu nunca tive medo de tro..tro-vão...
- Ahamm, sei... Você não precisa ficar com medo. Sempre que ouço o barulho do trovão, eu lembro do cuidar de Deus. Ele nunca nos abandonou não é agora que Ele iria nos abandonar. - O loiro se aproxima e agacha ao lado dela. - Ele... Está cuidando de você, Jesus nunca ia deixar um diamante tão lindo.
- As vezes penso que não vou suportar as tempestades...
- Por que?
- Filha, vamos? - pergunta Carla ao ver Severino estacionando o carro a frente da igreja.
- Tchau Ben. - suspira cabisbaixa.
Seu coração acelerou ou ignora-lo
Sua vontade era de contar tudo. Sua língua estava prestes a desatar o que estava embaralhado em seu coração.
A mesma atravessou debaixo do guarda-chuva colocada por Severino sobre sua cabeça, uma lágrima rolou sobre o seu rosto. Depois de uma pequena caminhada, a poucos minutos de entrar no carro, o loiro a chama em meio a chuva.
- Seja qual for a chuva ou a tempestade, confie que Ele está com você em qualquer situação! - grita - Mesmo que eu não saiba, qual for... eu sei que Ele está no controle e se aceitar eu quero que você vá comigo no baile da minha faculdade! Desculpa por não ter te convidado antes. Vai ser 16:30!
Ela apenas sorri e ele assente. A mesma nunca esperaria uma reação tão engraçada do loiro. A partir daquele momento Gabriela escolheu guardar somente as coisas boas. Não poderia ir à festa, era justamente nesse dia que suas malas seriam arrumadas e que suas rodas seguiriam um novo rumo. Era melhor receber um "Não" nas mensagens, do que ver a decepção em seu rosto. A lembrança que ela nunca ia esquecer era a sua primeira conversa com Deus e o sorriso de Benjamim...
No banco confortável ela tocava no vidro da janela ao perceber uma gota de chuva passeando sobre a mesma.
Delicadamente ela encarou o céu e suspirou:
- É amanhã que eu viajo... Deus fica comigo... eu não vou conseguir ir no baile... desculpa Ben.
Seus olhos fecharam em direção a paisagem, por um momento ela orou em Espírito e foi impossível aguentar o choro.
- Deus... Eu tô com medo, eu não consigo assimilar tão fácil assim. Eu queria muito estar com o Benjamin, queria muito pensar que poderia ver minha família novamente. Eu sei que eu preciso ter fé, mas é tão difícil. É fácil ficarem dizendo que eu preciso crer, mas as vezes é tão complicado... Na igreja, me encho de fé, porém quando chego em casa... Me ajuda! Me ajuda a confiar, a crer... que tudo vai dar certo. A dor em meu coração é tão grande que não consigo enxergar o teu agir, assim como Madalena... Eu só queria uma respost... - Sua oração foi interrompida.
- O que aconteceu? - pergunta o pai da garota ao ver o carro parar.
- O que mais? Congestionamento único! Esse "trombone" não quer sair da frente.
Gabriela que estava atrás se inclina para o lado e encara o fundo do caminhão.
O pai dela, sai para falar com o homem. Em poucos minutos eles começam uma discussão, até que ela ouve um grito de sua mãe.
- Não faça isso! Não atire!
Seu olhos arregalaram e ela tentou se locomover sobre o banco do carro e encarou o homem do lado de fora, pela porta. O mesmo estava nervoso, com sangue nos olhos e uma expressão assustadora ao apontar uma arma para seu pai.
- "Ainda que eu chamasse, e ele me respondesse, não poderia crer que ele estivesse escutando a minha voz." Jó um dia disse isso com seu coração sincero, porém em outro momento o mesmo disse : "Pois eu sei que o meu Redentor vive, e que por fim se levantará sobre a terra." Jó sofreu muito, assim como está escrito atrás de seu caminhão... Ele passou por todas aquelas dores, por um momento ele se viu em um estado de fraqueza e antes eu sentia o mesmo. ( Era como se eu quisesse falar, porém nunca acreditaria que Deus estava me ouvido) ouvindo minhas dores e principalmente nunca pensei que ele fosse preencher esse vazio em meu coração. Mas Ele preencheu! - Abre um sorriso largo - E eu... - pensa - sei que Ele vai me defender ainda nessa terra, vai estar comigo até o fim, assim como Ele Sempre Esteve. - da ênfase em "Ele Sempre Esteve"
- Clame e o invoque, Ele te ama e agora ame o próximo assim como Ele te amou, padecendo em uma cruz. Cada uma de suas dores foram as chicotadas que marcaram as costas de Jesus, cada cuspe... foram todos os julgamentos que te fazem dia a dia... a coroa de espinhos foi cada luta e frustração na tua vida, em que você pisou sobre os espinhos, deixando-o ferido e a cruz foram todos os nossos pecados, apenas se entregue a Ele... Não lute com Ele, se entregue. Hoje, uma coroa de espinhos, mais tarde uma coroa de glória. Ele foi a prova de amor que poderia existir.- Gabriela termina. Na verdade ela não sabe porque havia falado aquilo, não era ela na verdade... E o homem que segurava a arma com as mãos suadas e trêmulas, pouco a pouco começa a abaixar o objeto e chorar...
- Obrigado, por ter deixado Deus te usar. - Ele disse sorrindo. Talvez ele precisasse dessa palavra.
Gabriela voltou para o seu carro ainda tentando entender o que tinha terminado de acontecer.
- Agora entendi, "Pois eu sei que o meu Redentor vive, e que por fim se levantará sobre a terra." O meu Redentor Vive, por isso não preciso temer, pois mesmo que o meu coração esteja quebrado e mesmo que eu não consiga mais ouvir tua voz, eu sei que ainda Tu estás comigo. - disse e sorriu para o céu.
- Filha, você foi muito corajosa. - O pai abraçou a garota de lado. - Porém nunca mais faça isso. Quer matar o seu pai do coração? - fala dramático ao tocar em seu coração.
- Acho que os créditos não são meus - Ri
- Como assim? - perguntou o pai confuso.
- Quem é cristão novato nunca vai entender. - afirma Carla e toca sua mão sobre a da filha que ria ao ouvir sua piadinha.
- Ok, preconceito... neh? Não vou fazer mais o mousse que o cristão novato aqui faz. - Aponta para si mesmo. - Quase todo o domingo depois que voltasse da igreja eu iria preparar... - rebate.
- Não! - responderam em uníssono.
- Ei, seu mousse é o meu favorito. Principalmente o de maracujá. - A garota diz imaginando a sobremesa.
- O meu também - Carla sorri fraco
- Então é assim neh? Todo mundo só gosta de mim, por causa das minhas sobremesas? - diz fingindo estar indignado.
- Não é verdade. Eu te amo! - Beija seu pai. - E Cristão Novato está mais forte na fé do que mitos velhos, pode acreditar.
Ele sorri e diz depois de um tempo:
- Ah filha, me disseram que teve um probleminha no avião que iríamos viajar, então a viajem foi adiada, não iremos viajar amanhã.
- Sério? - perguntou abrindo um sorriso. Agora ela poderia ir no baile com Benjamin.
- Que avião? Vocês iriam viajar?... - disse a mãe não entendo mais nada
- É que... - encara sua mãe - eu sei que as vezes parece loucura, mais eu sei que mesmo em todas essas tribulações, Ele ainda escreve minha história e nela disse que o fracasso ainda não é o fim. Talvez não era para ser hoje...
- Você está me deixando preocupada...
- Mãe - respira o fundo - , o papai pesquisou e achou um doutor especialista em cirurgias para paraplégicas como eu... e... - Em poucos minutos seu rosto molhou.
- Porque você está chorando? - pergunta a mãe com um sorriso no rosto - Filha, era para você ficar feliz, finalmente você...
- Eu posso morrer! - grita com o rosto baixo.
A mãe ainda se tornou boquiaberta e a abraçou forte, assim como da última vez ( quando seu marido tinha ido embora )
A história tinha começado novamente, porém pelo outro lado de contar.
- O Benjamin... ele já sabe? - perguntou lentamente.
- Não. Eu não vou mudar a minha decisão. Eu quero voltar a andar, eu não vou desistir e não quero machuca-lo.
- Você corre risco de vida, eu acho melhor você não fazer... - ela diz.
- É a minha chance, eu não vou desistir! - Se impôs e abraçou sua mãe novamente.
Chegando em casa, a mesma respondeu para ele no celular.
- Ben, prepare o melhor terno. Eu vou amanhã. Fica com Deus!
Depois de uma noite mal dormida ainda sim, Gabriela conseguiu se levantar para fazer uma última fisioterapia, para ajudar no processo da cirurgia. Ela quase não estava fazendo fisioterapia... porém agora era preciso.
Depois de um alongamento, havia começado os exercícios mais pesados e em poucos minutos ela se cansou.
Depois de pintar um quadro, ouvir músicas lendo um livro. Ela já estava se preparando para o baile, para ela não iria ser tão divertido já que a mesma não poderia dançar.
Seu cabelo estava semipreso, um vestido roxo cobria seu corpo. Apenas colocou um brilho labial e se aprontou para esperar o loiro.
Todas as vezes que tocava a campainha ela esperava ser Benjamin, mas infelizmente não era.
A primeira vez, foi o carteiro.
A segunda vez, foi a vizinha pedindo açúcar.
E a terceira vez foi a nova vizinha rica, com seu cachorro.
E a quarta vez, finalmente... foi o Ben.
Ela abriu a porta já desanimada e quando ela fita a porta por um tempo vê lindas flores no rosto da pessoa.
- Atrasei? - Um sorriso travesso apareceu em seu rosto. Estava de terno preto, uma camisa branca por baixo e uma gravata vermelha.
Ela sorriu e nada respondeu.
- Você veio...
- Porque eu não viria? Eu não iria te deixar sozinha. Você está tão linda...
- Vamos dizer que eu não tenho experiências boas com baile... - Uma certa vez, Domênico a deixou esperando porque esqueceu de leva-la e dançou com outra pessoa no baile. Isso foi só o começo para os dois começarem a se distanciar.
- Quando estou perto de você, vejo Deus dentro de você. Quando você sorri, é como se todos os problemas desaparecessem. - diz lhe entregando as flores e ela as dá para Sisi colocar em um vaso.
Ele a levou até o lugar do baile. Decidiram de última hora fazer na casa de um aluno, já que o espaço era maior.
- Uau... - Gabriela elogia ao ver como a casa era bonita. Piscina a direita, espaço de jantar a esquerda e ainda tinha mais lá dentro. - Benjamin...
- O que foi?
- Eles vão rir de mim...
Benjamin têm uma idéia e fala:
- Se eles rirem, ria junto. Não importa o que os outros vão falar lembra? O que importa é que Deus diz que você é importante para Ele e para mim também.
Ela sorri e continua o percurso até a festa. Todos já estavam dançando. Ela vai em direção ao canto e fica ali estática observando todos dançando.
- O que a senhorita pensa que está fazendo? - o loiro pergunta lhe fitando.
- Oras, eu não posso dançar. Eu não sei porque eu vim.
- Quem disse que não? - fala Ben e pisca para quem estava colocando as músicas do baile.
Ele carrega Gabriela que grita para ele não fazer isso. Ela é carregada e o loiro a gira dançando suavemente. O vestido roxo se movia como se fosse uma melodia, calmo e representativo.
O olhar dos dois se encontraram como nunca antes, era como se só tivessem somente os dois ali e mais ninguém.
É como se não existissem dúvidas e dores, tudo desapareceu...
- Parece um sonho. - Benjamin comentou.
- Eu quero que esse sonho nunca acabe. - Derrepente uma dor tomou conta do seu coração. Ela tentou segurar o choro ao máximo, porém não conseguiu. - Benjamin, eu não quero mais dançar, me coloca de volta na cadeira.
- O que foi? Não está passando bem? - pergunta preocupado.
O loiro coloca a garota sobre a cadeira novamente.
- Gabriela, porque você está tão estranha. Divide comigo, eu estou aqui para você conversar e...
- Gabi! Paz do Senhor! - diz Stefanny ao se aproximar. E Gabriela nada fala.
- Com que você veio? - pergunta Ben.
- Ah, a história longa. Mais eu vou resumir... Uma garota convidou o Domênico, ele veio só que a garota não pôde vir. Então ele me convidou. Domênico iria sozinho, mas quando acidentalmente nos esbarramos e conversamos. Descobri que ele já foi seu amigo e da Gabi, então decidi vir com ele. Os organizadores da festa deixaram.
- Ah, então quer dizer que você vem para uma festa... que vice não sabe o que é direito, além disso vem com um desconhecido? - Ri - Stefanny, você precisa vigiar mais. - alerta - Não é Gabi... Gabriela? - Ela não estava mais lá.
O loiro olha para fora e vai na direção da saída. Talvez ela tivesse saído para tomar um ar...
Ele respira aliviado ao ve-la do lado de fora. Parecia estar olhando o reflexo na piscina. Stefanny também vai atrás e vê Gabriela.
- Oi... - Ele senta próximo a piscina.
- Oi, vim tomar um ar...
- Eu até pensei que era isso, mais eu sei que esta acontecendo alguma coisa. Se não quiser me contar tudo bem. - O loiro também fita seu reflexo sobre a água.
- As vezes acho que não posso ser cristã. - diz baixo.
- Por que? - pergunta.
- Eu... Não consigo crer, mesmo que Deus me mostre, me prove que está comigo mil vezes... simplesmente eu não consigo crer. As vezes me acho inútil, que não sirvo para estar ao lado de Jesus.
- É porque você não está conseguindo enxergar que Ele está te preparando.
- Preparando?
- Sim. Preparando... Ele sabe que se ter bênçãos agora, renovo e amor... Não vai te preparar, as vezes é necessário passar por isso. Para aumentar sua fé, as vezes Ele vai te despedaçar toda. Te deixar lá... no mais profundo buraco, mais isso também amor. Porque Ele sabe a hora de exaltar, mais para Ele fazer isso... É preciso passar por lutas para se preparar e chegar na vitória.
- Já eu preciso que você me aconselhe. - o loiro a encara.
- Como assim Ben? - pergunta.
- Ontem de tarde recebi uma carta, na verdade um chamado. Eu estava sendo convidado para estudar na melhor faculdade do Estados Unidos e esse sempre foi o meu sonho.
- Você vai? - pergunta Gabriela com os olhos umedecidos.
- O que você quer? - pergunta para ela.
- Eu?... - pergunta suspirando - Eu só quero que você seja feliz, a final...
- A final...?
- A final, você merece. - disse triste.
- Quantos meses você vai ficar lá?
- Eu falei com Deus, Ele concordou com minha ida. Só que eu já não sei... Se realmente...
- Quantos meses? - insiste na pergunta.
- Dois anos... - responde cabisbaixo.
- Dois? - Ela chora.
- Ei... - Ele toca em seu rosto.
- Eu prometo que vou te esperar... Prometo... - afirma o loiro.
- Eu... - Rapidamente pensou na cirurgia - Eu... Não sei.
- Não sabe? - pergunta decepcionado.
Antes do loiro levantar ela grita.
- Eu vou... Eu vou te esperar! Eu sei que Deus têm um propósito e na hora certa Ele vai nos honrar.
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