Aquele homem me abraçou por uma última vez, senti como se toda a dor do meu coração desaparecesse e que tudo aquilo que vivi a alguns minutos havia se apagado. Pude sentir meu rosto molhar naquele abraço duradouro.

- Quando quiser pode desabafar comigo... - Pela primeira vez pude ver o seu olhar. - Eu te amo muito. Parece que foi ontem que eu vi os seu olhos brilharem por ter ganhado uma Bíblia do seu pai. Eu chorei tanto quando vi você dar um sorriso quadrado depois de ver tanta tristeza em seu coração. Sua mãe havia morrido a uma semana, por isso sentia saudades do seu sorriso.

Eu raciocino por um momento e tento adivinhar quem era aquele homem. E decidi sonda-lo.

- Eu recebi aquele presente, mas mesmo assim meu coração ainda doía muito ... - confesso e Ele se achega a mim ao me abraçar de lado.

- Quando você foi orar chorando, eu senti um aperto tão grande no meu coração. Era natal e eu realmente queria que você estivesse feliz - Afaga meus cabelos. - Quando você chorou, eu enxuguei cada lágrima e as coloquei em um lugar especial. Porque filho até as suas lágrimas para mim são especiais.

Eu entendi finalmente quem ele era...

- Senhor... - Me aconcheguei em seu abraço.

- Naquele dia que você viu a Gabriela pela primeira vez, eu já tinha um plano na vida dela a muito tempo. O pior é que ela nunca deixou que eu me aproximasse, eu queria tanto carrega-la no colo. Confortar seu coração apenas com o meu abraço e dizer para ela não se preocupar, pois Eu estava aqui. Até que um dia ela decidiu olhar para mim novamente. Foi tão lindo a festa no céu que você não tem nem dimensão filho.

- Pai, tem algo que preciso te confessar... - falei temeroso.

- Eu sei que você nunca conseguiu perdoar o Dômenico por completo, mas não se preocupe eu estou trabalhando em você através de suas dores e medos - responde - Achegai-vos a mim e eu me achegarei a vós

Em lágrimas tentei falar, porém só saiam gemidos.

- Pa-pa... - choro e Ele segura minhas mãos

- Eu estou aqui filho. Nunca se esqueça. - Aquela voz soou suave sobre a imensidão do meu interior e quando não mais o vi, acordei com o som tormentoso de uma buzina.

- O que aconteceu? - perguntou para si mesmo. Repara em suas vestes e ele estava vestido do mesmo jeito a minutos atrás. Lembrou vagarosamente do que aconteceu ao olhar para o poste e se recordou do sonho.

- Senhor, me perdoa... Eu fui um idiota. Te peço perdão por te insultar. Eu estou andando em espinhos, mas simplesmente esqueci que tenho alguém que posso contar em todas as horas. Te amo Jesus!

Seguiu em direção a sua casa antiga, ele não estava muito bem para encontrar com a Gabriela. Amanhã tinha seu trabalho e ele precisava acordar cedo. Era tão difícil perder alguém, saber que seu rosto nunca mais seria visível outra vez. Mas saber que ele estava descansando nas mãos de Jesus era o suficiente.

Gabriela tentou consolar sua mãe ao máximo, mas Deus já estava consolando seu coração. Quanto a cinza (o gatinho) estava se espreguiçando. Felizmente Carla deixou o mesmo ficar, depois de muita discussão.

A vida tinha se desabado sobre a família. Quem diria que em um dia eles precisariam participar de um velório.

Dias se passaram e parecia que nada tinha mudado, ou talvez não.
....

- Cinza, não derruba as coisas... - repreendeu o animal que tinha derrubado a bíblia que o loiro havia lhe dado.

Estava aberta em cima da cômoda, ela segurou e observou os detalhes.

- Rosa com bolinhas amarelas como capa... não combina comigo. - resmunga -Bem que... ele sabe como me irritar e ao mesmo tempo me fazer feliz - reflete.

Era evidente que ela sentia falta de Benjamin, porém não poderia estragar o futuro dele mais uma vez.

Para a melhor bailarina que existe.
Com amor, Benjamin.

Passa seus dedos sobre a mensagem com carinho. Colocou-a novamente sobre a cômoda.

Cinza pulou em seu colo e Gabriela se assusta primeiramente, depois ri.

- Um dia Cinza, minha irmã morreu. Ela era tão pequena... - chora

- Meu pai sempre a apoiou em tudo, mamãe fez o mesmo em relação ao seu desejo que era seguir no balé. Ela morreu ao bater a cabeça em um acidente no teatro. - diz acariciando seu gato - Papai ficou desesperado quando soube que eu pretendia homenagea-la no balé. Ele pensava que poderia ter uma maldição sobre a dança. Eu sei que é besta, mas... ele amava a Emily. - o gato mia.

- Mamãe me apoiou o tempo todo e até que ele começou a ceder minha vontade... mas quando o acidente aconteceu... - suspira pesadamente - tudo se abalou... mas sabe, se eu não tivesse sofrido esse acidente, eu não tinha conhecido Jesus e nem aquele convencido. Não voltaria a me dar bem com o meu pai...

- Nunca pensei que diria isso, mais obrigada Senhor... - agradece e deixa o gato descer ao chão.

Ela abre delicadamente a bíblia com os olhos marejados.

Romanos 8

18. Pois tenho para mim que as aflições deste tempo presente não se podem comparar com a glória que em nós há de ser revelada.

- Verdade. Nenhuma aflição é maior que a vitória final.

- Gabriela. Porque está fardada? - pergunta Sisi surpresa ao ver Gabriela em frente ao seu espelho. Uma camisa cinza com alguns detalhes sobre o colégio.

- Eu decidi voltar para a escola hoje. Tem algum problema? - diz se olhando.

- N-não é que... Eu pensei que você estivesse com medo de...

- Ser motivo de piada? Não. Nem um pouco Sisi - responde e gira - Eu aprendi que eu não devo prestar atenção no que as pessoas falam, se o que verdadeiramente importa é ser amada por Deus. Ele fez a maior prova de amor. Ele morreu por mim! - enxugou rapidamente uma lágrima que descia sobre sua face.

- Ou filha, finalmente eu consigo ver um sorriso lindo nesse rosto - Os olhos de Sisi marejaram ao ver sua pequena sorrindo.

- Bom, chega de chororô. Vamos em frente.

- É, acho que não mudou muita coisa - diz Sisi sorrateira.

- Sisi! - fingiu estar brava fazendo bico

Sintia se dirigiu ao guarda roupa para ajuda-la a vestir as roupas de baixo.

- Quer qual shorte... ou talvez saia? - Ela pergunta tomando várias peças em mãos - Têm um shorte pretinho que é um pouquinho curto, mas não é um problema - Mostrou a roupa - Tem uma mine-saia mais curtinha e tem...

- Eu não quero nada disso. - afirmou.

- Então... - Sisi encara as roupas - Você quer ir nua para o colégio? - arregala os olhos.

- Claro que não Sisi! - Ri - Quero uma saia longa, só isso. - apontou para a roupa pendurada no cabide.
Uma linda saia, tinham tons leves de cores misturadas. Rosa, lilás e amarelo especialmente.

Mesmo ela se sentindo triste, ela decidiu ir. Ela já tinha planejado assim.

- Tem certeza que você quer ir? - pergunta Carla ao ve-la dentro da limosine.

- Eu... - diz duvidosa - eu quero. Vai dar tudo certo em nome de Jesus!

O caminho foi longo. Nunca mais tinha passado por aquele lugar...

Em meio a tanto tédio ela pega seu celular e vê apenas uma mensagem e duas ligações.

Uma sobrancelha se ergueu a ver duas chamadas de Domênico ontem as 22:00 horas.

E a mensagem ela não esperava...

Oi, Deus está no controle. Eu sei que você hoje vai para a escola novamente. Então seja forte! E lembre-se que Deus é contigo por onde quer que andares...
Benjamin

Um sorriso bobo se formou em seu rosto e suspirou
- Estamos recomeçando..

Ela chegou no colégio e tudo parecia tão acolhedor.

- Senhor, esteja comigo. Eu preciso sempre de Ti. - diz e avança reparando nos novidades do colégio.

As paredes antes brancas, agora estavam tingidas de amarelo. Pinturas de alunos decoravam a parede e banner gigantes sobre cultura preenchiam as paredes laterais.

Entrou esperando zombarias, chacotas mas nada disso aconteceu... graças a Deus.

Ela avistou Geisiane sentada em um banco com uma mochila de unicórnio super fofinha em seu colo.
Quando foi que eu comecei a gostar de unicórnio? Vou mudar em tudo, eh? - pensou.

Ela expressa tristeza com seu rosto curvado e com os braços cruzados sobre sua mochila.

- Gec... - engole seco - Geisiane...

Como poderia dizer...se eu dissesse "como está?" Não seria muito conveniente naquele momento. O que falaria? - pensa

- Oi, você está melhor - diz se aproximando da loirinha.

- Sim estou, por incrível que pareça. Meu irmão que não ficou muito bem.

- O que aconteceu com ele? Digo... Está melhor?

- Ben... eu sei que ele vai ficar bem. - afirma sorrindo fraco. - Mas e você, como está sendo suas voltas aulas? - pergunta segurando as mãos de Gabriela.

- Aparentemente normal. Até ago... - Olhou para os lados.

- Eu contei tudo para turma. - Geisiane interrompe. - A turma ficou de mal com as duas, Kelly e Cristina pelo que fizeram com você. Acho que vai ser improvável elas mexerem com você novamente.

- Espero que sim...

- Amei a saia. - solta uma piscadela - Meu irmão ia amar você com essa saia, ele só falava de você para mim, tipo... O TEMPO TODO.

As bochechas de Gabriela queimaram.

- Eu... - Ela não teve coragem de dizer sobre o começo do namoro e nem o término. - Vamos para aula, já deve estar começando...

- Sim. - disse e se ofereceu para empurrar Gabriela.

A professora sorriu com a presença de Gabriela na sala de aula, era a matéria de Química uma das favoritas da garota.

Seu sonho anterior era explodir algum lugar com experimentos químicos.

Porém isso mudou. Felizmente.

- Oi Kelly, Oi Cristina. Boa aula. - desejou para as duas e se adequou perto de Geisiane.

Ela não tinha guardado rancor, apenas as perdoado.

Em instantes a aula terminou. A próxima, era de Física.

- Gabi, você está linda hoje... - disse Rodrigo. Um antigo colega escolar.

Rodrigo era alto. Usava óculos e seus cabelos eram castanhos.

- Bom... eu sempre estive linda. - rebate e Geisiane ri abafado. - Bom, eu também estava com saudades de você. - Ele sorri, a abraça e ela retribui.

Rodrigo, sempre quis ser amigo dela, mas a Gabriela antiga sempre o rejeitou.

Depois de horas de aulas, o horário da saída marca o tempo e todos saem das salas.

- Foi muito bom, reencontrar vocês. Vamos até minha casa de limosine? Fazer um lanchinho.

- Claro Gabi. - respondeu Rodrigo.

- Sim, eu também quero. - diz Geisiane.

Eles seguiram de limosine até a casa de Gabriela. Quando ela abriu a porta encontrou com alguém que não via a dias.

- Benjamin? - Estava assustada mais também feliz.

- Oi Gabriela - diz fingindo estar frio com ela.

- Você... - É interrompida

- Vim pegar as últimas coisas que deixei aqui, logo minha tia vem morar com a gente. - diz o loiro.

- Eu vim lanchar com meus amigos... - disse triste. Talvez porque pensou que o loiro já tivesse esquecido dela.

- Sim, não tem como recusar um lanche com a garota mais linda da escola. - elogia Rodrigo.

- Quem é esse desaforado. - reclama Benjamin - Você não pode ficar se jogando para cima dela não.

- Ei cara, você é o pai dela? - Ele afronta.

- Eu... Eu... Não Interessa! Você tem que respeita-la afinal, ela já deve ter namorado. - diz sem se dar conta do que havia falado.

Gabriela cora e sorri.

- Eu já vou, não quero atrapalhar esse lanchinho de vocês! - diz sério saindo da casa.

- Calma Ben. - disse Geisiane.

- Calma... - murmura.

Antes dele ir e dos amigos entrarem na cozinha, Gabi segura seu braço e lhe diz:

- Ciúmes não é coisa de Deus.

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Jesus te ama. Ninguém te amou tanto assim, Ninguém morreu por ti... Ninguém pode pagar, toda a dividida que você tinha sem saber, só Jesus.

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