0. Prólogo
Lee Felix
Agora estou sentado à beira de uma calçada com meu irmão, chorando apoiado em meu braço, e eu apenas segurando as lágrimas que ameaçam escorrer de alguma maneira. Minha mente me força a conter o choro na frente de Jisung, para que ele não chore ainda mais lamentando a morte de nossos pais. Nunca imaginei que logo após minha aceitação na faculdade que sempre sonhei, meus pais sofreriam um acidente de carro e morreriam segundos após a batida. Nós nem pudemos comemorar; eu nem pude contar a eles sobre minha aceitação e nem sobre a mudança. E nisso tudo, sou a única família que restou para Jisung e ele para mim. Meus pais e eu éramos muito próximos; éramos uma família feliz. Quando o dinheiro apertou, eu tinha catorze anos e comecei a trabalhar para ajudar nas despesas da casa. Meu irmão, Jisung, nasceu quando eu tinha quatro anos, e naquela época ele era muito pequeno para entender. Tinha apenas dez anos quando tudo isso começou, e nossos pais começaram a trabalhar ainda mais para conseguir arcar com as despesas da casa. Começamos a comer apenas o necessário e deixamos de comprar guloseimas ou brinquedos. Dois anos depois, essa crise finalmente passou e começamos a viver um pouco melhor. Com dezessete anos, me candidatei a várias faculdades, mas não passei em nenhuma. Então terminei o ensino médio na Coreia e fiquei trabalhando até agora, com dezenove anos, até ser aceito no Instituto de Design e Merchandising de Moda. É uma faculdade particular, uma das melhores da Califórnia, e eu sempre fui apaixonado por moda, tanto que agora irei começar a faculdade dos meus sonhos. Mas não vou ter meus pais aqui para comemorar comigo.
— Jisung, levanta, temos que ir embora — chamei meu irmão com a voz baixa. Ele se remexeu e levantou a cabeça.
Pude ver olheiras em seus olhos, pretas e bem fundas. Ele havia passado todas as madrugadas desde a morte de nossos pais chorando em seu quarto. Às vezes ele tentava chorar baixinho para não me acordar, mas isso não adiantava, porque eu não durmo desde aquele dia. Levantei primeiro e estendi a mão para Jisung, que apenas a segurou em silêncio e levantou. Sacudimos a roupa para tirar a poeira que havia ficado presa em nossas calças pretas e andamos lado a lado até o portão do cemitério, que naquele horário nem deveria estar mais aberto. Passei pelo porteiro e pedi desculpas pelo atraso, mas aquele senhor apenas sorriu triste e disse: — Tudo bem, menino, tudo bem. Sei como é difícil perder alguém que amamos. — Suas palavras eram como facas que penetraram na minha pele silenciosamente, sem nem fazer menção de que iriam me perfurar. Não consegui encontrar uma resposta para aquela frase, então apenas assenti e segui caminho junto com Jisung.
Nós paramos em frente ao cemitério; olhei para Jisung, mas ele não olhava para mim. Pelo contrário, ele olhava para um ponto fixo do outro lado da rua: era uma família, parecia a nossa família. A mulher era ruiva, o homem era moreno e os dois filhos tinham puxado o pai; até o jeito de andar era igual. Agora percebo que não aproveitei meus pais o suficiente, não como eu queria ter aproveitado. A falta que eles nos fazem agora é imensa, e nós vamos ficar remoendo isso dentro de nossas mentes e repetindo que não aproveitamos eles o suficiente e não tanto quanto queríamos ter aproveitado. Mas ficar remoendo isso não irá fazê-los voltar; só vai nos deixar mais tristes ainda.
Toco o braço de Jisung, que sai de seu transe e me olha com os olhos cheios d'água. Ele estava segurando o choro enquanto olhava para aquela família feliz, mas chegou um momento em que ele não aguentou mais e teve que deixar correr livremente. Toquei sua cabeça e o abracei; um abraço forte e apertado, triste, porém aconchegante. No meu peito, Jisung chorou por alguns minutos. Chamamos um táxi assim que ele se acalmou um pouco e fomos para casa repleta de lembranças que nos esperava para empacotar as coisas da mudança. Por mais que isso seja triste para nós, também é um recomeço; recomeço é sinônimo de renovar, ou seja, renovar as energias.
Ao entrarmos em nossa antiga casa, não era mais a mesma coisa que sempre foi; estava com um ar de morte, infelicidade e tristeza. Olhei em volta; estava arrumada como sempre foi, mas não estava como éramos acostumados: feliz e alegre. Eu quero chorar, mas não posso; simplesmente não posso chorar e deixar Jisung aqui porque ele também está triste, magoado e com saudades de nossos pais. Eu tenho que ser o apoio dele; tenho que ser seu colo para chorar. Se eu não for... quem será? Ninguém; porque somos apenas nós dois e mais ninguém; só temos um ao outro.
Olho para a sala e vejo Jisung sentado passando de canal em canal sem prestar atenção em nenhuma programação até que parou no noticiário e deixou ligado. Estava falando sobre um acidente; aquele acidente. O acidente que matou nossos pais.
Começaram a falar sobre as vítimas e quem elas deixaram para trás. Mencionaram meu nome e o nome de Jisung; então comecei a ouvir um soluço baixinho, mas audível. Era Jisung soluçando de tanto chorar. Eu já não aguentava mais ver meu irmão chorar sem poder fazer nada além de consolá-lo; depois eu chorava escondido dele. Não quero que ele sofra mais do que já está sofrendo; ele não pode me ver chorando.
— Jisung, vá tomar banho. Se você quiser, depois de tomar banho nós podemos sentar na sala com pipoca e ver os filmes favoritos da mamãe e do papai... — sorri triste ao vê-lo deixar mais uma lágrima escapar antes de assentir levemente e ir em direção ao seu quarto.
Eu quero que ele fique bem; então vou fazer o possível e tudo ao meu alcance para que isso dê certo.
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