Capítulo 4
Assim que acordei, eu logo me lembrei que havia adormecido no sofá, enquanto eu e o Eduardo assistíamos a um filme, então se eu estava na cama, no quarto de hóspedes, era porque o Edu havia me colocado ali.
Eu me espreguicei, me levantei e sorri, pois o Eduardo era sempre tão atencioso comigo; tanto que eu apostava que ele já estaria de pé e com o desjejum todo pronto, só me esperando.
Caminhei calmamente até a cozinha e o encontrei ali, vestindo apenas uma bermuda, e com os cabelos ainda atrapalhados pelo sono. Eu sorri, pois dessa maneira, o Edu ficava muito lindo.
Eu peguei um copo cheio de água, e enquanto eu bebia tudo, ele veio para o meu lado, com um grande sorriso no rosto e então me abraçou, bem apertado.
Eu retribui, pois a sensação que eu tinha, ao estar em contato com o Eduardo, era de paz e segurança, e aquilo me fazia muito bem.
― Bom dia, Bia! ― ele me cumprimentou com alegria. ― Dormiu bem? Está animada para os nossos programas de hoje?
Logo nós dois seguimos até a sala de jantar, que era onde o café da manhã estava servido, como se fosse um banquete para dez pessoas.
― Bom dia, Edu! ― eu respondi, já me sentando à mesa. ― Sim, eu dormi como um anjo. Obrigada por me levar para a cama. E, sim, eu estou muito animada para hoje!
― Não foi nada, Bia ― ele disse, enquanto comia um pouco de ovos mexidos, e tomava o seu terrível café preto sem açúcar. ― Você sabe que eu sempre vou cuidar de você.
― E assim, parece que eu sou um bebê! ― eu ralhei, pois às vezes, com o jeito superprotetor do Eduardo, eu achava que ele queria ser o meu irmão mais velho. E eu não gostava nada daquela ideia. ― Eu já sou adulta, ok?
― Eu sei, meu bem ― ele disse, ficando sério. ― Eu só não sabia que eram somente os bebês, que precisavam de cuidados, pois se for assim, eu ainda sou um, pois de verdade, eu adoro um cafuné.
Logo eu estava gargalhando, pois o Eduardo parecia fazer piada com tudo. Até quando estávamos chamando a atenção dele, o rapaz conseguia transformar a situação, para algo engraçado.
― Tudo bem, bebezão. Qualquer dia eu te faço um cafuné, então! ― eu falei, em tom teatral. ― Mas me diga aí: para quê tanta comida? Alguma das suas paqueras do Tinder, ainda vai chegar aqui, e eu não sei?
― Eu vou cobrar o meu cafuné, viu? ― ele falou, apontando um dedo para mim. ― E deixa de ser a engraçadinha, que pega no meu pé, poxa! Eu só imaginei que você pudesse estar com fome, uai!
Ao ver que ele estava um pouco chateado, me levantei e caminhei até a cadeira em que o Edu estava sentado e baguncei os seus cabelos castanhos, com as mãos.
O Eduardo me encarou com os seus olhos cor de mel, parecendo pensar em algo muito particular; o que me deixou levemente curiosa.
― Obrigada por tentar me agradar então, grandão! ― eu disse, enquanto voltava para o meu lugar, para terminar de comer.
― Tudo o que eu faço, é pensando em te fazer feliz! ― ele disse, enquanto já se punha de pé. ― Então me perdoa, se algum dia eu te sufoquei, de alguma forma, com o meu jeito muito carinhoso.
Eu percebi que ele parecia chateado, e então fui atrás dele, que já caminhava em direção aos quartos.
― Está tudo bem ― eu disse com sinceridade. ― Eu só não quero que ninguém pense, que eu sou uma adolescente inconsequente, pois eu não sou!
― É claro que você não é, Bia! ― ele falou, enquanto segurava em meu rosto, e olhava em meus olhos. ― Se eu penso em te proteger, é com medo de que os outros ajam como adolescentes inconsequentes, e não você! Eu só não quero que nenhum idiota fira você, entende?
Eu sorri, pois o Eduardo sabia ser fofo, apesar de às vezes, ser muito chato e mandão também.
― Se lembre de que eu quase não saio com ninguém, e que não sou eu, quem fica caçando encrenca nos Tinderes da vida! ― eu falei, provocando o rapaz à minha frente.
― Ah, poxa vida mesmo, hein! ― ele falou, em um tom de falsa chateação. ― Vai jogar isso na minha cara pelo resto da minha existência mesmo, não é?
Logo nós dois estávamos gargalhando de tudo aquilo, e então o Eduardo se despediu de mim, e então fomos trocar de roupa. E como eu ainda só tinha o vestido da noite anterior para vestir, nós ainda teríamos que passar no meu apartamento, para eu poder me trocar de verdade.
Quando voltamos a nos encontrar na sala, e o Eduardo já recolhia todo o desjejum, eu comecei a me sentir ansiosa, com a situação minha e do Theo, mas o meu amigo parecia não notar, pois estava distraído, recolhendo toda a comida e a louça suja.
― Eu já disse que você deveria trazer umas coisas suas para cá! ― ele falou, enquanto se mantinha de costas para mim. ― Aqui também é a sua casa, Bia!
― Eu não vou vir morar com você, Edu! ― eu disse, um pouco irritada. ― Eu não sou a sua irmã mais nova!
Ele então se virou para mim, me encarando com os seus olhos cor de mel. Eduardo estava sério, pois havia notado o tom de irritação, na minha voz.
― Eu nunca pensei isso, Bia! Eu juro que não te vejo mesmo, como uma irmã! ― ele disse. ― Eu só não acho que aquelas duas loucas que moram contigo, sejam uma boa companhia. E você sabe, que não foi só uma vez, que elas levaram homens bêbados e drogados, para o apartamento e que, inclusive, eles já importunaram você. Então eu só queria que você se sentisse segura e confortável, e não que você pensasse estar sendo controlada e vigiada, por mim! Desculpa aí então, viu?
Ele começou a ir para a cozinha, e eu logo percebi que havia dado um show, à toa. O Eduardo era tão gentil sempre, então eu não sabia o que tanto me incomodava, no fato de ele querer me proteger. Eu não entendia por qual motivo, eu me sentia tão avessa ao meu amigo se comportar assim, como um irmão.
― Me desculpa, Edu? ― eu pedi, enquanto tocava as suas costas. ― Para você estaria tudo bem então, se eu trouxesse alguns rapazes de vez em quando, para cá?
Eduardo se virou para mim e a sua boca tremia, assim como se ele estivesse com raiva e ciúmes, sei lá, então como eu não queria acabar sendo a irmãzinha dele, decidi que não podia ficar indo dormir ali, mesmo.
― Está vendo? ― eu perguntei, já com a mão na cintura. ― Você está com ciúmes de mim, o que me leva a crer, que me vê, sim, como a sua irmãzinha indefesa!
Eu saí dali pisando duro, pois se todos me vissem como uma criança, era bem provável que a justiça me visse também, e então nunca me dessem a guarda do Theo.
Então eu me vi a ponto de chorar, pois por mais que eu me esforçasse em ser responsável e lidar com as minhas coisas, assim como uma adulta, a minha idade e a minha aparência, faziam com que todos me vissem como uma adolescente indefesa.
Eduardo veio atrás de mim, e ao ver que eu estava realmente chateada, logo me abraçou bem apertado.
― Bia, me desculpa, tá? ― ele pediu, enquanto acariciava os meus cabelos. ― Eu não te vejo como uma irmã, não! Eu só sou um idiota, que não gosta de imaginar que algum otário, possa te fazer mal, mas você pode e deve, viver a sua vida, sim!
― Está tudo bem, Edu ― eu falei com seriedade. ― Eu só não quero dormir aqui mais. Afinal, eu preciso lidar com as confusões do meu apartamento, sozinha. E está tudo bem assim, pois logo eu irei para outro lugar!
― Não seja tão radical, Bia! ― Eduardo pediu, me encarando com súplica. ― Eu gosto da sua amizade e da sua companhia, então eu prometo que não opino mais em nada, mas não deixa de vir aqui, ok?
― Está tudo bem ― eu disse, ainda contrariada. Mas a verdade, era que o problema não era o Edu, mas sim, toda a minha vida. ― Nós podemos ir agora?
― Claro, meu bem ― ele disse, parecendo também ficar muito pensativo. ― Mas não vamos deixar isso atrapalhar o nosso dia, está bem?
― Claro que não, Edu!
Logo nós estávamos dentro do seu carro, e ele ligou a música "Juliet" para tocar, só porque sabia que eu amava aquela canção. E vendo que o Eduardo era capaz de abrir mão dos próprios planos, só para me agradar, eu percebi e decidi, que não podia descontar nele, toda a frustração da minha vida.
Porque se tinha uma pessoa que não tinha culpa das minhas mazelas, aquela era, com certeza, o meu amigo!
― I wanna love you in my life, sweet Juliet ― ele cantou, imitando a voz de Robin Gibb, e fazendo caras e bocas, só para me fazer descontrair da tensão, em que eu havia me enfiado naquela manhã.
Logo eu já estava dando muitas risadas das palhaçadas do Eduardo, e sem nem perceber, nós já estávamos em frente ao meu apartamento, na Rua Augusto de Lima.
― Você é um grande bobo! ― eu disse, enquanto dava um tapa leve em seu ombro
― Mas você me ama mesmo assim ― ele disse, enquanto me encarava, com os seus olhos cor de mel.
― É, eu te amo! ― eu disse com sinceridade, pois não havia pessoa que me alegrava e me divertia mais, do que o Edu.
― Então vai lá se arrumar, pois eu estou te esperando aqui, Bia ― ele disse, com uma paciência que só o Eduardo tinha, para tudo na vida.
― Já volto! ― eu disse e em um impulso, lhe dei um beijo estalado na bochecha.
Ele sorriu e eu saí do carro, estranhamente voltando a ficar muito animada, para aquele dia. Afinal, eu esperava do fundo do meu coração, que naquele domingo, eu tivesse ao menos uma notícia boa, quanto ao Theo.
E se fosse assim, eu poderia dizer que apesar de todos os problemas com as minhas colegas de apartamento, a minha vinda para Belo Horizonte, tinha valido completamente a pena.
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