Capítulo 15
Diferentemente do que eu imaginei ser possível, a ceia de Natal e também o almoço do dia 25 de dezembro, correram de forma muito agradável. Eu não sabia o que o Eduardo havia dito para a minha mãe ― pois ele havia me pedido para deixar tudo isso para lá ―, mas ela se esforçou e muito para agradar o Theo, e isso era tudo o que eu mais poderia desejar como presente de Natal. Todavia, mesmo assim, também ganhei muitas outras coisas de Edu; o que me fez ficar um pouco sem graça, pois só pude comprar para ele uma simples lembrança.
Contudo, o meu noivo pareceu não se chatear com o fato de eu não poder comprar algo mais valioso para ele.
No fim daquele dia festivo, no entanto, Eduardo recebeu uma ligação de um de seus melhores amigos ― que atualmente morava em Santa Catarina ―, e ele o convidou para passar a noite em Lavras Novas, para que pudessem se reencontrar.
Edu então sorriu para mim e segurou em minhas mãos, olhando-me profundamente com seus olhos bonitos.
― Aceita dar um passeio comigo esta noite? ― ele me perguntou, e ao eu lançar o olhar para Theo, que brincava com Manu no tapete da sala, Eduardo logo entendeu que eu não queria deixar o garoto sozinho. ― O Theo está aproveitando ao máximo a companhia da prima, então aposto que não vai se importar com a nossa saída. E eu prometo que amanhã cedo já estaremos de volta!
Era verdade que o meu pequeno havia se adaptado muito bem à família, e eu duvidava muito que ele fosse sentir mesmo a nossa falta, então eu fiz que sim com a face, concordando com o convite.
Contudo, ao arrumar as minhas coisas para passar a noite fora com Edu, eu senti o meu estômago embrulhar, pois apesar de termos combinado que faríamos o nosso relacionamento dar certo, eu ainda me sentia uma farsante às vezes. E aquele era um momento que eu me sentia mal, pois apesar de estarmos indo para um passeio romântico, não iríamos aproveitá-lo como tal.
Todavia, se eu pensava que conseguia disfarçar alguma coisa, eu estava muito enganada, pois assim que entramos no carro de Edu, ele logo percebeu que eu estava tensa.
Meu noivo então me olhou, bastante sério e preocupado, e disse:
― O que está te incomodando, Bia?
Eu me remexi sobre o assento do automóvel, pois sabia que não iria adiantar dizer que não era nada, pois Eduardo me conhecia muito bem.
― Eu não sei como devo me portar nesse encontro de casais… ― eu disse, encarando-o com seriedade.
Mas a verdade oculta que eu não queria dizer, era que eu não sabia como iria ser aquele evento, pois iríamos passar a noite em uma pousada romântica, mas eu ainda não me sentia preparada para dar nenhum passo a mais em nossa relação.
― Não seja boba, Bia. Apenas seja você mesma ― ele disse, sorrindo e relaxando, ao perceber que não era nada grave. ― Não há nada de errado com você, e eu gosto de você exatamente do jeito que você é.
Eu sorri e balancei cabeça, fingindo estar convencida de que aquela noite seria um sucesso, mas o meu sexto sentido não podia estar mais certo ao me alardear, pois aquela noite foi tudo, menos fácil.
Assim que chegamos de mãos dadas no bistrô onde o amigo de Eduardo e a sua esposa nos aguardavam, eu logo notei que a mulher me encarou de cima a baixo, como se eu fosse uma escória qualquer. Todavia, eu me mantive quieta, pois aquilo poderia ser apenas uma má impressão minha, que já estava com a segurança um tanto abalada.
Nos sentamos então à mesa e eu me pus a observar o Centro daquele vilarejo turístico, que era procurado por muitos jovens casais. Lavras Novas é um lugarejo rústico e bonito, e de algum modo, o seu clima frio e serrano, faz com que o local que, na realidade, é muito simples, se torne muito especial.
― Francis, essa é minha noiva, Beatriz. Bia, esses são o meu grande amigo, Francis, e a sua esposa, Nadja ― Eduardo nos apresentou de maneira animada, com um sorriso no rosto.
Eu cumprimentei a todos, ainda um pouco tímida e deslocada, mas logo Edu e Francis começaram a falar de negócios e eu fiquei calada, observando melhor o interior do bistrô, que era realmente muito romântico.
As mesas do lugar eram de metal dourado em estilo rústico ― e os estofados das cadeiras eram de um tom claro, bem próximo do pêssego. Sobre cada mesa havia um jarro com flores in natura e também velas baixas e delicadas. As paredes do lugar eram claras, com alguns quadros de bom gosto pendurados e havia ainda uma única e grande parede de vidro, que dava para a rua mais movimentada de Lavras Novas. Eu estava encantada com a singeleza do lugar ― que é um distrito de Ouro Preto ―, mas logo acordei do meu tour visual, pois Nadja me chamava.
Olhei para a mulher de Francis e percebi que ela me inspecionava de um modo um pouco debochado, como se eu fedesse. Todavia, me mantive calma e apenas olhei para ela, esperando que a loira me dissesse algo.
― Quantos anos você tem? Uns dezesseis? ― ela perguntou, soltando uma risadinha maliciosa logo depois. ― Espero sinceramente que não esteja mais na escola…
Naquele segundo, para piorar o meu desconforto, Eduardo e Francis pediram licença da mesa, pois queriam ver algo que estava na rua, e como eu não desejava parecer imatura e despreparada, apenas concordei com a saída do meu noivo.
Como Nadja ainda esperava por uma resposta minha, resolvi que precisava suportar aquela noite, da maneira que eu pudesse.
― Eu tenho vinte e dois anos, e não, já não estou na escola há algum tempo ― respondi, tentando ponderar o tom da minha voz, afinal eu não queria que ela pensasse que podia me afetar. ― E você, quantos anos tem?
Nadja pareceu surpresa com a minha resposta, pois acho que pensou que eu seria agressiva com ela, mas eu não era de baixar o nível.
― Eu tenho trinta anos e, inclusive, já tenho a minha própria clínica de estética, e você o que faz da vida? ― ela perguntou, ainda me sondando com os seus olhos azuis muito maquiados. ― Sinceramente, não sabia que o Eduardo gostava de menininhas…
Naquele momento o meu sangue ferveu, mas eu respirei fundo e então a encarei, com certo cinismo.
― Parabéns por sua clínica de estética, Nadja ― eu disse, mostrando que não a invejava, pois tinha o meu próprio caminho para trilhar. ― Eu sou estudante de Psicologia, e não me considero uma menininha, apesar da minha idade. Na verdade, considero que tenho muito mais maturidade e educação, do que algumas mulheres de trinta anos.
Nadja captou logo a minha indireta e então se aproximou, parecendo pronta para me bater, no entanto, a única coisa que fez foi dizer o que pensava de mim, por entre os seus dentes trincados:
― Eu conheço bem o seu tipinho, garota interesseira. Só espero que o Eduardo também veja a tempo!
Eu estava pronta para me defender, quando os rapazes retornaram à mesa, parecendo notar então o clima pesado no ar. Eu me mantive calada e estática, pois não iria perder as estribeiras por causa da opinião de uma mulher que não me conhecia. Todavia, era inegável a minha vontade de ir embora daquele ambiente tóxico.
― Eu estava falando agora mesmo para a sua noiva, o quanto ela é uma gracinha… ― Nadja disse para Eduardo, com um sorriso falso na face.
Edu riu, pois de vez em quando, tinha dificuldade em ver maldade nas pessoas, e apesar disso ser muito prejudicial às vezes, eu também gostava muito dessa característica dele, pois demonstrava a mim o quanto ele era bom.
― Ela não é só uma gracinha, mas como também é muito linda e inteligente! ― Eduardo disse, fazendo-me sorrir, pois ele sempre estava pronto para me exaltar.
― Ah, é mesmo? ― ela perguntou como se fosse uma confirmação, mas no fundo estava apenas debochando de mim.
Eduardo concordou com a face e então pegou a minha mão por baixo da mesa, percebendo então o quanto ela estava fria e suada. Ele me encarou, tentando buscar sinais de que eu não estava bem. Eu me esforcei bastante para fingir, pois não queria acabar com a noite do meu noivo, mas ele logo percebeu que havia algo mesmo de errado, mas antes que pudesse me questionar, o garçom veio confirmar os nossos pedidos.
Nós então pedimos o jantar e uma taça de vinho para acompanhar, mas por mais que a comida estivesse maravilhosa, o meu apetite tinha sumido. Eu apenas dei algumas garfadas para disfarçar, mas como Nadja só tinha olhos para mim, não pude ficar na minha.
― Está fazendo dieta, Beatriz? ― ela perguntou, ao ver o meu prato quase intocado.
Naquele minuto virei o centro das atenções e a pouca comida que eu havia ingerido, pareceu entalar na minha garganta, de tão desconfortável que eu me sentia.
― Dieta? ― Eduardo perguntou em um tom divertido. ― Ela não precisa de nada disso!
― Está enjoada então, querida? ― ela voltou a me interrogar, parecendo querer me fazer perder as estribeiras. ― Ah, minha nossa! Você não está grávida não, né? Não vão me dizer que é por isso que vão se casar, vão?
Naquele segundo, Eduardo pareceu perceber o ataque de Nadja, tanto que fechou o semblante, enquanto apertava a minha mão por baixo da mesa.
― Nadja, o que é isso? ― Francis perguntou, mostrando-se chateado com a atitude da esposa. ― Não precisa dizer nada, Beatriz, pois isso não nos diz respeito, ouviu, Nadja?
― Mas eu faço questão de responder mesmo assim: eu não estou grávida, só não estou com muito apetite ― falei calmamente, sem elevar o meu tom de voz.
― Eu e a Beatriz vamos nos casar porque nós nos gostamos, Nadja! ― Eduardo respondeu, enquanto fuzilava a loira com seus olhos esverdeados.
Depois disso, o clima entre nós ficou muito indigesto e então, logo após a chegada das sobremesas, nós encerramos a noite.
Francis e Eduardo se abraçaram e se despediram, prometendo se verem em breve, enquanto eu apenas acenei para o casal, sem conseguir mais ser falsa. A minha cota havia se encerrado, para um mês inteiro.
Todavia, ao caminhar em silêncio ao lado de Eduardo, eu senti muita vontade de desabar, pois eu não sabia se aguentaria passar por mais um evento como aquele. Eu sempre soube que a nossa diferença de idade poderia pesar entre nós em alguns momentos, mas nunca imaginei que seria desprezada, como se o fato de eu ser mais nova demonstrasse aos a todos que eu era uma ninfetinha interesseira. E desse modo, eu não sabia mais se tinha como o nosso relacionamento dar certo, pois apesar do Edu ser lindo e interessante, todos sempre tenderiam a achar que tudo o que eu queria dele, era o seu dinheiro.
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