Capítulo 14
Minha mãe estava preparando o jantar e as crianças estavam brincando no balanço que havia embaixo do pé de manga, então eu e Beatriz ficamos na varanda, para podermos vigiá-los.
Eu sentia que a Bia estava tensa e logo acreditei que era porque se aproximava o momento em que teríamos que contar do nosso noivado para a mãe dela, afinal a minha mãe havia chamado Vanda para jantar em nossa casa naquela noite.
Eu me aproximei de minha noiva e beijei a sua testa, e em seguida olhei em seus olhos, tentando passar paz para ela.
― No que está pensando, meu amor? ― eu perguntei, enquanto acariciava os seus cabelos cor de mel.
― E se os nossos esforços não forem suficientes, Edu? ― ela perguntou, mostrando que sentia medo.
Em seguida, a Beatriz olhou para o local onde Theo estava e eu percebi que ela falava do garotinho, e não da nossa relação.
― Vai dar sim, meu bem ― eu disse, realmente confiante. ― Eu tenho fé que vai dar tudo certo, pois o pessoal do orfanato sabe que o Theo merece amor e estabilidade, e nós temos muito mais do que isso para dar a ele.
Beatriz sorriu para mim e me abraçou, e ao envolver os meus braços em seu corpo miúdo, eu senti que segurava todo o mundo e então eu notei que a cada segundo que se passava, eu a amava mais e além disso, me apaixonava profundamente com a ideia de termos uma família.
Ela então olhou para mim de forma profunda e desconhecida, e eu me conectei a Beatriz pelas irises, e quando senti que estávamos mesmo na sintonia do amor, me abaixei lentamente a fim de beijar os seus lábios, mas antes que eu concretizasse o meu desejo, fomos interrompidos por Vanda, que veio caminhando em nossa direção de forma nada amistosa.
― Eu juntei todas as minhas economias para que você pudesse estudar, e não para que pudesse ficar grávida! ― ela falou de forma ríspida, sem nos dar licença para dizer nada. ― E você, Eduardo, que decepção! Eu confiei em você, e simplesmente fez isso!
Beatriz se afastou de mim abruptamente, um pouco assustada com a brusquidão de sua mãe, e eu confesso que estava tão perdido, tanto que não disse nada.
― Mãe, eu não estou grávida! ― Beatriz disse seriamente, parecendo chateada com as acusações da mãe. ― De onde tirou isso?
― A Junia acabou de me dizer que ficaram noivos, pois a Beatriz está grávida! ― dona Vanda disse, parecendo perto de ficar histérica.
― A Junia… tinha que ser a Junia! ― Bia disse, se mostrando muito irritada. ― Fico muito triste ao ver que não quis nem ouvir o que tínhamos para dizer, antes de nos acusar. ― Beatriz balançou a cabeça, enquanto lágrimas desciam de seus olhos. ― A senhora é tão superprotetora, que até se esquece que nunca fui irresponsável e que nunca te dei motivos para reclamar de mim.
― Se não está grávida, por que vão se casar tão de repente assim? ― ela perguntou, muito desconfiada.
Percebendo que os ânimos estavam ficando exaltados entre mãe e filha, resolvi consertar as coisas, da maneira que eu podia.
― Vanda, será que podemos nos falar por um instante? ― eu perguntei, e em seguida lancei um olhar para Bia, indicando que eu sabia o que estava fazendo.
― Sim ― ela respondeu, um pouco mais calma.
― Vamos até o meu chalé então ― eu falei, indicando com a cabeça, que era para a Beatriz continuar cuidando das crianças, enquanto eu amansava a fera.
Bia se sentou em uma poltrona de ferro que havia ali e ficou observando os pequenos, enquanto eu e Vanda caminhamos em um silêncio sepulcral, até estarmos no aconchego do meu chalé.
Chegando na sala do meu abrigo particular favorito, eu pedi que ela se sentasse no sofá e me sentei de frente para ela, para que eu pudesse olhar em seus olhos enquanto falava.
― Vanda, eu e a Beatriz não vamos nos casar porque ela está grávida, mas sim porque nos gostamos ― eu falei com sinceridade, ao menos da minha parte. ― E, aliás, a senhora pode ficar tranquila, que não tem a menor chance de ela estar esperando um bebê. ― Eu ri, pois aquilo era a verdade. ― E se a senhora é contra a Bia se casar comigo, achando que vou atrapalhar os sonhos da Beatriz, está muito enganada. Eu irei continuar apoiando ela em tudo, e como sei que se formar em Psicologia é um sonho para ela, eu jamais a atrapalharia de estudar, então a senhora pode ficar tranquila!
Vanda ficou alguns minutos pensativa, e logo depois voltou seus olhos astutos para mim, me investigando.
― Está querendo dizer que a minha filha não pode ter filhos, é isso? ― ela perguntou, parecendo preocupada. ― É por isso que a Bia quer adotar aquele garoto?
Eu fiquei sério, pois não gostava do rumo que as coisas estavam tomando. Estávamos tão próximos do Natal, e não queria ver a Beatriz triste, por causa de desentendimentos com a mãe. Então só me restava apaziguar a situação, como eu pudesse.
― Primeiramente, aquele garoto tem nome, e o nome dele é Theo ― eu falei com seriedade, pois não ia admitir que Vanda humilhasse o meu garotinho. ― E em segundo lugar, de onde a senhora tirou isso? A Beatriz quer adotar o Theo porque o ama, assim como eu também!
Ela suspirou e estalou a língua, parecendo ter encontrado o cerne da questão.
― Você disse que a minha filha não pode estar grávida, então eu pensei que pudesse ser isso ― ela disse, como se fosse simples. ― Porém, agora eu entendi porque irão se casar… É por causa desse menino, não é?
― Eu estou me casando com a Bia não só por causa do Theo, mas porque eu a amo ― eu resolvi deixar bem claro. ― Mas sim, adotar ele está em nossos planos em comum.
Vanda pareceu ficar agitada, se levantando do sofá e caminhando de um lado para o outro, e eu então percebi que ela não queria de jeito nenhum, que a Bia adotasse o Theo.
― Eduardo, como a minha filha vai estudar, tendo que olhar um garoto doente? ― ela perguntou, cheia de amargura em sua voz. ― Eu juntei cada centavo possível para estudar a minha filha, para que ela tenha um destino diferente do meu, mas parece que a sina dela será a mesma que a minha!
Para o meu desespero, Vanda começou a chorar e só então eu pude ver como ela era infeliz e amargurada, por ter sido abandonada pelo pai de Bia e ter precisado criar a menina, totalmente sozinha. Ela estava na casa dos quarenta anos, mas parecia ter muito mais idade, por causa de sua solidão e sofrimento, e então decidi que estava na hora de tudo isso mudar também.
― Eu irei fazer o meu papel de pai, e a Beatriz terá tempo para fazer tudo o que precisa ― eu afirmei, enquanto olhava nos olhos de Vanda. ― E agora, inclusive, a senhora poderá gastar as suas economias com você, pois a Bia irá morar comigo e eu cuidarei dela e arcarei com tudo o que ela precisar, até que ela tenha sucesso em sua carreira… A senhora pode confiar em mim, para fazer isso por sua filha?
Vanda olhou para mim por um instante, e depois pareceu relaxar, saindo um pouco da defensiva. Ela então fez que sim com a face, indicando que confiava em mim.
― Eu não estou reclamando de ajudar a minha filha, eu só quero que ela possa ter tudo, sem depender de migalhas… ― ela justificou, parecendo preocupada com a impressão que havia passado para mim.
― Eu sei, Vanda. Afinal, eu a conheço desde que era um moleque ― eu falei calmamente. ― Mas também sei que você ainda é jovem, então que tal fazer algo por você agora? Tenho certeza que minha mãe adoraria a sua companhia, em uma viagem.
― Viagem? ― ela perguntou, parecendo achar aquela sugestão algo de outro mundo.
― Isso mesmo ― eu falei com bom humor. ― Tenho certeza que vai gostar.
― Quem sabe? ― ela perguntou, muito desacreditada. ― E, Eduardo, por favor, não me julgue por querer cuidar da minha filha!
― Jamais ― eu disse, pois entendia o ponto de vista de Vanda. ― Mas agora a Beatriz irá morar comigo e você não terá que se preocupar tanto assim, pois em breve estará vendo a sua filha com um diploma na mão e depois, ainda a verá alcançar muito mais vitórias.
Vanda sorriu e então olhou para fora do chalé, indicando que a conversa estava chegando ao fim.
― A única coisa que te peço é que não magoe a minha filha ― ela disse, mostrando o quanto não confiava em relacionamentos amorosos.
― Eu prometo ― eu disse, pois, de verdade, pretendia dar a minha vida para isso. ― Agora se ama mesmo a Bia e confia na boa educação que deu a ela, eu gostaria de te pedir que dê uma chance ao Theo, afinal aquele menino é a vida da sua filha...
Vanda pareceu pensar em algo muito profundo e então depois suspirou, demonstrando que havia sido vencida.
― Tudo bem ― ela disse por fim. ― Afinal, nenhuma criança no mundo pediu para ser órfã, não é mesmo?
Eu concordei com a face, sentindo muita vontade de sorrir, pois retirando a presença indigesta de Junia ali na casa de meus pais, parecia mesmo que teríamos um Natal repleto de paz e amor.
― E acima de tudo, tenho certeza que você irá se apaixonar pelo Theo, assim que o conhecer ― eu disse, certo de que por hora, não teríamos mais problemas.
Vanda sorriu para mim e depois disso nós fomos até onde a Beatriz nos esperava, demonstrando sinais de ansiedade. Contudo, ao ver que estávamos tranquilos e sorridentes, ela relaxou. Porém, mesmo assim, ela continou buscando motivos, para aquela mudança de clima brusca.
― Amor, por que não chama o Theo para que a sua mãe possa conhecê-lo? ― eu perguntei, incentivando-a com o olhar.
Beatriz então olhou para mim e para a mãe dela, buscando sinais de segurança em nós. Vanda então se aproximou da filha e a abraçou, com os olhos marejados.
― Eu quero conhecer o meu futuro neto sim, filha ― Vanda disse, demonstrando sinceridade. ― E me desculpa mesmo por não confiar em você. Às vezes quero te proteger do mundo, mas não percebo que estou te impedindo de ser feliz também.
Beatriz então sorriu, se mostrando emotiva. Ela então se afastou da mãe, pronta para ir buscar o Theo.
― Mãe, eu ainda vou te dar muito orgulho ― Bia disse, se mostrando decidida. ― Isso eu te prometo!
― Você já me dá, filha! ― Vanda afirmou. ― Afinal, mesmo tendo sido criada somente por mim, você tem o coração muito mais empático do que o meu. E é por isso que eu demorei muito mais a entender que o Theo merece todo o amor que você dedica a ele.
― O importante foi que a senhora percebeu isso a tempo ― Bia disse, enquanto se afastava correndo, a fim de ir se encontrar com o nosso pequeno.
Eu então olhei para Vanda e sorri, mas depois desviei o meu olhar para o céu, fechando os olhos e agradecendo a Deus silenciosamente, por aquela pequena vitória.
Eu sabia que ainda viriam muito mais desafios, mas decidi que iria viver um dia de cada vez e desse modo, venceria um leão por dia.
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