Capítulo 12
Quando cheguei na sala da casa da minha madrinha, eu encontrei o Theo e a Manuela brincando de empilhar bloquinhos, então dei um beijo nos pequenos, e depois fui pegar um pouco de água, para que o meu menino pudesse tomar o remédio da manhã.
Assim que entrei na cozinha, encontrei a Sandra, preparando o desjejum com bastante capricho, então me aproximei e lhe ofereci ajuda. Mas a verdade era que eu me sentia uma criminosa, por estar enganando aquela mulher, que sempre foi tão gentil comigo.
― Bom dia, querida! ― ela disse com alegria, enquanto colocava geleia e torradas, sobre uma bandeja de prata. ― Cadê o Eduardo?
― Bom dia, madrinha! ― eu respondi, bastante sem graça. ― Ele dormiu muito pouco essa noite, então resolveu ficar um pouco mais na cama…
Sandra olhou para mim e sorriu, de um modo um pouco enigmático, o que me fez perceber que ela tinha entendido tudo errado. Eu fiquei ainda mais tímida e sem lugar do que antes, ao perceber que ela achava que o motivo que havia feito Eduardo ficar acordado, era eu.
― Compreendo muito bem tudo isso, Bia... ― ela disse, com bom humor. ― Não quis descansar um pouco mais também? Nós podemos cuidar do Theo, sem problemas…
― Eu já dormi o suficiente, mas obrigada por oferecer! ― eu disse, querendo deixar claro que eu não era o motivo do pouco sono de Eduardo. ― No que posso te ajudar, madrinha?
― Está tudo sob controle, pequena ― ela disse e então me olhou de um jeito sorridente, como quem quer dizer algo. ― Eu quero que saiba, que estou muito feliz pela sua união com o meu filho, Beatriz… Você sempre fez parte dessa família, mas saiba que será muito bem-vinda aqui também, como a minha nora.
Eu sorri fracamente, pois me sentia extremamente suja, por enganar aquela família. Afinal, quando eu e o Edu nos separássemos, todos eles iriam sofrer muito também.
― Obrigada, madrinha! ― eu falei, enquanto pensava em um milhão de maneiras de me redimir, mas não encontrava nem uma. ― Só não sei como a minha mãe vai reagir a essa notícia…
― Pode deixar que eu mesmo dou um jeito na Vanda! ― ela falou, se mostrando muito animada. ― Eu fico tão aliviada em saber que o amor que o Eduardo sente por você, é recíproco… Eu já tinha percebido há algum tempo, que o Eduardo é apaixonado por você, mas tive muito medo desse sentimento não ser recíproco, já que você é muito mais discreta do que ele, e eu nunca notei nenhum sinal, vindo de você… Então é um alívio para mim, saber que vocês se amam por igual, pois nenhuma mãe quer ver o seu filho sofrendo!
Eu fiquei um pouco boquiaberta com a fala de minha madrinha, pois como ela poderia ter percebido isso, sendo que o meu relacionamento com o Edu era falso?
― Ele havia te dito algo? ― eu resolvi perguntar, como se aquilo fosse somente uma curiosidade boba.
― E precisava dizer? ― ela perguntou, em um tom teatral. ― O assunto principal do meu filho ultimamente, estava sendo sempre exaltar as suas qualidades… E ele ficou extremamente feliz, ao saber que você iria estudar em BH. Inclusive, acho que até mais, do que quando ele próprio passou na faculdade!
Eu sorri timidamente, pois apesar de saber que o Edu gostava da minha companhia e que queria me ver tendo sucesso na vida, eu nunca iria imaginar que era tanto assim.
― É recíproco, sim, madrinha… ― eu disse, e ao analisar toda a situação, cheguei à conclusão de que também tinha ficado ainda mais feliz, quando soube que iria morar perto do Eduardo novamente.
― E é por isso, que vocês merecem ser muito felizes! ― ela disse, me dando um abraço sincero. ― E não se preocupe com a sua mãe, pois eu mesma vou conversar com ela!
Em seguida, voltei para sala e dei o remédio ao Theo, aproveitando para brincar um pouco com ele e com Manu. Depois de um tempo, no entanto, Milena chegou ali, com a cara amassada, ao lado do marido.
― Bom dia, cunhada! ― ela me cumprimentou com alegria, mas logo fiquei apreensiva, ao ver que ela pretendia ser indiscreta, mais uma vez. ― E como foi a noite de amor dos pombinhos?
― Milena! ― o esposo dela a repreendeu, ao ver que eu estava sem graça. ― Isso é coisa que se pergunte aos outros?
― Eu… Hã… ― resmunguei, sem saber o que dizer, afinal, não havia rolado nada. E nem aconteceria nada disso, entre nós dois!
― O que é que tem? ― Milena respondeu, olhando para o marido. ― É algo super normal e maravilhoso, para se fazer na vida!
Naquele segundo, para o meu alívio, Jorge entrou na sala, e aquele assunto constrangedor teve que morrer.
E muito além do fato de que eu e o Edu não éramos um casal de verdade, eu não entendia mesmo sobre a necessidade de algumas pessoas, em querer saber sobre a vida sexual alheia.
Eu era muito discreta e fechada, então não falaria sobre a minha intimidade, para outras pessoas. Eu achava desnecessário, aliás.
O pai de Eduardo cumprimentou a todos com bastante animação, e em seguida, se sentou à mesa, em seu lugar de costume. E apesar de eu praticamente ter crescido naquela casa, me senti muito apreensiva, ao me sentar ali, sem a presença de Eduardo.
Theo veio correndo e se sentou ao meu lado, pegando em minha mão por baixo da mesa. Eu sorri para o pequeno, prometendo-lhe que mais tarde faríamos algo de interessante.
― Cadê o titio? ― o menino perguntou, sentindo a falta de Edu.
Era fato que eles haviam se afeiçoado muito um com o outro, e esse era também um dos motivos, pelo qual eu tinha aceitado me casar com o Eduardo.
― Ele ainda não acordou, mas logo estará aqui, para que possamos fazer algo juntos… ― eu disse, enquanto todos os olhos se voltaram para mim, como se eu fosse uma novidade.
― Algum problema? ― Jorge perguntou, ao notar que eu estava estranhamente tensa.
― Não, ele só teve um episódio de insônia essa noite, então resolveu dormir um pouco mais… ― eu disse, sorrindo, muito sem graça.
― E a insônia do Eduardo tem o seu nome, né? ― Milena perguntou, com um tom malicioso em sua voz.
― Já chega disso, Milena! ― Sandra a repreendeu, ao ver que eu estava desconfortável. ― Nós temos crianças à mesa… E, aliás, deixa de ser tão curiosa sobre coisas que não lhe dizem respeito, minha filha!
― É isso mesmo, Milena! ― Jorge reiterou, querendo que o clima ficasse bom, para o desjejum. ― E, Beatriz, não ligue para a Mi, pois a minha filha é muito tagarela!
― Tudo bem ― eu disse timidamente, enquanto me dedicava a servir a mim e ao Theo, sem deixar transparecer que estava muito envergonhada.
Todavia, logo Natasha e Carlos se juntaram a nós, e então a conversa ganhou um novo rumo, o que me fez relaxar consideravelmente.
Porém, antes mesmo que eu chegasse a me sentir totalmente tranquila, as coisas novamente mudaram de face, pois logo que a parte da família que morava no Sul chegou ali em Itatiaia, e a enteada da tia de Eduardo ficou sabendo que eu e ele estávamos noivos, ela fez de tudo para me irritar.
― Quer dizer que o Edu embuchou a filha da empregada, e agora quer consertar o que fez? ― Júnia disse, mostrando o quanto era ardilosa e invejosa.
― Júnia, eu não aceito que fale assim da Beatriz, dentro da minha casa! ― Sandra me defendeu, se mostrando muito indignada com a ofensa da moça. ― E saiba que a Vanda e a Beatriz, são parte da família, então tenha mais respeito ao falar delas!
Júnia se mostrou impaciente, mas eu sabia que ela só estava indignada, pois queria estar em meu lugar. Afinal, ela havia tentado a vida toda ficar com o Eduardo, mas ele nunca havia lhe dado abertura, então a moça se achava no direito de descontar a sua amargura em mim.
― Eu só estava perguntando isso, porque o Eduardo sempre me disse que não gostava de se relacionar com moças mais novas, e agora vai se casar com essa garotinha aí! ― ela disse, e então apontou para a minha face, como se tivesse nojo de mim.
Naquele segundo, sem que eu esperasse, o Eduardo entrou pela porta da sala, e encarou Júnia com bastante desprezo. Ele se aproximou de mim e me enlaçou pela cintura, mostrando para a moça através de seu olhar, que ela estava encrencada, por me difamar.
― Acontece que eu disse isso, só para me livrar de você! ― ele respondeu, sem se importar se magoaria o marido de sua tia. ― Então vê se escuta os conselhos da minha mãe, e não toca mais no nome da minha noiva!
Em seguida, Eduardo me puxou para um canto, olhando em meus olhos, e naquele minuto, se eu dissesse que estava confortável com toda aquela discussão, eu estaria mentindo.
― Me desculpa por isso, meu bem? Você é a pessoa mais incrível que eu já conheci, e não merecia ser atacada dessa forma, por essa maluca! ― ele falou, realmente preocupado comigo. ― Vamos sair um pouco desse ambiente tóxico, e levar o Theo para conhecer a Serra?
Eu fiz que sim com a face, ainda muito triste por ter sido atacada unica e exclusivamente porque era de uma família simples.
― Nós passamos antes em Ouro Branco, e compramos coisas deliciosas para um piquenique daqueles! ― ele falou e sorriu, tentando me acalmar. ― Quer ir arrumando você e o Theo, enquanto eu converso um pouco com os meus pais? Nós vamos colocar alguns limites nesse lugar, e um deles será que quem não te respeitar, não poderá ficar mais aqui!
Eu segurei no braço do meu amigo, obrigando ele a me olhar ainda mais profundamente.
― Não quero causar problemas para a sua família, Edu… ― eu falei baixinho, pois começava a pensar que a minha presença ali, só havia complicado tudo.
― Escuta aqui, Beatriz: ― Eduardo disse, enquanto segurava em meu queixo, para que eu não parasse de lhe olhar ― você é mais da família, do que essazinha daí! ― Ele sorriu para mim e beijou a minha testa. ― Agora vá se arrumar, e coloque roupa de banho, pois nós vamos naquela cachoeira que você ama!
Eu o abracei por um instante, e depois disso chamei o Theo, para que ele me acompanhasse até o chalé, porém, como o meu pequeno havia se afeiçoado muito à Manuela, decidi no caminho, que não faria nada mal, se levássemos ela com a gente também.
E enquanto eu me trocava e passava protetor solar em Theo, eu comecei a pensar que aquela jornada, em busca de adotar o meu querido menininho, não seria nada fácil, mas que também me ajudaria a amadurecer, e me tornar uma mulher mais forte e corajosa. E era uma mãe assim, que o Theo merecia ter, então eu iria me esforçar.
Contudo, o que agonizava o meu coração, era o medo de que, talvez, aquilo tudo também pudesse acabar muito mal, para mim e para o Eduardo. Mas como aquela era a nossa única chance, resolvi que deveria arriscar, mesmo assim.
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