Capítulo 11
Assim que eu e a Beatriz saímos do baile da minha mãe, nós caminhamos juntos e em silêncio, até dentro do meu chalé. E naquele segundo, não eram somente os ecos da natureza ao redor, que gritavam alto, mas também os nossos sentimentos, que haviam se revirado completamente, em menos de vinte e quatro horas.
E depois de tudo o que havia sido experimentado por nós naquela noite, eu já não sabia mais como agir com a Beatriz. E isso era muito estranho, pois eu sempre havia sido muito espontâneo, em toda a minha vida.
Eu arrumei a cama do único quarto que havia ali, e esperei que ela saísse do banheiro, vestindo o seu pijama. Eu queria que a Bia me dissesse algo, sobre o que estava pensando ou sentindo, mas tudo o que pairava entre nós era o silêncio, que era pesado demais.
Me aproximei dela, já devidamente vestido com a bermuda com que eu iria dormir.
― Boa noite, Bia ― eu disse, enquanto me abaixava e beijava a sua testa. Mas depois de beijar os lábios dela naquela noite, tudo o que eu queria era provar um pouco mais, do seu sabor. E aquilo não era inteligente ou racional, mas era o que eu sentia, e já não tinha como eu controlar esse meu desejo. ― Nos vemos amanhã cedo?
Bia me encarou com os seus olhos claros, e então afofou o travesseiro, a fim de que ele ficasse na posição ideal para que ela pudesse se deitar.
― Você não vai dormir aqui comigo? ― ela perguntou, enquanto parecia estar tão desconfortável quanto eu. ― Já pensou se alguém entra aqui e percebe que você está dormindo no sofá, justamente no dia em que ficamos noivos…?
Eu me aproximei um pouco mais de Beatriz, e senti que ela estremeceu um pouco, pois agora estávamos sozinhos, com toda a nossa confusão de sentimentos.
― Se não quiser fazer isso, ninguém vai entrar aqui, sem a minha permissão… ― eu disse, sondando o que ela queria, através de seu olhar.
― Se desejamos que os nossos planos deem certo, precisamos fazer isso, sim, Edu! ― ela disse com firmeza. ― Já imaginou se o Theo disser um dia para alguém responsável pelo caso da adoção, que nós não dormimos juntos?
― Se está tudo bem para você, está tudo bem para mim também! ― eu quis deixar claro, para que a Bia não pensasse que eu estava lhe rejeitando. ― Eu só quero que se sinta confortável, nisso tudo!
Beatriz se deitou no lado esquerdo da cama, e eu logo fiz o mesmo, me deitando na outra ponta. Contudo, tudo o que pairava entre nós, de um modo tão subentendido, deixou um clima muito estranho no ar.
― Boa noite, Edu! ― ela disse, se virando para mim e me encarando por um segundo. ― E obrigada por tudo… Sei que não está sendo nada fácil, tudo o que está tendo que fazer por nós...
― Não me agradeça, por favor, Beatriz! ― eu pedi, muito desconfortável com o rumo que as coisas estavam tomando. ― Tudo isso é importante para mim, por igual.
Ela sorriu para mim de um modo sincero, e depois se virou de costas, apagando a luz, por fim.
― Durma bem, Eduardo ― ela disse, enquanto se encolhia em seu canto, decidida a ficar calada.
― Durma bem também, Bia ― eu falei, enquanto me questionava como eu faria para melhor o clima entre nós.
Não demorou muito e a Beatriz adormeceu. Eu fiquei alguns instantes observando ela dormindo, como um anjo, mas ao perceber que o sono não viria para mim, me arrastei para fora da cama e caminhei sorrateiramente até o andar debaixo, onde me sentei de frente para a janela, e me pus a olhar a lua e as estrelas.
Eu estava estranhamente agitado e ansioso, e por mais que fingisse que não, eu sabia exatamente qual era o motivo.
― Droga! ― eu resmunguei baixinho, ao cair tão profundamente na real.
O fato era que a minha irmã tinha mesmo razão, e eu acabava por perceber que gostava, de verdade, da Beatriz. E eu havia ignorado aquele fato por tanto tempo, pois no fundo, acreditava que era impossível termos algo a mais. Afinal, a Bia era dez anos mais jovem do que eu, e provavelmente, poderia não achar graça alguma em mim.
Mas naquele segundo, enquanto eu olhava para o céu estrelado da Vila Itatiaia, eu percebi com progundidade, que eu não havia dado certo com outras pessoas, não por culpa delas, mas sim, porque eu buscava por algo que eu só encontraria em Beatriz.
E por mais que eu pudesse ser sincero com ela, dizendo como eu me sentia naquele momento, eu tinha muito medo também, de que talvez ela se afastasse de mim.
Então eu me vi em um grande dilema, enquanto as horas foram passando e eu simplesmente, não fui me deitar para dormir.
Depois de um certo tempo, quando o dia estava prestes a raiar, eu acabei pegando no sono, ali mesmo onde eu estava sentado.
Acordei umas duas horas depois, com a Beatriz cutucando o meu ombro. Eu abri os olhos, e somente depois de alguns segundos, foi que me lembrei de onde eu estava.
E naquele segundo, a certeza de que eu amava mesmo a Bia, também me acertou em cheio, porém, eu resolvi não falar nada daquilo para ela.
― O que você está fazendo aqui, Edu? ― ela perguntou, com uma nota de desconfiança em sua voz. ― Você preferia ter dormido sozinho em sua cama, não é?
Eu me ergui de onde estava sentado, e a encarei com profundidade, pois não queria que ela pensasse justamente aquilo.
― Claro que não! ― eu falei com convicção. ― Eu tive um episódio de insônia, e vim ver o céu… Acabei dormindo aqui, sem nem perceber.
― Você precisa descansar, Eduardo… ― ela disse, parecendo estar verdadeiramente preocupada comigo. ― Hoje vão chegar os seus parentes do Sul, então você precisa estar com ânimo, para poder recebê-los.
Eu sorri, pois a Bia era sempre tão cuidadosa com as pessoas. E apesar de ela ser muito linda, o que eu mais gostava nela, era o seu jeito amoroso de ser.
― Então façamos assim, você desce para tomar o café e ver o Theo, e enquanto isso, eu vou tirar apenas mais um cochilo… ― eu falei, enquanto acariciava os seus cabelos cor de mel, e aproveitava para observar o quanto ela era perfeita. ― Mas antes do almoço eu já estarei de pé, e te encontro lá embaixo, para que possamos fazer algo com o nosso pequeno.
Beatriz sorriu abertamente para mim, e eu a abracei bem apertado. Ela estava feliz com a presença de Theo, e eu ainda mais, por tê-los ali comigo.
― Combinado! ― ela disse, enquanto se preparava para sair. ― Durma bem.
― Obrigado, meu bem ― eu falei, sabendo que ela era realmente, a pessoa que mais me alegrava e me fazia bem na vida.
Depois disso ela foi de encontro ao Theo, que já devia estar de pé, e eu me joguei sobre a cama, imaginando como seria incrível, dormir todos os dias com a Bia, a partir daquele instante.
Peguei no sono com um sorriso bobo na face, daqueles bem típico de quem está apaixonado, e não sabe mais disfarçar esse fato.
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