Capítulo dezassete - Earth
Capítulo dezassete – Earth
Não foi fácil escutar os meus pais contarem o que realmente aconteceu entre eles e os pais de Kao. Minha mãe baixa o rosto e meu pai a abraça. É lindo vê-los assim, sinto que o meu pai mudou muito nos últimos dias.
─ Eu acho melhor não deixar o Kao saber sobre isso. – digo.
─ Você está magoado comigo filho? – pergunta o meu pai.
─ Na verdade não, sinto muito orgulho da pessoa que se tornou agora, não importa as decisões que tomou no passado, pai. – falo e abraço os meus pais. Sinto-me um pouco estranho com essa situação toda, porém admiro a coragem do meu pai. ─ Agora entendo o ódio que existe entre o senhor e o pai do Kao, foi tudo por esse amor impossível.
Se Kao soubesse da verdade ficaria decepcionado com muitas coisas, já que eu também me decepcionei um pouco com os meus pais. Tanto o meu pai, quanto a minha mãe erraram feio tentando fazer o que consideravam certo.
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Nem me apercebi a que horas eu adormeci. Abro os olhos e me espreguiço. Queria continuar deitado, porém me levanto e caminho até a janela. Minha mãe se encontra no jardim regando e conversando com a sua flor favorita. Ela acredita que assim, o seu primeiro e verdadeiro amor a escutará aonde quer que esteja.
Foi duro escutar que os meus pais se casaram por um contrato, cada um com seus interesses. Em nenhum momento eu percebi que não existia amor entre os dois, pois sempre demonstraram se amar, pelo menos na minha presença. Mas me alegro em saber que ao longo do tempo eles se apaixonaram. Bem, apenas o meu pai se apaixonou, por isso se empenhou em afastar o verdadeiro amor da minha mãe das suas vidas.
Também me sinto feliz em saber que o meu pai se arrependeu de tudo que fez contra a minha mãe e o amor da sua adolescência. Surpreendo-me que apesar das traições que ele sofreu, conseguiu perdoar e seguir em frente com ela até agora.
E eu não julgo a minha mãe. Ela apenas tentou ficar ao lado de quem realmente amava, embora estivessem traíndo os seus parceiros. Assim como ela, eu faria o mesmo para ficar com o Kao, eu não deixaria nada me impedir de estar com ele.
O toque de chamada do celular me tira dos pensamentos e volto à realidade. Na realidade onde Kao espera por minhas respostas sobre o passado que envolve nossas famílias. Eu não posso simplesmente dizer a ele o que os meus pais disseram para mim ontem! Com tantos problemas que ele tem, eu prefiro deixar tudo assim como está, sei que não achará prova alguma, já que seu pai não fala sobre o assunto e sua mãe, infelizmente faleceu no incêndio doméstico.
Suspiro aliviado por saber que não se trata dele, mas fico sem noção do que fazer ao ver o nome no ecrã. Não quero que Kao brigue com ele de novo, melhor eu evitar falar com o Dew. Meu namorado já mostrou detestar a imagem do meu ex, então prefiro não arriscar perde-lo. Pego no celular, cancelo a chamada dele e jogo o celular na cama. Vou ao banheiro e faço todas as higienes, porém escuto outra chamada, e a ignoro.
Demoro alguns minutos no banho, mas assim que termino e volto ao quarto, vejo o número de chamadas perdidas, duas delas são do Dew e seis do Kao. Ligo de imediato para Kao, mas lembro-me novamente do trato que fizemos em descobrir a verdade. Essa situação me perturba e me deixa encuralado.
─ P' Kao. – digo assim que ele atende. – Me desculpe eu estava no banho.
─ Por quase uma hora? – pergunta e sorrio. Ele deve estar com ciúmes.
─ Ah! Foram só uns quarenta minutos, nada demais.
─ Falamos pessoalmente sobre isso. – corta o assunto e introduz outro. – Achou alguma pista? – fico por alguns segundo sem saber o que dizer, e acredito que o meu silêncio o deixará com suspeitas. Sinto-me mal com tudo isso, pois parece que estou a traí-lo de alguma forma.
─ Na verdade Kao, eu desisto. – por alguns segundos ele fica em silêncio. Vejo uma oportunidade nisso e sustento minha resposta. – Eu acho melhor deixarmos o passado no seu lugar, podemos conquistar a aprovação dos nossos pais doutra forma.
─ Tentei achar uma maneira de dizer ao meu pai coisas boas sobre você, para ver se te aceitaria em algum momento como o meu parceiro. Mas ele cortou-me em todas as tentativas, ele não gosta de nada que venha da sua família. Não entendo os seus motivos, mas também não deixarei isso me impedir de ficar contigo.
─ Ninguém pode julga-lo Kao, acredito que ele tenha razão em não gostar do meu pai. – digo lembrando-me da conversa constrangedora de ontem à noite com os meus pais. – Afinal o meu pai sempre foi chato com todo mundo.
Kao fica no silêncio por um tempo e me sinto desconfortável, espero que ele não tenha desconfiado da minha súbita mudança de opinião. Confesso que tenho medo dele odiar o meu pai também após saber da verdade. Se bem que, se não fosse por suas ações, nós dois nem teríamos nascido.
─ A gente se fala mais tarde. – desliga de imediato e meu desconforto se transforma em preocupação.
Espero que o pai dele não tenha bebido novamente, pois isso acabaria com o Kao, principalmente com sua irmã.
Tento não pensar muito no assunto e vou até o jardim falar com a minha mãe. É sempre bom ouvi-la falar do seu grande amor que, agora sei que nunca se tratou do meu pai. Não será fácil aceitar que todos esses anos, a minha mãe não se referia a ele e sim a outra pessoa.
Apesar de hoje ter se conformado com a ideia de ficar com o meu pai, vejo em seus olhos a saudade que ela sente do passado e do seu grande amor.
Aproximo-se devagar para não assustá-la, mas sem querer escuto-a conversando com a sua flor.
─ Cuidarei para que pelo menos eles consigam viver o que nos foi proibido. – diz tocando nas sépalas da flor.
─ Mãe! – levanta-se, olha para mim e percebo pelos olhos vermelhos que esteve chorando. – Não se preocupe conosco, nós não iremos desistir só por causa do que aconteceu no passado.
─ Eu vou garantir que vocês sejam felizes juntos. – diz e me abraça.
Várias horas passam e não recebo nenhuma ligação do Kao, nem ao menos uma mensagem sua. O sol se põe e minha preocupação só aumenta. Verifico o celular de minuto em minuto, porém isso apenas me deixa mais nervoso. Durante o dia evitei ligar, mas agora não posso mais me segurar. É impossível ficar calmo nessa hora.
Digito o número dele e ligo. O celular toca e de primeira ele não me atende. Insisto e ele acaba atendendo.
─ P' Kao, aconteceu alguma coisa? – pergunto nervoso e ansioso pela resposta.
─ O P' Kao deixou o celular em casa. – diz a pessoa e conclui que seja Sao. – Ele brigou feio com o papai e saiu de casa muito nervoso.
─ Você sabe o que aconteceu para brigarem?
─ Kao achou uma foto nas coisas da mamãe e foi tirar satisfações com o meu pai. Não me pergunte mais nada, deixa que ele mesmo conte.
─ Ah não! – sussuro, mas a Sao consegue me escutar e pergunta de imediato se eu sabia de algo. Não quero me envolver nisso, mas aposto a minha felicidade que sei quem são as pessoas da foto.
Desligo e saio à procura de Kao pelas ruas, não sei se terei sorte, mas espero poder encontra-lo.
Dirijo por vários minutos pelas ruas, mas não o vejo em lugar algum. Vou até o meu apartamento, mas não o encontro. Estaciono o carro e começo a caminhar.
Meu celular toca e desejo dentro de mim que seja o Kao. Olho no ecrã do celular, mas não é ele e sim o meu pai.
─ Kao está aqui. – pelo tom da sua voz algo não está bem.
─ Estou a caminho. – desligo e volto para o carro.
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Entro na sala e me surpreendo com o que vejo. Kao nos braços da minha mãe.
─ Você está bem? – pergunto sentando ao seu lado.
─ Por que não me contou? – sua pergunta me congela por uns segundos. – Por que não disse que sabia da verdade?
─ Ele soube ontem à noite. – minha mãe responde. – Decidimos que já estava na hora.
Após essas palavras ninguém fala nada. Talvez ninguém tenha coragem de comentar sobre um assunto tão delicado. Apenas nos encaramos e Kao me abraça. Sorri e diz olhando para os meus pais algo que esperei tanto escutar.
─ Bem... Eu sei que não é o momento, mas quero dizer que amo o vosso filho e que mesmo que tentem fazer o mesmo que fizeram há anos atrás, eu não desistirei dele. – fala e olha para o meu pai. – Senhor, se quiser me demitir da agência não tem problema, mas estou disposto a lutar pelos meus sentimentos em relação ao Earth.
Meu pai sorri nos surpreendendo. Lembro de imediato o que ele havia dito para mim na agência. Disse que apoiaria minha relação com o Kao.
─ Aprendi com as suas mães que contra o amor não se pode lutar. – diz meu pai. – Elas se amaram tanto que mesmo após a morte de uma, o amor delas permaneceu. Quem sou eu agora para impedir que vocês dois vivam um amor semelhante?
Minha mãe abaixa o rosto e vejo lágrimas em seus olhos. Tudo o que ela mais queria era poder abraçar a mãe do Kao por alguns segundos, e dizer que apesar dos anos ela ainda a amava. Como da primeira vez que se viram.
Naquela época era difícil viver um amor diferente do que muitos estão acostumados. As pessoas sempre julgam o que não compreendem e, foi por causa desse julgamento que as duas não tiveram a oportunidade de desfrutar da paixão que cada uma sentia pela outra. A professoa delas as viu se beijarem no beco perto da sua escola que frequentavam e contou aos seus pais. Tinham dezasseis anos na altura e minha mãe foi enviada para outra cidade.
Segundo ela, as duas tentaram fugir antes disso. Estavam quase conseguindo até que alguém as pegou e entregou aos seus respetivos pais. Naquele dia, despediram-se pensando que seria a última vez a verem-se. Deram o último beijo e não voltaram a encontrar-se.
─ Como se reencontraram após anos? – pergunta Kao.
─ Nossos maridos eram amigos e tinham negócios juntos. – ela conta e os seus olhos ganham um brilho indescritível. – Havia um jantar e cada sócio tinha que levar a sua acompanhante, foi naquele dia que nos vimos após dez anos. E mesmo com o passar do tempo, a sua mãe continuava doce e encantadora, como no primeiro dia em que a vi. – sorri e continua. – Ela ainda era o amor da minha vida.
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