Aquele que Está no Topo da Cadeia Alimentar
Natan Takashi, amarrado, obrigado a ler exatamente as palavras daquele que ameaçava sua vida.
– Boa noite, sou Natan Takashi, serei seu palestrante! “Antes de tudo gostaria de dizer que se essa mensagem chegou a TV todos podem ficar tranquilos, não vai acontecer nada neste vídeo, nenhuma violência explicita, pretendo pronunciar algumas palavras ao povo de Manhattan, o jovem Natan não deveria estar envolvido nisso, ele é apenas um garoto de 16 anos, porém o meu intermediário oficial está em outro lugar agora, não tive tempo de ir vê-lo, queria que soubesse disso diretor Fraklin Kale, seu boca suja, espero que pelo menos esteja tentando fazer o trabalhinho que deixei para você e para a polícia.
Moradores de Manhattan, não tenham medo de mim, eu apenas busco a libertação de todos, não sou nenhum messias, jamais me considerei desta forma, seria uma blasfêmia, mas percebi que tenho um dom, o dom de libertar as pessoas deste purgatório, não me refiro somente à Manhattan, todo o mundo é um grande inferno, tenho total noção de que não posso cobrir uma área tão grande, mas farei todo o possível. O próprio Natan é uma vítima do mundo, assim como eu e você, não adianta fugirmos do nosso destino, a raça humana é muito hipócrita, pensa estar acima de tudo. Devem estar se perguntando que tipo de serial killer eu sou correto? Já pararam para pensar que foram vocês que me rotularam assim, eu não preciso criar minhas obras de arte com medo de ser pego, por que se preocupar com o mundano, matar por matar? Morrer por morrer? Quem somos nós dentro deste mundo? Estamos realmente no topo?
O verme é o monarca dos comedores, engordamos todas as criaturas para nos engordarmos, e engordamo-nos para os vermes, seja um rei ou um mendigo, todos são servidos a sua mesa.
Não vou parar, minhas obras vão continuar, e todos faram parte dela. Que Deus tenha piedade de nossas almas.”
O vídeo termina com o assassino desamarrando o jovem Natan.
– Uau! Senhores e senhoras telespectadores, estou até com as pernas tremulas, quão vil e cruel este monstro pode ser, realmente esse vídeo pegou o país e talvez o mundo de surpresa. Receio que devemos encerrar agora, o programa está acabando, a todos, fiquem atentos, pelo visto ninguém é poupado da maluca ambição dele. Um boa noite. – Finaliza a apresentadora.
Neste momento a mãe de Henrique surta, gritos e mais gritos, a mulher gritava de medo e não queria que ninguém se aproximasse. Henrique logo recolheu as compras de Amber e a guiou para fora da casa, até mesmo ele precisou sair.
– Viu só Amber, eu disse que ela ficaria assim!
– Sinto tanta pena dela, que coisa horrível!
– Preciso dar um tempo aqui fora.
– Henrique, o que foi isso na TV? Não temos escapatória, alguém precisa prender aquele doente agora, o FBI precisa entrar no caso.
– Calma Amber, depois dessa é praticamente impossível o FBI não assumir o caso.
– Sim, você está certo.
– Vem cá, pare de tremer tanto, se acalme. – Henrique ampara Amber em seus braços.
– Preciso ir!
– Vou chamar um táxi, as compras estão um pouco pesadas, como não posso te acompanhar até em casa e não devo deixar minha mãe aqui, te pagar um táxi é o mais sensato a fazer.
– Obrigado por tudo, e desculpe por não te levar na minha casa, não me sinto segura fazendo isso.
– Não se preocupe, eu entendo.
Amber entra no táxi e parte em direção a sua casa.
19hrs, o comandante do FBI liga para o detetive Adams avisando que eles estavam assumindo o caso.
19hrs, casa do diretor Franklin, o diretor se arruma para sair de casa.
19hrs, todos os policiais de Manhattan são mobilizados para buscar o jovem Natan Takashi.
19:05, Amber chega em seu prédio, sobe as escadas, e entra no seu apartamento, escuta o barulho das viaturas passando pelas ruas. Seu corpo sem motivação andava pela casa, sua mão fria tocava as paredes, seus olhos tristes e sem vida encontram algo, presa a porta do segundo quarto, uma carta. Sem grandes surpresas a jovem pega a carta e lê.
“Amber Amber, minha gloriosa Amber, vejo que está bem, fico feliz. Nosso encontro está cada vez mais perto, logo logo poderemos nos encontrar cara a cara, você não faz ideia de como eu quero que me conheça. Gostaria também de pedir que futuramente não ficasse com raiva de mim, saiba que tudo o que faço é para o seu bem. Estou convicto de que me tornei um homem melhor e digno, gostaria de vê-la passando por essa metamorfose também. Até breve.”
Amber já não sabia mais o que pensar, as palavras não produziam sentido algum, só restava o medo.
Antes de sair de casa, o diretor Franklin havia ligado para Adams e avisado que passaria na emissora de TV, queria se pronunciar e esclarecer algumas coisas. Adams contou ao diretor sobre o início das atividades do FBI, e que a partir de agora os recursos estavam limitados, não poderia fazer muito sem autorização. Ao se aproximar do portão da emissora, o diretor explicou a situação, e pediu que alguém pudesse atendê-lo já que não tinha marcado horário. A ordem de liberação chegou e ele adentrou nas dependências da emissora, enquanto procurava um local para estacionar seu carro, pôde ver ao longe o policial Jackson conversando com um repórter famoso, na hora pensou que Adams também estivesse presente, estacionou o carro e correu de encontro a Jackson, porém ele já não estava mais lá.
Os telefonemas para a delegacia de Manhattan não paravam por causa do que tinha sido transmitido na TV, até que um chamou a atenção do atendente, uma mulher ligou e disse que o menino que tinha aparecido em rede nacional era o seu vizinho. A informação foi repassada para o detetive Adams e depois repassada para o FBI, uma unidade do FBI seguiu para o local informado pela mulher da ligação, a outra unidade ficou responsável de decifrar o enigma e seguir adiante nas informações obtidas. O FBI tinha acabado de chegar em Manhattan e já estava em ação, o tempo era crucial.
Na TV o diretor se preparava para entrar ao vivo, e tentar explicar os acontecimentos envolvendo o seu nome.
20:15, a comunicação no rádio da polícia e no rádio do FBI são interrompidas.
20:20, o diretor Franklin entra ao vivo em rede nacional.
– Boa noite a todos, meu nome é Franklin Kale, sou o diretor da faculdade Manhattan. Gostaria de agradecer a oportunidade de falar sobre o que vimos hoje mais cedo. O assassino já entrou em contato comigo algumas outras vezes querendo me transformar em seu palestrante, não sei o porquê disso porém fica claro que ele gosta de se pronunciar, a questão é, ele não pôde chegar a mim por causa da polícia que fazia o seu trabalho investigando e me protegendo, o pobre garoto foi pego no meu lugar, e espero do fundo do coração que ele esteja bem. Queria anunciar também que oficialmente o FBI está no caso e que as chances de encontrar este monstro estão maiores. Boa noite!
20:40, a comunicação foi restaurada, uma das unidades do FBI desvenda o enigma, a outra juntamente com a polícia, chegam à casa de Natan. Ao lado de fora esperava a vizinha que fez a ligação, o FBI rapidamente entra na casa, encontram manchas de sangue por toda parte, na sala não encontraram nada, na cozinha também, subiram aos quartos, no quarto do casal, era a primeira porta, tinha muito sangue, sinais de luta e uma marca de sangue que se arrastava até o quarto ao lado, ao entrarem no quarto de Natan, o encontram deitado, morto em cima de sua cama, os olhos arrancados, a língua arrancada, as mãos e os pés arrancados. Grudado na tela da TV de seu quarto estava o papel que lhe forçaram a ler. Dentro do colchão em que estava deitado foram encontrados seus pais, esquartejados.
Chamaram no rádio do comandante do FBI, a outra unidade estava se dirigindo para a biblioteca pública. Adams interveio, pediu para acompanhar a outra unidade, o comandante permitiu. Quando entrou em sua viatura Adams chamou Jackson pelo rádio, sem respostas, logo chamou na central e perguntou por ele, avisaram que Jackson já estava a caminho da biblioteca. Furioso, Adams sai em disparada e segue em direção a casa do diretor.
21:30, Amber desolada pega o número da casa de seu avô e sai em busca de um telefone público para ligar, ela evitava contato pois não queria incomodar e também não queria dar a entender que precisava de algo, se manteve assim por 2 anos, mas naquela noite a saudade foi maior, queria conversar com sua irmã que a muito não tinha notícias, queria avisar que apesar de tudo o que estava acontecendo na cidade ela estava bem, só queria ligar para desabafar.
Assim que o detetive Adams estava chegando na casa do diretor, o próprio diretor também estava chegando em casa, os dois se encontram ao lado de fora e começam a conversar.
– Diretor, o senhor estava fora?
– Sim detetive, lembra que eu falei sobre ir à TV?
– Sim, verdade! Então professor, o FBI descobriu o enigma, e estou indo para o local agora.
– Que maravilha, vou com você detetive.
– Sim, foi para isso mesmo que vim buscá-lo!
– E onde está o policial Jackson?
– Não sei, ele sumiu, depois preciso ter outra conversa séria com ele.
– Eu o vi quando cheguei na emissora de TV, ele conversava com aquele repórter famoso que aparece no jornal das 23hrs.
– Na emissora!? Maldito!
– O que foi detetive?
– Entre na viatura diretor, estamos indo.
Os dois entram na viatura e Adams entra em contato com a central.
– Aqui quem fala é o detetive Adams, câmbio.
– Sim senhor, o que deseja, câmbio.
– Houve algum pedido de busca e apreensão, ou qualquer outra solicitação da polícia para ir até a emissora de TV local?
– Não senhor, nada consta aqui nos dados.
– Obrigado, era só isso! Câmbio desligo.
Adams olha para o diretor como se quisesse que ele adivinhasse alguma coisa.
– Não pode ser detetive, o Jackson??
– Sim diretor, ele mesmo. Vou pegá-lo na biblioteca.
O FBI fazia a perícia nos corpos da família Takashi, dentro da boca do pai e da mãe de Natan havia papeis com vários números, na boca do pai: 383098. E na boca da mãe: 774663.
Amber tentava ligar para a casa de seu avô, porém só chamava e ninguém atendia, a jovem estava mais frustrada ainda.
21:40, um carro com duas pessoas dentro estava parado em frente ao apartamento de Amber.
21:40, Amber retorna do telefone público e entra no seu apartamento, está subindo as escadas, quando avista alguém parado em frente à sua porta.
21:49, o detetive Adams e o diretor Franklin chegam à biblioteca pública, o FBI já estava fazendo a perícia do ocorrido, mas antes Adams pergunta por Jackson, um dos policiais que estava ali confirmou que Jackson passou por lá, entretanto saiu logo em seguida. Adams ficava cada vez mais irritado, o diretor chamou a atenção do detetive para algo mais sério, outro assassinato.
Uma bibliotecária, Vivian Martinez, da América do Sul, imigrante, 30 anos, estava morta e seu corpo escondido nos fundos da biblioteca, que era enorme. Os peritos alegaram que o corpo da mulher já estava ali a mais de uma semana, estava entrando em estado de decomposição, Adams questiona como eles resolveram o enigma.
– Na verdade não foi tão difícil assim, nós do FBI passamos por coisas assim quase todos os dias. – Afirma o agente encarregado daquela unidade.
– Então por favor me explique, nada fazia sentido para mim.
– Vou explicar! O enigma começa assim: “Possuo o conhecimento, muitos vem a mim mas poucos conseguem me decifrar, em minha composição muito é irrelevante”. Neste início o assassino quer mostrar que estamos buscando por algo, algo escrito, e a localização de algo escrito fica geralmente em livros ou arquivos, preferimos deduzir que se tratava de livros pois arquivos não são “enigmáticos”, ele também diz que em sua composição muito é irrelevante ou seja, temos que pegar os detalhes, ninguém lê um livro inteiro e lembra palavra por palavra.
Depois ele continua: “Porém se encontrar os detalhes um novo mundo pode se abrir para você, existo em grandes quantidades, entretanto aquele de mim que você procura habita dentro de uma alma”.
– É esse negócio da alma que nos confundia. – Disse Adams.
– Não é tão complicado quanto parece! Quando ele diz que “um novo mundo pode se abrir para você”, ele quer dizer que outra coisa vai acontecer em relação ao que foi descoberto, e quando ele fala sobre existir em grandes quantidades ficou óbvio que se tratava de uma biblioteca. Por fim, habitar dentro de uma alma significa isso aqui...
O agente se debruça sobre o corpo da bibliotecária e abre seu estômago na lateral das costelas, dentro havia um livro. O diretor que acompanhava de perto ficava cada vez mais com vontade de vomitar, o cheiro de putrefação era enorme e a visão da mulher morta não ajudava, o assassino cortou todo o cabelo dela e enfiou na boca, e por cima do cabelo estavam os olhos da mulher, uma cena realmente fora da realidade.
O agente pega o livro, coloca sobre uma mesa e abre, começa a folheá-lo, estava tudo em branco, exceto pela última página que estava escrito:
“Quem é que constrói mais forte do que o pedreiro, o engenheiro e o carpinteiro?”
Mais um enigma, outro possível assassinato? Na capa estava o nome do livro: Na Ilha do Purgatório.
21:40, Amber se depara com alguém em sua porta, a pessoa estava toda de preto e com o capuz cobrindo o rosto, era o mesmo daquele dia. A jovem congela, suas pernas não se mexem, sua voz não sai. Aquela pessoa lentamente se vira em direção a ela, e Amber exclama com uma lágrima escorrendo por seu rosto.
– Henrique..........
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