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III - As Sublimes Delícias do Amor


Conseguia compreender a aversão de Han Solo pelo lugar. Havia qualquer coisa de corrupto e de impessoal naquela cidade megalómana de paredes imensas e de luzes constantes, de espaços tão ocupados que a grandeza se fazia em altura. Edifícios altos, absurdamente altos.

O centro da galáxia situara-se ali durante centenas de anos com a República e ali se fixara com o Império Galáctico. Primeiro para que o palácio imperial existisse paredes meias com o local onde se reunia o Senado. A intenção não era que existisse uma cooperação mais estreita, mas para que se exercesse um controlo apertado sobre as ações dos senadores, manietados nas suas liberdades políticas e obrigados a uma conduta exemplar por causa dos inúmeros espiões que os rodeavam, sem distinção clara dos amigos e dos inimigos. Até que o Senado foi dissolvido, Palpatine reinou supremo por quatro anos de horror e de guerra. Foram tempos negros mas ele apostava que as luzes tinham sempre brilhado naqueles prédios colossais, disfarçando com fausto a penúria que se estendia pelos sistemas que se revoltavam.

Depois os rebeldes ganharam a guerra e Coruscant era recuperada como antigo centro democrático. Não era uma escolha consensual. Começavam a surgir demasiadas vozes que se levantavam contra o planeta manter os seus privilégios de centro galáctico, pois tinha agarrado demasiadas memórias más, sendo apontadas como as principais a queda da República e o reino imperial. Por enquanto era fundamental como início para uma nova ordem, pois ali, malgrado os defeitos, concentravam-se os principais serviços que faziam funcionar um governo, registos numa imensa biblioteca e burocratas do Império dispostos a colaborar com informações preciosas sobre organização política, social e militar.

Ele contemplava a cintilação colorida da cidade no entardecer morno do planeta urbanizado à medida que o elevador subia. Passado era passado, não era possível construir-se uma nova galáxia com ressentimentos antigos, deixar uma marca de vergonha nalguma coisa ou sítio só por causa do que tinha acontecido antes, quando havia vontade genuína de mudança. No entanto ele não conseguia ver encanto em Coruscant. Lembrava-se do desdém e das piadas de Han Solo, sempre excessivas, sempre desabridas, mas incrivelmente coincidentes com o que ele experimentava, por vezes, se cedesse ao descontrolo, à sua juventude e aos seus impulsos. Coruscant era altiva e egocêntrica.

Suspirou, ao mesmo tempo que sorria cansado. Na sua posição, infelizmente, não se podia dar ao luxo de fazer troça de Coruscant ou de aparentar uma atitude displicente. Precisava de assistir àquelas reuniões enfadonhas, estudar pilhas de documentos, atender a receções onde era apresentado a elementos influentes, criar alianças, expor o seu projeto que faria dele uma peça essencial na reconstrução da galáxia.

O elevador levava-o ao apartamento onde iria descansar de mais um desses dias intensos, longos e tão atarefados que ele mal tinha tido tempo para comer. A exaustão era física e psicológica, naquele dia em particular e ansiava por um banho, uma refeição, uns minutos de meditação para serenar o espírito e adormecer sem o peso das suas preocupações, para poder despertar na madrugada seguinte renovado e motivado.

Nunca pensou que a tarefa fosse tão avassaladora e exigente. A irmã Leia Organa tinha-o orientado nos primeiros tempos pelos corredores labirínticos de Coruscant e apresentara-o às pessoas certas. Han, fiel ao seu estilo, brincava com a situação e dizia-lhe para ter cuidado pois estava a ser usado pela irmãzinha querida, Sua Alteza Real, para servir os seus objetivos políticos, nomeadamente obter um cargo proeminente no próximo Senado. Leia zangava-se com Han e ele, no meio dos dois, pela milésima vez, tentava serenar os ânimos e afirmava, tomando o partido da irmã, que fazia aquilo porque queria fazê-lo.

Era um cavaleiro Jedi, o último da galáxia, e como os seus antecessores que foram perseguidos e exterminados pelo Império, era seu dever colaborar com a Nova República. Han resmungava que era por causa de Leia, ela abandonava a sala irritada, ele pedia ao amigo que tivesse mais cuidado com o que dizia. O clima era tenso entre o trio. O wookie, no seu canto, rosnava solidário com o corelliano, Artoo piava e Threepio assistia à cena nervoso, rangendo as juntas.

Na verdade, ele acreditava seriamente no que estava a fazer, a reconstrução da Ordem Jedi e o apoio à reorganização judicial dos sistemas. O propósito era edificante, recompensador, apesar de envolver muitas tarefas monótonas que o cansavam, como acontecera naquele dia em que passara a maior parte do tempo a julgar petições em tribunal e a ler compêndios holográficos de legislação. Os Jedi eram também juízes e administravam a justiça, ficara ele a saber após uma reunião com um dos poucos senadores velhos sobreviventes e que conhecera os preceitos republicanos.

As portas do elevador abriram-se e ele passou para o corredor branco e despido que o levaria até ao seu apartamento, situado num edifício para uso exclusivo de notáveis da Aliança. Pelas janelas panorâmicas do lado esquerdo avistava as plataformas privadas que serviam os apartamentos. Ali estacionava-se o seu X-Wing, um caça de combate que era a sua nave particular de transporte... Estreitou os olhos e viu a silhueta de uma segunda nave, a Millenium Falcon.

Julgava que o amigo tinha partido nessa tarde. Pelo menos tinha-o anunciado com algum desdém e uma grande dose de orgulho no dia anterior, quando se cruzaram naquele mesmo corredor, dizendo que iria encontrar-se com um parceiro de negócios para fundar uma espécie de empresa ou algo similar. Pelos vistos mudara de ideias e ele não conseguiu encontrar razões para tal ter acontecido, já que Han parecera-lhe ligeiramente animado por ter encontrado um motivo para sair de Coruscant.

Respirou profundamente e, passando a porta do seu apartamento, dirigiu-se à porta seguinte que o amigo ocupava. Estendeu a sua sensibilidade treinada pelos arredores e percebeu algumas sombras que o preocuparam. Nada de demasiado grave, mas suficientemente estranho para que ele ignorasse a impressão.

Parou diante da porta, uma estrutura elegante de metal cruzada por linhas azuis e douradas. Alçou o braço para o painel lateral e pensou em digitar o seu código pessoal, para anunciar aos habitantes da casa de que era ele que estava no lado exterior, mas em vez disso optou por digitar a senha numérica que lhe permitia entrar. As senhas que destrancavam os mecanismos dos respetivos apartamentos tinham sido trocadas entre eles, para que se pudessem visitar sempre que quisessem. Eram amigos, fora algo que estabeleceram naturalmente.

A porta deslizou na horizontal, recolhendo-se silenciosamente na ranhura lateral. Havia abundante luz na sala central que servia de átrio e de área de receção, para além de outras funções mais caseiras, como relaxamento, reunião, entretenimento e alimentação. Os quartos e as divisões para higiene ocupavam um local mais recolhido do apartamento, que era em tudo equivalente ao seu. Dirigiu-se para a sala central, enquanto a porta se fechava nas suas costas.

A janela que ocupava todo o espaço de uma das paredes estava destapada, com as gelosias automáticas recolhidas, pelo que se podia apreciar as luzes da metrópole e o entardecer longínquo como cenário elusivo, em segundo plano. A bancada que servia de espaço para preparação de refeições enchia-se de pacotes e lixo diverso, o que indicava que um androide doméstico não entrava ali havia algum tempo e nem tinha havido pressa para convocá-lo para limpar a desordem. Haveria mais desarrumação, certamente, nos quartos interiores.

No centro da sala, estava uma mesa baixa rodeada pela meia-lua formada pelos sofás compridos e sobre o tampo desta viam-se garrafas vazias, um conjunto de copos. No chão, espalhadas em redor da mesma mesa, existiam outras garrafas, umas de pé, outras derrubadas. O wookie reclinava-se no sofá, encostando a cabeçorra peluda num dos braços redondos e fofos, fungando e resmungando, em completo tédio porque já tinha desistido de tentar intervir. Ao vê-lo, moveu ligeiramente o pescoço e rosnou pronunciadamente, dando-lhe as boas-vindas e pedindo-lhe ajuda.

No meio das garrafas que juncavam o soalho sentava-se Han Solo, que assim deixava o sofá inteiramente para o seu fiel companheiro. Apoiava um cotovelo na mesa e tinha a cabeça pousada na mão. Na outra mão tinha um copo transparente cheio de uma bebida dourada, que era a mesma que enchia três das garrafas que ainda continham algum líquido, em diferentes níveis de enchimento. Um sinal de que o bebedor usava de pouco critério na altura de servir o seu copo. Qualquer garrafa servia e nem sempre aviava-se na mesma.

Luke Skywalker olhou em volta. Os dois, Han e Chewie, estavam sozinhos no apartamento, numa desolação tão deprimente que ele controlou-se para não se mostrar apiedado com a situação, pois a melhor abordagem, naquele caso, seria demonstrar alguma crítica e assertividade. Uma extensão da figura de juiz que tinha desempenhado naquele dia fatigante.

- Han... O que estás a fazer?

O corelliano não levantou a cabeça e respondeu, balançando o copo nos dedos moles:

- Bebo...

Chewbacca alçou as pernas para tomar balanço e sentou-se no sofá, repetindo a rosnadela, sacudindo a cabeçorra peluda para acentuar a preocupação dos seus urros. Luke espreitou-o, acenou brevemente para indicar que estava solidário e depois olhou para o amigo que não se dignava a encará-lo. Não era vergonha, nem remorso, era uma indiferença ingénua com um contorno infantil.

- Estás a beber como se tivesse acontecido uma tragédia.

- Aconteceu uma tragédia. Estou em Coruscant!

- Uma bebedeira nunca resolveu nada.

- Dizes isso porque nunca apanhaste uma bebedeira a sério...

- Onde está a Leia?

- Pensava que com essa coisa da Força podias sentir a tua irmã e saber onde ela está.

- A Força não funciona assim, Han, tu sabes disso.

- Sim... Claro que sei. Só estou a ser inconveniente. Também sei... – Bebeu o copo de um único trago. Agarrou numa das três garrafas, aquela que a sua mão encontrou primeiro. – A Leia foi viajar para resolver uma qualquer disputa entre clãs rivais num sistema planetário da Orla Média que, pelos vistos, não aceita muito bem a democracia. Um assunto urgente, com a máxima importância, que não podia esperar... Uma daquelas missões do novo Senado que ela costuma mendigar para obter para si, para se tornar relevante no novo panorama político galáctico! – Nesta frase, Han falseou a voz para imitar a princesa. Bebeu o copo até ao fim, o braço tremia. – Ela já é alguém facilmente reconhecível por ter feito parte da Aliança, por ser de Alderaan e todas esses detalhes magníficos a seu favor! Mas não, a tua irmãzinha é ambiciosa...

- E deixou-te aqui.

- Nunca a acompanho nas suas viagens de trabalho... Posso... embaraçá-la!

Luke aproximou-se e sentou-se em frente ao amigo, afastando algumas garrafas para arranjar espaço para ficar ali, junto à mesa. Han olhou-o de esguelha, Chewie rosnou.

- Discutiram antes de ela ir embora...

Han deu um estalo com a língua.

- Somos bons nisso, miúdo. As discussões são o ponto alto da nossa relação.

- Por que é que não fizeste a viagem que estavas a pensar fazer?

- O negócio foi cancelado. Pelos vistos ninguém está interessado em fazer comércio com polímeros sintéticos reforçados para escudos defletores. A guerra acabou.

- Existem milhentos negócios que podem ser montados em tempos de paz. Estás no lugar certo para ter ideias...

- Aqui?! – exclamou Han perplexo. – Aqui está tudo inventado!

- No Senado temos várias delegações de planetas diversos...

- A tua irmã está no caminho.

- Talvez com a marcação de alguma reunião com os representantes dos planetas mais primitivos, que possuem alguma mercadoria especial que nunca ninguém resolveu apostar na sua distribuição, mas que poderá fazer sucesso nos mundos mais civilizados das colónias... Uma planta, uma especiaria... Podia falar com alguém, estabelecer um contacto. Eu trataria desse assunto e não precisavas de pedir nada à Leia.

- Não estou interessado, miúdo! – cortou Han, azedo, enchendo outra vez o copo.

Os ombros de Luke descaíram.

- O que estás a beber?

- Whisky... Já bebi melhor, mas neste caso não me importo do que vai acontecer quando estiver de ressaca. Provavelmente vou ter a cabeça do tamanho de uma das luas de Jakku!

- Onde arranjaste todas estas garrafas?

- Um presente para a tua irmãzinha! – Com esta revelação, Han gargalhou ébrio. – De Naboo, parece-me.

- Naboo?

- Ou algo parecido... Não me lembro. Vieram algumas caixas, muitas garrafas de whisky. Quem fez a oferta julga que a tua irmã gosta de beber ou deve estar à espera que ela dê alguma festa onde servirá todo este álcool para que seja convidado. Sei lá... A diplomacia confunde-me.

Luke cheirou o gargalo de uma das garrafas e fez uma careta. O odor era forte e conseguia sentir a enorme concentração das moléculas de álcool só com o olfato.

- Não achas que já bebeste demais?

- Não...

- Pois eu acho que bebeste mais do que suficiente por... uma tarde. Há quanto tempo estás a beber? Desde que Leia se foi embora? Estas garrafas todas? Quantas são? Seis... dez... doze...

- As tuas perguntas estão a deixar-me tonto.

- É o whisky de Naboo que está a deixar-te tonto!

- Talvez eu queira ficar tonto!

Entreolharam-se pela primeira vez. Os olhos de Han denunciavam a sua embriaguez, pálpebras pesadas sobre os globos oculares salientes e injetados de sangue. Curiosamente a voz mantinha a sua autoridade natural e as palavras eram pronunciadas com razoável clareza.

- Han... Não quero que fiques nesse estado por causa de mais uma discussão com a minha irmã. Ela não vai regressar e tu não vais alcançar nada de positivo se persistires nessa autocomiseração miserável.

O corelliano assentou as duas mãos, palmas voltadas para baixo, no tampo da mesa. A palidez do rosto e os cabelos desgrenhados davam-lhe uma expressão assustadora. Concordou:

- Tens razão.

Aquela resposta foi estranha, mas Luke quis usá-la como o primeiro ponto positivo daquela conversa e animou-se.

- Vou fazer-te um jarro de caffa para contrariar os efeitos do álcool e para que fiques mais lúcido. Pode também aliviar-te dos eventuais efeitos indesejáveis da ressaca. Vai arrebitar-te, isso é de certeza. Tenho bebido algum caffa nestes dias e posso garantir que é bastante estimulante. Gosto de cortar com um pingo de leite...

- Existem outras formas. E fora de Coruscant.

- O que queres dizer? – indagou Luke, crispando uma sobrancelha. – Outras formas de quê?

- De me divertir.

- Estavas a encher o sangue de whisky... para te divertires?

- E tu vais comigo... Também tens um ar demasiado abatido, miúdo. Precisas de uma bebida e de diversão.

O Jedi abanou a cabeça, contrariado. Apertou os lábios, moderando a irritação.

- Se eu quisesse beber... bem, tenho aqui muitas garrafas à minha disposição.

- Este whisky não presta.

- Não preciso de me... divertir. Preciso de um banho, de comer qualquer coisa e de me deitar a descansar. Amanhã devo regressar ao tribunal para...

- Ah, cala-te! Os irmãos Skywalker estão a tornar-se nuns chatos! Sempre a falarem de obrigações, de coisas sérias.

A cambalear, Han levantou-se. Chewbacca amparou-o e o corelliano, sentindo a presença quente do companheiro atrás de si, aproveitou aquela parede de pelo para se encostar e prosseguir com a sua ideia.

- Aceito o jarro de caffa. Bebo uns bons copos e depois podemos partir. Preciso de recuperar os meus reflexos se vou pilotar a Falcon.

- Partir para onde?

- Vamos divertir-nos fora de Coruscant. Visitar um sítio agradável onde podemos beber, jogar, apreciar umas bailarinas bonitas...

- Beber?

Luke também se levantou. A cabeça de Han oscilou, como se ponderasse uma grande questão. Mostrou as mãos trémulas.

- Está bem, não bebo mais. Mas vou jogar sabacc. Pode ser que ganhe alguma coisa de valor... Ganhei a Falcon num jogo de sabacc. Já te contei?

- Sim, acho que já me contaste...

- E ver umas moças bonitas, hum? Vá lá, o que é que estás à espera? Prepara o jarro de caffa!

- Han!

- Ok, faço eu!

Aproximou-se da bancada aos tropeções. Varreu os pacotes e restante lixo com um braço e apoiou-se nesta para contorná-la e alcançar o armário que existia por debaixo. Agachou-se.

- Precisas de divertir-te... Andas muito tenso – afirmou espetando um dedo que surgiu no ar.

Luke também foi até à bancada.

- Oh, deixa estar que eu faço isso...

Enquanto preparava o caffa na máquina, introduzindo as cápsulas que iriam filtrar e misturar o pó dos grãos moídos à água, líquido que seria depois vertido para um jarro de vidro que encontrara no armário que Han vasculhara de forma indolente, Luke disse:

- Tens razão, tenho andado tenso. O trabalho tem sido muito, ultimamente. Mas não vou fazer essa viagem contigo, Han. Desculpa, amigo, mas depois de fazer-te o caffa vou para o meu apartamento, tomar banho, comer e deitar-me como te disse. Podes e deves sair de Coruscant, está a fazer-te mal ao espírito. Também tens estado tenso e mais irritadiço do que o normal. Joga sabacc a dinheiro, não bebas mais por favor... Aprecias essas bailarinas...

O corelliano escarrapachava-se no sofá, com as botas em cima dos estofos claros, os braços abertos no encosto. Chewbacca observava-o rosnando mansamente.

- Alguma vez estiveste com uma mulher?

Luke olhou-o perplexo.

- O quê?

- Alguma vez estiveste com uma mulher? – repetiu.

- Han... Sou um cavaleiro Jedi.

Virou costas ao amigo para ir procurar por uma caneca para servir o caffa que começava a borbulhar e a sair do bico cromado da máquina, exalando um aroma forte e delicioso.

- Os Jedi não podem fazer sexo?

Luke apertou a mão artificial enluvada num punho. Mordeu a língua e respondeu, contrariado:

- Não... Quero dizer, não sei.

Ele não sabia. Muita informação sobre os Jedi tinha-se perdido durante o Império e grande parte do seu labor em Coruscant relacionava-se com a recuperação desses dados. Fazia-o passando grandes temporadas, quando estava aliviado de outros deveres, na biblioteca imperial que, apesar da sua seletividade em termos de obras, guardava alguns livros úteis.

Han observou mordaz, apercebendo-se da sua confusão:

- Se os Jedi não podem fazer sexo, como foi que tu e a tua querida irmãzinha nasceram? Hum? – Esperou por uma réplica e como não a obteve, prosseguiu: – Ah! O vosso paizinho adorável não era um cavaleiro Jedi?

- Han, não sei isso ao certo. Provavelmente os Jedi podiam fazer sexo, ter um relacionamento com mulheres... Neste momento, não me está a apetecer discutir contigo o código e as tradições dos Jedi.

- Hoje vou apresentar-se... às sublimes delícias do amor!

Os músculos de Luke retesaram-se. Encheu uma caneca generosa de caffa, deixou o jarro pousado na placa aquecedora da máquina para manter a bebida quente e levou a caneca fumegante ao amigo.

- Não preciso de ser apresentado a nada. Muito obrigado pela tua preocupação.

Han sorveu um pouco, com cuidado para não queimar a língua.

- E eu agradeço a tua. Este caffa está ótimo! Melhor do que o que a Leia faz... Luke, já me sinto melhor. É sério. Vamos viajar. Eu preciso e tu precisas. Um pouco de distração. Tu tomas conta de mim, eu tomo conta de ti. Vai fazer bem aos dois...

- Não creio que a tua proposta seja... muito apropriada.

- Por causa das delícias?

- Sim – assumiu Luke pouco à vontade.

- Vá lá, Luke. Não me deixes ir sozinho, posso perder-me... E depois como é que vais explicar isso à tua irmã? A Leia vai querer saber por que razão deixaste-me ir embora e não foste comigo, para controlar os meus... impulsos.

- A tua argumentação não é válida, Han.

- Sei que queres ajudar-me. O teu coração bom de Jedi quer desesperadamente ajudar-me. Muito bem, aceito a tua ajuda, nobre Jedi, mas preciso que continues a vigiar os meus passos durante esta minha... nossa aventura!

- Ouve, Han, quero ir tomar banho...

- Pois vai tomar banho que eu também irei, depois de beber este caffa. Espero-te na Falcon. – Voltou-se para o wookie. – Ouviste, grandalhão? Vai preparando a nave, já vou ter contigo... Não sei, faz uma bagagem qualquer se achas que vamos precisar! O meu baralho da sorte? Julgava que estava na Falcon... Está bem, tu é que sabes...

O corelliano levantou-se do sofá enérgico, mas as pernas ainda bambas falharam e caiu de joelhos entre as garrafas que chocalharam umas contra as outras. Luke quis arrumar aquela desordem, mas Han impediu-o, dizendo que iria chamar o androide doméstico para limpar a sala e o espaço de refeições. Aproveitou para lhe dizer que também podia levar o Artoo consigo, se lhe apetecesse. Reafirmou que ficaria melhor após um duche frio e voltou a elogiar o caffa, que estava excelente, o melhor que tinha bebido, que já se sentia menos tonto.

Relutante e desconsolado, Luke obedeceu ao amigo. Tomou um banho rápido, um duche escaldante para aliviá-lo da rigidez que lhe tolhia a musculatura e que lhe dava a impressão de ter mais peso sobre os ossos, vestiu uma roupa nova, mais casual, que não o identificava como um Jedi. No entanto prendeu no cinto o seu sabre de luz, para além de ter enfiado uma pistola laser num coldre que disfarçou nas abas do casaco. Explicou a Artoo o que se estava a passar e o astromec, após protestar com um coro de assobios, resolveu-se a segui-lo e os dois, humano e androide, foram até à plataforma onde o sistema de exaustão da Millenium Falcon libertava jatos de fumo acinzentado. Subiram pela rampa inclinada e, uma vez dentro da nave, Luke carregou no botão que a fecharia. Seguiu para a cabina de pilotagem, Artoo ficou-se pelo espaço destinado aos passageiros.

Sentou-se na cadeira atrás da do piloto, apertou o cinto de segurança. Han estava mais ativo, aliviado do torpor do álcool e dava indicações claras ao seu copiloto, Chewbacca. Deu-lhe as boas-vindas e ligou os motores do velho e confiável cargueiro.

O centro de controlo de Coruscant foi rápido a fornecer-lhes os vetores de saída do planeta e a Millenium Falcon, após um arranque bamboleante, voava entre as estrelas. O computador de navegação calculava as coordenadas para saltarem para o hiperespaço quando Luke disse:

- Para onde vamos? Existem bares em Coruscant famosos precisamente por causa do jogo e das suas apresentações... – Aclarou a garganta e completou num sussurro: – eróticas.

- Quero ir para um sítio onde me sinta confortável e onde tenho alguns amigos. Para poder apresentar-te... aos conhecimentos certos. Percebes? Em Coruscant é tudo estranho e fabricado.

- Amigos, Han? – suspirou Luke, já arrependido por ter concordado com aquilo. Cruzou os braços e espreitou Artoo, desligado, junto ao assento onde existia uma mesa holográfica de xadrez.

- Não te preocupes. Estou armado e tu também, pelo que vi. Bastava a pistola, Luke.

- Sou um cavaleiro Jedi, não posso separar-me do meu sabre de luz. Vai haver sarilhos?

- Não sei! Nesses sítios, nunca se pode confiar. Não te preocupes, serão amigos... Se não os irritarmos demasiado. Comos nos velhos tempos, hum?

- Estive contigo numa única cantina, em Tatooine. Não voltámos a repetir a experiência... Não será propriamente como nos velhos tempos.

- Será parecido. E teremos... outro tipo de divertimento.

Luke revirou os olhos. Encostou-se ao assento e distraiu-se com as luzes do painel lateral que piscavam alternadamente. O computador de navegação devolveu as coordenadas necessárias, Chewbacca acionou alguns comandos e Han baixou as alavancas do leme. A Falcon viajava à velocidade da luz.

- Há pouco não respondeste à minha pergunta... Alguma vez estiveste com uma mulher?

A mente estava mais desanuviada após o banho, com uma disposição diferente, embora o corpo estivesse relaxado e de guarda baixa, tentado a adormecer a qualquer instante, se não fosse aquele passeio inesperado. Não se sentiu tão surpreendido e Luke retorquiu:

- Havia miúdas em Tatooine. Eu, o Biggs e o Tank tínhamos encontros com elas, num estabelecimento em Anchorhead... Bem, não era uma cantina ou um desses bares sofisticados de Coruscant, mas era um bom local para nos divertirmos.

- Os encontros... eram a quatro? Uma miúda, tu, o Biggs e o Tank?

- Não! Era... Cada um tinha a sua namorada, claro. – Hesitou um pouco e completou: – Uma vez beijei a Rijya atrás de um dos vaporizadores.

Han sorriu.

- Um beijo? Então... nunca estiveste com uma mulher?

Luke corou.

- O que queres saber?

Para evitar uma confissão desnecessária, Han levantou a mão. Estava definitivamente sóbrio e na plena capacidade dos seus dotes mais famosos, que incluíam o sarcasmo, a vaidade e a presunção. Era irritante como conseguia perceber aqueles segredos mais escondidos de qualquer pessoa, desde que se predispusesse a uma observação mais detalhada.

- Não quero saber de nada. Quero dar-te uma noite memorável... Um pequeno agrado ao meu amigo, o rapaz de uma quinta de humidade de Tatooine, um dos heróis da Aliança durante a guerra e que se tornou num respeitável cavaleiro Jedi. Tens um grande futuro à tua frente e prevejo que seja um futuro... complicado e muito trabalhoso. Desde que saíste de Tatooine que tens andado ocupado, vais andar ocupado daqui para a frente... Por tua iniciativa não me parece que irás tirar férias. Então, eu levo-te comigo para te mostrar o lado bom da vida. Precisas de uma pausa, de uma diversão inesquecível.

- E tu, o que vais fazer?

- Descansa! Não te vou dar motivos para que tenhas de contar à Leia algum comportamento menos próprio da minha parte, já que eu e ela temos um compromisso. Vou apenas jogar umas partidas de sabacc, ganhar algum dinheiro, alguma coisa de valor. Estou com o meu baralho da sorte... Está por aí algures, certo, Chewie?

O wookie rosnou uma resposta.

- Ótimo! Tu é que vais divertir-te à brava, miúdo.

- E se eu não quiser...?

- Não tens escolha. Não te canses a tentar discutir comigo esta questão, nem a pensar sequer usar um truque mental para me dominares. Ficaria ofendido contigo, para começar e depois ficaria muito desiludido. Descontrai-te, miúdo! Aproveita! Vais gostar das sensações.

- Sensações?

A risada de Han deixou-o apreensivo.

- Faço questão que sejas muito bem servido.

- Han... Não creio que usar esse tipo de serviços faça o meu género.

- Há para todos os gostos.

Com pouco mais de uma hora de viagem chegaram a um sistema que possuía uma pronunciada e revolta cintura de asteroides que protegia os planetas mais pequenos que orbitavam em redor de uma gigantesca estrela vermelha. Por momentos, Luke pensou que iriam fintar as rochas erráticas, pois conhecia bastante bem a reputação temerária de Han Solo, contudo esqueceu essa ideia ao focar-se no wookie que, com as suas disfarçadas cobardias e maneiras pragmáticas, incutia algum bom senso ao corelliano. Com algum alívio verificou que evitavam os asteroides e que o cargueiro se dirigia a um gigantesco planeta gasoso rodeado por algumas luas e por uma plataforma artificial, uma estação espacial intensamente urbanizada e tão cintilante quanto Coruscant. Era numa escala menor, mas ainda assim demonstrava, naquela primeira observação, ser um local de excessos e de vaidades, tal qual a capital galáctica.

A autorização de pouso foi dada e após as manobras comuns de aterragem, Luke, seguido por Artoo, Han e Chewie saíam da Falcon e atravessavam um passadiço que os levaria do espaçoporto até à zona comercial daquela estação. Aliás, se Luke atendesse ao que o rodeava, voltava a cabeça de um lado para o outro anotando mentalmente os pormenores que lhe captavam a atenção, classificaria todo e qualquer recanto daquele imenso antro ruidoso e agitado como uma vasta, ininterrupta e consecutiva zona comercial. As lojas sucediam-se em anúncios luminosos agressivos, das janelas saíam brilhos e música, as ruas eram ocupadas por festeiros, uma mistura eclética e excitada de humanos, humanoides e alienígenas, criaturas exóticas e androides eletrificados de tanta excitação.

O curto passeio a pé levou-os a uma rua profusamente iluminada. Han Solo apontou para a fachada de um prédio que se desdobrava em anúncios luminosos e hologramas animados que propagandeavam os atributos de cada estabelecimento.

- Chegámos!

Luke olhou para cima. O prédio tinha oito andares e cada piso parecia desalinhado com o anterior, como se a construção se tivesse desenvolvido por etapas e nem sempre tinham beneficiado do mesmo arquiteto.

- Estás a olhar para onde? Não, miúdo, não fica aí. O lugar que iremos visitar fica na cave. É um clube discreto. Não iria levar-te a um sítio demasiado público... para que tenhas a tua primeira experiência...

- Os androides podem entrar? – cortou Luke agitando as mãos. Artoo piou a mesma pergunta.

- Sim, podem.

- E como vai o Artoo descer essas escadas? Sem ele não vou a lado nenhum, Han.

- Calma, miúdo. Relaxa! Estás muito nervoso... Viemos aqui para nos divertirmos. Temos solução, o Chewie carrega com o teu precioso androide. Também quero que ele se divirta. – Han piscou o olho. – Existem lugares específicos para os androides andarem a experimentar... digamos que os serviços proporcionados pelo clube. Acho que também não vais querer que ele ande atrás de ti quando te levarem para o lugar reservado.

- Serviços para androides? – Luke revirou os olhos, soprando o ar pela boca. Aquilo cada vez mais soava a loucura e cada vez estava mais arrependido. Olhou por cima do ombro. Talvez conseguisse alugar uma nave e regressar a Coruscant, trouxera alguns créditos consigo.

- Estou a pensar que o Threepio precisava que eu o trouxesse ao clube. O que achas? – apontou Han com um sorriso atravessado. – Animar aquele autómato mais rígido de que uma placa de durasteel, fundir-lhe um ou outro circuito...

- Ultimamente, o Threepio anda com a Leia, a ajudá-la nas reuniões com as delegações dos sistemas mais longínquos, que usam dialetos estranhos – observou Luke. – Terias de trazê-la também.

- Sem problema, miúdo! Faríamos uma festa alargada.

Chewbacca emitiu um rugido que indicava que não concordava com essa observação, que Leia não haveria de gostar do clube, nem da ideia de uma festa que incluiria todos e mais os androides. Han olhou-o de esguelha.

Desceram um curto lanço de escadas, o corelliano pediu ao wookie que transportasse a lata, Artoo não gostou de ser chamado assim e apitou um protesto ruidoso, Luke evitou fazer um comentário que acentuasse a situação e resultasse numa inútil discussão. Foi ainda o corelliano que introduziu um código no painel junto à porta fechada. Mais uma vez, Luke deixou-se conduzir e nem quis saber que código seria aquele e como o amigo o tinha conseguido, por que motivo ainda se lembrava daquela combinação numérica em específico, se a teria provavelmente recolhido de um banco de dados secreto da Falcon. Aconteceu que a porta abriu-se e entraram no clube.

O átrio foi uma agradável surpresa e o que as colunas alvas que sustentavam a estrutura circular deixavam ver como o recinto principal foi outra surpresa. A boca de Luke abriu-se com o espanto.

O clube era arejado, limpo, com uma decoração requintada e agradável em tons claros que realçavam as luzes indiretas em tons quentes, como vermelhos e amarelos. O chão de grandes lajes reluzia e o teto, pintado em tons de azul-escuro, simulava um firmamento. Os clientes tinham um aspeto cuidado e discreto, os empregados, que se dividiam entre criaturas e androides, eram atenciosos, deslizavam amáveis e solícitos por ali. Uma melodia suave e quente envolvia o lugar, como se preenchesse os espaços vazios. Não havia nada a apontar que estivesse deslocado ou fosse esquisito.

Numa simples frase, o lugar não combinava com o carácter de Han Solo.

Onde estava o fumo a saturar o ar, os frequentadores sórdidos, as desconfianças entre jogadores mal-encarados, a indiferença ordinária dos que ali serviam, o chão sujo, o teto descascado? Aquele clube pareceu-lhe uma casa acolhedora e simpática.

Empertigou-se, sacudindo os ombros, pestanejando. Desanuviou a mente para concentrar-se nas suas capacidades sensoriais únicas. Estava a encantar-se em demasia. As sombras existiam todas mas jaziam ocultadas sob a boa aparência, numa aura de maravilha. Ele era um Jedi, não podia deixar-se enlevar daquele modo tão simples. Havia uma diferente parte de si, contudo, que lhe pedia que se descontraísse, que aceitasse aquela diversão, apenas por aquela noite e depois regressaria às suas obrigações, uma diferente parte de si que o compeliu a seguir o amigo e que acreditava que devia relaxar.

Han Solo entregou um cartão opaco a um dos empregados que os veio receber. A criatura anã cumprimentou-os com diversas mesuras e pediu-lhes que aguardassem mais um instante, que já os viria buscar para conduzi-los para uma mesa. Outro adereço que o corelliano teria guardado na sua nave, o cartão.

- Gostas do clube?

A pergunta chamou-o à realidade.

- Hum?... Sim, gosto... Quero dizer, não estava à espera que o clube tivesse esta boa apresentação. Parece que estamos em Coruscant, num daqueles lugares frequentados pelos senadores. Já estive num bar desses, a discutir a nova Ordem Jedi.

- Nunca iria trazer um Jedi a uma cantina de reputação duvidosa. Continua a confiar em mim, não te vais arrepender. Vais ter uma noite fantástica, dou-te a minha palavra. Se não fosse para ser assim, não te tinha feito a proposta para que me acompanhasses.

Luke sorriu.

- Muito bem, Han. Começo... a achar que fiz bem em concordar em vir até aqui. Tu vais jogar o teu sabacc, eu fico a beber uma bebida e a apreciar o clube. Servirá perfeitamente para me distrair.

O corelliano espetou um dedo que agitou num gesto negativo.

- Não, não, nem penses. Estás aqui com um objetivo e vamos mantê-lo até ao fim.

A criatura anã regressou e levou-os até à mesa prometida. Todas as mesas destinadas aos clientes que procuravam alguma reserva ocupavam cubículos formados por biombos foscos que garantiam uma certa privacidade. Luke achou a ideia curiosa, pois permitia que as suas ações não fossem espiadas por ninguém. Queria mesmo ficar só a beber um copo, com Artoo ao lado a fazer-lhe companhia, a comentar o que lhe tinha acontecido no longo dia de trabalho, mas Han tinha outros planos, infelizmente. Quando ia sentar-se, este agitou uma mão.

- Não, tu vais para outra área do clube.

Luke escondeu um suspiro, tapando a boca com uma mão.

Han abriu um painel do tampo e digitou outros códigos, desta feita com base num cartão prateado, diferente do primeiro cartão, que a criatura anã lhe tinha entregado antes de se retirar com nova vaga de vénias. Chewbacca sentou-se no sofá circular que rodeava a ampla mesa, colocou as manápulas peludas atrás da cabeçorra, rosnando baixo com um ar bastante satisfeito. O lugar agradava-lhe, claramente.

- Vocês vão ficar aqui?

- Sim, miúdo. É aqui que iremos jogar a nossa partida de sabacc.

Luke circunvagou o olhar pelo cubículo.

- Não o vais rebentar com tiros laser, depois de uma discussão sobre batota, cartas viciadas e outros argumentos irritados... Seria um desperdício que armasses confusão. Parece-me que existe uma certa ordem, apesar das sombras que sinto.

- Gostas mesmo do clube! Talvez não... Depende das provocações.

- Não estou a imaginar tiroteios e gritaria num lugar tão impecável como este.

- Acredita que acontecem. Todas as noites. O cenário engana, mas os mesmos bandidos que frequentam a cantina de Tatooine também gostam de aparecer neste clube, conhecem este lugar da mesma forma como eu conheci, através dos contactos certos. Só que quando aqui chegam estão a usar umas roupas melhores e mais limpas.

- As sombras... Faz sentido. Há lutas? Os cubículos são à prova de som?

- Não. Mas cada cubículo tem um sistema que desencadeia uma implosão, após uma desavença, luta ou qualquer outro imprevisto, para se reconstruir através do mesmo sistema. Então, parece que está tudo arrumado e limpo. – Han endireitou-se, assentando as mãos no quadril, de cotovelos espetados. – Já preparei tudo. Daqui a nada vêm buscar-te.

A testa de Luke crispou-se.

- O Artoo vem comigo...

Quis fazer a pergunta mas soou-lhe como uma afirmação pouco convincente, a voz morreu-se-lhe na última palavra.

- Se tu quiseres, mas não o aconselharia.

- Então, onde vai ele ficar?

- Gostas de sabacc, lata? – perguntou Han, aborrecido.

O silvo de Artoo foi estridente, quase um berro.

- Se não gostas de jogar, vai dar uma volta. Deixa lá o miúdo divertir-se à vontade.

- Ele pode vir comigo...

A mão pesada de Han pousou no ombro de Luke, os dedos apertaram-se sobre o casaco.

- Repito: não aconselho que leves... assistência.

O Jedi sentiu a garganta secar, por causa da indignação de estar a revelar-se tão inocente e inexperiente naquela matéria, por continuar a ser empurrado para uma situação que muito provavelmente ele não iria gostar, por não ter argumentos para contrariar a vontade do corelliano. Resolveu desistir, em abono da conservação da paz. Seria infeliz se uma altercação começasse entre eles que implicasse uma implosão daquele cubículo. Também lhe apeteceu muito uma bebida.

Estava naqueles considerandos, tentando balançar o seu íntimo que se rebelava, que se aquietava e exaltava, entre equilíbrios precários em que ele procurava serenar-se no meio de uma luz segura, quando apareceu uma Twi'lek esguia como uma serpente que se lhe dirigiu com um sorriso doce.

- Boa noite, meu querido! Serei a tua anfitriã. Queres seguir-me, por favor? Obrigada. – Passou o olhar dengoso pelos outros ocupantes do cubículo. – Cavalheiros, espero que tenham um serão maravilhoso no nosso clube.

Han inclinou-se e sussurrou-lhe ao ouvido:

- Nada de nomes, miúdo. Inventa uma personalidade e nunca contes nada, mesmo que te peçam com muita persuasão...

Falava-lhe em mentir! O Jedi, de peito pesado por todas as pequenas transgressões, respirou fundo. Seguiu a Twi'lek inquieto, com alguma incerteza a pulsar na sua consciência. Ela não era sombria, o que o tranquilizou ligeiramente. Talvez fosse a sua inexperiência a enervá-lo, mas ele não era obrigado a fazer nada que não quisesse. Artoo ficou no cubículo, a lançar assobios breves, ao lado de Chewbacca que lhe dava pancadas leves na cúpula. Ele viu os primeiros jogadores a chegarem, sorridentes e simpáticos, Han a saudá-los com a alegria fingida típica de um grupo onde cada um iria tentar enganar o parceiro.

Luke atravessou um reposteiro pesado, feito de um tecido grosso e escuro que filtrava os sons. O ambiente sossegou ligeiramente naquela zona do clube, a iluminação era menos clara e existia um odor cativante e florido. Foi sempre atrás da Twi'lek que nunca parou para verificar se ele continuava ali, talvez porque sabia que ele não iria desistir pois nunca ninguém o tinha feito, aquela certeza que derivava de trabalhar naquele ofício havia alguns anos. Parou junto à parede escura, indicou-lhe uma porta com um gesto suave e destrancou-a, carregando num botão lateral. Ele quis perguntar o que estava ali, mas desistiu pois seria uma pergunta inútil. Em breve saberia. Curiosamente, a Twi'lek não lhe confiscou nenhuma das armas, nem a pistola, nem o sabre de luz. Os clientes do estabelecimento deviam andar armados.

Entrou para uma sala obscurecida, com projetores luminosos no teto e no chão que se moviam lentamente, criando uma teia intricada de luzes no espaço onde se cruzavam, em tons rubros, róseos e lilases, piscando em brancos sugestivos de vez em quando. Existia uma poltrona almofadada no centro e, pelo que se apercebeu, a sala seria mais funda do que parecia à primeira vista, prolongando-se para a escuridão cerrada que cobria a parede mais afastada. Um odor ameno a flores pairava no ar como um véu macio que lhe invadia os sentidos, a começar pelo olfato, deixando-o um pouco ansioso. Naquela essência misturavam-se feromonas, com o fito de o inebriar, de o excitar. Engoliu em seco. Queria uma bebida para aplacar o corpo sedento.

A Twi'lek desejou-lhe uma boa experiência – ele estranhou a designação, experiência – fechou a porta e afastou-se. Ele sentiu a aura dessa fêmea alienígena e insinuante a ir-se embora. Provavelmente iria recolher outro cliente.

O nervosismo de Luke aumentou. Esfregou as mãos, girou a cabeça de um lado para o outro. Tentou humedecer os lábios mas a língua estava tão seca como o deserto de Tatooine. Não iria ser surpreendido se se mantivesse alerta. Estava armado e tinha bons reflexos, os instintos aguçados pelo treino Jedi, capacidades extrassensoriais superiores devido à sua ligação com a Força. Ali, porém, as sombras estavam arredadas, existia somente... a mentira de um perfume, uma fantasia quente.

Sentou-se na poltrona e assim que exerceu a pressão do seu peso no assento, uma pequena mesa redonda emergiu do soalho, com um copo pousado sobre esta, cheio de uma bebida esverdeada. As gotas que deslizavam pela superfície indicavam que estaria gelada e ele levou o copo aos lábios, bebendo alguns tragos para se saciar. O líquido alcoólico sabia a floresta e ao assentar-lhe no estômago, causou-lhe um arrepio. Pensara em não beber álcool, mas a bebida era fresca e doce, camuflando o perigo. Ele iria conter-se, decidiu. Saberia quando começasse a ficar afetado e iria parar. Olhava para o copo durante a análise, sorrindo por dentro por se achar tão displicente para com as suas próprias regras.

Começou uma melodia. Os compassos iniciais usavam apenas percussão, tambores graves numa batida constante que começaram a comunicar com o seu coração, que queria bater àquele ritmo. Cruzou os braços, tentando acalmar-se. A escuridão cerrada, que ficava defronte dele, iluminou-se e surgiu um palco, sobre este, uma bailarina. Uma mulher humana... completamente nua, com o corpo tapado por pinturas em desenhos oscilantes, que se torciam enquanto ela dançava, e que lhe cobriam as partes mais púdicas.

Cobriam bastante mal, porque ele, se focasse o olhar, conseguia ver todos os detalhes dos seios, do ventre, do triângulo liso entre as pernas... Aclarou a garganta, piscando os olhos, cada vez mais desassossegado. Bebeu a bebida toda e logo a mesa se recolheu, regressando com um segundo copo.

A mulher era bonita, alta, elegante, um corpo bem desenhado e cheio nas proporções certas. Os cabelos escuros estavam soltos e ondeavam sobre as costas num laivo negro que contrastava com a cintilação das pinturas, do próprio corpo. Agitava os braços, fletia as pernas, maneava-se com sensualidade, todavia fazia-o como se bailasse para si mesma, como se ele não estivesse ali a vê-la, concentrada nos seus movimentos, numa ligação estreita com aquela arte que possuía, de seduzir através do bailado.

Os projetores dançavam com a mulher, fechando-a numa jaula feita de grades de luz, que engrossavam e se estreitavam, simulando a respiração de Luke, que acelerava e acalmava. Bebeu o segundo copo, estava um pouco tonto, mas apreciou o aparecimento de um terceiro. Estava a ser terrivelmente displicente... A incumprir todas as regras. Agora já não sorria para dentro, ria-se à gargalhada despindo-se de todos os bons e retos costumes de um cavaleiro Jedi.

As suas faculdades embotavam-se, enlevado naquela dança mística e lúbrica, o álcool no sangue, o desejo a acender-se, a cabeça a ribombar com cada batuque da música, a harmonia discreta que potenciava aquele espetáculo privado. Tinha uma mulher lindíssima a dançar só para ele, a contorcer-se como se estivesse também a arder de vontade de satisfazer os seus instintos carnais.

Ele passou a língua molhada e verde da bebida pelos lábios. Fixava-se nos pedaços escabrosos do corpo dela, aqueles que as pinturas queriam tapar, como se fossem tecido, como se fossem roupas decentes. Não, era tudo indecente ali... Os seios... O ventre... O triângulo liso entre as pernas...

Nunca tinha estado com uma mulher. A sua vida em Tatooine era demasiado ocupada e controlada pelo tio, depois de abandonar esse planeta estivera empenhado em ganhar uma guerra, tornara-se num Jedi. Naquela sala decorada para espicaçar a volúpia, diante daquela bailarina, ele não se importava com o seu embaraço. Ela sabia o que fazer. Ela iria ensiná-lo. Queria que ela se aproximasse, queria tocá-la... Queria saber como era.

Então, como se o tivesse escutado, ela finalmente olhou para ele, estabeleceu o contacto visual que lhe comunicava de que já não dançava para si própria, mas para ele, especialmente para ele. Luke ficou hirto, colado à poltrona fofa. A sua respiração era cada vez mais irregular, o sangue cada vez mais quente. Uma gota de suor escorria devagar pela têmpora.

A bailarina desceu do palco. Caminhou a oscilar, mantendo os passos da dança, ficando mais próximo dele, devagar como a tal gota a deslizar no seu rosto. Debruçou-se, sorriu-lhe.

- Podes tocar, se quiseres...

Com a mão pequena pegou na dele e colocou-a sobre um dos seios. A pintura dissolveu-se. Um holograma. Seriam todos hologramas projetados sobre aquele corpo acetinado e firme, tão perfeito, tão tentador. Luke ofegou. Os desenhos dissolviam-se com os seus dedos. Calcou o seio macio, apertou-o. Ela abriu as pernas e sentou-se no seu colo, assentando os calcanhares na poltrona, escancarando-se e revelando-se. O sorriso mantinha-se bem desenhado na boca carnuda e vermelha. A postura era provocadora e ensaiada. Ele não se importava. Queria tudo como lhe estava a ser apresentado, uma extravagância ficcionada, uma deliciosa maravilha amorosa.

- Não há uma cama? – perguntou ele ansioso.

Ela enrolou os braços no pescoço de Luke.

- Claro que sim... querido. Não queres brincar primeiro?

- Ah... Sim, claro que... sim.

- Gosto do que trazes aí – indicou ela com uma breve olhadela ao cinto.

Num primeiro instante, ele pensou que ela falava do que pulsava sob as suas calças, tão ansioso para saltar para fora e conhecer o interior daquela mulher em pormenor, mas depois percebeu que se tratava de outra coisa.

- Isso... não é um brinquedo... É uma arma. Eh, como te chamas?

- Chamo-me como tu quiseres chamar-me. Que nome preferes?

- Não sei.

Ele tocou no sabre, como que a querer afastá-lo. Ela insinuou os dedos por debaixo dos dele e começou a acariciar o punho prateado, de cima a baixo, apertando suavemente enquanto soltava pequenos gemidos e mordia o lábio inferior com os dentes brancos. Luke começou a imaginar que ela lhe tocava dessa maneira e começou a arfar, a suar, a consumir-se na sua própria fogueira.

O perfume, a tepidez, a música arrastavam-no para outro mundo.

Fechou os olhos e deixou-se ir.

A cama apareceu, sempre estivera lá, na parede obscurecida do lado esquerdo. Um leito iluminado por uma luz branca virginal. Luke apagou todos os hologramas com as mãos que vibravam de paixão. Contemplou a bailarina finalmente nua, despida de artifícios. Não lhe conseguiu inventar um nome, bastava que fosse... ela.

Primeiro, brincaram na poltrona. A seguir, estenderam-se na cama e o Jedi entregou-se aos prazeres que ela lhe oferecia num templo isento de pudores, de sinceridades e de moralidades.

***

A madrugada despontava.

Raios de sol tímidos irrompiam do horizonte como feixes luminosos que perfuravam a linha artificial formada pelas construções da estação espacial. No céu índigo entrevia-se a silhueta da lua mais próxima e havia a mancha esférica do gigante gasoso à volta do qual giravam, ao fundo.

Luke atravessou a rua deserta apressadamente, penteando os cabelos loiros com os dedos. Artoo seguia-o a apitar, a rolar com rapidez para acompanhar os passos do Jedi que se dirigia ao espaçoporto. Temia estar atrasado, mas também sabia que o amigo não levantaria voo sem ele e sem o androide.

De facto, a Millenium Falcon aguardava, a postos para partir. Ele subiu a rampa, chamou Artoo com um aceno impaciente. Sem uma palavra atravessou a nave, as botas a martelar no soalho metálico. O astromec inquiriu com um silvo que faltava recolher a rampa e como o seu amo não se manifestou, foi ele próprio que acionou o mecanismo.

Ele sentou-se cabisbaixo, a puxar o cinto de segurança. Estava envergonhado, não queria que notassem o sorriso que em desespero tentava borrar dos lábios que se torciam involuntariamente, as faces ainda coradas. Aquilo durara toda a noite, atrasara-se, distraíra-se... Ela era resistente, ele também. Penteou outra vez os cabelos com os dedos, tentando dominar as madeixas rebeldes. O corpo continuava quente das sensações, um frémito que lhe percorria a pele, o coração a palpitar confortado, o espírito envolvido em luz.

A ligar os vários interruptores que dariam o arranque dos motores da Falcon, braço esticado para alcançá-los, pois que se situavam por cima de si, Han Solo perguntou:

- Está tudo bem, miúdo?

Com uma voz lânguida, Luke respondeu:

- Tudo bem, Han... Obrigado por perguntares.

- Excelente!

- Conseguiste... ganhar alguma coisa de valor, no sabacc?

- Perdi muito dinheiro...

- Eh... Lamento que o resultado tivesse sido esse.

- Mas ganhei um anel com uma pedra preciosa rara. Vou oferecê-la à Leia, depois de uma avaliação por um especialista, para saber se é verdadeiro. Há boas joalharias em Coruscant. Espero impressionar uma princesa!

Luke sorriu, fechando os olhos. O perfume, a música e o calor vinham com ele.

Regressaram a Coruscant.

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