Capítulo 10: Rumo a estrada...
O que a minha mãe tinha previsto, aconteceu.
Como num passe de mágica, tudo que tínhamos conquistado, ruiu como um castelo de areia.
O casamento não aconteceu.
Houve uma balbúrdia na cidade inteira de Poços de Caldas.
Todos os humanos do local estavam ensandecidos.
Tudo que os Gigantes haviam feito pela cidade foi sumariamente "esquecido". Tudo que havia era agitações, quebra-quebra, pessoas feridas, acusações de histeria provocados pelos super-seres.
Incêndios em toda parte. Mortes horríveis. Loucura generalizada. Crianças monstruosas, tanto fisicamente, quanto mentalmente.
Foi tão medonho que nós tivemos que partir às pressas.
Até a Segurança Nacional foi chamada para conter a turba.
Lady Lira saiu de helicóptero com os seus seguranças contratados de fora da cidade, pois os policiais locais estavam "contaminados" e eram perigosos tanto para si mesmos, quanto para os outros.
Giotto e os seus parceiros de equipe tentaram controlar a turba, mas falharam miseravelmente. Não foi diferente com as Fadas do Sul e membros da Caravana.
Era como se os superseres só piorassem a situação.
Só a Tropa Computada que fez um trabalho realmente efetivo de contenção de danos. Os militares com aqueles uniformes únicos e, até certo ponto, alienígenas, eram a única polícia que existia ali.
Parecia uma conspiração contra os superseres...
E era.
A revista "Caminhos do Brasil" estava "radiante"! Nunca essa "Revista Podre" conquistou tanta evidência. Eles não precisavam "garimpar" evidências, estava tudo ali. Denúncias, imagens, depoimentos, fotos, documentos, registros...
Os habitantes de Poços de Caldas estavam colaborando com a revista de tal forma que eu nunca imaginei que aquelas pessoas, até aquele momento, tão gentis, estavam nos acusando de coisas que nunca fizemos.
Tivemos que fugir para uma cidade próxima, Vargem Grande do Sul, atravessamos uma fazenda com um ônibus que tivemos que roubar, às pressas.
A doutora Giselle estava inconsolável.
Os pais dela estavam na cidade e eles mesmos estavam colaborando com os moradores de Poços de Caldas. Acusando que os superseres transformaram-na num monstro.
Já Luiz de Orleans e Bragança estava um pouco aliviado, até porque os membros da Família Imperial ainda não tinham chegado na cidade. Imagine se eles estivessem lá...
As explicações de cada membro sobre o ocorrido foi de um choque.
Num momento, estavam todos lá ajudando nos preparativos do casamento.
No outro, todos enlouqueceram. Gritando e acusando os superseres de todo tipo de coisa.
Um verdadeiro Caos...
Eu fiquei em silêncio. Estava ouvindo os depoimentos de todos os membros dos Gigantes com tristeza, tendo que guardar segredo. Da volta da minha irmã, para eles seria a volta de Olga Gosdevantirmir dos mortos, que o Otávio Augusto é o Doutor Von Brown rejuvenescido, que falhei em deter o ataque de Tiamat contra os meus amigos. Olho a expressão de tristeza, decepção e mágoa de todos ali.
Então, naquele momento, eu explodi.
— Fomos traídos pela Princesa Gama-Beta! Ela nos usou para espalhar um tecno-vírus para converter as pessoas e usá-las contra nós! — explico com raiva.
Marisa, que era uma pessoa extrovertida e maliciosa, estava em lágrimas e arrasada, acabou fazendo uma simples pergunta:
— Por quê?
— Existem superseres sem caráter e se vendem para pessoas como Samantha Vargas para nos destruir. Usando a inveja natural dos humanos contra nós. Não importa o quanto nós os ajudamos, sempre virá uma maldita cretina que quer nos destruir, usando de manipulações e artimanhas. CANSEI! Agora é guerra! — eu mesmo estava confuso e magoado com tudo que aconteceu, mas precisava usar estes sentimentos negativos como força para provocar uma reação.
Otávio Augusto deu um sorriso discreto. Ele sabia que isso seria necessário para justificar todos os acontecimentos que ocorreram de forma lógica e coerente. Com isso, o grupo se manteria coeso e determinado.
Nada como um inimigo externo para manter um grupo unido.
Além de não precisar explicar coisas mais complexas no momento.
— Precisamos nos organizar e nos vingar naquela vadia da Samantha Vargas! Infelizmente, teremos que agir de uma forma estratégica. — sugeri.
— Agir como, Rodrigo? — perguntou Geraldo com a sua característica habilidade de contrariar tudo que sugerimos.
Retruquei na hora.
— Agirmos como nunca agimos antes! Tudo que fazíamos era seguir as nossas vidas e tentar co-existir com os seres humanos. Aceitamos as suas regras, aceitamos as suas leis, aceitamos as suas condições. Bastou uma controladora de emoções ou manipulador, pronto! Tudo que fizemos e construímos foi para o lixo! Trabalhamos para sociedade humana. O que ganhamos?! Até mesmo os nossos colegas de poderes estão tendo dificuldade para apresentar uma colaboração mútua com os humanos. Nós temos poderes, mas somos poucos...
Subitamente alguém me interrompeu:
— Rodrigo, até onde sei, você não é um superser. Para mim, é um menino gênio que tem uma dificuldade hormonal para o crescimento. Eu não considero uma habilidade de engenharia e robótica como um super poder. De todos aqui, és o único que pode viver na sociedade humana. — disse Mônica ou Nagava Monicarikova, o seu suposto nome verdadeiro.
Novamente, alguém me interrompeu antes que eu pudesse retrucar a observação da russa.
— A amiga dele, Alexandra De Jean, o traiu. Contou que ele é um extraterrestre para Samantha Vargas. — explicou Otávio Augusto. — É louvável que ele esteja magoado. Por isso que ele quer agir de uma forma mais contundente.
— É verdade isso, Rodrigo? — perguntou Cláudia, a controladora do clima, que estava no ônibus juntamente com o Paul Gimont, o irmão da vampira Doutora Giselle. — Você é um extraterrestre?!
Eu expliquei toda a história de minha origem ao grupo, porém evitei os detalhes mais comprometedores. Expliquei melhor quem era Tiamat e a sua ligação com a Princesa Gama-Beta e o seu ódio contra todos os superseres.
— Gente... Acho que vou vomitar. — comentou Marisa. — Quando achava que teria um pouco de paz, surge um inimigo do nada e destroi o nosso sossego. Gostava tanto de Poços de Caldas. Eu me sentia útil.
A Doutora Giselle apenas chorava, os seus pais não a reconheciam como filha, mas uma monstra. Ao olhar como a sua irmã estava arrasada, Paul Gimont decretou:
— Rodrigo, qual vai ser o seu plano? Não estou nem aí se vai ser antiético, eu quero ferir estes humanos contrários aos superseres. Bem como esses superseres traidores. Agora temos mais membros e um aumento substancial de poder. — disse o controlador de plantas canadense.
Então uma voz soturna no fundo do ônibus ecoa:
— Ora... Temos um conflito entre duas raças extraterrestres e estão usando os humanos com peões numa espécie de xadrez. Podemos fazer o mesmo. Usar o ardil do inimigo, que destruiu a nossa convivência pacífica, contra ele mesmo. — disse o novato e bizarro Capa Negra. — O pior que eu confiava na Princesa Gama-Beta. Eu acreditei nela. — balbuciou.
— Sabe, o refugo de filme de terror tem toda a razão! Se somos peças de um combate que não é nosso, por que não somos ativos em vez de passivos? — disse aquele jamais concordaria em qualquer decisão unânime, Geraldo, o telecinético.
— Eu estava tão feliz ali... Gostava daquelas crianças... Quando elas começaram a jogar pedras em mim, não foi a dor física, mas a sentimental que mais doeu. — disse a preguiçosa Kefren. — Quando voltei para casa, os meus pais me bateram e disseram que eu era um monstro. A minha família me desprezou! Se existe um culpado, quero me vingar. — discursou a garota com temas egípcios.
Dallas e Guallatiri ficaram em silêncio. Ambos não gostaram do rumo da conversa que estava tomando, mas sair do grupo não seria uma opção muito louvável. Ainda mais com a antipatia humana crescendo contra os superseres. Dallas gostava da Marisa e não iria deixá-la num momento tão difícil. E Guallatiri gostava da Kefren, ou melhor, era o "gado" dela. Tudo que ela fizer e pedir, ele irá fazer por ela.
Houve uma votação simbólica e decidimos "dar o troco".
Depois de quatro dias do incidente de Poços de Caldas, a Doutora Alexandra De Jean estava num hospital particular conveniado com a Piston Empreendimentos. (Uma das empresas ligadas a Família Lira).
No seu quarto particular e exclusivo. A cientista catarinense se recuperava do seu trauma de confrontar com os terríveis "Gigantes". Os monstros que destruíram a cidade Mineira de Poços de Caldas (localizada na província de Minas Gerais).
A mulher estava comendo uma maçã e lendo um livro tranquilamente.
— Olá, Xandra. — disse sem nenhum aviso.
Adorei a sua expressão de medo quando se viu cercada por quatro pessoas.
Eu, Geraldo, Marisa e Luiz de Orleans e Bragança.
— O que vocês estão fazendo no meu quarto?! Saiam daqui! Ou vou chamar os seguranças! — ameaçou a mulher.
— O que me deixa mais triste, Xandra... É saber que você colaborou com aquele livro abjeto. Por isso que vamos fazer uma espécie de "lobotomia" em você. Geraldo. — ordenei.
— Não! Desgraçado! Eu sempre soube que era um monstro, seu ET miserável! — esperneou a cientista tendo o seu corpo imobilizado pela telecinese de Geraldo.
O seu corpo sacudia muito, caso ela se machucasse, a Marisa a curaria instantaneamente com os seus poderes de cura.
Instruída pela sua meia-irmã, a cientista fecha os seus olhos.
— Então você já conhece o Luiz e seus poderes hipnóticos. — Comentei calmamente.
— SOCORRO!!! SEGURANÇAS!!! — berra a mulher desesperada.
Sem nenhuma pena, eu peço que a telecinese do Geraldo abrisse as pálpebras delicadas da mulher.
— Se rasgar, a Marisa conserta. — disse o telecinético.
— NÃO!!! RODRIGO! NÃO FAÇA ISSO! — gritou a mulher.
— Ações desesperadas, requerem medidas desesperadas. Huuummm... Os olhos estão abertos. Luiz? Faça as honras! — digo ao vampiro.
— Não se preocupe, Doutora! Isso não vai doer nada! — disse o superser com poderes vampíricos.
E um brado desesperado ecoa no hospital.
Derrotada, a Doutora Alexandra De Jean estava dormindo profundamente.
— Creio que as suas memórias sobre a sua confissão e a sua convivência contigo foram alteradas. Eu poderia alterar a sua memória e fazê-la trabalhar para nós como informante. — sugeriu o membro da Família Imperial.
Cogitei um pouco, pois a proposta era tentadora.
— Agora não. Quero fazer isso mais tarde. Vamos tratar daqueles doentes da revista "Caminhos do Brasil" aos poucos. Ainda existem políticos e pessoas que podem nos prejudicar. — e acabo pegando um comunicador de curta distância. — Kefren, Câmbio! Como está o apagamento das fitas de segurança?
Eu recebi uma resposta dizendo que está tudo como planejado.
— Marisa, cure todos os humanos deste hospital. Vamos mostrar que somos muito superiores do que a sua ciência primitiva. — ordenei a minha colega.
— Bem... Eu sempre queria fazer isso mesmo. — e a garota de cabelos e roupas azuis caminha displicente.
— Geraldo...
— Isolando a área... Estou indo. — e telecinético flutua para fora do quarto.
— Bem... Só falta uma coisa. — e eu caminho lentamente para uma porta adjacente dentro do quarto.
De súbito, abri a porta que leva ao banheiro.
E dentro havia uma enfermeira aterrorizada com um celular na mão.
— Droga, Rodrigo! Você também tinha percebido. — reclamou o membro da Família Imperial.
Eu me agacho para aquela mulher dos seus trinta anos.
Fico olhando nos seus olhos.
— Boa noite... — e leio o seu crachá. — Enfermeira Irene. Plantão difícil, não é verdade?
Ela sacode a sua cabeça aterrorizada de forma afirmativa.
— Alexandra foi esperta em não ter avisado sobre ela. — observou o superser vampírico.
— Por isso que doeu tanto a sua traição. Não se pode magoar superseres. Os humanos precisam aprender isso... — retruquei ao Luiz.
— Vai apagar as memórias dela? — perguntou Luiz.
Eu dei uma boa olhada no rosto daquela mulher que lembrava o rosto de minha mãe de criação. A minha memória extraordinária a reconhece. É a mesma que cuidou carinhosamente daquela que educou e me amou verdadeiramente em todos estes anos.
— Esta enfermeira cuidou da minha mãe adotiva. Foi gentil e solícita. Não vou fazer nada com ela. Deixe-a com as suas lembranças. — continuei olhando em seu rosto suado e que transpirava um profundo medo.
Eu afago a cabeça da mulher como se fosse um cachorro.
— Acho que ela vai contar para os outros. — sugeriu o Luiz.
Só aí, eu me levanto da minha posição de cócoras.
— Não vai. Ela é inteligente e uma vítima dessa sociedade humana. Trabalha, segue a sua vida difícil e tem Amor na sua profissão. Quantos filhos você tem, Enfermeira Irene? — perguntei à mulher.
— D-Dois. — balbucia a mulher.
— Não gosto de cesariana. É muito intrusivo e arriscado para a mulher, apesar de ser mais prático. Fica uma cicatriz enorme no ventre... Você é uma mulher bonita, Enfermeira Irene. Se quiser, eu peço a minha colega para tirar essa cicatriz. — eu sugeri para a mulher.
— N-Não p-precisa, obrigada. — recusa temerosa a enfermeira.
Depois de um tempo, Marisa retornou:
— Ih! Uma garota! Apagaram as memórias dela? — perguntou a garota de cabelos encaracolados e azulados.
Eu a olho novamente.
— Eu decidi que alguém tem que contar a história do que aconteceu aqui. Ou, se ela quiser, não contar nada e seguir a sua vida discreta. Sem o medo de ter outros superseres em sua cola. Quer isso em sua vida, Enfermeira Irene? — pergunto sabendo perfeitamente qual seria a sua resposta.
— N-Não! Não, senhor!
Eu sorri.
— Boa menina! Vamos embora.
Neste momento, eu escuto um desabar de um corpo. A tensão foi demais para a pobre Enfermeira Irene.
No lado de fora do hospital, Luiz brincou comigo:
— Quando você quer ser assustador, você consegue com maestria! Coitada da menina. Eu tinha a mesma intenção que você. — explicou o superser vampírico.
— Eu sei. Ela tinha acabado de usar o banheiro, quando nós chegamos. Vocês não notaram, mas eu vi a porta se abrindo e depois se fechando. Fora a minha audição que escutava aquele coração batendo mais forte do que uma bateria de uma fanfarra estudantil. — esclareci ao meu colega. — Tenho uma audição tão apurada quanto a sua, Luiz!
O homem riu.
— Alienígena!
— Cala a boca! — reclamei. — Como está a Doutora Giselle?
— Depois do nosso casamento de beira de estrada? Chateada! Uma "Lua de Mel" com os "amigos", não é o que uma moça romântica como ela gostaria de ter.
— Temos que jogar com as peças que Deus dá! — argumentei.
O membro da Família Imperial gargalhou.
— Para onde vamos, Rodrigo?
— Vamos pegar a estrada e descobrir o que este país tem a oferecer. — retruco ao superser vampírico.
Fim do Livro Cinco.
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