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Capítulo 14

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História co-escrita com Kami_Cavalcante


Minha mãe não quis conversar quando voltou a si. Ela apenas ordenou que eu cumprisse com a palavra do meu pai e disse que iria para casa descansar.

Dona Ludmila sempre foi uma mulher forte, mas depois que papai se fora, tornou-se dependente de mim e de  cuidados por conta do seu emocional. Ela já não era mais a mesma e isso, com certeza, a minha vontade deixaria o espírito do meu pai infeliz a ponto de não conseguir nem mesmo animá-la como fez durante toda a vida juntos.

Decidi aguardar mais um pouco. E nesse um pouco tive mais uma dose de Maria Helena.

— De onde você arrumou uma negrinha? Ela é de algum bordel? Imagina a linhagem da sua família misturada a escravos? — Íamos à reunião com Luísa, a última coisa que eu queria era levar Maria Helena comigo, mas ela decidiu colar em mim e entrou no meu carro antes mesmo que eu tivesse a chance de sair sem ela.

— Escravos só existiram no Brasil porque sua família não tinha o mínimo de bom senso. Sequestrar um povo não te torna superior, Maria Helena.

Ela não era só insuportável, ela era uma criminosa com ares de bom moça.

— Vai me dizer que ela não sabe que você é noivo? — ela olha as unhas em tom nude, enquanto ignora minhas palavras. — Claro que ela não passa de uma pessoa sem escrúpulos.

— Mas eu tenho escrúpulos por que vim de uma boa linhagem? Você é uma hipócrita, e eu vou me livrar dessa situação o mais breve possível...

— Tenta! Vamos, seja homem, me troque por uma negra que eu juro pelos ossos do meu tataravô que eu vou acabar com a vida dela de uma forma que ela vai amaldiçoar o dia que te conheceu.

Fico em silêncio. Mas eu já a imaginava sendo exatamente essa pessoa. Minha única preocupação no momento era amansar minha mãe; Maria Helena não me assustava, eu sabia lutar com as mesmas armas que ela.

Entramos na agência Royal e Luísa nos recepcionou fria, sem me olhar diretamente nenhuma única vez.

— Bem, Maria Helena, Gustavo é nosso wedding designer. Ele vai cuidar dos tecidos e fazer tudo ser harmônico, ele é meu braço direito nessa etapa.

— Tanto faz o tecido. — bufei, Maria Helena e Luísa me encararam, cada uma com uma expressão e nenhuma era agradável.

— Não vai ser uma aventura na criadagem que vai me tirar do sério. Uma neg... Uma mulher sem linhagem. — Ela parou de falar e eu retomei a conversa olhando diretamente para aquela que era dona de tantas qualidades.

— Negra, linda e sensível, tudo que você não é.

Pude ver a base do seu pescoço corar, ela me mataria se tivesse a chance.

— Desculpe, Luísa, ele acha que todas as mulheres da sua raça são boas assim como você e... — Maria Helena falou e eu não permiti que terminasse.

— Peça desculpas à Luísa, eu não vou aceitar esse seu comportamento. Quer ser minha mulher e ser conservadora? Vai andar na minha linha. Ou eu deveria simplesmente nomeá-la com a expressão que melhor te representa? Preconceituosa, talvez?
Maria Helena ficou vermelha de fúria. Luísa saiu com o tal designer nos deixando a sós.

— Viu o que você fez? — Maria Helena me encarou em fúria. — Agora tenho que pedir desculpas à moça por conta de uma que não deve nem ter classe como essa, que pelo menos é educada.

— Sabe quem não é educada? Você! Usa essa couraça de boa moça de família tradicional para jorrar preconceito e maledicências.

— Realmente essa moça virou sua cabeça, o que ela fez? Aposto que fez amarração, essa coisa é comum entre...

— Maria Helena, você não percebe que não precisa muito para me conquistar, eu sendo o seu noivo? — Minha voz aumenta. — Basta parecer um ser humano.

— Falta 45 dias e você vai casar comigo — se aproxima apontando o dedo na minha cara —, porque sua mãe não vai ousar deixar você sair disso como se eu fosse um pacote.

Para meu espanto, Maria Helena sentou-se como se nada tivesse acontecido, pegou a pasta cheia de tecidos e começou a olhar para eles com atenção.

— Gosto muito de branco intemporal, combina com meu vestido e as flores. O que acha? — Mostrou-me o tecido.

— Você está falando sério? — Ela me olhou inocente.

— Se você não liga para esses pequenos detalhes do seu casamento, azar o seu. Eu vim aqui escolher as coisas para harmonizar com meu vestido. Esperei dez anos por isso, não vai ser uma de suas milhares de aventuras que vai me parar.

— Eu vou para minha casa, você é surreal...

— Na saída chame os funcionários, quero dar algumas ordens sobre a iluminação. Fazer o que se você não consegue nem mesmo falar com a criadagem...

Saí e avisei o rapaz, que logo entrou. Eu estava furioso, busquei Luísa com o olhar e, para variar ela tinha fugido.

Já era a terceira vez que ela sumia!

Era um desafio alto para uma foda e ainda assim eu tinha ciência que eu iria atrás dela até ter mais um pouco.

O que estava acontecendo comigo?

Eu não era assim, aquilo estava permeando pela minha vida. Nem mesmo quando eu estava estudando em Londres e tinha uma pessoa fixa, interferiu em meu caminho.

Estava no carro decidindo para onde ia, quando ela bateu na janela.

— Sua noiva mandou eu te avisar que se você decidir sumir, ela vai na sua mãe.

— Ela não é minha noiva, não por muito tempo...

— Felipo, você não precisava brigar por mim, eu entendo que...

Abri a porta antes que ela terminasse de falar.

— Entra, Luísa.

— Felipo, sua noiva está lá em cima — diz hesitante.

— Não perguntei, pedi para você entrar.

— O que eu vou explicar? Felipo, eu não sou qualquer uma, eu...

— Entra, Luísa. — Minha voz é calma; por mais que eu esteja nervoso com toda a situação com Maria Helena, Luísa consegue despertar algo melhor em mim.

— Você não entende? Ela acha que você tem um caso com uma mulher negra, aí eu entro no seu carro... — diz. — O que todos vão pensar? O que vão falar? O meu chefe...

— Entra, Luísa — insisto.

— Felipo, por favor!

— Entra, Luísa é a última vez que te peço.

Ela olhou para os lados e entrou, liguei o carro e saí.

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