Separate - Final
Esse é o último capítulo, amores
E então teremos o epílogo
Ainda estou pensando sobre a possibilidade de haver extras, mas não se apeguem a isso, ok? Eu realmente não sei se terei mais alguma coisa a dizer dps que finalizar Nocte
Vejo vcs nas notas finais
Boa Leitura!
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Clouded sheets of glass behind hazel eyes
Stand in front of my sights blurring my life
And it pulls away the world from me but I don't mind
As long as it won't separate you from me I'll be fine
There's always been a disconnect
Running from my heart to my head
And no it's never made much sense
And I've been feeling so distant
Can you be the one to connect?
Pick up all the pieces again?
And pull away the world from me
I don't mind
As long as they don't separate you from me
I'll be fine
(Folhas nubladas de vidro por trás de olhos castanhos
Ficam na frente da minha visão, desfocando minha vida
E isso afasta o mundo de mim, mas eu não me importo
Contanto que não separem você de mim, eu ficarei bem
Sempre houve uma desconexão
Correndo do meu coração para a minha cabeça
E não, nunca fez muito sentido
E eu tenho me sentido tão distante
Você pode ser o único a me conectar?
Pegar todas as peças novamente?
E afastar o mundo de mim?
Eu não me importo
Contanto que eles não o separem de mim
Eu vou ficar bem)
Separate ~ Pvris
1.
A casa está serena. Choveu a noite toda e a tempestade deixou o ar eletrizado. Eu me estico debaixo dos lençóis, despertando devagar. Meu corpo dói, principalmente minhas coxas e meu abdômen, e imediatamente lembro da noite anterior.
Viro para o lado, esperando encontrar a cama vazia, mas Jungkook ainda está ali, dormindo de forma abandonada ao meu lado. Ele está deitado de bruços, costas nuas e lisas. Sua pele clara capta a luz do dia, músculos cobertos de veludo. Passo os dedos pela bagunça acetinada de seus cabelos negros. Ele suspira, rosto esfregando no travesseiro.
Eu me sinto inteiro. Jungkook está aqui e somos um do outro integralmente. Além do mais, Jimin está bem, ele voltará comigo e retomaremos as sessões de psicoterapia na clínica, e ficaremos bem, todos nós ficaremos bem.
Um alerta soa no fundo da minha mente quando penso em Jimin, mas é vago, olhos de uma raposa espreitando numa floresta de memórias confusas. Levo a mão à têmpora, tentando organizar meus pensamentos, mas uma súbita dor de cabeça me faz arquejar.
"Deus do céu", arquejo, e Jungkook se mexe ao meu lado, a imprecação despertando-o. Ele pisca para a claridade, mãos tateando para encontrar as minhas. Assim que nosso olhar se conecta, a dor de cabeça some.
"Está tudo bem?", Jungkook afaga meu rosto. Sua mão está quente e macia e encaixa perfeitamente na curva da minha bochecha.
"Sim. Acho que é fome", meu estômago ronca na mesma hora, confirmado minhas palavras. Eu e Jungkook rimos.
"Vou fazer o café da manhã", ele levanta e começa a se vestir. Jungkook cora e morde o lábio para segurar uma reclamação quando ergue a perna para passá-la pela calça jeans. "Você não pegou leve ontem."
"Sinto muito", mas ambos sabemos que não estamos nada arrependidos. Jungkook está fazendo uma cara safada, aposto minha bola esquerda que está pensando indecências para fazer comigo tão logo surgir a oportunidade. Ele termina de vestir o moletom e se vira para sair do quarto, mas eu o seguro pelo braço. "Ei, eu acordei pensando numa coisa. Hoje vou levar Jimin ao cemitério, levaremos flores para Yoongi e então iremos embora. Vamos voltar para casa, eu quero que você venha com a gente."
Jungkook leva um segundo me olhando, olhos de café perscrutando os meus. Vejo a mesma tristeza de sempre girando no fundo de sua alma quando menciono Jimin. Então, ele sorri.
"Claro, Tae. É bom ouvir isso."
Jungkook beija minha bochecha, meu pescoço e minha orelha. Ele sai do quarto e eu me visto para ver Jimin no quarto ao lado.
2.
Quando nossos pais compraram essa casa, eu e Jimin decidimos que dividiríamos um quarto. Apesar disso, eu e ele mantivemos um quarto de apoio, uma espécie de estúdio. Eu o usei muitas vezes para pintar, por isso há manchas de tinta no piso de madeira e o cheiro de acrílico está entranhado nas cortinas e no papel-de-parede. Jimin o usava para quarto de leitura, deitado de barriga no chão enquanto eu pintava. Mais tarde, quando crescemos, uma cama extra tomou o lugar do meu antigo cavalete. Mamãe, sendo uma acumuladora, preferiu transformar nosso quarto de apoio num dormitório a se livrar da cama velha que ficou sobrando quando nos mudamos de apartamento em Seul.
Com o passar dos verões, o quarto de apoio acabou se tornando um refúgio. As vezes, quando estávamos nos sentindo sensíveis ou sozinhos, eu e Jimin nos embolávamos juntos na cama velha e ficávamos abraçados até que nossas almas se curassem.
Foi nesse quarto que deitamos ontem, depois do banho.
Jimin não saiu dele desde então, e é como sei que sua alma ainda está dolorida. O fato de que o meu amor não o bastante para curá-lo dói, porque se ele não está bem, eu também não estou.
Ele dorme pacificamente e eu decido não acordá-lo. Em vez disso, fico olhando para as fotos penduradas na parede. Jimin e eu fizemos um varal de fotos num desses verões entendiantes, usando pisca-piscas antigos de natais passados. As luzes estão apagadas agora, mas eu as acendo. Elas brilham na penumbra do quarto como vaga-lumes entre as polaroids gastas. A maioria delas mostra apenas eu e Jimin, mas Yoongi está em algumas. Tínhamos doze anos. O braço de Jimin envolve os ombros de Yoongi por trás num abraço de coala, e ambos estão rindo. Em outra, eles estão na praia, cabelos molhados, Yoongi sorrindo em primeiro plano e Jimin acenando atrás. E então, há uma em que Yoongi está dormindo no colo de Jimin. E outra em que Jimin está sentado no colo de Yoongi numa festa, um chapéu colorido de palhaço na cabeça. E há uma em que eles estão se beijando.
Meu coração dispara, encontrando um erro na Matrix. De certa forma, eu sempre soube que havia algo mal resolvido entre Jimin e Yoongi, mas eu não lembro dessa foto, tanto quanto não lembro de muita coisa do passado.
Eles... parecem à vontade se beijando. Não é um beijo que se espere de duas pessoas mal resolvidas, onde um terceiro elemento, eu, existe para separá-los.
Mas é só uma foto e fotos não dizem muito além de um segundo de registro.
Puxo a foto do varal e desço até a cozinha. Jungkook está virando panquecas na frigideira.
"Você sabia disso?", eu ergo a foto na cara de Jungkook. Ele pisca, olhando para a foto e para mim e algo muito, muito sinistro perpassa suas feições antes que ele se recomponha.
"Tae, calma."
"Você disse que sempre esteve comigo, certo?", não quero me alterar, mas não consigo, minha voz treme e engrossa contra minha vontade. "Então você sabia disso. Sabia que Jimin e Yoongi ficavam."
"Éramos todos amigos, é claro que, às vezes, algo assim acontecia."
"Não você", acuso.
"Hã?", ele pousa a frigideira na pia e se volta para mim, a postura em alerta.
"Você não está em nenhuma foto nossa. Como isso é possível, Jungkook? Se éramos amigos, porque não existe sequer um registro disso?"
"Jimin jogou as fotos fora", Jungkook diz depressa, depressa demais, e agora é ele quem parece estar me acusando. "Depois do acidente, Jimin jogou quase tudo fora, tudo que lembrava Yoongi. Eu e Yoongi éramos amigos também, você parece esquecer disso."
Abaixo a foto, sem argumentos por um instante. É uma merda que Jungkook se lembre de coisas e eu não, é injusto, sempre estou correndo por fora.
"O que eles tinham?", exijo.
Jungkook abre a boca para falar, mas a fecha, mudando de ideia. Ele esfrega o rosto com raiva, uma veia em sua têmpora salta.
"Jungkook."
"Jimin", ele começa, mas para para puxar o ar e soltar num só fôlego: "Jimin gostava de Yoongi. Ele era apaixonado por Yoongi, de verdade."
Não é o bastante.
"Eu sei. Eu sei que eles tinham um lance, Jungkook, mas o quão sério isso era? Eu preciso saber, porque, Deus, Yoongi morreu na noite em que me ligou dizendo que... que queria ficar comigo."
Jungkook fecha os olhos, encolhendo como se recebesse um tapa. Ele leva as mãos ao rosto, não para esfregá-lo, mas para escondê-lo. Ele está chorando, ombros tremendo e eu sei que esse é o limite. Jungkook atingiu o limite e eu não posso fazer nada senão empurrá-lo um pouco mais para a borda, porque estou perto da verdade, eu posso tocá-la, ela está aqui nesta cozinha olhando para mim.
"Yoongi e Jimin namoravam, Tae. Mas Yoongi tinha um segredo, e você sabe qual é", Jungkook soa tão torturado, cada fibra de seu corpo tensionada e os olhos cheios de lágrimas brilhando penalizados nos meus. "Eu não suportava isso, era uma tortura estar com vocês e ver como ele te olhava, como ele machucava Jimin pelas costas dele e como você sempre o protegia, você sempre protegeu eles, mesmo vendo o lado ruim de Yoongi, você o protegia e o pior é que eu entendo, porque eu amo até mesmo o seu lado sombrio, Tae. Eu amo tanto você, e eu tinha tanta raiva de Yoongi por brincar com vocês, e quando o acidente...", Jungkook está ofegante, toda a dor que ele suprimiu até agora vindo à tona. Ele está muito distante do garoto confiante que conheci no estacionamento da clínica psiquiátrica. Ele parece tão solitário agora. "Quando aconteceu o acidente eu me senti horrível por estar aliviado."
"O que você está falando?", estou em choque, mas minha voz bate firme em Jungkook como um soco. Ele se dobra ao meio, quase gritando de dor, mas não posso deixá-lo parar agora. "Jungkook, o que isso significa?"
"Eu queria que ele sumisse", Jungkook soluça, lágrimas se misturando à baba no canto de sua boca. Ele passa o punho para limpá-la e tenta se recompor outra vez, porque Jungkook sempre me dá o que eu quero e preciso, "Eu queria que isso acabasse, Tae."
"Jungkook, você..."
Um som distante chama minha atenção. Uma porta sendo batida.
"Jimin?", eu grito, de repente me dando conta de que esqueci completamente que Jimin está nesta casa e que estivemos praticamente berrando na cozinha.
Ele está sensível. Deus, ele está tão sensível e pode ter ouvido coisas...
Subo as escadas e entro em desespero ao ver a cama do quarto de apoio vazia, lençóis revirados.
"JIMIN!", abro a porta de todos os quartos da casa e Jimin não está em parte alguma. Desço e saio de casa, pés descalços na grama úmida. Atropelo uma roseira, os espinhos enterrando em meus pés. Jungkook está atrás de mim implorando por alguma coisa que meu cérebro sequer registra.
O ar está pesado, nuvens de chumbo pairando no mar e uma névoa densa deslizando pelo aclive. Ela se estica por todo o terreno como chumaço de algodão.
Por trás dela, eu vejo a silhueta esguia de Jimin, as roupas brancas, os cabelos loiro claros bagunçados cheios de frizz. Ele está parado na beira do penhasco, olhando para baixo.
"Jimin", não ouso chegar tão perto. Meu coração galopa contra minhas costelas a ponto de não me deixar respirar. Nunca estive tão apavorado quando estico o braço na direção das costas de Jimin. "Jimin, o que você está fazendo?"
Eu olho para sua nuca, a pequena estrela solitária que é a pintinha logo acima da gola da camisa e meu peito transborda de amor.
"Jimin, não me deixe", imploro. Há uma estranha compreensão acontecendo em mim, a sensação desagradável de um déjà-vu.
Ele se vira, mas isso de algum modo o deixa ainda mais perto da margem do precipício. Seus pés descalços arrastam na terra farelenta entre as ervas daninhas. Jimin me olha e sua expressão é etérea, ele parece um sonho, tão lindo, suave e calmo.
"Estou tão cansado, Tae", ele diz, baixo demais, e é um milagre que eu o escute, já que Jungkook está atrás de mim resmungando meu nome sem parar. "Eu não fui feito para amar, eu não sei suportar isso como as outras pessoas, mas eu amo tanto, Tae, e isso não me deixa seguir em frente."
"Jimin, por favor..."
"Eu amo tanto você, Tae, e eu amei tanto Yoongi, mas dói. E não deveria ser assim, eu li livros onde o amor era bonito e trazia paz, mas tem algo errado em mim, eu não funciono como os outros."
"Não, não diga isso, você é perfeito, eu amo você assim, Jimin, aceito você assim", as lágrimas turvam a minha visão e eu as odeio porque preciso olhar o rosto de Jimin, o lindo e doce rosto do meu pequeno Jimin.
Jimin está sorrindo e há tanta felicidade e paz nele, eu não posso suportar.
"Sim, TaeTae, porque você nasceu para o amor. Por isso você perdoou Yoongi por todas as besteiras que ele fez e você nunca sentiu nada além de amor puro por mim. Você é muito raro, irmão."
Arrasto minhas mãos pelo rosto e limpo as lágrimas.
"Sim, agora vamos, venha comigo para casa, vamos embora daqui."
"Taehyung, por favor", Jungkook geme. Sinto seus dedos puxando a parte de trás da minha camisa e eu me movo pra frente para me livrar dele, meus dedos enroscando na gola da blusa fina de Jimin. Jimin recua mais um centímetro, agora só os dedos dos pés cravados na terra. Eu mal respiro.
"Jimin, meu amor, eu estou aqui", suplico, minha voz engrolada distorcendo as palavras em uivos, "Eu estou aqui com você, não desista. Nós prometemos, lembra? Você prometeu, é o nosso segredo!"
"O nosso segredo, Tae", ele diz, olhos brilhando nos meus, "Agora você sabe qual é."
"Tae, Tae", Jungkook está chorando, Deus, ele está chorando tanto.
"Eu amo você", Jimin fala, mas não há mais voz. No entanto eu leio isso nos olhos dele, em seu rosto e em seu sorriso suave.
O laço que me une a Jimin repuxa e é como se meu coração rasgasse ao meio quando Jimin recua e a névoa sopra. Ela o encobre, abraçando-o como um manto e, quando se afasta, há somente o horizonte cinzento. Tudo fica em silêncio, o silêncio do mais absoluto vazio.
Eu abro a boca, um grito mudo aflorando em meu peito. Meus joelhos caem na terra e os braços de Jungkook estão ao meu redor, me apertando com força. Ele chora como uma criança em meu pescoço, o peitoral tremendo nas minhas costas. Jungkook me aperta como se eu fosse toda a sua existência e eu permito, porque agora ele é a minha.
Tento encontrar voz para gritar porque essa dor precisa ter uma forma, um som, mas não sai. Em vez disso, a dor se torna um bolo nas minhas entranhas. Eu puxo o ar com toda a minha força, o som dele passando pela minha garganta seca é horrível, como se estivesse engasgando, e ainda assim nada sai de mim, nada.
A realidade é um choque duro demais, eu a encaro com olhos arregalados.
Um mundo sem Jimin é um mundo que não posso habitar.
Eu me solto de Jungkook e me arrasto até a beira do precipício. O mar é como metal lá embaixo, rugindo de encontro à encosta. Uma esperança alarmante me move.
"A guarda costeira", reviro meus bolsos tateando o celular. Meus dedos chacoalham e o aparelho cai pela terra, deslizando para perto do abismo. Jungkook segura meu ombro.
"Tae..."
"Se charmamos a guarda costeira, há uma esperança. Ele pode estar vivo!"
"Tae, escute...", os dedos de Jungkook, gelados e firmes, tentam agarrar meu pulso e isso me irrita, porque ele está me atrapalhando. Ele não entende o quanto é importante que eu alcance o maldito celular.
Minhas unhas cravam a terra e eu me esgueiro pela beira do precipício até enfim agarra o aparelho.
"Tae..."
"Me solte!", minha mente emperra, meus olhos ardem, eu olho para a tela suja do celular e levo um segundo inteiro para compreender que há uma ligação de mamãe nesse exato momento. Eu a aceito sem raciocinar, mas não levo o aparelho ao ouvido. No ar parado do penhasco, escuto a voz familiar da minha mãe ecoar:
"Meu bebê, você me deu um susto tão grande!..."
Não posso lidar com isso agora, então encerro a ligação e a tela de bloqueio surge, uma foto de Jimin com Yoongi. Coloco a senha e destravo o aparelho, mas não consigo lembrar o número da guarda costeira. Deus por que não consigo...
"Tae, por favor, olhe para mim..."
Meu cérebro parece um carro velho sendo empurrado ladeira acima conforme procuro na agenda de contatos o número da guarda costeira. Sei que está aqui porque sempre o tive. Eu enfim o encontro e aperto no botão para ligar e a chamada é atendida quase imediatamente.
"Guarda costeira."
"Uma pessoa se jogou do penhasco", eu digo depressa, as palavras soando macabras por cima da voz mortiça de Jungkook atrás de mim. Tae, Tae, Tae.
"Senhor, estamos enviando uma equipe. Tem certeza de que não foi um cavalo?"
"Não foi... o que?"
"Tae, desligue isso."
O atendente está dizendo alguma coisa, mas eu não consigo prestar atenção. Olho o horizonte, a linha contínua que une o céu cinza e o mar de chumbo. Algo horrível está acontecendo, tão perturbador e imenso que não consigo processar. Minha guarda baixa e então Jungkook está me puxando para trás, me fazendo virar em seus braços e puxando o celular da minha mão instável.
"Não, Jungko..."
"Tae, Jimin está morto."
"Cale a boca!", eu o empurro, punhos fechados em seu peito duro, "Ele pode estar vivo, se formos rápidos podemos salvá-lo, há uma chance!"
"Jimin está morto, Taehyung", Jungkook diz isso tão friamente. Seus olhos são escuros e engolem os meus, dois buracos negros vazios.
"Pare de dizer isso! Parece até que está gostando, como gostou quando Yoongi morreu", eu berro, lágrimas de fúrias misturando-se às de dor, "Você é doente, Jungkook, me quer só para você, quer que todos à minha volta morram para que eu não tenha mais ninguém!"
"Jimin está morto, Taehyung!", ele grita, e é assustador, porque sua voz não foi feita para gritar. Ela soa errada, machuca meus ouvidos e meu coração despedaçado, "Não agora, não ontem, ele está morto há um ano!"
"Eu não confio em você!", empurro-o novamente e Jungkook cambaleia para trás, expressão indecifrável. Ele avança para mim outra vez e me encara de cima como se tentasse arrancar algo de dentro de mim na força do ódio.
"Ele se jogou desse penhasco há exatamente um ano atrás", Jungkook está dizendo e eu quero arrancar minhas orelhas para não ser capaz de ouvir.
"Cale a boca!"
Jungkook praticamente encosta o nariz no meu, seu olhar me fuzila e há uma verdade horrível neles.
"Nós chamamos a guarda costeira e eles encontraram o corpo de Jimin, Taehyung..."
"Deus, apenas cale a boca!"
"E eles ficaram horas e horas procurando, e você ficou aborrecido porque um deles perguntou à sua mãe se não tínhamos confundido com um cavalo, mas aí eles o acharam", Jungkook praticamente soletra para mim.
"Eu jamais confundiria uma pessoa com um cavalo", eu repito exatamente o que Jungkook disse para mim dias e dias atrás, quando chegamos aqui. Minha mente é um fluxo contínuo de lembranças e elas flutuam soltas no éter da minha dor, lentamente se conectando.
"Eu fiz de tudo pra você lembrar, Tae. Mas não era o momento, você não aceitava, então eu desisti e deixei que você vivesse na sua realidade, mas eu sabia que um dia o círculo ia fechar e você teria que voltar ao ponto inicial. Eu só queria estar do seu lado quando acontecesse."
Sinto uma vontade insana de rir. Jungkook segura meu rosto quando minha risada se torna um arquejar sufocante. Sua voz fica mais baixa, mais gentil, mas seu olhar ainda queima nos meus. Quando fecho os olhos, ele sacode meu rosto, não me permitindo fugir.
"Nós o enterramos, o velamos, e ele se foi. Ele se foi, Taehyung, e nada mudará isso. Você entendeu?"
"Não", eu lamento baixinho. Seguro seu moletom com força, puxando-o para mim e o olho implorando, implorando por algo que não sei expressar, mas está me comendo vivo. "Não, por favor, não..."
"Ele se foi, Tae. E está tudo bem."
"Não."
"Nós vimos quando eles puxaram o corpo do mar", Jungkook continua falando e eu desisto de lutar, deixo a dor vir junto com as lembranças e elas estouram com a força de uma represa, levando embora todas as barreiras que criei, todos os sonhos que sonhei.
Sim. Aí está, aquele dia chuvoso em que os homens de amarelo agitavam-se na praia. O corpo pálido de Jimin sendo trazido para a areia, o grito de dor da nossa mãe, a água fria da chuva batendo no meu rosto. A mão de Jungkook na minha.
Este é o segredo, meu e de Jimin.
Jimin não está aqui.
Ele nunca esteve.
2.
O rosto de Jungkook está na frente do meu quando acordo. Seus dedos quentes afagam minha bochecha e meu queixo.
"Ei", ele murmura. "Como se sente?"
"Eu não sinto nada", minha voz mal parece humana. Tento limpá-la, mas ela soa fraca mesmo assim. "Quanto tempo eu dormi?"
"Dois dias. Tae, escute", Jungkook me olha fixamente, "Preciso mostrar uma coisa a você, chegou a hora da verdade, o momento que você esteve esperando e eu também."
"Eu não quero ver. Não quero mais a verdade, a verdade é horrível."
"Mas você não pode fugir dela para sempre. Eu estou com você, Tae, não tenha medo. Vou estar com você até o fim e ainda depois."
Jungkook beija minha boca docemente. Com sua ajuda, tomo um banho e como. Ele me beija em intervalos regulares, como um medicamento para a minha dor. O efeito é imediato, mas ineficaz a longo prazo.
"Vou buscar o carro, me espere aqui", Jungkook diz, me deixando na soleira da porta por um instante.
Olho para as roseiras enroscando na varanda e subindo pelo telhado. As pétalas estão apodrecendo nas bordas.
A picape preta de Jungkook oscila pelo terreno alagado e para na entrada da casa. Eu dou a volta e entro. O interior do carro é quente e cheira a Jungkook, o que é muito reconfortante. Ele espera que eu me acomode debaixo do cinto de segurança antes de me afagar e ministrar outra dose de beijo em minha boca.
Como das outras vezes, ele pretende que seja casto e afetuoso, mas seguro sua nuca e deslizo a ponta da minha língua através de seus lábios. Jungkook permite, mas mantém o beijo no nível superficial.
"Muita coisa para lidar, Tae", ele diz gentilmente, "Vamos devagar, certo?"
Não respondo.
3.
O túmulo de Jimin é simples, bem ao lado do de Yoongi. São lápides gêmeas, duas placas de mármore negro com o nome deles gravado. Há lírios brancos e madressilvas em torno, as flores ainda orvalhadas.
"Alguém deixou flores", murmuro.
"Fui eu", Jungkook está parado em pé atrás de mim enquanto me ajoelho na frente dos túmulos. "Desde que chegamos na ilha, vim aqui todos os dias trazer flores."
Eu o olho por cima do ombro. Jungkook é o mesmo garoto de sempre, calças escuras e coturnos, o moletom de capuz preto. Mas recuperar minhas lembranças faz com que o amor que sinto por ele dobre, triplique. Junto com a dor de perder minha alma gêmea, vem toda a história que tive com Jungkook, e eu o amo há, muito tempo.
Desde criança.
Jungkook sempre esteve ligado a Jimin e Yoongi e, quando eles se foram, eu bloqueei todo o passado que nos conectava - sobretudo minha história com Jungkook. Era impossível dissociá-los, Jungkook, Jimin, Yoongi. Crescemos juntos. Amamos juntos.
O amor que sinto por Jungkook é esmagador. Ele cresce em meu peito e irradia por todo o meu corpo e acho que é a única coisa capaz de me curar, a única luz na escuridão.
Fico de pé, ainda olhando para os túmulos. Jungkook passa para mim as coroas de flores que compramos no caminho e eu as deposito sobre a lápide de Jimin e Yoongi, hortências azuis entremeadas com damas-da-noite para meu irmão, dentes-de-leão e crisântemos amarelos para meu querido amigo.
"Na noite do acidente, eu...", tento. Jungkook pousa a mão na minha nuca num gesto incentivador. "Eu sabia que Jimin e Yoongi estavam juntos e quando Yoongi me ligou propondo termos algo, eu fui tão idiota, Jungkook."
"Não, meu amor, você e Jimin confundiam os sentimentos muitas vezes. Ficavam doentes juntos. Ficavam felizes juntos. Amavam juntos."
"Eu não amava Yoongi, n-não como amo você", me defendo, apavorado com a possibilidade de que Jungkook pense que eu o traí, porque não é verdade. Eu o amo verdadeiramente, mais que a mim mesmo.
"Shh, eu sei disso, Tae", ele beija minhas pálpebras úmidas, "Não importa o quanto você tente explicar, eu nunca vou entender o que você e Jimin tinham, mas jamais tive raiva. Era bonito e único e fez parte de quem você é."
"Quando Jimin e Yoongi ficaram juntos pela primeira vez, eu senti a euforia dele. A explosão em meu peito. A felicidade", minhas lágrimas rolam livremente pelas minhas bochechas e Jungkook as limpa com os polegares. Os cabelos negros caem sobre seus olhos afetuosos, ele é lindo como um anjo, meu Jungkookie.
"Isso é bom. Você sempre terá lembranças boas dele."
"Jungkook, eu", engasgo novamente. É muito para lidar, ainda não sei como organizar as emoções que ficaram tanto tempo reprimidas. "Depois que Jimin se foi, eu me senti culpado. Nunca quis magoar ele, nunca quis magoar ninguém, mas nossas almas eram costuradas. Às vezes simplesmente era difícil demais me encontrar dentro de mim mesmo, porque grande parte de mim era Jimin."
"Ele nunca o culpou por isso, Tae", Jungkook beija minha testa e eu enfim descanso a cabeça em seu pescoço, deixando ser abraçado. O corpo quente de Jungkook me envolve no vento gelado, sua respiração doce em meu ouvido. "Se você sentia o que ele sentia, então você sabe que ele se foi o amando demais."
As lágrimas explodem e eu fecho os olhos. A dor dissolve em puro amor.
"Eu sei."
4.
Na volta para casa, Jungkook faz questão de passar de carro lentamente pela orla para que eu veja o mar e o pôr do sol. Para distrair minha cabeça, eu peço a ele para me deixar dirigir. Jungkook acha que é uma boa ideia e trocamos de lugar.
"Quando você quer voltar para Seul?", Jungkook me pergunta, dedos roçando meu pescoço.
"Não quero mais ficar aqui. Passamos essa noite, vamos amanhã cedo."
Ele sorri.
"O que você quiser."
"Você sempre diz isso."
"Porque é verdade", Jungkook está me olhando daquela forma novamente, olhos escuros derretendo de adoração por mim. Eu revivo o fantasma obscuro da sensação de que ele me ama demais, mais do que dou conta de corresponder e isso, de algum modo, é errado.
Ajeito-me desconfortavelmente no banco, mãos segurando firme o volante. Olho rápido para Jungkook, a paisagem que passa depressa atrás dele, pela janela do passageiro, é o mar azul escuro e as tiras douradas do sol se pondo.
"Gukie, todo esse tempo você sabia a verdade.Você sabia que Yoongi se aproveitava do fato de que eu confundia os sentimentos de Jimin com os meus, você viveu a perda de Yoongi e depois a de Jimin junto comigo, e depois teve que suportar a minha loucura..."
"Não fale assim. Você só teve uma reação, foi sua forma de lidar com a verdade, Tae."
"Ainda assim. Jungkookie, é muita coisa para você lidar também. Você... Você nunca teve raiva?"
Jungkook olha para frente, a expressão neutra, mas os olhos magoados.
"Sim. É claro que sim."
"Raiva de mim?"
"Não. Não de você, meu amor", ele segura a mão que deixou descansar sobre a coxa. "Das... coisas. Por terem acontecido assim."
A estrada está movimenta a essa hora, é sexta-feira, as pessoas estão voltando da praia ou simplesmente chegando na ilha para o fim de semana. Eu pego o retorno que nos levará para o sul da ilha, pensando no que Jungkook diz. Eu não tenho mais nenhuma desconfiança em relação a ele, porque minhas lembranças voltam aos poucos, a maioria pedaços da nossa infância e adolescência, e Jungkook é um ponto fixo.
Nosso primeiro beijo, no celeiro. O modo como o gosto de Jungkook foi a coisa mais deliciosa que experimentei, e como ficou em minha boca por dias e dias, até repetirmos. E depois disso, todas as vezes em que nos beijamos escondido, horas e horas, viciados.
Beijar Jungkook ainda é a minha coisa favorita na vida.
"A primeira vez que fizemos sexo", eu digo, maravilhado com a facilidade com que a lembrança vem, deslizando feito manteiga diante dos meus olhos. "Nós dois choramos."
Jungkook ri.
"Deus, Tae, estávamos tão assustados!"
"Eu tinha quinze anos? Dezesseis? Foi incrível."
"Foi rápido", Jungkook ri outra vez, o som enchendo o carro. Acabo sorrindo também, é impossível não reagir ao som da felicidade de Jungkook.
"Na minha mente, durou horas. Anos. Eu não quero nunca mais esquecer."
Jungkook entrelaça os dedos nos meus e puxa minha mão para beijá-la. Eu suspiro, em paz. Ele solta meus dedos e eu volto a firmar as duas mãos no volante; o movimento faz a manga do meu moletom deslizar e a pele tenra do meu pulso surge. A luz do dia reflete em cima da cicatriz prateada sobre as veias.
Meus ouvidos chiam. Uma sombra perpassa minha mente, um borrão sombrio tentando saltar na frente das lembranças felizes com Jungkook. Eu pisco para me livrar da sensação ruim, mas há um bolo se formando na base da minha garganta. Um pensamento se forma, uma pergunta pavorosa que não consigo conter.
"Jungkook, por que estava na clínica psiquiátrica naquele dia?"
Jungkook não responde. Ele olha para a paisagem lá fora para as próprias mãos trêmulas, olhar desfocado e mente habitando um mundo muito sinistro na mente dele que a minha pergunta o fez encarar de frente. E eu sei que a verdade ainda é muito pior, muito mais aterrorizante.
Dessa vez, eu sei que não darei conta dela.
Quase começo a pedir para Jungkook esquecer, para vivermos nossas vidas a partir daqui e deixar quieto o que está quieto, mas esse é o ponto de virada, e então Jungkook está falando mecanicamente:
"Não importa o que você faça, eu vou estar aqui."
Meu coração dispara. As palavras românticas de Jungkook soam bizarras, uma boneca bonita deixada num quarto escuro.
"Eu já me perguntei tantas vezes, Tae, como funciona o amor. Como uma maçã podre pode ter lados bonitos e você desejar devorá-la apesar da parte ruim. Eu acho que o amor é isso. Devorar o bonito junto com o que é podre."
Eu olho para Jungkook em terror absoluto. O que ele me diz; o que Jungkook está me dizendo, é como se eu escutasse os ecos por trás das palavras. Eu simplesmente sei o que ele quer dizer, mas eu preciso concretizar, porque tenho medo de voltar a sonhar.
"Jungkook, quem empurrou você do penhasco?"
Jungkook fecha os olhos e, quando os abre novamente, estão molhados com lágrimas tão, tão doloridas.
"Você, meu amor."
Não.
A realização de que eu tentei matar Jungkook, o meu amor, o meu anjo, é hedionda. Mas Jungkook omite; nunca mente.
Uma buzina soa distante; eu giro o volante, percebendo que minhas mãos suadas escorregaram pela borracha e o carro oscilou para a pista contrária. Jungkook solta uma imprecação baixa e sufocada.
"Escute, Tae, preste atenção", Jungkook pede, uma nota de pânico na voz doce. A noite caiu e a luz dos faróis dos carros que vêm pela pista oposta acendem, estourando nos meus olhos embaçados, "Eu amo você. Com Jimin ou sem Jimin, com Yoongi ou sem Yoongi, eu amo você. Eu amo você completamente a absolutamente, eu amo todas as suas versões, eu amo você de trás para frente e do lado oposto. Eu amo você."
Deus, não. As palavras se repetem. Os ciclos se repetem e eu estou preso aqui. Estou preso na minha cabeça, nos meus sonhos, dando voltas sem fim.
Eu não sei como sair disso. A verdade cresce e se espalha como um vírus e eu tentei matar Jungkook.
Escuto a voz dele falando comigo, mas são sons sem sentido, ecoando em minha mente como se eu as escutasse por trás de um filme plástico. As luzes crescem, crescem e crescem, um alarme distante que aumenta tanto até que pareça o fim do mundo. A última coisa que eu escuto é Jungkook me chamando, e sua mão tentando agarrar o volante que escorrega brutalmente para a direita.
Um pensamento goteja em minha mente um milésimo de segundo antes que tudo acabe numa explosão branca e vermelha.
A lembrança distante, tão distante que parece ser de outra vida...
Havia mais alguém no meu quarto na noite em que Yoongi me ligou. A sombra de uma silhueta sentada na janela, um rosto oculto sob o capuz do moletom preto.
Jeon Jungkook.
É por isso que ele sabe de tudo.
5.
Algo apita em algum lugar.
Eu abro os olhos e eles giram nas órbitas. Pisco uma, duas vezes, três vezes, e então eles focam. Há um teto branco. O cheiro forte de água sanitária e remédio. Um quarto de hospital.
Durmo novamente e, quando acordo, vejo o rosto de minha mãe me olhando. Ela sorri, emocionada.
"Meu bebê, você me deu um susto tão grande!"
Minha mente registra as palavras, sabendo que não é a primeira vez que a escuto.
"Como está se sentindo?", ela acaricia meus cabelos, "As enfermeiras disseram que você teve uma crise. Está tudo bem agora. Veja, eu trouxe rosas brancas, as suas favoritas, as antigas estavam morrendo", ela aponta para o buquê de flores ao lado da minha mesa. As rosas brancas são como páginas amassadas de livros velhos com bordas amareladas. "Jimin está ansioso para vê-lo, passou a noite aqui. Vou chamá-lo."
Jimin.
Jimin.
Meu coração acelera e o monitor de batimentos cardíacos dispara no instante em que Jimin entra no quarto. O rosto dele avulta acima do meu, meus olhos enchem de lágrimas de gratidão.
"TaeTae", ele diz, chorando da mesma forma, "Meu TaeTae, você acordou."
"Jimin", minha voz em desuso soa horrível, mas Jimin pega minha mão e a pressiona na bochecha. Uma lágrima se solta de seu cílio inferior e rola por sua face de querubim até meus dedos.
"Eu estou aqui."
"Realmente está?"
Ele ri, achando a minha pergunta absurda.
"Claro que sim. Eu nunca vou deixar você, nós prometemos, lembra?"
Sim. Eu sorrio para ele, mais lágrimas escorrendo pelo meu rosto.
"Jung...kook?"
O sorriso de Jimin morre. Ele fica mortalmente pálido.
"Tae, o acidente... Você lembra de alguma coisa?
"Jungkook estava comigo."
"Jungkook saiu antes de você para encontrar Yoongi", Jimin diz, mas as palavras soam ensaiadas. Como se ele as tivesse dito muitas outras vezes, na mesma ordem. "Ele me ligou, furioso, contando que Yoongi estava fazendo todos nós de idiotas. Então Jungkook pegou o carro e saiu transtornado na tempestade para tirar satisfação com Yoongi na festa, mas Yoongi vinha na outra pista, distraído na ligação. Estava tudo muito molhado."
Havia dois carros. Dois carros se chocaram naquela noite.
"Onde está Jungkook?"
Jimin me olha. Há tristeza em seu rosto, a mesma tristeza que eu via em Jungkook quando ele podia enxergar muito além de mim, a visão panorâmica do pesadelo.
"Foi um acidente muito violento", Jimin diz, "Não houve sobreviventes."
As lágrimas descem sem parar. Abro a boca para falar, para gritar, mas nada sai. O monitor de batimentos dispara, eu tateio meu braço para encontrar os acessos venosos e arrancá-los, quero sair daqui, preciso sair daqui e buscar a verdade, a verdade que me trará Jungkook de volta, porque um mundo sem Jungkook não é um mundo possível.
Mas algo está errado, terrivelmente errado, porque não consigo me mover. Meus braços e pernas estão imobilizados.
Jimin está gritando para a enfermeira. Ela entra, e seu rosto surge acima do meu.
"Está tudo bem, querido", ela sussurra com um sorriso, a agulha em sua mão penetrando o acesso do soro. Meu olhar oscila e cai em seu uniforme, sobre a pequena placa prateada costurada no bolso. Hospital Psiquiátrico de Seul. " Está tudo, tudo bem, agora você irá dormir e sonhar. E nesse sonho, você estará feliz."
É verdade, porque eu estava vivendo em meus sonhos, e eles eram mais felizes do que essa realidade. Eu quero voltar a sonhar.
"Eu quero Jungkook", olho para ela implorando.
"Claro. Sempre queremos o que não podemos mais ter. Por que você não escolhe, querido?"
Escolher.
"Eu não quero escolher. Onde está Jimin?"
"Lá fora", ela diz gentilmente.
"Onde está Jungkook?"
Ela não responde.
"Eu não posso continuar sem eles..."
"Mas você precisa, Taehyung..."
O rosto dela borra, contornos fundindo com a luz no teto. Ela ainda está sorrindo quando meu corpo afunda no vazio.
6.
Jungkook está na minha frente, sentado na cadeira com o caderno de desenho no colo. Sua franja cai sobre os olhos quando ele ergue a cabeça para me olhar. A casa amarela está quente e aconchegante à nossa volta e o ar cheira a chá de erva doce e maresia.
Ele sorri para mim e eu sinto meu peito apertar de amor.
"Você é perfeito, Tae", ele diz, balançando a cabeça como se não acreditasse no que vê. Eu me ajeito melhor no divã, feliz em ser seu modelo.
Olho pela janela e vejo névoa lá fora. Ela nos cerca como uma nuvem, e sei que faz frio, mas aqui é quente e seguro. Seguro e perfeito como um sonho. Aqui, há Jungkook. Lá fora, há Jimin.
"Jungkook", eu chamo e ele me encara. "Você foi real?"
Ele me encara e encara. Seus olhos são escuros, infinitamente escuros e doces. Ele descansa o caderno de desenhos na mesa atrás de si e vem na minha direção, tão lindo e meu. Eu me curvo sobre os cotovelos quando Jungkook ajoelha entre minhas pernas abertas, nossos narizes se tocando. Respiro seu cheiro, sinto seu calor. Ele me beija devagar, a língua macia tocando a minha em devoção.
"Eu sempre serei a sua única realidade. Você pode sentir isso?", Jungkook me beija novamente, e mais uma vez, mais profundo, saliva e carne e pele. Ele me respira e me abraça até que tudo que exista seja Jungkook.
E é assim que faço minha escolha.
_____
Nem acredito que finalizei Nocte. Fiquei emocionada escrevendo os últimos capítulos, minha ideia inicial era que a fic tivesse três fases, cada uma para um livro da série, mas realmente sou muito ruim com longs :( mesmo assim, acredito que consegui colocar a essência de Nocte aqui. Sim, o nome do livro que me inspirou também é Nocte, da Courtney Cole TADÁ!!
O final sempre foi esse, o último capítulo, de certa forma, já estava pronto na minha cabeça desde antes de eu começar a escrever o primeiro. Eu queria que fosse um final que possibilitasse mais de um ponto de vista; então, quem tiver uma visão mais realista, pode ficar com a versão do Tae sonhando no hospital psiquiátrico, e quem preferir a versão mais doce, tem o conforto da premissa de que, se tudo foi um sonho louco, e o Tae escolhe viver nos sonhos, essa é a realidade dele. Portanto, tudo sempre foi real.
Ainda teremos o epílogo, mas todos os mistérios de Nocte já foram respondidos (assim espero risus)
Obrigada por terem acompanhado e esperado as att, muito obrigada de todo coração!
#noctetk no tt :)
Até a próxima
<3
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