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Overwhelmed

oi amores <3 aqui está o cap novo, como prometido :)

obrigado pelos votos e comentários

Boa Leitura!

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1.

A chuva deu uma trégua. Não é como se estivesse fazendo um sol de verão, de qualquer forma; o ar ainda está cheio de eletricidade estática anunciando trovões, e pode voltar a chover a qualquer momento, mas eu e Jimin aproveitamos o tempo cinzento para pegar o carro e ir até a cidade.

Jimin está em seu modo concha. É como mamãe diz quando ele está muito quieto. Não é porque Jimin goste ou queira chamar a atenção, ele sabe que é errado se entregar para pensamentos ruins e negativos, então ele se esforça. Ele até mesmo está usando cores hoje, não branco ou creme ou escalas pasteis, mas um suéter largo azul claro como um céu de primavera, e calças folgadas amarelas. Os dedos bonitos tocam de leve a cicatriz em forma de traço em seu pulso enquanto ele puxa distraidamente a manga do suéter para cobri-la.

Ele olha pela janela e sei que está longe, muito longe daqui, e eu devo trazê-lo de volta e aquecê-lo com meu afeto.

"Dormiu bem essa noite?", pergunto. Estico o braço por cima do encosto do assento para afagar as mechas de seus cabelos. São macias entre meus dedos e Jimin inclina um pouco mais a cabeça na palma da minha mão.

"Não. E você?"

"Dormi bem", não posso deixar de sorrir, lembrando de Jungkook. É uma reação estúpido demais que meu estômago se encha de calafrios e sensações mornas quando penso nele? Está indo rápido demais, mas não quero que desacelere. Eu só preciso que todas essas sensações em torno de Jungkook se acomodem confortavelmente em mim, só isso.

"Ótimo", Jimin apoia o cotovelo na porta e aninha o queixo na dobra macia do antebraço. Lá fora, o horizonte em tons de chumbo e pérola é o plano de fundo da estrada.

"Jiminie, o que..."

"Espere", ele ergue a cabeça de repente. "Espere, pare, pare!"

Eu desacelero até estacionar na encosta. Jimin tira o cinto-de-segurança e salta do carro, eu o sigo, correndo pela pista deserta até as pedras na encosta do penhasco. Ele segura meu pulso, procurando apoio para ir mais além e olhar para baixo. Esticamos o pescoço juntos até que a borda escura do mar surja embaixo de nossos pés, a muitos quilômetros de profundidade. O vento gelado congela nossos rostos e faz nossos olhos arderem.

Conheço esse lugar.

Da última vez que estivemos aqui, havia fitas amarelas de proteção barrando a passagem, ambulâncias, sirenes, e eu estava correndo pela pista molhada, gritando.

Yoongi! Yoongi!

Havia uma bola de metal amassada lá embaixo onde agora existe apenas a espuma das ondas saltando contra as pedras.

"Acha que ele sentiu dor?", Jimin murmura. Ele olha para baixo com a expressão pesada.

"Eu não sei", não quero falar sobre isso.

"Os legistas disseram que o impacto o matou na hora, mas eu não sei. E se não foi bem assim? E se ele rolou até lá embaixo ainda vivo? E se havia uma chance, e nós o perdemos nesses míseros segundos?"

"Eu não sei, Jiminie", minha voz engrola. Eu recuo, puxando-o comigo, mas Jimin não se move.

"Você não se pergunta quem eram as pessoas do outro carro?", ele olha para mim, a expressão em branco, a voz vibrando baixa. "Se havia crianças?"

"Não, eu nunca... pensei nisso."

"E de onde esse segundo carro que veio na contramão surgiu?", Jimin franze a testa, mas soa como se estivesse murmurando para si mesmo. "Ninguém vem para cá, para esse lado menos divertido da ilha. Só há nós aqui."

"Talvez estivessem perdidos. Isso explica porque pegaram a direção errada", eu não quero falar disso, pois me obriga a pensar que Yoongi só entrou no carro bêbado para vir me pegar para irmos a uma maldita festa porque eu o estava afastando de mim por pura covardia.

Foi minha culpa e eu só não digo isso para todo mundo porque não quero fazer da morte de Yoongi um motivo para ser a vítima. Ele não merece isso. Então eu só vivo com essa dor dia e noite, esperando levá-la comigo para a morte, até que ela se torne um câncer que me corroa até os dentes.

Seria um castigo à altura do mal que causei para Yoongi.

"Ei", Jimin se vira para mim, os braços enlaçando meu pescoço. "Não é sua culpa, TaeTae. Não pense nisso", ele afaga minha garganta com os lábios entreabertos. "Não faça isso, TaeTae, não se puna. Quem quer que tenha matado o Yoongi naquela noite, a culpa é deles, não sua."

"Ele queria me ver", fungo.

"E ele estaria vivo se não fosse pela colisão. Ele teria ido em frente se não tivesse que ter desviado no último segundo. Você não tem nada a ver com isso, Tae."

Há cubos de gelo sendo triturados em meu peito quando tento puxar o ar pela boca. Jimin resvala os lábios no canto dos meus num beijo de conforto, e eu apoio a mão em sua nuca para trazê-lo para mim. O mundo parece grande demais daqui de cima, e eu me pergunto se Yoongi teve essa sensação quando despencou, de estar sozinho, completamente sozinho, se agarrando em coisas tão frágeis como me agarro aos ombros de Jimin.

2.

O céu é uma tela de guache em tons de cinza. Eu olho para baixo, o precipício está aos meus pés e eu vejo as ondas colidindo com os rochedos lá embaixo, sinto o vapor da umidade subindo e atingindo meu rosto.

"Taehyung."

Viro e vejo Jungkook atrás de mim, à distância de um braço. Ele está bonito, envolto em seu moletom preto com o capuz puxado sobre a cabeça, o rosto cor de leite suave e os olhos escuros e redondos me olhando com afeição e apelo. A cicatriz em sua bochecha parece mais funda do que lembro ser e eu me pego pensando que gosto dela.

Ele estende a mão para mim.

"Venha."

Olho outra vez para o precipício. É tão bonito. As cores sombrias, o perolado das nuvens no horizonte, o mar liso e profundo escondendo um milhão de segredos. 

"Você acredita em sereias?", pergunto.

"Taehyung, venha. Não faça isso."

Isso o quê?

"Eu quase posso ouvir, Jungkook, elas me chamando. Só que não é uma voz, é uma sensação. Me faz querer ir até lá... mas eu não sei onde é ."

Meus pés descalços deslizam para frente, empurrando poeira e grama seca para o infinito vazio abaixo deles. Se eu dobrar meus dedos, posso sentir a curva exata do final do precipício sob eles.

"Tae, meu amor, segure minha mão. Pode fazer isso agora, por favor?", a voz de Jungkook fica muito, muito suave e eu o aceito. No instante em que minha mão toca a dele, ele me puxa bruscamente para seu peito e me envolve num abraço desesperado. Seu coração pulsa acelerado contra o meu, seus braços me apertam e ele gira até que seu corpo fique entre mim e o penhasco, uma barreira sólida, quente e protetora. "Você ainda vai ser a minha morte, Tae."

"Por quê?", sussurro contra seu pescoço. Minha boca resvala em sua pele num beijo gentil.

"Porque eu te amo tanto", ele murmura, "que estou enlouquecendo."

Acordo assustado. Estou no meu quarto, mas sinto frio sem o calor do corpo de Jimin grudado ao meu. Foi um sonho estranho. Muito real, mas impossível. Jungkook dizendo que me ama, o chamado do mar e do horizonte, o sabor da pele de Jungkook na minha língua, o sal do mar aderindo nela e transferindo para o céu da minha boca. Olho para baixo e vejo que, apesar de dificilmente poder classificar o sonho como erótico, estou excitado. Acho que estou tendo um surto tardio de testosterona, porque desde o beijo com Jungkook meus miolos estão moles e meu pau nunca esteve tão duro tantas vezes seguidas.

Depois do banho, desço para encontrar Jimin na varanda. Ele está com sua regata branca com a qual costuma dormir e uma calça leve de algodão, falando ao celular. Paro no último degrau da escada, observando-o andar em círculos ao redor da mesa posta do café da manhã, e sua expressão parece chateada.

"... não vou fazer isso", ele diz rispidamente. Jimin raramente é grosseiro e sei que, quem quer que esteja do outro lado da linha, está sendo inconveniente. "Já disse que está tudo sob controle, pare de falar besteiras. Não! Por que insistem nisso? Ele é meu irmão e quero mantê-lo seguro. Não comece com isso de novo... Como podem achar que...?", ele esfrega a palma da mão num dos olhos com força ao soltar um longo suspiro. Quando retoma, soa firme e claro: "Não vou voltar. Somos adultos, isso tem que acabar, não vou mais atender nenhuma ligação sua. Adeus."

Ele desliga e larga o celular em cima da mesa com raiva. Só então olha na minha direção, a expressão nublada mudando depressa para algo mais suave.

"Bom dia, Tae. Você quer mel ou manteiga nos seus waffles?"

"Como conseguiu sinal?", estranho. O dia está fechado e quando está assim fica ainda mais difícil conseguir comunicação aqui.

"Sorte", ele dá de ombros.

"Quem era?", atravesso a cozinha e pego o bule de café. Jimin vem da varanda e se apoia na bancada da pia, braços cruzados. É um mistério para mim como ele não sente frio aqui. Seus braços quase sempre estão nus e suas roupas são leves como roupas de verão, apesar de quase nunca fazer sol nesse fim de mundo. O tecido de sua regata e calças é transparente a ponto de deixar entrever o castanho claro de seus mamilos e a sombra da boxer ao redor de seus quadris, mas Jimin pouco se importa. É hipnótico como ele se sente confortável e confiante em seu próprio corpo, mas sei que é uma fachada bem construída ao longo dos anos. Por dentro, Jimin está ruindo.

As pessoas podem olhá-lo e achá-lo sensual, mas eu o olho e sinto-o se tornando imaterial como o ar. Tenho medo de um dia não encontrá-lo mais, isso me apavora.

"Mamãe", ele bufa. "Ela começou com aquela história de novo". Seus cabelos estão uma zona, como sempre, mechas sedosas cor de trigo que caem sobre seus olhos castanhos intensos.

Aquela história. Nos separar.

"Estou cansado disso, Tae, eles nos controlando. Querem que voltemos para Seoul só porque estamos sozinhos aqui", Jimin ri com deboche.

"Achei que tinham parado com isso", estranho.

"Eles ficam tranquilos se estamos debaixo da vigilância deles, com mamãe podendo nos monitorar nos fins de semana, mas eles surtam se não estamos ao alcance."

"Mas você contou para ela que estamos aqui, não é?"

"Claro", Jimin responde sem interesse.

"O que eles acham que vamos fazer de errado?", sirvo café em duas xícaras e entrego uma para Jimin, "Cair em pecado ou algo assim?"

"E se cairmos, não é da conta deles", Jimin dá de ombros e engole o café, ignorando meu choque. Ele larga a xícara vazia na bancada e sai para a varanda, me deixando imóvel na cozinha.

Sinto um gosto ruim na boca do estômago e o aplaco com o café. Da varanda, Jimin diz em voz alta:

"Mel ou manteiga?"

"Mel", respondo, mas meu pensamento está distante. Talvez sejam as nuvens escuras anunciando mais um dia de chuva, mas sinto um peso nos ombros. Jimin repara que estou paralisado na cozinha e volta. Ele se recosta no batente da porta, me olhando com carinho.

"Tae, se você cair, eu caio, está bem? Foi isso que eu quis dizer."

"Eu sei", minto.

"Você está bem?", ele coça a cicatriz no pulso e meu olhar é atraído para ela.

"Você está?", recobro a lucidez. Estou aqui por Jimin. Não importa o quão confusa sua mente esteja agora, eu sou tudo que ele tem nesse momento, e nada mais importa. Ele é quem precisa de proteção agora, amor incondicional e carinho, não eu. Jimin assente. "Quer ir ao cemitério hoje?"

"Ainda não."

"Me avise quando estiver pronto, ok? Temos todo o tempo do mundo. O que quer fazer hoje?"

Jimin relaxa. Ele sorri e sentamos para comer na friagem úmida da varanda. A tensão se vai e o clima amistoso é restabelecido entre geleias, waffles e café com leite.

"Vamos descer a encosta e ver o que há por lá", Jimin decide. "Faz anos que não vamos para aqueles lados. O celeiro. A enseada. A árvore dos vaga-lumes."

É uma boa ideia. Apesar do fato de que, quando saímos de casa, uma hora mais tarde, meu pensamento corre na direção contrária. Para a casa amarela.

3.

O celeiro está abandonado, como tudo o mais aqui. Quando a família de Yoongi vinha passar as férias de verão, eles alugavam a casa amarela. Foi assim durante anos e anos. Depois que Yoongi morreu, eles nunca mais voltaram.

Perco um segundo vagando através dessa informação, como se houvesse algo nela piscando para que eu o capturasse, mas ele se vai como um inseto arisco.

O celeiro era de uma antiga fazenda que existia na região e que foi vendida antes mesmo de meus pais comprarem a casa dos sonhos. Quando eu e Jimin e Yoongi éramos pequenos, vimos o novo dono uma dezena de vezes antes que a fazendo fosse largada. Mamãe nos contou que ele tinha falido depois que a esposa faleceu e os filhos não quiseram assumir as dívidas nem administrar a fazenda, então o gado morreu, a grama cresceu e os cavalos fugiram. E a fazenda se tornou um excelente playground para três crianças desocupadas de férias.

"No que você está pensando?", Jimin diz enquanto respiramos o ar com cheiro de feno e maresia do celeiro, encostados nos pneus cheios de teias de aranha.

O que eu estou pensando é que tem algo estranho acontecendo comigo. Nessa ilha. Em minha mente. Mas por alguma razão não sei como filtrar isso e dizer para Jimin apenas o necessário. Jamais tive segredos com ele, mas ele tem comigo e isso nunca me incomodou de verdade até agora. O diário dele, pode ser apenas uma forma de terapia, mas sinto medo disso, do que posso achar lá se folheá-lo. Eu não deveria ter medo de Jimin, e pode ser que seja isso que esteja tão fora de lugar.

Não quero ler o diário dele, Jimin não merece isso, mas tem um caroço crescendo em minha garganta sempre que estamos juntos e talvez se eu confessar o que ando pensando de verdade ele diminua. É melhor do que tirar algo tão íntimo dele.

"Você já teve a sensação de que sua mente está pregando peças em você?"

A expressão de Jimin se altera minimamente, os olhos focando o vazio e ficando em alerta.

"Claro, Tae. O tempo todo. É por isso que estou visitando um hospital psiquiátrico, para começar, não é?", a voz dele é pesada e triste.

"Eu sei, mas...", reformulo a pergunta. "E se você esquecesse de algo muito importante, e sua mente sabe que você conhece, que já viveu isso, seu corpo todo sabe, mas você não lembra?"

"Tipo um dejá vu?"

"Não. Dejá vu é uma impressão. Isso é uma certeza. Você não sabe como, mas está ali, uma cicatriz no seu peito, só que você não consegue lembrar como começou ou de onde veio."

Jimin fica em silêncio por um momento, o rosto bonito pensativo e concentrado.

"Uma vez eu vi um filme", ele diz suavemente, "em que a garota matava o pai por sofrer abusos constantes. Bom, o caso é que ela esqueceu disso. Ela simplesmente apagou tudo, a violência doméstica, o crime... a mente dela a protegeu. Então, ela ficou adulta e estava tendo uma vida normal, até que uma testemunha, um vizinho da família, desenterrou o caso. E ela foi acusada de um crime que ela jurava que não tinha cometido. Um psiquiatra estudou o caso, fez sessões de hipnose com ela e descobriu tudo. Ela ficou louca quando a verdade foi arrancada de sua mente", Jimin me olha intensamente, por tanto tempo que seus olhos escuros são como vidro refletindo meu rosto, "As vezes é melhor não lembrar, meu amor."

"Você acha que é isso? Um caso de uma mente protegendo a si mesma?"

"Sei lá, talvez?", Jimin ri. Enrosca seus dedos nos meus, os anéis prateados roçando minhas falanges. Ele olha para o contraste de seus dedos pequenos, curtos e roliços nos meus, longos, acobreados e elegantes. Fecho os olhos para apreciar a carícia de seu polegar no centro da minha palma, as palavras dele girando em minha cabeça num carrossel desordenado. "Quem é ele?"

"Hã?", ergo a cabeça e o encaro.

"O garoto com quem você tem passado as tardes", a voz de Jimin é controlada, seu olhar é vago. "Ele está alugando a casa amarela."

"Achei que você ia fingir que ele não existe, tipo, para sempre."

Jimin solta minha mão, entrelaça os dedos atrás da nuca e suspira fundo.

"Não sei se você reparou, mas quem finge que eu não existo é ele."

"Jimin, vamos lá, você não é a pessoa mais receptiva quando não vai com a cara de alguém. Chega a dar medo."

"Não gosto dele, só isso."

"E por que não?"   

"Você sabe porquê. Somos iguais. Você e eu temos aquilo, sabe, pressentimento. A gente sabe", ele faz uma pausa suave e seu olhar fica triste enquanto ele encara a paisagem parada lá fora, "E eu sei que esse garoto vai fazer algo ruim."

Apesar das palavras de Jimin me causarem calafrios, eu sorrio com carinho. Houve um tempo em que a possessividade de Jimin me preocupava, mas essa época está longe agora, tão longe quanto as piadas ácidas das pessoas da nossa antiga escola. Eu o entendo, e o amo do jeito que ele é.

"Você sabe", repito com ternura, afagando sua mão.

"É, eu sei. Foi assim que eu soube que você e Yoongi estavam juntos."

Engulo em seco.

"Ele disse que vocês conversaram, naquela noite em que ele..."

Jimin me corta antes que eu possa sentir a punhalada da dor:

"Eu falei com ele. Yoongi não teria admitido nunca, Tae. Ele queria que fosse segredo, porque os pais dele são religiosos e você sabe, não iam aceitar. As vezes eu penso que...", ele suspira e me olha com medo.

"Pode falar. Você pode me dizer qualquer coisa, Minie, qualquer coisa mesmo."

"Não sei, Tae, penso que foi melhor assim. Sei que soa egoísta, mas você ia sofrer. Pode me culpar por pensar assim? Entre Yoongi estar vivo e vocês estarem juntos, mas ele te fazer sofrer... eu ainda escolho a sua felicidade."

O ar fica entalado na minha garganta. Não sei o que responder. Nunca pensei em nada disso quando me apaixonei por Yoongi, por mais que soubesse que dificilmente teríamos liberdade para termos um relacionamento comum, isso não me preocupava. Quer dizer, éramos novos - ainda sou novo - para projetar coisas tão distantes. Não deveria ser algo que Jimin se preocupasse também.

"Eu preferia que ele estivesse vivo, Jimin", declaro, soando mais ofendido do que pretendo. "Essa seria a minha felicidade."

Jimin me olha indignado. Magoado. Mas ele disfarça depressa e concorda.

"Desculpa, não sei o que estou dizendo. Sinto muito, só finja que eu nunca disse isso", ele levanta e espana a terra do traseiro. "Vem, vamos descer para a praia antes que a chuva desabe."

4.

Quando voltamos para casa, já é quase noite. Todo o terreno está coberto de névoa e o céu escurece nas bordas em tons de anil. As luzes da casa amarela estão acesas, estrelas embaçadas através da cortina opaca de bruma. Paro na varanda enquanto Jimin abre a porta e entra. Ele se vira e me olha, esperando que eu entre também, mas não me movo.

"Você vem?", a pergunta dele soa quase como uma acusação.

Mas Jimin sabe a resposta, não preciso dizê-la. Escuto o baque surdo da porta sendo fechada enquanto ando pelo aclive na direção das luzes douradas que me chamam como um canto.

5.

Jungkook não está em casa. Apesar das luzes estarem acesas, eu bato cinco vezes antes de me dar conta de que ele não está. Dou a volta pela casa, mas é difícil enxergar qualquer coisa ao redor com a névoa cobrindo tudo. Vejo a picape que roubou minha vaga estacionada nos fundos, perto da cerca que limita o terreno da floresta. Então ele não pode ter ido muito longe e, a julgar pelas luzes acesas, não saiu a muito tempo.

O ar está cheio de estática, anunciando a chuva. Ela protelou o dia inteiro e deve cair a qualquer momento. Isso me preocupa, porque Jungkook não conhece os hábitos dessa ilha. As chuvas são perigosas, violentas e imprevisíveis como uma paixão.

Desço a encosta até os precipícios. Ando para cima e para baixo pela borda, mas não há nada. Daqui não posso ver a praia lá embaixo, a bruma leitosa é como uma barreira ao meu redor. Onde ele pode ter ido?

Então, tenho um estalo.

Lá de baixo, da praia, a visão dos penhascos é melhor. Ele pode ter ido até lá para desenhar e ficou preso na praia quando a névoa chegou. É impossível encontrar a trilha certa no nevoeiro se você não estiver familiarizado.

Merda.

Volto para casa, esbarrando com Jimin na cozinha. Ele está corado como quem acaba de fazer algo depressa, os olhos castanhos se arregalam para mim assim que passo em disparada por ele.

"Tae, o que foi?"

"Acho que Jungkook se perdeu na praia", aviso afoitamente, vasculhando as caixas na dispensa em busca de uma lanterna. Luzes de celular não funcionam bem o bastante contra a névoa, preciso de algo com um alcance melhor. Encontro a lanterna de nosso pai e a testo. Está sem pilha. Ótimo. "Mas que droga!"

"Taehyung, você não vai descer para procurá-lo", Jimin demanda, mas já estou atravessando a sala e subindo até os quartos. Reviro as gavetas do quarto de meus pais e encontro um par de pilhas velhas. Eu as enfio com pressa na lanterna e ela pisca debilmente antes de estabilizar. "Vou ligar para a guarda costeira", Jimin pega o celular, mas eu praticamente o arranco de sua mão.

"Da última vez que acionamos ela quando Jungkook pensou ter visto alguém caindo do penhasco, eles perguntaram se ele não tinha visto um cavalo. Um maldito cavalo, Jimin!", sibilo enfurecido. Jimin me encara em choque. "Não quero a ajuda deles, nem de ninguém. Eu mesmo vou achá-lo e trazê-lo."

"Você ficou maluco?", ele berra, correndo atrás de mim pela casa. Pego minha mochila, porque algo me diz que esse regaste vai demorar. Coloco dentro um casaco quente, barrinhas de chocolate e um cobertor. Lotada, a mochila praticamente não fecha. Se não conseguirmos voltar, teremos que passar a noite na praia até que amanheça e o nevoeiro dê uma trégua.

"Jimin, eu conheço a ilha. Vai ficar tudo bem, não é grande coisa", me livro do aperto de seus dedos na manga do meu moletom.

"Eu vou com você", ele diz desesperadamente. Eu me viro para ele e o empurro contra  a parede do corredor, porque Jimin está ficando insistente demais, a força de sua mão me puxando para trás com violência. Um medo estranho me consome, preciso chegar até Jungkook e Jimin está no meu caminho.

"Não, Jiminie. Não tem necessidade, fique em casa e se aqueça. Vai ser uma noite fria."

"Taehyung, não se afaste de mim, por favor...", ele suplica. Meu coração se parte em dezenas de pedaços, vejo Jimin engolindo em seco e seu olhar ficando perdido, como quando o encontrei no local do acidente de Yoongi, atrás das fitas amarelas, debaixo da chuva e olhando para o mar negro.

Pego sua mão e o levo para o meu quarto. Coloco Jimin sentado na minha cama, visto nele um suéter meu de lã macia e quente com o meu cheiro e beijo suas pálpebras e bochechas até que sua respiração nivele com a minha.

"Vai ficar tudo bem. Por que não escreve no seu diário? Vai fazer com que se sinta menos sozinho e, quando menos esperar, estarei de volta", afago seu rosto e seus cabelos e Jimin ergue o olhar para mim. Há intensidade neles, a mesma que habita seu coração, mas ele parece muito, muito frágil e pequeno sob minhas mãos grandes e pesadas.

"Tae."

"Sim?"

"Volte para mim."

Pisco. Porque Jimin não está me pedindo para voltar para ele hoje. Mas sempre. Eternamente. Eu sei que é isso, como ele sabe que Yoongi gostava de mim. Como ele sabe que talvez Jungkook faça algo errado. E então, com os olhos abertos sondando os meus, sua boca pressiona a minha suavemente. É delicado e breve demais para que eu me afaste e, mesmo quando me dou conta do que ele está fazendo, não me afasto. Os lábios dele encostam nos meus outra vez e meus dedos apertam seus ombros, tentando fazê-lo parar. Parte de mim quer dar tudo a Jimin, tudo que ele precisar e parte de mim quer empurrá-lo para longe porque isso é errado.

É bem mais do que tudo que já tivemos.

"Você precisa voltar, Tae", ele murmura, a voz morna embolando-se com o meu hálito. "Porque somos um só corpo. Sempre vai ser assim."

"Eu sei", recuo minimamente, mas Jimin avança e sela nossos lábios uma vez mais e, uma vez mais, não o impeço. Ele se demora dessa vez e entro em pânico esperando pelo momento em que os lábios dele farão o movimento derradeiro para se entreabrir e afastar os meus e tornar isso ainda mais errado e perturbador, mas Jimin finaliza o beijo com um estalo baixo e deita na cama, puxando as cobertas até o peito.

"Pode pegar meu diário, por favor? Está na gaveta de meias."

Zonzo, vou até a gaveta e pego o caderno com capa de couro. Entrego-o para Jimin e ele me encara antes de acenar para que eu vá. Coloco a mochila no ombro e desço as escadas, as pernas trêmulas. Minha cabeça é um vespeiro, os pensamentos pinicando cada canto sombrio da mente.

Quando saio de casa, sinto a umidade da saliva de Jimin presa em meus lábios e minhas mãos tremem para limpá-la, mas não as movo. Em vez disso eu espero até que ela seque e minha pele a absorva, fazendo parte de mim.

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