7 • Sensações
E aqui estamos com outro capítulo de 5k. Eu espero que não esteja muito confuso.
Tô meio insegura com esse capítulo, mas enfim, agradeço pela espera e boa leitura!
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Longos minutos se passaram no banheiro, onde Eijirou foi capaz de botar tudo para fora, de desabar completamente sob o ombro do loiro, incapaz de resistir, buscando incessantemente apaziguar o desespero que tomava-o com cada ação que executou naquele dia. Ele estava entregue a Bakugou, e este fez questão de segurá-lo, escutá-lo e acalmá-lo até o momento onde ele não teve mais forças para chorar, apenas mantendo seus braços firmes ao redor do loiro e o queixo encaixado na curvatura de seu pescoço; não queria arriscar ser visto.
Ouviu o som do chuveiro sendo fechado, sentindo a água parando de cair por seu corpo, de cobri-lo.
E foi só nesse momento que lembrou a situação em que ambos se encontravam. As roupas de Katsuki estavam molhadas, mas a fricção delas contra seu corpo nu fazia com que este reagisse de forma natural...
Isso com certeza é vergonhoso, mas acho melhor que esse problema vá para a lista de ignorados...
— Se sente melhor agora? — ele ouve a voz rouca questionando-o repentinamente, sentindo um rubor espalhar por seu corpo enquanto ainda tentava, inutilmente, conter as fungadas.
Sua respiração ainda está falhando pelo que acabou de fazer, mas ele decide respirar fundo para responder apropriadamente:
— S-sim... — sua voz é baixa, mas a proximidade permite que o loiro ouça, fazendo-o desvencilhar-se do aperto, se afastando um pouco pela vergonha que lhe acomete ao notar o quão próximo estava de Katsuki.
O loiro analisa Eijirou com o olhar, um pouco preocupado pelo afastamento repentino – apesar de não demonstrar muito – e prossegue, involuntariamente, descendo seu olhar, observando os músculos inegavelmente belos e trabalhados, passando pelo abdômen e chegando até debaixo da virilha, onde arqueou as sobrancelhas em um misto de indignação, surpresa e um pouco de constrangimento.
— Cabelo de merda...
— Ignore isso, por favor.
***
Os sentimentos de humilhação, ódio e alívio mesclavam-se no peito de Eijirou. Todos embaralhados, tentando se sobrepor um ao outro e dominar o ruivo que permanecia sentado na cama de Katsuki.
Um silêncio quase sombrio perdurava pelo quarto há um tempo, a tensão havia sido restabelecida e agora Katsuki se via entre duas partes de uma mesma pessoa, quais eram tão diferentes, mas tão iguais.
É, acho que você não ficou lá tão feliz em me ver novamente...
A cena do banheiro fez Kirishima corar violentamente, mas também gerou seu silêncio. Tantos sentimentos em um período tão curto de tempo estava fazendo-o ficar mais confuso, e ao mesmo tempo, o relaxamento proporcionado pela evasão de sentimentos negativos fora benéfico e tentava reaver espaço em seu corpo. O que ocorreu posteriormente foi um pouco complicado, no entanto, Katsuki propôs que Kirishima fosse em seu quarto para terem uma conversa mais apropriada e sem riscos de interrupções. Kirishima cedeu por não ter desculpas plausíveis a serem usadas para escapar do loiro naquele momento.
Ao entrar no cômodo, Eijirou não ficou nada feliz em ver o moreno sentado na cama do loiro, apenas observando-os em silêncio, aparentemente esperando por sua chegada. Katsuki atentou-se a cada detalhe das feições que o ruivo exibia, sabendo muito bem o quanto aquele outro ser ali o afetava, mas respirando fundo e explicando ter o trazido para lá pois alguém tinha de manter o olho nele, além de, é claro, querer que as coisas fossem esclarecidas – ainda havia muitas perguntas a serem feitas à tal versão obscura de Kirishima.
— Eu já disse que não me importo com o fato de você ter ficado duro, porra, não precisa ficar tão envergonhado assim. — o loiro decide quebrar o silêncio sendo direto. É claro, ele ficou constrangido no momento, mas conseguiu conter essa vergonha toda, pois aquele não era o foco; as coisas não estavam resolvidas, tampouco se resolveriam tão brevemente, mas era importante descobrir exatamente o que se passava na cabeça de Kirishima primeiro.
Kirishima quase queima de vergonha ao ouvi-lo ser tão direto, voltando a esconder seu rosto na toalha que jazia em seu pescoço.
Direto demais. Até eu senti a vergonha.
— Porra, você também? — Katsuki questiona ao olhar para o lado e ver o moreno com a face corada. — Tsc, tanto faz. — estala a língua e volta a encarar Eijirou em busca de dar continuidade à conversa no banheiro. — O que tá acontecendo com você, Cabelo de merda?
Kirishima finalmente o encara nos olhos com certa seriedade e abaixa a cabeça, incerto se deveria responder algo ou não. Confiança... é algo que ele não sente vindo de outras pessoas, não importa o quanto ele as ame. Não queria desabafar, pois sempre se sentia um idiota quando o fazia, sem mencionar o fato disso não funcionar com ele. Seus sentimentos negativos sempre se sobrepõe a qualquer palavra de apoio no final.
— Me responde.
— Não dá. — quem dita a resposta é o moreno do outro lado da cama, que encara Katsuki com seu olhar característico e um semblante mais entristecido. — Ele mal consegue catalogar o que sente.
— Cala boca. — o ruivo faz questão de dizer, seu olhar afiado mirando no moreno e fazendo Katsuki se sentir desconfortável com toda aquela fúria contida naqueles olhos. Kirishima não era assim, ele nunca foi, então por que assim de repente?
— E você sabe? — Bakugou decide ignorar a fúria alheia e questiona o rapaz com certa agitação. Não tinha total convicção de que aquele ser era, de fato, parte de Eijirou, mas tanto sua aparência quanto o fato dele saber exatamente onde o ruivo estava eram argumentos válidos para que acreditasse, ao menos por hora. — Você diz ser ele, não é?
— É verdade que sou ele, mas eu também não sou capaz de explicar exatamente tudo que ele sente. — sua resposta é simples e seu tom de voz não se altera, tampouco se demonstra abalado por ser encarado com tanta fúria, mesmo depois de ser agredido seriamente. — Também não posso simplesmente expô-lo por completo se não é o que ele quer.
Eijirou, por um segundo, se sente agradecido por tal resposta. Seu corpo relaxou um pouco ao saber que não seria mais humilhado ainda naquele dia, ainda mais por alguém que tanto odiava. Katsuki, por outro lado, bufa com certa insatisfação pelo fato de não obter respostas logo de cara – sua impaciência é algo muito presente –, mas ao contrário do que o ruivo pensou, ele não insistiu tanto no assunto, apenas se aproximando de Eijirou e declarando:
— Tudo bem, não vou te forçar a contar nada, mas como eu já disse antes: não vou te julgar.
E um silêncio se faz presente entre os três – ou dois – mais uma vez. Kirishima absorve aquelas palavras e pondera bastante acerca delas, mas no final decide que nada lhe convenceria de uma decisão que já tomara há tempos. Agora, provavelmente, seria o momento que teria para ir embora, onde Katsuki permaneceria insatisfeito, mas não o forçaria e não se meteria mais em sua vida.
Acha mesmo que isso vai fazê-lo desistir? Você o conhece, Eijirou. Nós o conhecemos muito bem para saber que Katsuki Bakugou é persistente até demais.
O ruivo se levanta, querendo encerrar aquilo o mais rápido possível; tinha que voltar para seu quarto, sozinho, livre do julgamento ou falsa preocupação alheia. Ele para ao sentir uma mão sob seu ombro, sentindo os orbes escarlates em suas costas, o observando com intensidade e de cabeça baixa.
— Não vai, durma aqui. — Katsuki dita com naturalidade e o coração do ruivo quase explode para fora do peito, seus hormônios contribuindo para que alguns pensamentos indecentes perpetuassem por sua cabeça ao ponto de que ele teve que balançar a cabeça para dispersa-los e focar em responder o loiro de uma vez. — Isso você pode que eu sei.
— Mas por que isso do nada?
— Não importa, só fique, cacete.
Eijirou arqueou suas sobrancelhas com a resposta evasiva, questionado Katsuki com o olhar. Aquela proposta era estranha, ainda mais vinda de alguém como o loiro, que era tão reservado e não costumava gostar de gente em seu quarto – principalmente de um jeito tão desnecessário assim.
— Não tem necessidade disso.
Bakugou bufa frustrado mais uma vez pela negativa e cruza os braços, encarando silenciosamente o ruivo com aquele semblante fechado. Queria convencer Eijirou a ficar, mas não queria expor o que sentia – não deixaria que seus sentimentos fossem revelados – e ficava difícil encontrar algum motivo plausível. Ele só queria estar ao lado de Kirishima, não queria deixá-lo sozinho... não depois de tudo que aconteceu, de tê-lo chorando em seu ombro de uma maneira tão desesperada, de ver sua expressão desolada quando o machucou por acidente, e principalmente, de ouvi-lo afirmar estar bem mesmo estando a ponto de desabar.
— Eu explodi a porta do seu quarto, porra. Você se sente confortável dormindo em um lugar aonde qualquer pode entrar? — questiona, finalmente encontrando algo que pudesse justificar seu pedido.
— Não é como se alguém realmente fosse entrar lá. — Eijirou mostra um sorriso forçado enquanto explica, lembrando dos olhares assustados que recebeu depois daquela cena toda. Provavelmente, ninguém gostaria de se aproximar dele depois de algo assim. Com esse pensamento, seu sorriso vacila por um segundo e ele balança a cabeça para não divagar demais em pensamentos indesejados, dizendo algo antes que Katsuki revidasse. — Você já fez até demais por mim, Bakubro, não precisa ir tão longe.
Apesar de não acreditar tanto assim na preocupação alheia, Kirishima se vê na obrigação de falar aquilo; Katsuki já havia feito demais por si, coisas inesperadas até.
De repente, ele pensa um pouco mais sobre as ações de Bakugou e seu olhar pousa nos ombros alheios; o loiro tratou as feridas, portanto, não estavam mais sangrando como antes, mas a culpa por ter feito aquilo ainda consumia o ruivo... e não só isso, as palavras que ele jogou em Katsuki antes de toda aquela bagunça acontecer também não lhe agradavam e alimentavam a culpa que crescia em seu peito.
Por fim, decidiu quebrar o pequeno silêncio feito entre eles para fazer algo necessário.
— Desculpa pelo que eu fiz. — ele não consegue olhar Bakugou nos olhos. — E por tudo que eu disse, sabe, antes.
— Olha pra mim. — o loiro diz depois de poucos segundos, se aproximando mais e vendo o olhar do outro fazer contato com o seu.
— Não precisa me desculpar se não quiser, eu realmente acho que não mereço, então tudo bem. — outro sorriso forçado surge em seus lábios. Novamente, esse sorriso ridículo que você só faz para parecer estar bem.
— Certo, eu te desculpo... — apesar de sequer ver necessidade de Kirishima se desculpar, ele diz. A voz do loiro agora é suave, seu olhar é sério e intenso, no entanto, ele trata de complementar sua própria frase. — Se você dormir aqui.
— Por que quer tanto isso? Eu já disse que não tem necessidade!
— E?
Isso deixa Kirishima ainda mais chocado, seus apelos não estavam funcionando, mas lá no fundo uma felicidade emergia pelo fato de poder dormir com aquele que ama...
Só admita logo que você quer isso, Eijirou. Você sempre quis, não é? Não é hora pra voltar atrás nos seus desejos...
— Mas onde eu vou dormir?
Eu sei que você está louco para que ele diga que vocês dois vão dormir juntos na cama, mas ao mesmo tempo não quer nutrir nenhuma esperança de que algo a mais possa estar implícito aí, não é? Está com medo de sentir demais.
— Você pode dormir na cama, eu tenho um futon guardado e posso ficar nele.
Kirishima só ficou mais chocado; Katsuki Bakugou, o ser humano mais orgulhoso e egoísta que ele já conheceu estava aceitando dormir praticamente no chão por ele.
— Espera, não seria nada másculo da minha parte caso você dormisse no chão por minha causa! — ele argumenta, erguendo as mãos para demonstrar sua inconformidade com as condições impostas pelo loiro.
Essa frase, ela é tão... Kirishima. Ouvir algo assim saindo do ruivo depois de tudo que aconteceu fez com que um sorriso involuntário se formasse nos lábios de Katsuki, era isso que ele desejava, que o ruivo simplesmente fosse ele mesmo, que ele expusesse seus sentimentos verdadeiros ao invés de esconder-se através da frase "eu estou bem" quando ele claramente não estava.
— Então nós dois dormimos na cama. — a frase sai com naturalidade da boca de Katsuki e ele sente-se imediatamente envergonhado com o que acaba de dizer, mas trata de esconder o rubor que espalhava-se por sua face.
Pior que ele era Kirishima, cuja a face estava quase da cor dos próprios cabelos.
— Não pense merda. — o loiro dita antes que outro mal entendido ridículo se estabeleça na mente do ruivo, levando suas mãos sutilmente às de Eijirou e o puxando.
Kirishima ficou constrangido demais para sequer reagir.
***
Para Eijirou, é estranho demais estar ali, naquela cama, com aquela pessoa, naquela situação. Seus corpos estavam próximos demais, e estariam quase se tocando caso o ruivo não estivesse quase se espremendo na parede para que isso não ocorresse. Ele sabia que Katsuki não gostava de toques, e também, o próprio afirmou em alto e bom tom que nunca namoraria um homem; o que implicava que se, talvez, fosse tocado de forma mais íntima por um ele fosse se sentir desconfortável.
"Bakugou está só me suportando, é isso" esse pensamento continua se repetindo em sua cabeça, uma justificativa tosca para silenciar todas as vozes que constantemente questionam o porquê das ações do loiro, mas você não pode me calar...
Ainda estava confuso pelo fato do loiro ter colocado ambos naquela situação. Não era algo muito comum a se fazer, ainda mais quando exigia aquele nível de intimidade e quando eles passaram por uma situação extremamente constrangedora no banheiro, minutos antes. O que Bakugou planejava com algo assim? Essa pergunta o fez ficar sem sono por longos minutos, sua ansiedade aumentando consideravelmente, mas levando-o a conter toda vontade de se mexer para não perturbar a paz alheia. Katsuki não merecia se incomodar com ele mais do que já fez por este dia inteiro.
***
Mais uma vez, a luz do sol invadia o quarto qual Eijirou residia, incomodando seus olhos e fazendo-o abri-los vagarosamente enquanto analisava o cômodo em que estava, sentindo-os pesados por conta do tempo em que chorou na noite anterior. Começou a assimilar tudo após alguns segundos, constatando pelas cores cinzentas nas paredes do quarto, além da posição dos móveis que não lhes eram usuais, que não estava em seu dormitório. Isso o fez pensar um pouco mais, resgatando memórias do que aconteceu anteriormente, sentindo uma variedade de sentimentos diferentes, todos ao mesmo tempo, mesclando-se uns nos outros e fazendo Kirishima sentir-se absurdamente envergonhado e arrependido.
Ele foi pego batendo em sua maldita cópia – ou era o que estava tentando chamar o moreno, negando-o como parte única de si – por todos seus colegas, por seus professores, e principalmente, por Katsuki. Tudo que sentiu no momento em que foi pego começou a retornar com certa intensidade; o sentimento de desgosto de si mesmo, de vergonha e frustração por ter revelado aquela parte horrenda que tanto aprisionava, de ter sido visto em um estado tão violento... por Deus, não saberia como iria encarar seus colegas.
E pensando nisso, finalmente deu-se conta de que estava de manhã... ele tinha aula, deveria se arrumar.
Katsuki não o acordou? Sequer conseguia julgá-la por tal, pois não se considerava merecedor de um esforço tão grande como era acordá-lo, mas não deixava de sentir-se ferido.
Balançou a cabeça na tentativa de espantar pensamentos estúpidos e colocou os pés para fora da cama, pisando em algo macio; olhou para baixo e viu o futon no chão.
E não só isso. Enfim, percebeu um olhar que queimava sobre ele de forma analítica, como se estivesse lendo-o enquanto distraía-se em pensamentos.
Era sua outra versão. Sua outra maldita versão.
Continua não ficando muito feliz com a minha presença, não é?
Seu olhar é indecifrável e ele não dita uma única palavra, mas apenas sua existência naquele quarto fazia Kirishima querer socá-lo até a morte, por mais extremo que esse pensamento fosse.
Não poderia fazer isso, era monstruoso, era errado e não ajudaria em nada. Não podia ceder ao ódio novamente, então se levantou e ignorou a presença alheia, indo vagarosamente na direção da porta do cômodo.
— Katsuki disse para você não sair. — ouviu sua voz soar e olhou para trás discretamente, vendo o moreno parecer um pouco mais aflito. Sua fala lhe era estranha; por que Bakugou diria isso? Talvez fosse só mais um dos jogos mentais que aquele maldito estivesse tentando fazer consigo, portanto, apenas bufou e voltou a andar até a porta. — Não estou mentindo, ele realmente me pediu para te avisar que deveria ficar. Também acho que isso seja melhor para você agora...
— Eu não me importo com o que você acha. —Eijirou demonstra-se rude mais uma vez, a irracionalidade querendo tomar lugar em seu corpo.
Buscou controlar-se, ignorando as outras poucas palavras que sua outra versão ditou e, enfim, abriu a porta, mas o timing não foi um dos melhores, visto que um certo loiro estava na frente da porta nesse exato momento.
— Bakugou...? — Kirishima o chama, arqueando uma sobrancelha em dúvida, perguntando-se o porquê dele estar lá quando provavelmente era horário de aula.
Enquanto aguardava a respostas, algumas poucas lembranças perpassam por sua mente, levando-o a lembrar como foi o resto da noite, onde repentinamente recebeu apoio do loiro, chorou em seu ombro e quase desabafou o que estava sentindo, mas essa parte ele conseguiu manter para si mesmo. Depois disso, momentos vergonhosos ocorreram por conta dos malditos hormônios que sempre se mantinham à flor da pele; Kirishima realmente se odiou por proporcionar um momento tão vergonhoso e ridículo, mesmo que seu corpo houvesse sido o culpado.
Não sabia se tinha tido sorte pelo momento, pois Katsuki agiu normalmente e não se incomodou muito com aquele fator, apenas dando de ombros e se ocupando em pegar toalhas e roupas secas, logo depois, arrastando-o para seu próprio quarto. Foi convencido a dormir com ele naquela cama e isso proporcionou-lhe ansiedade a noite inteira, com medo de incomodar Bakugou com qualquer movimento mínimo, repensando sobre tudo que tinha acontecido naquele dia. Isso o corroeu a noite inteira, mas ele soube esconder muito bem, ficando agradecido por Katsuki não ter percebido nada.
Foi um pouco incômodo ter que continuar dividindo o mesmo ar com aquela sua maldita cópia, tê-lo no chão ao lado da cama; no futon que Bakugou arrumou com um cuidado estranho, como se silenciosamente prezasse pelo conforto do moreno, que apenas aceitou tudo que lhe foi disposto, sem dizer muitas palavras, estando estranhamente acuado com a presença do loiro.
— O que faz abrindo essa porta, cabelo de merda? — Eijirou é retirado de seus pensamentos de imediato – sua face estava um pouco vermelha pelas lembranças – e ele observa atentamente o outro jovem que já demonstrava sua fúria usual. Antes que uma reposta pudesse ser formulada, o loiro adentra o quarto, afastando Kirishima no processo e fecha a porta, olhando para trás do ruivo. — Você não avisou ele, porra?
— Ele me ignorou, assim como eu disse. — o moreno declara sem ânimo, apenas dedicando seu olhar à forma que a situação se desenrolava.
Eu tentei muito mal, mas não haveria resultado algum, mesmo se eu implorasse, você me odeia o suficiente para não dar a mínima a o que eu quero e sinto.
— Por que queria que eu ficasse? Espera, que horas são? — o ruivo decide perguntar ao constatar que o fato de Katsuki querer que ele permanecesse no quarto era real.
— São dez horas da manhã, mas ignora isso agora, não é importante.
— Não é importante? Eu perdi aula, Bakubro! Por que não me acordou? — o pânico, de repente, instala-se em seu corpo e ele coloca suas mãos nos ombros alheios, questionando-o diretamente o porquê daquilo. Ele vê certo incômodo na face alheia e se lembra do que fez na noite passada, retirando suas mãos imediatamente como se tivesse um medo extremo de machucar aquele que ama mais uma vez. — D-desculpa, eu...
— Quieto, idiota. — Katsuki ordena ao vê-lo desculpar-se com os olhos brilhando de uma forma dolorosa de assistir. Ele respira fundo e pretende explicar o mais rápido possível o porquê de suas decisões. — Você realmente queria ir para a aula depois de ontem?
Kirishima engole em seco com a menção e abaixa a cabeça, não querendo concordar, mas não conseguindo evitar sentir que não daria certo caso surgisse lá como se nada houvesse acontecido.
— Como pensei. — Bakugou diz e estende suas mãos, fazendo Eijirou notar o que elas continham. Haviam duas embalagens de bolinhos de arroz. — Agora come isso aí, eu sei que você gosta dessa merda, então é melhor comer tudo. E é pra dividir com sua outra metade ali.
Eijirou o encara com uma expressão amarga por ter que dividir aquilo com um ser tão desprezível quanto o moreno, mas Katsuki mantém seu semblante impassível quanto ao seu descontentamento, fazendo-o apenas aceitar o alimento e murmurar um agradecimento baixinho por realmente estar agradecido pelo fato do loiro ter sido tão atento e cuidadoso assim, embora prosseguisse alarmado com o fato de não ter comparecido a aula e sequer ter se explicado. Ele pondera por meros segundos se deve ou não tentar arrancar alguma explicação congruente de Katsuki, ou ao menos uma confirmação de que estaria tudo bem.
Essa é a necessidade constante de ter alguém para acalmá-lo, de ter a pequena certeza de que o peso não está apenas em seus ombros, mas você é realista o suficiente para pensar pelos piores lados, não é, Eijirou?
Os problemas são seus e é assim que você quer mantê-los...
Mas acho que uma interferência minha poderia te dar uma certeza a mais nessa situação.
— Vai ficar tudo bem? — o moreno questiona, o volume de sua voz é maior e chama atenção de Katsuki. Os olhos do jovem de cabelos negros se focam na figura loira, deixando claro que o questionamento é para ela. — Quero dizer, tem algum problema no fato do Eijirou ter faltado a aula? Os professores sabem o porquê?
Bakugou estreita os olhos para os questionamentos seguidos e Kirishima se demonstra um pouco apreensivo, ainda que uma ânsia pela resposta do loiro fosse mais forte, fazendo-o manter-se em silêncio e aguardar por algo que possa acalmar seus ânimos.
— Eu já expliquei pros professores o porquê de você ter faltado e isso não vai te afetar em nada, cabelo de merda, pode ficar calmo aí. — Katsuki decide esclarecer esse ponto, olhando para Eijirou e vendo-o suspirar — Vou te passar o que você perdeu hoje nas aulas anteriores e depois procuro algum professor pra me passar o que teve nas aulas que estão acontecendo agora, então não tem porque se preocupar com essa merda, só coma e descanse.
Kirishima fica satisfeito por enquanto com as respostas que lhe eram dispostas e se senta sobre a cama novamente, estendendo a mão para o moreno abaixo dele e oferecendo-lhe – à contragosto – o aperitivo, pois o almoço estava chegando e Eijirou com certeza ansiava mais por ele.
— E quanto a você, temos que conversar sobre algumas merdas, então levanta essa bunda daí e me siga. — o loiro dá continuidade à sua explicação e chama a atenção do moreno, o encarando com certa desconfiança, mas não com ódio.
O moreno não se demonstra incomodado e se levanta pacificamente, caminhando em direção ao Katsuki enquanto abria a embalagem.
Kirishima fica incomodado ao notar que os dois ficariam sozinhos, pensando em quantas merdas sua maldita outra versão poderia dizer ao loiro, mas ele pretende conter essa irritação para não servir de incômodo uma outra vez, ainda estando extremamente incomodado com o que fizera noite passada.
***
— É melhor abrir a boca e explicar as merdas que o cabelo de merda não quis!
Katsuki declara em alto e bom tom assim que ambos entram em uma sala vazia, deixando claro que não aceitaria um não como resposta, já encurralando o moreno com uma pergunta direta.
O rapaz engoliu em seco, sentindo certo medo assumir seu corpo – você odeia esse medo que possui também, Eijirou. O maldito medo que sempre te fez parar no meio do caminho e hesitar. – e uma expressão mais temerosa surgir em sua face. Ele olha para Bakugou e pondera, questionando-se se ele está verdadeiramente irritado ou só está se fazendo de durão pada arrancar-lhe uma resposta logo.
— Não posso simplesmente dizer tudo que ele sente. — sua voz faz Katsuki ficar desconfortável, mas a resposta que ouve o deixa a ponto de explodir.
— Eu tô pouco me fodendo se você não pode, eu preciso saber que merdas estão acontecendo com ele e você sabe quais são elas!
— Ele não quer que ninguém saiba, ele não quer dizer, se você realmente se importa com ele deveria tentar conquistar sua confiança. — o moreno pontua e a frase final faz o ódio subir à cabeça de Katsuki.
Achava que aquilo tudo era só uma desculpa esfarrapada, então deixou que o impulso o movesse e colocou o moreno contra a parede, pressionando a mão em sua garganta, sentindo as explosões se formando em seu pescoço. Katsuki acreditava no moreno, ao mesmo tempo em que tendia a desconfiar dele por ser tão enigmático, e isso resultou nesse ódio todo sendo centrado em alguém.
— B-bak... ugo...
Ele olhou melhor para a figura de fios negros, cada detalhe, dando atenção até mesmo àquela maldita voz que era idêntica à do ruivo. Era exatamente igual Kirishima.
Percebeu o medo nos olhos alheios e notou o que estava fazendo; não poderia machucá-lo. Aquele era Eijirou, por mais irritante que estivesse sendo.
Aquela era uma parte do que seu ruivo era e odiá-lo não o tornaria melhor; ele apenas estaria machucando a pessoa que ama e isso era o que mais repudiava.
— Acho que é melhor acalmar seus ânimos, Katsuki Bakugou. — uma voz mais grave e sonolenta se faz presente no ambiente junto ao barulho da porta abrindo e Bakugou arregala os olhos ao ser pego daquela forma, soltando o moreno de imediato e resmungando. — Não sabemos se esse esse rapaz é realmente Kirishima Eijirou, muito menos se o que ele diz é verdade, portanto, é melhor se acalmar e me deixar interrogá-lo. Você já trouxe ele aqui, era o que nós precisávamos.
— Exatamente, Ground Zero, agradeço por ter o trazido até aqui, agora pode deixar o restante conosco. — quem diz isso é Fatgum, aparecendo depois de Aizawa e esbanjando uma expressão séria. Katsuki sabia o porquê, afinal, Shouta contou-lhe minimamente alguns detalhes depois de muita persistência sua; revelando que o outro herói tinha ciência do que aconteceu com Eijirou e se responsabilizaria a partir de agora por tomar conta daquela versão que surgir do ruivo. — Eu deveria ter notado que o Red Riot não estava lidando muito bem com isso, não deveria ter deixado ele tomar conta de tudo sozinho. — ele declara e parece amargurado por sua irresponsabilidade.
Katsuki olha para o moreno e se surpreende ao vê-lo de olhos arregalados para os dois adultos, seus ombros tensionados e suas mãos firmes enquanto ele ainda absorvia a situação. Por fim, ele inclina sua face para o lado e encara o loiro com aqueles orbes mortos.
— Você me trouxe aqui só para isso? Pensou que eu iria tentar resistir, então planejou me encurralar? Acha mesmo que estou mentindo?
— Não fui eu quem planejei isso, apenas concordei porque quero saber que merdas você está fazendo com o Eijirou para ele estar daquele jeito. — ríspido e preciso. Faíscas saem de suas mãos com o ódio que lhe corroe, mas ele se segura e tenta ser paciente, visando ter respostas do que aquele maldito fez com o Kirishima. — Ele estava bem até você aparecer, seu bastardo!
— Como você sabe?
A pergunta vem bem depois da afirmação cheia de ódio de Bakugou, fazendo com que o loiro arregalasse os olhos com a ousadia de contrariá-lo. No entanto, lá no fundo sabia que o moreno tinha razão.
Você sempre quer estar certo, mesmo quando não sabe do que está falando, e ainda assim, eu e ele amamos você.
— Como sabe que Eijirou estava bem antes que eu chegasse?
— Você não vai me distrair, seu puto...
— Você não sabe, é por isso. — ele complementa e sorri. Seu sorriso, porém, não é feliz, tampouco sarcástico, é apenas um sorriso desanimado; triste. — Isso não é recente, Bakugou, e acho que você também deve ter notado.
***
Passos brutos e pesados podem ser ouvidos no corredor. Suspiros carregados de frustração escapavam pela boca de um certo loiro e ele não conseguia parar de martelar aquele assunto em sua cabeça.
Depois de ser praticamente silenciado pelo moreno, ele sentiu seu orgulho ser ferido de maneira tremenda, ficou totalmente sem reação diante das palavras sinceras daquele Kirishima e os profissionais logo interviram para que aquela conversa não se prolongasse. Viu o moreno ser abordado de forma objetiva, algumas respostas pareciam sinceras, enquanto outras simplesmente não eram proferidas.
Mas ele não ficou lá por tanto tempo quanto planejava, pois logo sentiu a necessidade de voltar ao seu quarto, de encontrar Eijirou. Não foi só seu orgulho que foi ferido, sua preocupação para com o ruivo também aumentou; se sentiu mal por ter declarado com tanta convicção algo que não tinha certeza, mas ainda pior por não saber se acreditava naquele maldito ou não. Ele não mentiu naquela vez, mas ainda poderia ser apenas um vilão por trás daquilo tudo, ele poderia estar tentando distraí-lo, afetá-lo e confundi-lo.
Balançou sua cabeça para espantar um pouco a conturbação – e principalmente: não transparece-la –, abrindo a porta de seu quarto e encontrando o ruivo sentado na cama, recostado na parede, parecendo estar imerso em pensamentos. Ele parecia, de certa forma, ansioso e preocupado, o que foi captado de imediato pelo loiro.
— Ué, cadê o... você sabe, aquela coisa. — ele pergunta e, parecendo meio desconfortável e Bakugou aperta os punhos antes de dar sua resposta.
— Ele não vai mais te incomodar. — revela, tentando ignorar os inúmeros pensamentos sobre o que o moreno disse ser verdade ou não.
Kirishima arqueia ambas sobrancelhas, esbanjando uma expressão surpresa e olhando diretamente nos olhos de Katsuki, tentando, de alguma forma, encontrar um vestígio de mentira ou deboche.
Não havia.
Abriu sua boca e fechou, não sabendo o que dizer, não sabendo o que pensar; ele, de fato, queria aquele maldito longe dele, mas algo dentro de si parecia sentir certo desagrado quanto a esse fato, como se uma parte dele estivesse sendo arrancada a força. Ele respira fundo e recosta seu tronco na parede novamente, encarando Bakugou com uma face mista; totalmente imersa em uma confusão de sentimentos gigantesca.
— O que aconteceu?
— Os pro-heros vão lidar com isso, não precisa pensar demais nos detalhes, só relaxe por hoje. — explica, se aproximando enquanto fala e se sentando ao lado do ruivo na cama. — Algum problema com isso?
— N-não.
Kirishima para de encará-lo imediatamente, olhando para frente e buscando parar os pensamentos que estavam a todo vapor em sua mente.
Katsuki, obviamente, não levou aquela resposta medíocre a sério e continuou prestando atenção em Kirishima, tentando decifrar o que ele realmente pensava, se ele estava minimamente mal com aquela informação ou não. Ele queria respostas, queria ter certeza sobre o estado mental do ruivo, ajudá-lo como não foi capaz até o momento, apoiá-lo como nunca.
Então, sem pensar muito, ele passou seu braço por trás do outro e o puxou para um abraço, fazendo com que a cabeça de Eijirou ficasse encostada em seu ombro.
O ruivo se assustou, e até iria reagir se esse ato não fosse tão inesperado vindo de alguém como Bakugou. Não uma segunda vez e em um momento tão trivial, ao menos.
— Bakubro?
— Que foi? Você não gostava desse tipo de merda sentimental?
— Eu gosto, mas vindo de você é algo meio novo, sabe? Pensei que odiasse esse tipo de coisa...
— E eu odeio, me deixa desconfortável pra caralho — ele acaba comentando sem pensar muito, mas sem demonstrar-se irritado, desconfortável ou enojado com aquela ação.
— Então não precisa fazer isso, não quero te deixar desconfor-
E antes que ele pudesse terminar sua frase, Katsuki declara com calma:
— Não é desconfortável quando é com você, cabelo de merda.
*********
Bem, é isso.
Será que Katsuki fez a escolha certa? 👀
Acho que a resposta é óbvia, mas veremos mais para frente como as coisas vão andar e se Bakugou vai levar em consideração as palavras do outro Kirishima...
Obrigado a todos que leram até aqui! ❤️
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