5 • Distraído
Finalmente consegui escrever, amém.
Boa leitura!
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Três dias depois...
Kirishima sentou-se na cadeira da sala de aula, deixando sua mochila encostada no pé da carteira enquanto pegava os materiais e os colocava em cima dela. Fazia isso enquanto sua mente divagava entre algumas memórias dos dias anteriores.
Por algum motivo que desconhecia, sua irritação começou a aumentar gradativamente com a presença contínua do moreno em seu quarto. Não sentia mais que tinha privacidade, mesmo que aquele fosse apenas ele mesmo, e também se encontrava profundamente agoniado com o fato dele não desaparecer ou dar indícios de que isso aconteceria.
Não adianta não me querer, Eijirou, eu não vou simplesmente desaparecer, e mesmo que isso aconteça, eu não vou deixar de estar com você.
Colocou seu caderno na mesa, deixando que seus pensamentos fossem focados em mais coisas que o atormentassem. Estava distraído demais para notar que isso só o enfurecia mais ainda. Lembrou por um momento da conversa que tivera no dia anterior com Fatgum, que novamente veio questionar se havia feito algum progresso com sua cópia, no entanto, tudo que pôde fazer foi negar, inventando desculpas que o profissional certamente já estava cansado de receber.
O problema é que você não quer aceitar quem eu sou, Eijirou. Você só quer ignorar minha presença e fingir que ela não te afeta.
Uma fúria exacerbada tomou seu corpo por um instante quando aquela onda de pensamentos se misturou, fazendo com que fechasse o punho e batesse na mesa com certo ódio, descontando uma pequena quantia de seu ódio sem nem mesmo perceber que o tinha. Por sorte, não ativou sua individualidade, então aquilo não passou de uma batida normal, que certamente fez um barulho consideravelmente alto, mas que não superava as vozes dos demais alunos na sala. Se assustou um pouco com sua própria ação, abrindo a mão na hora e pegando um caderno aleatório, abrindo-o distraidamente, fingindo que aquilo não aconteceu.
Esperava que ninguém tivesse visto, e mesmo que alguém tenha, provavelmente a pessoa não se importaria com isso, foi só uma atitude aleatória e sem importância.
Você é assim Eijirou. Pensa que ninguém se daria o trabalho de se preocupar com alguém como você.
O professor chega na sala, fazendo-a calar-se de imediato e dá início à sua aula extremamente tediosa aos olhos dos demais. Eijirou se esforça um pouco para compreender o assunto, mas é complicado demais para que sua mente seja capaz de digerir o assunto completamente. E a voz cansada de Aizawa não ajuda.
Seus esforços ocupam sua mente por um tempo, o que se torna um alívio, já que pensar em coisas negativas era algo que ele evitava. Vez ou outra associava o conteúdo ao Bakugou, imaginando que aquela mente brilhante estava compreendendo tudo e já se imaginava indo até seu quarto à noite para que ele lhe explicasse o conteúdo.
Mesmo sendo agressivo e berrando aos montes quando o ruivo não entendia algo, Katsuki era um excelente professor, e certamente suas palavras eram menos complicadas do que aquilo que o moreno proferia.
Você sempre faz de tudo para não pensar em coisas negativas, para não pensar em mim, para não pensar no que Katsuki disse, mas você sabe que não pode simplesmente continuar fugindo...
A aula seguinte é prática e os alunos se direcionam até os vestiários para colocaram os trajes de heróis. Bakugou mantinha-se em silêncio igual fez desde o início da manhã, - sequer gritou com Midoriya por motivos fúteis - pois estava focado em algo, ou melhor, em alguém. Em Eijirou, obviamente. Tomou essa decisão há três dias atrás e continuava realizando tal ato, prestando atenção em cada movimento de Kirishima, a procura de alguma coisa que denunciasse o mal-estar do ruivo. Os indícios eram pequenos, quase imperceptíveis, mas Eijirou estava inegavelmente estranho esses dias, como se sua máscara estivesse caindo aos poucos.
E isso ficou ainda mais claro com aquela batida repentina na mesa, sem nenhum motivo aparente. Ele parecia imerso demais em seu próprio mundo para de repente bater na mesa como se nutrisse ódio de algo, tentando disfarçar logo em seguida, além de parecer assustado. "Ações incongruentes". Era o que Bakugou pensava sobre.
Agora, após trocar de roupa, voltou sua atenção para Eijirou e notou que ele parecia, novamente, imerso em pensamentos. Ele segurava a engrenagem enorme que compunha seu visual, parecendo estar perdido enquanto olhava para o nada. Decidiu tomar alguma atitude e se aproximou, chamando-o.
- Ei, cabelo de merda!
- Ah, o que foi, Bakubro? - o ruivo pareceu se assustar, começando a encaixar o equipamento em seu corpo apressadamente.
- Tem certeza que nada aconteceu? - decidiu questionar, evitando encará-lo nos olhos para não deixar óbvia sua preocupação.
Uma pontada de esperança surgiu nos olhos de Eijirou. Bakugou estava se preocupando com ele? Ele não parecia querer demonstrar tal sentimento, mas Kirishima era capaz de enxergar o rubor que tomava a face alheia. No entanto, não poderia ser sincero, seria um desastre caso Katsuki tivesse ciência daquela parte desprezível de seu ser. Mordeu os lábios por alguns segundos, contendo a vontade de contar a verdade e isso obviamente não passou despercebido por Katsuki que o olhava de canto para ele devido a demora em responder.
- Tem algo errado, né? Me diga, cacete. - apressou-se em pedir, indignado com o quão óbvio Eijirou estava sendo naquele momento.
É difícil fingir quando alguém te pressiona.
- Não, não tem, Bakubro. Não sei de onde anda tirando isso, mas eu realmente tô ótimo. - se esforçou ao máximo para sustentar uma expressão despreocupada em sua face, mostrando um sorriso forçado. Tinha que estar bem... ou ao menos parecer estar.
Você tem quase certeza que ninguém vai ligar para os seus problemas.
- Porra... - murmurou, irritadiço com aquela resposta evasiva.
- Vamos indo, senão vamos nos atrasar!
Fugir é sempre a melhor opção para você, não é, Eijirou?
E Bakugou apenas observou o ruivo se distanciar até a porta do vestiário com uma carranca na cara. Certo, agora ele tinha absoluta certeza de que algo muito errado estava acontecendo com Eijirou, e pretendia investigar mais de perto, apesar de não querer invadir a privacidade do outro.
Ele ama Eijirou e dói bastante ter ciência de que muitas das vezes que o ruivo estava sorrindo, os sorrisos eram falsos.
***
- Cuidado, imbecil! - Katsuki gritou com um quê de desespero em sua voz enquanto se lançava em direção ao Eijirou, conseguindo se jogar por cima dele e afastá-lo da explosão causada por Monoma, que havia copiado a individualidade de Bakugou.
Kirishima ficou apreensivo depois de ser abordado por Bakugou. A ansiedade tomou-o rapidamente e inúmeras possibilidades começaram a sustentar paranoias em sua mente envolvendo o porquê do loiro estar frequentemente perguntando-o se estava bem. Será que esteve fingindo tão mal assim por minha causa?
Foram organizados em duplas para batalharem contra duplas da turma 2-B, porém, os pensamentos confusos não lhe abandonaram e isto complicou tudo. Não importava o quanto Katsuki berrasse para que prestasse atenção aos movimentos da dupla adversária - formada por Monoma e Kendo - o ruivo simplesmente não conseguia se concentrar com a quantidade de problemas que estava lidando. E eu sou o pior deles, ao menos na sua visão.
Agora encontrava-se abaixo do corpo de Katsuki que havia o empurrado a tempo diante da explosão que o outro loiro lançou contra ele. Tudo porque não prestou atenção o suficiente para ativar sua individualidade, e graças aos céus que Bakugou notou isso. Ou não, você não quer que ele note seus problemas. Seus corpos estavam muito próximos e pôde sentir a respiração do loiro contra sua nuca por alguns segundos, junto aos grunhidos baixos de dor que lhe perturbaram um pouco. Katsuki se levantou rapidamente, soltando chiados baixos de dor por algumas pequenas marcas de queimadura que foram causadas. Nada muito grave.
- Puta merda... - rosnou enfurecido com o que tinha acabado de ter que fazer.
Kirishima observou isto com certo pavor. Ele havia feito Bakugou se machucar - por mais que os danos tivessem sido mínimos - e ainda o fez ficar mais enfurecido do que já estava. Ele o decepcionou.
Ele se machucou por sua culpa Eijirou, por continuar fugindo de seus problemas ao invés de enfrentá-los, está bravo porque você se recusa a contar o que ocorre com você a ele. E agora, o que fará?
Os orbes rubros estavam fixados no loiro e seu coração estava disparado devido à adrenalina. Se levantou rapidamente e começou a se aproximar de Katsuki.
- Meu Deus, Bakubro, eu... droga, desculpa cara. Droga, eu...
- Tsc. - interrompeu, focando suas irises escarletes no ruivo. - Que porra deu em você, Eijirou? Por que caralhos continua dizendo que tá bem cacete? - se aproximou dele, gritando descontroladamente. O ódio que sentia era imensurável, e nem era pelos machucados, e sim pelo fato de Eijirou mentir tão descaradamente para ele.
- E-eu...
- Não quero a porra de desculpa nenhuma! - bradou, se levantando e levando o ruivo fazer o mesmo. - Quero a verdade caralho!
- Vocês estão bem? - Kendo se aproximou junto a Monoma - que ria de modo debochado para a irritação de Katsuki - e o professor que estava dando a aula prática ao perceberem a gritaria que estava havendo.
- Ah, eu estou bem sim, graças ao Bakugou! - Eijirou forçou um sorriso para a menina, desviando das acusações anteriores. - Tá doendo muito, cara? Podemos ir para a enfermaria se quiser...
- Nem fodendo que eu vou deixar uma dorzinha de merda me vencer! - bradou imediatamente, irritado com aquela preocupação toda. Percebeu o desvio de assunto e só se irritou mais ainda. - Nem pense em fugir, cabelo de merda! - rosnou para o ruivo, que apenas fechou os punhos, ficando mais tenso.
- Então podem continuar? - o professor Cementoss questiona ao ver que os alunos estavam bem.
Katsuki dedica um último olhar ao Kirishima, analisando o ruivo rapidamente e percebendo que ele não admitiria que estava mal tão cedo - e aquilo o deixava mais puto - bufando e respondendo.
- O cabelo de merda tá distraído pra cacete, não tem como ele lutar assim. Ele não tá bem. - pontuou, recebendo um olhar de indignação do ruivo, mas este não se manifestou verbalmente. - Eu vou levá-lo até a enfermaria.
Bakugou odiaria perder uma oportunidade de demonstrar o quão foda era, principalmente para aquele fodido do Monoma da turma B, que lhe deixava extremamente puto com aquela personalidade debochada, mas se batalhar significasse arriscar a saúde de Eijirou, que claramente não estava bem, ele preferia dispensar aquilo e acompanhar o ruivo..
- Certo... - concordou depois de pensar um pouco, pois também havia percebido o estado de Kirishima, permitindo que o loiro o acompanhasse.
- Tá fugindo, é? - Neito se manifestou, rindo aos montes da dupla se afastando do local de treino. Viu o olhar ameaçador de Katsuki em sua direção e apenas riu mais ainda até levar um tapa de Kendo e ser arrastado para longe.
***
No caminho até a enfermaria, o silêncio perdura entre os dois. Kirishima não quer dar nenhum indício de suas inseguranças enquanto Bakugou apenas ficava mais impaciente com as ações do ruivo. Quando finalmente chegam ao local, o ruivo já começa a falar com Recovery Girl, anunciando que Katsuki havia se machucado. Ou seja, tentando fugir do assunto novamente.
Os ferimentos do loiro foram curados rapidamente, por mais que ele houvesse se recusado a ser tratado, e este logo avisou - mentiu - que Eijirou estava passando mal e que ficaria lá por um tempo, obrigando o ruivo a deitar-se sob a cama enquanto se sentava na beirada dela.
- Pode ir pensando em como vai me contar o que tá rolando. - avisou, inclinando um pouco a cabeça para o lado e direcionando aqueles orbes rubros até Eijirou com intensidade. - E nem ouse mentir.
O ruivo engoliu em seco, recostando a cabeça no travesseiro, sentindo o peso transmitido pela confusão de pensamentos. Por que Katsuki parecia se importar tanto com ele? Por que estava fazendo aquilo? Por que estava o observando tanto?
Eram tantos porquês que não conseguia manter uma linha de raciocínio.
Talvez seja porque ele te ame? Bem, é só um talvez.
Perguntou-se continuamente se deveria enfim contar para alguém sobre a existência daquele lado pobre dele, mas a ideia era tão ruim que realmente tinha medo de fazê-lo. Katsuki iria parar de suportá-lo, certamente.
Eu sou tudo que você mais odeia, Eijirou, e o mais irônico é que eu sou justamente você.
Não tinha porque contar, não em detalhes, ao menos. Mentir diretamente para Katsuki era algo que gostava, mas ele sempre fez isso, sempre ocultou seus problemas em prol da felicidade alheia, então por que não fazer de novo? Era difícil ignorar aqueles olhos escarletes queimando sob sua pele, apenas esperando uma resposta genuína, era como que Bakugou nutrisse de fato algo por ele.
Mas Kirishima sabia que aquilo não era verdade, o próprio loiro havia assumido aquilo, então por que ter esperanças?
Esperou que a Recovery Girl saísse por alguns minutos, anunciando ter sido chamada em algum lugar, e se sentou ao lado do loiro para tentar escapar daquela situação de algum forma conveniente.
- Então, Bakugou... eu meio que não gosto muito de falar sobre esse tipo de coisa, sabe? - o ruivo deu início à conversa, mostrando um sorriso desanimado enquanto massageava a nuca. - Eu sei que ando bem distraído, me desculpa por isso, são só alguns problemas bobos... não precisa se preocupar, beleza?
Finalmente está admitindo para ele algo assim, mas está pensando em fazer provavelmente só vai piorar tudo...
- Que tipos de problemas? Me conta, talvez eu possa te ajudar. - ele pareceu um pouco mais calmo com a admissão do outro, tentando ser mais prestativo, oferecendo-o ajuda, por mais incomum que fosse tal atitude vinda de Katsuki.
Bakugou viu Kirishima balançar a cabeça negativamente enquanto sustentava aquele sorriso na cara, como se quisesse passar tranquilidade diante daquela situação.
- São problemas familiares. - pontuou, sentindo um aperto no peito por ter mentido de forma tão descarada. Ele arranjou a desculpa mais evasiva para dar um fim àquele assunto. - Logo tudo se resolve, não se preocupa, por favor. - implorou com o olhar para Katsuki, tentando soar o mais convincente possível, almejando que o loiro acreditasse naquilo e enfim o deixasse em paz.
Katsuki procurou por alguma prova de que Kirishima mentia, mas é difícil encontrar algum resquício de mentira apenas com sua intuição. Bufou, um pouco frustrado com sua própria incapacidade e decidiu que acreditaria por hora naquela resposta, acenando positivamente para o ruivo, mas deixando claro uma coisa.
- Pode... conversar comigo sobre isso ou qualquer merda do tipo, se quiser. - desviou o olhar enquanto falava, sua voz era bem calma em comparação à minutos atrás e seu coração estava acelerado por estar propondo algo tão sentimental, mas que se fodesse, iria fazer aquilo por Eijirou.
O ruivo arqueou levemente as sobrancelhas, surpreso com as palavras que o loiro proferiu, sem contar o jeito que as proferiu. Decidiu não comentar para não irrita-lo, deixando um pequeno sorriso surgir em seus lábios. Um sorriso verdadeiro dessa vez.
Poucos segundos se passam até que Recovery voltasse e alguns estudantes que se machucaram na aula prática surgissem na enfermaria, fazendo com que a dupla tivesse que sair do local.
Bakugou não estava totalmente convencido, portanto ainda iria manter-se mais atento aos movimentos de Kirishima. Por outro lado, o ruivo realmente pensava que convencera o rapaz explosivo com aquela desculpa.
***
A noite já chegou mais uma vez e Bakugou havia acabado de sair do banho. Enxugava suas madeixas louras com a toalha enquanto ia em direção ao guarda-roupa, retirando de lá algumas roupas que utilizaria para dormir, pegando as mais simples possíveis junto a cueca boxer branca. Depois de vesti-las, deitou em sua cama, buscando dormir cedo como sempre fazia, mas sendo interrompido por uma voz bem conhecida que vinha do outro lado da parede. Era a voz de Kirishima.
- Cala a boca! Eu não quero saber o que pensa! - ouviu o ruivo gritar com certa fúria evidenciada na voz. Abriu os olhos na hora, focando em se aprofundar mais no assunto. Com quem Eijirou estava falando?
- Não quer saber o que você mesmo pensa, Eijirou?
- Eu não sou... isso. Pare de tentar me confundir!
- Estou sendo claro aqui, não tentando te confundir. Você quem se recusa a entender.
- Eu não ligo, só fica em silêncio! - ele realmente parecia irritado com a situação, mas isso não fazia sentido.
As vozes que Katsuki ouviu... eram idênticas. Aquele idiota estava falando consigo mesmo? Será que havia batido a cabeça quando o salvou daquela explosão? Isso realmente estava muito estranho. Sem contar o teor da conversa, ele apenas tornava tudo mais esquisito e suspeito.
Sabia que tinha algo de muito errado com aquele cabelo de merda, mas não imaginou que fosse ouvir o ruivo tendo uma espécie de monólogo consigo mesmo... era bizarro.
Decidiu não intervir naquele momento, deixando a nota mental de que questionaria sobre aquilo na manhã posterior. Kirishima parou de falar depois daquilo, então aproveitou isto para pegar no sono novamente.
Pretendia descobrir o que realmente se passava com o ruivo e não desistiria tão facilmente.
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Perdão pela demora e, bem, talvez as coisas fiquem mais sérias no próximo capítulo...
Espero que tenham gostado!
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