5
Crystal Harper
Assim que Lia saiu, não demorou muito para que eu caísse no sono. Hoje era o dia de folga dela, então eu estava por minha conta.
Acordei com a luz suave da manhã invadindo o quarto. Enquanto passava meu batom, a fragrância leve do meu perfume cítrico preenchia o ar, complementando a experiência sensorial daquele dia de primavera. Cada detalhe do meu outfit parecia se harmonizar perfeitamente com a natureza ao meu redor.
Optando por uma abordagem minimalista, escolhi acessórios discretos mas elegantes: um par de brincos de pérola, um relógio de pulso delicado e uma pulseira dourada que brilhava sutilmente. Coloquei meus óculos de sol oversized com armação tartaruga, que, além de protegerem meus olhos, acrescentavam um toque de glamour ao conjunto.
Enquanto finalizava os preparativos, William entrou no quarto. Ele estava impecável em u
m terno azul escuro, com um relógio que completava o visual sofisticado. No entanto, ao olhar para sua mão, meu sorriso desapareceu.
— William, por que você tirou a sua aliança? — perguntei, tentando manter a calma enquanto arrumava minha bolsa.
Ele abaixou a cabeça, visivelmente desconfortável. — Eu não tirei, Crystal. Acho que a perdi.
Senti uma onda de frustração e preocupação. — Só me faltava isso — murmurei, saindo do quarto em direção à cozinha.
Bebi meu energético rapidamente, tentando reunir forças para enfrentar o dia. Saí de casa a caminho da empresa, com uma mistura de sentimentos que iam desde a preocupação até a decepção. A primavera lá fora precia um contraste com o turbilhão de emoções que eu carregava por dentro.
Enquanto dirigia em direção à empresa, o céu azul e as flores desabrochando ao longo do caminho pareciam estar em desacordo com o meu humor. A mente estava a mil, revivendo a cena no quarto e tentando entender como William poderia ter perdido a aliança.
Chegando ao escritório, cumprimentei os colegas com um sorriso mecânico e fui direto para minha sala. A rotina do trabalho era uma distração bem-vinda, mas não conseguia afastar completamente a preocupação. A aliança representava mais do que um simples objet
o; era um símbolo do compromisso e da promessa que fizemos um ao outro.
Durante a reunião matinal, minha mente
vagava. O gerente discutia metas e prazos, mas eu mal conseguia focar. As palavras de William ecoavam na minha cabeça: "Acho que a perdi". Como isso poderia ter acontecido? Será que ele estava distraído? Ou havia algo mais acontecendo que ele não quis me contar?
A reunião terminou, e eu me dirigi ao meu escritório, onde uma pilha de papéis me esperava para ser assinada.
— Cunhadinha, bom dia — a voz inconfundível de Adrian, melhor amigo de William, cortou o silêncio.
Eu levantei os olhos da papelada, meu humor azedando instantaneamente. — Só faltava você para acabar com a minha paz — falei, sem disfarçar a irritação.
Adrian, com aquele sorriso insuportavelmente confiante, entrou no escritório sem ser convidado.
— William mandou eu trazer café para você — disse ele, colocando o copo de café na minha mesa com um gesto exagerado.
Eu olhei para o café e depois para ele, sem conseguir decidir qual dos dois me incomodava mais. — Obrigada, você pode ir agora — falei, forçando um sorriso que não alcançou meus olhos.
— Nossa, sempre tão calorosa, Crystal. É um prazer estar na sua companhia — ele respondeu com sarcasmo, encostando-se na borda da minha mesa, como se planejasse ficar ali para sempre.
— Sério, Adrian, estou ocupada. Não tenho tempo para suas gracinhas hoje — retruquei, tentando voltar minha atenção para a pilha de documentos.
Adrian cruzou os braços, inclinando-se um pouco mais para frente, invadindo meu espaço pessoal. — Você parece tensa. Algum problema com o meu querido irmão?
Meu olhar se estreitou. — Isso não é da sua conta. E, para sua informação, estou perfeitamente bem.
Ele riu, um som baixo e provocador. — Claro, claro. Porque você realmente parece "perfeitamente bem" — disse ele, com ênfase nas últimas palavras.
Eu respirei fundo, tentando manter a calma.
— Eu não tenho que explicar nada para você. Agora, se me der licença, tenho muito trabalho a fazer.
Adrian deu de ombros, finalmente se afastando da mesa. — Tudo bem, cunhadinha. Mas se precisar de alguém para conversar ou gritar sabe onde me encontrar.
Ele se virou e saiu do escritório, deixando um rastro de tensão no ar. Suspirei profundamente, pegando o copo de café e segurando-o como se fosse um amuleto contra as provocações de Adrian. A cada gole, eu tentava dissipar a frustração que ele sempre conseguia despertar em mim, como ninguém mais conseguia.
Enquanto ele se afastava, não pude deixar de me perguntar por que ele sempre sabia exatamente como me tirar do sério. Era como se ele tivesse um talento especial para encontrar todas as minhas fraquezas, e usá-las contra mim com uma precisão irritante.
Decidi que precisava de uma pausa, um momento longe da confusão. Peguei o telefone e liguei para a recepcionista.
— Olá, Rachel. Pode pedir para alguém preparar o carro? Estou saindo agora — falei, tentando manter a voz firme, mas sentindo a tensão ainda presente.
— Claro, senhora Crystal. Já vou providenciar — respondeu ela com a eficiência de sempre.
Desliguei o telefone e me levantei, pegando meu casaco e minha bolsa. Olhei pela janela do escritório, tentando encontrar um pouco de paz na vista da cidade movimentada. Precisava de um tempo para clarear a mente, longe das paredes sufocantes do escritório e das provocações incessantes de Adrian.
Com passos rápidos, saí do escritório, sentindo uma mistura de alívio e ansiedade. Alívio por me afastar da tensão, e ansiedade pelo que poderia encontrar lá fora. Talvez, apenas talvez, a resposta para as palavras enigmáticas de William estivesse esperando por mim em algum lugar. Ou talvez, eu só precisasse de um momento para respirar e reavaliar tudo.
Ao sair pela porta principal, vi o carro já à espera. Entrei no veículo, determinada a encontrar algum tipo de clareza ou pelo menos um pouco de paz na confusão que se tornara minha vida.
Confortavelmente acomodada no banco traseiro do carro, observei a paisagem urbana desfilando pela janela. Cada edifício, cada rosto anônimo na calçada, parecia um fragmento de um quebra-cabeça que eu ainda não conseguia montar. A tensão que Adrian deixara no ar ainda pairava sobre mim, mas o movimento do carro ajudava a dissipá-la, pouco a pouco.
— Para onde, senhora Crystal? — perguntou o motorista, virando-se ligeiramente para me encarar pelo retrovisor.
Respirei fundo, ponderando. Havia muitos lugares que eu poderia ir: um café tranquilo, o parque onde eu costumava caminhar para clarear a mente, ou até mesmo a galeria de arte que há tempos não visitava. Mas havia algo que parecia urgente, uma intuição que me guiava.
— Leve-me ao Parque Holmby, por favor — respondi finalmente, ciente de que o ar fresco e o verde das árvores me fariam bem.
Durante o trajeto, minha mente vagava pelas memórias recentes. O olhar frio de Adrian, suas palavras calculadas para me desestabilizar. Ele sempre foi um mistério, um enigma que eu ainda não conseguira decifrar. O que ele realmente queria? E por que eu me importava tanto com isso?
Chegamos ao parque e, ao descer do carro, fui recebida pelo som suave das folhas balançando ao vento. Caminhei por um dos caminhos de cascalho, sentindo a tensão se aliviar a cada passo. Encontrei um banco vazio à sombra de uma árvore frondosa e me sentei, observando o fluxo constante de pessoas que passavam por ali, cada uma envolvida em sua própria jornada.
Enquanto observava, meu telefone vibrou na bolsa. Hesitei por um momento antes de pegá-lo, temendo que fosse outra mensagem de Adrian. Mas, para minha surpresa, era uma mensagem de William.
Precisava entender melhor a situação. Ele atendeu no terceiro toque, a voz soando cansada.
— Oi, Crystal.
— William, eu não consegui parar de pensar nisso. Onde foi a última vez que você viu a aliança? — perguntei, tentando manter a calma.
Ele suspirou. — Eu acho que foi no escritório ontem. Estava em uma reunião e me lembro de ter tirado para lavar as mãos. Depois disso, tudo é meio nebuloso. Tenho procurado desde hoje de manhã, mas nada até agora.
— Vamos resolver isso juntos. — decidi, sentindo uma onda de determinação.
— Obrigado, Crystal. Eu sinto muito por isso — ele disse, a sinceridade evidente em sua voz.
— Nós vamos encontrar, não se preocupe — respondi, tentando transmitir confiança e desliguei o celular.
Voltei para o carro e seguimos em direção à casa da Lia. Eu tinha as chaves, afinal, éramos melhores amigas, e isso significava ter acesso livre ao armário de biscoitos dela em momentos de crise.
— Cheguei! — anunciei, abrindo a porta do apartamento dela como se fosse uma cena dramática de novela.
— Que furacão passou por aqui? — perguntei, observando a zona de roupas espalhadas como se um desfile de moda tivesse explodido na sala.
Lia estava sentada no sofá, com uma expressão que misturava desespero e nervosismo.
— Eu não tenho nada para vestir para o jantar com o Marcus esta noite — ela confessou, desviando o olhar como se estivesse falando de um crime.
— Ah, vem cá, minha Lia — falei, puxando-a para um abraço apertado. — Tudo bem, quem nunca entrou em pânico com um encontro? Mas antes de entrarmos em pânico de verdade, vamos escolher algo lindo e atraente para você vestir. Vamos colocar um pouco de maquiagem e fazer ondas nesses seus cabelos castanhos fabulosos. Quem sabe a aparência incrível não compensa a ansiedade?
Ela riu, o que era um bom sinal. Lia sempre ficava mais leve com uma boa dose de humor.
— Certo, mas você sabe que minhas habilidades com maquiagem param no rímel, né? — ela disse, levantando uma sobrancelha.
— Relaxa, amiga. Eu sou praticamente uma Picasso das sombras de olhos. — Puxei-a para o quarto, onde o caos de roupas parecia ainda mais intenso.
Começamos a revirar as opções. Lia segurou um vestido vermelho e me olhou, hesitante.
— E esse aqui? Muito ousado? — ela perguntou.
— Ousado? Amiga, esse vestido grita 'Estou aqui para arrasar e talvez pedir sobremesa'. Perfeito! — Eu ri, e ela acabou rindo junto.
Enquanto Lia se arrumava, eu caprichei nas ondas do cabelo e na maquiagem. Estava gostando de transformar aquele momento de pânico pré-encontro em uma sessão de beleza improvisada.
— Pronto, olha só para você! — declarei, dando um passo para trás para admirar meu trabalho. — Se eu não te conhecesse, diria que você é uma celebridade indo para o tapete vermelho. Ou pelo menos para um jantar bem elegante com o Marcus.
Lia deu uma volta, rindo.
— Tá, mas e quanto ao jantar? — ela perguntou, mordendo o lábio.
— Ah, o velho truque do charme e da confiança. Quando você estiver incrível assim, nem vai importar se o prato principal for um desastre. Marcus vai estar tão encantado que nem vai notar. — Dei uma piscadela.
Lia suspirou, mas com um sorriso nos lábios.
— Você tem razão. Quem precisa de um jantar perfeito quando se tem uma melhor amiga que é um verdadeiro espetáculo?
— Você é minha rockstar-sister! — falei, fazendo o símbolo do rock, e ela fez o mesmo, rindo.
— Pronto, são 18h. Que horas é o jantar com o Marcus? — perguntei, ansiosa.
— Às 19h, mas vou sair agora para não pegar trânsito — disse ela, pegando suas chaves.
— Então vamos, eu vou para o Mangé — falei, sorrindo.
Lia me olhou, surpresa.
— Você vai me acompanhar até lá?
— Claro! Não vou perder a chance de ver você arrasar desde o início. E além do mais, preciso garantir que você vai estar calma até o último segundo — eu disse, piscando.
Descemos juntas até o carro, onde eu a ajudei a entrar com cuidado para não amassar o vestido impecável. Lia estava radiante, e isso me enchia de orgulho.
— Boa sorte, amiga. Lembre-se, você é uma rainha. E se precisar de qualquer coisa, me manda uma mensagem — falei, abraçando-a.
— Valeu, você é a melhor. — Lia sorriu, dando partida no carro.
Enquanto ela se afastava, eu segui para o Mangé, pensando em como minha melhor amiga estava prestes a ter uma noite incrível. Afinal, com ou sem um jantar perfeito, ela já estava destinada a brilhar.
Cheguei ao Mangé , as luzes suaves e a música ao fundo criavam o ambiente perfeito para relaxar e refletir sobre a noite que estava por vir. Pedi meu cappuccino favorito e me acomodei em uma mesa perto da janela ou seja minha mesa exclusiva onde poderia observar o movimento da cidade de Los Angels.
Enquanto saboreava meu café, pensei no quanto Lia estava nervosa para esse encontro. Marcus era um cara incrível, e eu sabia que os dois tinham tudo para dar certo. No entanto, a insegurança dela era compreensível, especialmente considerando o quanto ela se importava com ele.
Peguei meu celular e enviei uma mensagem rápida para ela: "Você está maravilhosa! Lembre-se de se divertir e ser você mesma. Boa sorte!"
Quase imediatamente, recebi uma resposta: "Obrigada! Estou me sentindo muito mais confiante graças a você. Te amo!"
Com um sorriso no rosto, sentia uma onda de felicidade ao perceber que tinha ajudado a aliviar um pouco da ansiedade dela. Estava imersa nesse sentimento de alegria quando, de repente, meu sorriso desapareceu ao ver uma figura familiar entrando no café. Era Clara, a ex-noiva de William. Ela realmente não havia mudado muito desde a última vez que a vi. Seus cabelos ruivos ainda estavam perfeitamente arrumados e ela vestia uma roupa impecável. Clara sempre teve um ar de confiança que me incomodava, mas decidi que não deixaria que ela estragasse meu dia.
— Senhora Harper? — disse Clara, olhando diretamente para mim.
— Clara, bem-vinda — respondi, forçando um sorriso.
— Obrigada — respondeu ela antes de se afastar.
Alguns minutos se passaram até que alguns amigos de William começaram a chegar. Até Adrian estava lá. O que será que estava acontecendo?
— Querida — chamei uma das garçonetes do meu restaurante.
— Senhora, como posso ajudá-la? — perguntou ela, sorrindo.
— Você poderia levar um doce para mim e a lista das reservas dessa noite para o meu escritório? — pedi, tentando manter a calma.
— Claro, senhora — disse ela antes de se afastar.
Caminhei em direção ao meu escritório e, ao chegar lá, recebi uma mensagem de William dizendo que ia chegar tarde em casa por causa do trabalho. Respondi com um simples "ok". Alguns minutos depois, a garçonete voltou, trazendo um donut acompanhado da lista de reservas.
Agradeci e a despensei rapidamente. Meu coração acelerou ao ver uma reserva no nome de Clara. Uma festa de boas-vindas, claro. Então William mentiu para mim por causa dessa mulher?
Fechei os olhos e respirei fundo. Deus, dai-me paciência. Não deixaria que essa revelação arruinasse minha noite. Precisava pensar com clareza e decidir como lidar com isso.
Determinada a manter minha compostura, peguei meu casaco e as chaves do carro. Saí discretamente pela porta dos fundos, evitando os olhares curiosos dos funcionários e clientes.
"Recomponha-se, Crystal", sussurrei, tentando acalmar o turbilhão de emoções dentro de mim.
Entrei no carro e fechei a porta, permitindo-me um breve momento de silêncio antes de ligar o motor. A viagem até minha casa foi um borrão. As ruas familiares passaram diante dos meus olhos enquanto minha mente estava a mil, tentando entender o que estava acontecendo.
Ao chegar em casa, estacionei o carro e permaneci sentada por um instante, absorvendo o ambiente tranquilo do lado de fora. A serenidade contrastava com a tempestade que se formava dentro de mim.
"Você consegue", disse a mim mesma, antes de finalmente sair do carro e caminhar em direção à porta da frente.
Entrei em casa e fechei a porta atrás de mim, sentindo o peso da noite se dissipar ligeiramente. O ambiente familiar e acolhedor da minha sala de estar me trouxe um pouco de conforto. Larguei as chaves e o casaco sobre a mesa de entrada, tentando organizar meus pensamentos.
Com um suspiro profundo, caminhei até a sala, onde o silêncio parecia mais acolhedor do que nunca. Decidi preparar um prato de queijos variados e abrir uma garrafa de vinho branco, buscando algum consolo nas pequenas indulgências da vida. Liguei o som e selecionei uma playlist de música clássica, permitindo que as suaves e intrincadas melodias de Mozart começassem a preencher o ambiente.
Acomodada no sofá de veludo macio, senti o conforto acolhedor da minha sala de estar familiar. Com uma taça de vinho branco nas mãos, comecei a degustar os queijos variados que havia preparado, tentando encontrar algum consolo na solitária noite que se estendia à minha frente. Cada mordida parecia uma tentativa desesperada de preencher o vazio, enquanto as lágrimas, inevitáveis e silenciosas, deslizavam pelo meu rosto, trazendo um alívio agridoce.
No entanto, minha paz melancólica foi abruptamente interrompida pelo som inconfundível da porta se abrindo. Meu coração saltou quando reconheci as vozes, mesmo antes de ver os rostos. Era inegavelmente Wiliam, e, para minha surpresa, Adrian o acompanhava.
— Wiliam, cala a boca! — ordenou Adrian, sua exasperação evidente.
— Um amor só é possível quando é amor — respondeu Wiliam, a voz embriagada e arrastada.
Levantei-me do sofá, tentando esconder meu desconforto. — Bem-vindos — falei, tentando manter o tom neutro.
Adrian, visivelmente preocupado, olhou para mim enquanto ajudava Wiliam a se manter de pé. — Crystal? O que está acontecendo? — questionou ele, os olhos cheios de incerteza.
— Esqueça isso por agora. Ajude-me a levar Wiliam até o quarto — respondi, aproximando-me para apoiar o corpo cambaleante de Wiliam.
Com algum esforço, conseguimos levá-lo até o quarto e colocá-lo na banheira, na tentativa de ajudá-lo a se recompor. Deixei Adrian cuidando dele por um momento enquanto fui preparar o quarto de hóspedes para Adrian. A tensão entre nós era palpável, a animosidade mútua sempre presente, mas a situação exigia cooperação.
Após preparar o quarto, voltei rapidamente ao banheiro. Com alguma dificuldade, Adrian e eu tiramos Wiliam da banheira e o colocamos na cama, tentando deixá-lo o mais confortável possível.
Enquanto arrumava as roupas de Wiliam, falei sem olhar para Adrian. — A propósito, preparei o quarto de hóspedes para você.
Adrian suspirou, ainda visivelmente irritado. — Não precisava. Eu vou para casa.
Virei-me para encará-lo, a frustração evidente em minha voz. — O que significa ir para casa a esta hora? Não seja teimoso, Adrian.
Ele me olhou, os olhos cheios de uma mistura de desafio e algo mais, algo que sempre pairava entre nós, mesmo nos momentos de maior discórdia. A tensão era palpável, e por um momento, o silêncio falou mais alto do que qualquer palavra poderia.
Adrian finalmente cedeu, soltando um suspiro profundo. Sua expressão suavizou-se, mas ainda carregava traços de exaustão e preocupação. Ele sabia que eu estava certa; sair dirigindo àquela hora, especialmente depois de todo o tumulto, não era a melhor opção.
— Está bem, cunhadinha — disse ele, a voz mais calma e resignada. — Fico no quarto de hóspedes, então.
Havia algo estranho na maneira como ele aceitou, como se um peso invisível tivesse sido aliviado. Talvez fosse a presença de Wiliam, talvez fosse a exaustão emocional que ambos sentíamos. De qualquer forma, a tensão entre nós parecia ter diminuído, mesmo que apenas um pouco.
Com William finalmente adormecido, Adrian e eu saímos do quarto, fechando a porta suavemente atrás de nós. Caminhamos pelo corredor em silêncio, cada um imerso em seus próprios pensamentos. Ao chegarmos à sala de estar, Adrian finalmente quebrou o silêncio.
— Adrian, o que está acontecendo? Por que ele chegou nesse estado? — perguntei, com a preocupação evidente em minha voz.
Afundei-me no sofá, sentindo o peso esmagador da responsabilidade. Adrian hesitou, passando a mão pelos cabelos antes de responder.
— Ele tem passado por um momento difícil — disse, a voz carregada de incerteza. — Não sei todos os detalhes, mas ele tem se fechado cada vez mais. Hoje parece que foi a gota d'água.
Adrian se sentou na poltrona em frente a mim, esfregando as têmporas como se quisesse afastar uma dor de cabeça iminente. O silêncio entre nós era pesado, carregado de perguntas não feitas e respostas não ditas.
— Vocês hoje foram celebrar o retorno de Clara — afirmei, com uma pitada de sarcasmo na voz.
Adrian levantou os olhos, surpreso pela minha observação. Ele suspirou profundamente, como se estivesse procurando as palavras certas.
— Sim, mas não foi exatamente uma celebração— respondeu, a voz embargada.— Clara voltou, mas as coisas não são como antes. Há muita coisa não resolvida, e parece que William está carregando o peso de tudo isso.
A sala de estar parecia ainda mais sufocante com essa revelação. O ar pesado fazia cada respiração parecer um esforço monumental. Meus olhos se voltaram para Adrian, em busca de alguma clareza, uma centelha de compreensão que pudesse aliviar a angústia que me consumia. Mas, ao invés disso, encontrei apenas o mesmo turbilhão de confusão e tristeza refletido emseu olhar.
Ele hesitou por um instante, como se estivesse escolhendo cuidadosamente suas palavras. Finalmente, ele quebrou o silêncio com uma voz suave, mas carregada de preocupação.
— Crystal... talvez você deva descansar um pouco. Você parece exausta, cunhadinha.
Suas palavras eram como um bálsamo para a minha mente inquieta, mas ao mesmo tempo, a ideia de me afastar agora, de deixar essa conversa inacabada, parecia insuportável. Mesmo assim, a exaustão era real, e o peso das últimas horas começava a se mostrar insuportável.
Eu suspirei, sentindo as lágrimas acumularem nos cantos dos olhos. Talvez Adrian estivesse certo. Talvez um pouco de descanso pudesse trazer a clareza que tanto procurávamos.
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