KIM DONGHYUN
point of view.

Eu nunca pensei que uma segunda-feira comum pudesse virar meu mundo de cabeça pra baixo. Ainda tava tentando manter meus olhos abertos enquanto a professora falava alguma coisa sobre biologia e qual a diferença entre cromossomos XX e XY, matéria que eu até curtia pra ser honesto, mas a minha mente tava bem longe, totalmente focada na Lee Chaeryeong.

Sempre a observei à distância, me contentando em imaginar como seria se um dia eu tivesse coragem de contar meus sentimentos pra ela. Seus olhos doces e postura delicada me deixavam hipnotizado de um jeito quase que assustador. Tem sido assim desde o nono ano do fundamental, quando a Chaeryeong se transferiu pra Mukdang e eu passei a ser seu maior admirador secreto.

Chegar nela não era exatamente difícil. A Chaeryeong é calorosa e simpática, então sempre conversamos quando surge a oportunidade. Mas infelizmente, eu sou medroso demais pra admitir ter uma quedinha por ela. A aula tava no auge do tédio e eu só queria ir embora, quando ao escrever no caderno uma palavra do quadro com os pensamentos longe, precisei da minha borracha e percebi imediatamente que tinha esquecido o objeto em casa, isso depois de revirar todo o estojo e a mochila também igual um maluco.

─── Droga... ── murmurei pra mim mesmo, olhando ao redor. Chaeryeong estava bem do meu lado, como sempre, fazendo suas anotações usando canetinhas coloridas e com aquela expressão suave e tranquila que me deixava nervoso só de olhar. ─── Chae, posso ter sua borracha emprestada? ── pergunto ao engolir seco e tentando soar o mais casual possível, mas aproveitando a chance de falar com ela.

─── Claro, Leehan-ya. ── a Ler respondeu gentilmente enquanto me passava o objeto ─── Aqui está! ── meu coração deu um pequeno salto, segurei a borracha cor-de-rosa nas mãos e nem sequer imaginava o que viria.

Eu tava prestes a usá-la quando notei algo escrito atrás da borracha, e movido pela curiosidade, achei que não seria nada demais olhar. Certo?

Errado.

"Taesanie <3"

Foi o que eu encontrei escrito com caneta e um coração destacado no final. Senti o estômago revirar. Meu coração, que dez segundos atrás batia tão rápido de felicidade, agora se quebrava em milhões de milhares de pedacinhos minúsculos, foi como um baita balde de água fria.

Claro que não é incomum que alguma garota goste dele, mas precisava ser justo a Chaeryeong também? Chega a ser frustrante.

Ela gosta do Han Dongmin, o cara popular que senta na carteira bem atrás de mim. Não sei como pude ser tão idiota ao ponto de não perceber antes, mas não é exatamente uma surpresa, embora doa um pouquinho.

Meus pensamentos foram interrompidos quando a borracha caiu desastrosamente da minha mão, rolando, rolando, e rolando... até parar nos pés do Taesan.

Não olha pra baixo, não olha pra baixo... ─ pensei e torci internamente, sentindo o pânico se instalar em mim. Mas foi completamente inútil.

─── Ei, Leehan. Isso é seu? ── Taesan perguntou, cutucando meu ombro por trás e levantando a borracha apanhada do chão para que eu pudesse ver.

─── Er... sim. Quer dizer, não! ── gaguejei enquanto tentava pensar numa desculpa rápida ─── Na verdade é da Chaeryeong, mas eu tava usando emprestada e-

Antes que eu pudesse terminar, os olhos de Taesan já tinham descido pra parte traseira da borracha e lido o que foi escrito naquela parte do objeto. Meu sangue gelou na mesma hora.

─── Taesanie...? ── suas sobrancelhas grossas e bem-feitas agora estavam arqueadas na minha direção ─── Você escreveu isso aqui?

─── Não, não! Óbvio que não! ── levanto as
mãos desesperadamente e procurando uma forma de desfazer o mal entendido, mas as palavras simplesmente não saíam do jeito certo.

─── Leehan... você gosta de mim? ── Dongmin falou quase num sussurro, com um misto de surpresa e desconforto desenhado naquela belíssima cara estranhamente perfeita.

─── Qual é! Eu só tava usando a borracha, juro que não é o que parece. ── pude sentir o calor subindo pelo meu rosto, queimando minhas bochechas que provavelmente estavam tão vermelhas quanto um tomate.

Mas no final, era tarde demais. A confusão estava feita e agora eu fiquei preso em uma situação que nunca tinha imaginado. Enquanto o Taesan processava o que tinha acabado de acontecer, eu só conseguia pensar em como tudo deu terrivelmente errado. E pior ainda, a Chaeryeong viu toda a cena com seus olhos cheios de surpresa. Se eu tivesse só pedido a borracha de outra pessoa ou trazido a minha, nada disso teria rolado. Eu tava preso num mal-entendido com o cara mais popular da escola.

Tudo por causa da porcaria de uma borracha!

Minha desgraça serve como um pequeno lembrete: quando se sentir azarado na vida, lembre que existiu alguém mais azarado que você. E esse alguém sou eu.